Outside Plans escrita por Sany


Capítulo 14
Capitulo 12.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite... Olha quem chegou no finzinho do domingo...



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— O que acha dessa? É bonita. - Peguei o que deveria ser a décima fantasia que mostrava a ela nos últimos trinta minutos. Ainda assim, como das outras vezes, a loirinha negou.

— Não vou me fantasiar de sininho no Halloween, tia. 

— Uma bruxinha então?

— Não. - O dia seria longo. 

— Só escolhe uma fantasia Lily, não faz diferença.  – Rose pediu encostada em uma das araras de roupa, dando sinais de impaciência.

— Faz sim, Halloween é importante. E você também não escolheu a sua fantasia ainda.

— Não preciso escolher, não vou me fantasiar esse ano.  – Olhei para ela surpresa, mas foi Peeta que teve uma reação primeiro.

— Como não? Rose, você adora o Halloween. Ano passado foi a noiva cadáver mais impressionante de Twelve Valley. - Ele estava tentando descobrir a fantasia que Tony queria na arara ao lado. 

— Isso porque a mamãe fez a fantasia e a maquiagem. Não quero ir buscar doces esse ano, nem ir à festa do horror. Quero ficar em casa.

 - Vamos lá Rose, vai ser divertido. Você adora Halloween e sua fantasia pode não ser tão legal quanto a do ano passado, mas podemos achar algo legal e você provavelmente vai se divertir, se tentar. Além do mais, soube que Annie e Jully estão fazendo algo realmente assustador esse ano. - Até onde sabia os Odair davam uma festinha todo ano para as amigas da filha do casal, e aparentemente conforme a menina ia crescendo os elementos assustadores iam aumentando. - Jully é sua melhor amiga. Ela vai sentir sua falta lá, além do mais, melhores amigos não deixam o outro na mão sem motivo. - Ela pareceu pensar por um momento antes de suspirar e começar a olhar as araras.  Pude ver um leve sorriso nos lábios do loiro antes dele voltar a missão anterior. - Capitão América? - sugeriu enquanto Tony negava com a cabeça e ele seguia em busca de mais algum super-herói.

Ficamos na loja por mais uma hora antes que enfim os três estivessem com suas fantasias. Depois passamos no mercado para comprar os doces que seriam entregues no dia seguinte.

Halloween nunca havia sido minha comemoração favorita, a ideia de sair pelas ruas em busca de doces, ou travessuras na infância não me parecia convidativa, talvez por ter que usar uma fantasia, ainda assim estava tentando não demostrar isso aos meus sobrinhos. Prim adorava a data e sabia que levava a sério a confecção das fantasias dos filhos, o preparo da decoração da casa. Minha irmã era do tipo que quando criança saía pela vizinhança. Na adolescência ia as festas e ainda terminava a noite vendo filmes de terror nas maratonas da TV.

— Pode buscar as crianças hoje? - perguntei na manhã seguinte após falar com minha mãe ao telefone. 

— Hoje não posso, tenho uma encomenda grande e estou sem a ajuda do confeiteiro. 

— Tenho uma entrevista em Madison é importante. Tinha combinado com minha mãe, mas para variar ela ligou desmarcando de última hora.

— Meu trabalho também é importante, e já tinha avisado que hoje chegaria mais tarde, que só poderia encontrar vocês a noite quando eles já estivessem andando atrás de doces e travessuras.

— É uma oportunidade! Pode ser minha chance, Peeta.

— Não posso Katniss,  sinto muito, tenta com a Perla. Aliás, estou de saída. O lanche deles já está pronto.

— Peeta, por favor.

— Estou indo... – Ele me deixou sem nem ao menos tentar me ajudar. E só ouvi se despedindo das crianças.

— Idiota! – Enquanto ajudava os três a se aprontarem para escola, tentei ligar para Perla, mas aparentemente ela estava levando os gêmeos ao médico devido a uma virose.  Annie que era a única pessoa que conhecia, e que poderia cuidar deles, estava arrumando as coisas para festa em sua casa. Então, a única opção que tive foi tentar remarcar a entrevista.

