Ela é o Cara escrita por Priscilla Florêncio


Capítulo 4
Grande falta de sorte


Notas iniciais do capítulo

Não vou ficar enrolando e falando muito, só espero que vocês gostem desse capítulo.



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— Vamos começar a temporada como terminamos a anterior, Lions. Com garra! — gritou o treinador com convicção, enquanto fala e andava olhando para cada um dos seus jogadores, com uma expressão fechada.

Os rapazes continuavam com uma postura firme, sem demonstrar emoções. Qualquer movimento em falso, e poderiam ser o hostilizados pelo treinador. Ou pior, expulsos.

E Ginny tinha total consciência disso. E muito medo também.

Não mova um músculo. Não mova um músculo. Ela repetia para si mesma, tentando acalmar as batidas do seu coração. Aquele era um momento decisivo. Viera para aquela escola, fazer parte daquele time! E se por algum motivo, não conseguisse... Não, era melhor ela nem cogitar essa possibilidade.

O treinador ainda estava andando entre os rapazes, analisando cada um deles minuciosamente. Com curiosidade, Ginny arriscou uma olhada rápida de canto para o técnico e, acabou franzindo o cenho, pois sentiu algo que não esperava: familiaridade. Tendo uma sensação estranha, de como se já tivesse visto aquele homem antes. Aquilo era estranho, porque a aparência dele não poderia ser considerada comum. Alto e muito bonito; seria provavelmente a melhor definição que sua mãe daria ao treinador quando o visse, e Ginny não poderia discordar. Ele tinha os cabelos ondulados de cor negrume, presos por detrás da cabeça, num rabo-de-cavalo estiloso. Os olhos que denotavam seriedade naquele momento, eram de um tom acinzentado incrivelmente atraente, que provocavam um contraste perfeito com o sorriso espontaneamente sedutor e a pele naturalmente bronzeada. Mas, Ginny percebeu que o detalhe mais provocativo no treinador, era a sua voz. Ou mais especificamente a risada irônica, que lembrava muito um latido canino, rouca, suave e grave, tudo ao mesmo tempo. Com aquela voz, aliada a aparência física, ele certamente tinha qualquer mulher que quisesse na palma da mão.

Talvez, fosse por causa disso, que muitas garotas “apaixonadas” estavam olhando para o campo de futebol naquele exato momento com expressões abobalhadas, acompanhando com os olhos cada movimento que o técnico do time masculino fazia, fazendo-o parecer um astro do rock intocável. Mas, para Ginny naquele instante ele assemelhava-se muito mais, com um general-comandante, coordenando seus soldados para à linha de frente na guerra, onde todos seriam abatidos um por um.

E o que era ainda mais estranho e inquietante para Ginny, era que a sua vigilante intuição-feminina — que quase sempre acertava —, dizia que àquele homem tinha alguma ligação com o seu colega de quarto. Pois a expressão de Harry — mesmo estando sério assim como todos os outros —, mostrava-se sutilmente diferente dos demais. Ele demonstrava estar entediado, como se já estivesse escutado aquele discurso diversas vezes na vida. Ginny conhecia aquela expressão, ela expressara a mesma várias vezes com os pais dela. E a comparação, fez com que ela se lembrasse de onde conhecia aquele homem: na foto ao lado da cama dele. O treinador era o mesmo homem da foto que Ginny vira na fotografia do seu colega de quarto.

Que ótimo, Harry não só faz parte do time de futebol, como provavelmente têm alguma ligação de parentesco com o técnico do time. Maldita falta de sorte...

O treinador parou em frente ao rapaz que estava ao lado dela, este que estava tremendo igual a uma vara verdade alguns instantes antes, mas que corajosamente conseguiu se manter firme e encarar o treinador de frente. Analisando o rapaz da cabeça aos pés, o treinador gesticulou negativamente quando olhou para ele com desaprovação, e o mesmo recuou cabisbaixo. E isso fez Ginny sentir-se ainda mais apreensiva.

— Rapazes, a divisão das equipes vai ser bem simples: com ou sem camiseta... — falou ele logo depois, prestes a soar o apito para dar início ao treinamento. E ao ouvir aquilo Ginny arregalou os olhos de modo desesperado, com um embrulho no estômago.

Não posso ficar sem camiseta, não mesmo!

— Aãã, com licença senhor — chamou ela antes que o técnico iniciasse o treinamento, e ele girou os calcanhares ficando de frente para Geofrey questionando-o com um longo olhar carrancudo, e isso fez Ginny sentir suas pernas bambearem —, eu, eu não... eu não posso ficar em camiseta.

— Como é que é? — questionou ele, pressionando os olhos para Geofrey claramente irritado.

— Não posso ficar sem camiseta. Sou alérgico ao sol.

— Ah, você é alérgico ao sol? — repetiu ele sarcasticamente com sorriso de canto.

— Sim, é uma alergia muito, muito grave — disse ela, tentando soar do modo mais convicto possível.

— Bem, nesse caso... — começou ele, no mesmo tom sarcástico —, tenho que atender as todas suas necessidades, não é mesmo? Por isso, vou segui-lo com um guarda-sol para onde você for, certo, florzinha?

Recebendo um olhar carrancudo por parte do treinador do time, Ginny também recuou cabisbaixa. Prometendo a si mesma que não falaria mais nada, há não ser que fosse extremamente necessário.

— Tudo bem então, pessoal. VAMOS NESSA! — gritou o treinador, soando o apito, para dar início aos treinamentos do dia do time masculino.

Eles começaram o treinamento com um simples aquecimento, fazendo trotes leves de 15min em volta do campo, seguindo de um alongamento básico para as pernas, braços, ombros, panturrilha, peitoral, bíceps, tríceps, lombar e etc.

Depois tiveram que treinar a agilidade dinâmica no campo, o treinador colocou oito cones, um ao lado do outro, em paralelos e também em pares, com uma distância mínima de três passos largos entre eles. Em seguida ele dissera aos rapazes para que corressem em volta de cada um, fazendo um movimento em ziguezague, sendo que todos tiveram que fazer de três a quarto series, com 30 repetições cada um, indo e voltando.

Treinaram resistência muscular, força com velocidade e por fim flexibilidade.

Quando o treinador dera por encerrado o treinamento de campo do dia, Ginny estava sentindo-se como se estivesse sido atropelada por um trem. Cada milímetro do seu corpo estava suando, cada centímetro estava formigando e latejando, Ginny respirava