O dia foi realmente atarefado, além de pendurar algumas decorações, o síndico do prédio pediu ajuda para decorar o jardim, aparentemente alguns moradores ficariam lá para entregar os doces que foram comprados por todos do prédio. Claramente todos ali gostavam da data. Meu computador não quis ligar. Não consegui remarcar a entrevista, e como se não bastasse isso, as crianças saíram mais cedo. O que significava fazer o almoço que, aliás, queimou enquanto tentava me comunicar com a assistência técnica. A professora de piano da Rose pediu para falar comigo e aparentemente o desenvolvimento dela nas aulas estava abaixo do que costumava apresentar, e músicas fáceis que ela sabia tocar com perfeição antes, agora estavam sendo apresentadas com erros.

E quando achava que meu dia não poderia ficar pior, eis que ao verificar a correspondência, vejo a edição de novembro da Chicago Entertainment acompanhada de um bilhete da nova editora da sessão de lazer. 

Acho que não posso dizer que estou sentindo sua falta, mas garanto que estou fazendo um trabalho melhor que o seu. Aproveite o interior. 

Clove.

Clove Fuhrman e eu nunca nos demos muito bem, e ter conseguido a vaga que estava sendo cogitado para nós duas, a deixou ainda mais insuportável na época. Como profissional, sei que não foi uma escolha ruim para me substituir, na verdade, era preciso admitir que ela tinha talento. Contudo, imaginar que naquele momento ela estava no meu lugar me deixou realmente irritada. E mais tarde enquanto caminhava com as crianças pelo bairro para conseguir doces, a única coisa que eu pensava era que tudo estava muito errado. Que não devia estar ali.

— Eles conseguiram muitos doces até agora? - O loiro chegou de repente ao meu lado, me fazendo ter um sobressalto. As crianças estavam um pouco mais a frente junto com alguns amigos.

— Olha quem resolveu aparecer. – Minha voz saiu fria e cortante.

— Nossa, estamos de mal humor e não são nem sete horas. 

— Não enche, Peeta. Você não tem ideia de como foi meu dia. 

— Você também não sabe como foi o meu, ainda assim, não estou descontando nada em você. 

— Seu dia pode ter sido difícil, mas foi dentro da sua rotina! Já o meu, foi fazendo coisas que não deveria fazer. Que nunca pedi pra fazer! Pendurar morcegos, fazer sanduíche de manteiga de amendoim e seguir crianças pelas ruas de uma cidade sem futuro. – Diminuí o tom da minha voz quando notei que algumas pessoas olharam em nossa direção. - Talvez fosse algo que você desejasse para seu futuro. Mas essa não é minha vida, não é o que planejei pra mim. 

— Você e seus planos. Acha mesmo que tudo pode ser planejado? Imprevistos acontecem e só para você saber, não era assim que queria começar uma família. Mas aconteceu. E adivinha, nem sempre sua neura por planejamento vai ser prioridade. Bem-vinda a sua nova vida!

— Essa não é minha vida! - Empurrei a sacola de doces que estava segurando em seu peito e saí sem rumo.

Twelve Valley não tinha muitos destinos, então passei no prédio apenas para pegar o carro e dirigir sem um rumo para fora da cidade.

A cidade vizinha, assim como Twelve Valley, estava decorada e crianças pediam gostosuras, ou travessuras. E a única coisa que pude pensar, era no que Prim estava pensando e no porquê ela tinha ido tão cedo. Não era à ordem natural das coisas, eu era a mais velha, não tinha família e estava aqui enquanto, ela não estava mais.
Não sei quanto tempo passei dirigindo, mas quando fiz o retorno já era bem tarde, o movimento nas ruas já não era mais de crianças, alguns adolescentes ainda circulavam.

Achei que todos estariam dormindo, mas assim que abri a porta vi Peeta sentado no sofá, um balde de pipoca ao seu lado e uma taça, do que parecia ser vinho, na mão vendo filme, o som estava baixo e a única luz era da TV.

— Rose vai dormir na Annie, Tony e Lily já estão dormindo - comentou sem olhar em minha direção.

— Sexta-feira 13? – perguntei olhando a tela sem muito interesse.

— Sim, você perdeu a hora do pesadelo. 

— Não acredito que está vendo esse filme novamente. 

— É tradição... - Não lembro quando ele e Prim começaram com isso, mas todo Halloween os dois viam os filmes de terror clássico em meio a pipoca e o que restava dos doces. Lembro-me de algumas raras vezes me juntar a eles por alguns minutos, mas nunca um filme inteiro. Os dois pareciam se divertir e normalmente riam durante os filmes que sabiam todo o enredo. - O próximo é Psicose.

— Vejo que evoluiu na tradição - apontei o vinho. - Da última vez que estive presente, você bebia refrigerante.

— Faz alguns anos que trocamos a bebida. - Ficamos em silêncio por um momento e me sentei ao lado dele.

— Não consigo fazer isso - comentei pegando um pouco da pipoca e olhando o filme na TV sem realmente prestar atenção. - As crianças... sinto que estou fazendo errado.

— Não sendo pretencioso, mas acho que estamos nos virando bem.

— Olha para essa casa, eu vivo tentando manter as coisas em ordem, e não consigo. Tony ainda não está falando. Rose anda por aí como se precisasse ser adulta. Não sei ser como a Prim, e ela sabia lidar com essas coisas. Ela era perfeita como mãe e eu nem ao menos consigo fazer um almoço e falar ao telefone.

— Você não vai ser como a Prim, não pode ser, assim como eu não vou ser como Luca. Katniss, eles eram ótimos país e não vamos ser como eles mesmo se tentarmos, porque não é nossa função ser igual aos dois. Eles, não queriam isso.

— Não há como saber o que eles queriam, Peeta. 

— Acho que gostariam que fizéssemos nosso melhor. Não que fôssemos como eles. Mas nos conheciam bem.

— Prim, teria feito fantasias. 

— Sim, ela teria. Mas você passou horas na loja até eles acharem uma. Não se cobre demais, vamos nos ajustar, mas acho que você precisa relaxar um pouco. Estamos aprendendo, vamos cometer alguns erros no processo.

— Meu medo é, não aprender. Prim sempre soube o que fazer

— Prim aprendeu. - Olhei pra ele sem entender. - Quando Rose nasceu ela tinha medo de não conseguir.

— Bobagem, vim aqui quando Rose era bebê, e ela já estava totalmente adaptada. Falava com ela ao telefone e nunca pareceu não saber como lidar com a situação.

— Acho que Rose tinha pouco mais de 10 dias quando passei pra vista-las e encontrei Prim aos prantos junto com a Rose. Ela estava com medo, achava que não conseguiria e que não seria o suficiente pra Rose. Mas ela conseguiu, não foi fácil, mas ela se transformou em uma mãe exemplar.

— Eu não estava aqui. – Um sentimento de culpa por ter ido para longe e deixando ela sozinha se fez presente. - Não tinha ideia, ela sempre pareceu tão adaptada. Não devia tê-la deixado aqui. Eu a deixei na mão quando precisava de mim. 

— Bobagem. Prim tinha orgulho de você e acredite, ela não tentava esconder isso de ninguém. E nunca teria aceitado que você tivesse ficado, ela te amava demais.

— Você sabe lidar melhor com as crianças. Eu sou a tia Katniss que vinha algumas vezes ao ano. Você sabe lidar com elas, os três te escutam.

—Talvez você precise parar de tratá-los como se fossem um projeto. 

— Como?

— Eles são pessoas, crianças e precisam ver em você, a tia. Não leve a mal, mas o quadro com uma rotina minimamente planejada, sua neura pela organização da casa faz com que isso pareça uma empresa e você o chefe.

— Eles tinham uma rotina

— Tinham, mas não era tão elaborada assim. Acredite Prim não tinha a casa impecável o tempo todo.

— Gosto de organização.

— Talvez possamos achar um meio termo. Algo que pareça menos um quartel e mais uma casa – suspirei. 

— Acha mesmo que estamos indo bem?

— Acho, mas também acho que seremos melhores se pararmos de tentar ser como eles. Porque eles não vão voltar, e as coisas precisam ser do nosso jeito agora. Temos que aceitar a vida que temos agora e a nos adaptar da melhor forma - concordei com a cabeça e involuntariamente me encostei em seu ombro voltando a atenção para a TV.

Poderia discordar dele em muitas coisas, mas no fundo sabia que tinha razão em relação a isso.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que vocês tenham gostado. Eu queria muito ter tido mais tempo e feito mais capítulos, mas infelizmente não deu.
Ainda sim quero agradecer a todos que ainda estão acompanhado a fic, que comentam, mandam MP para saber se esta tudo bem, as recomendações, a Bel que me ajuda com a revisão, vocês são maravilhosos eu fico muito feliz de te-los aqui.
Beijos e uma excelente semana para todos.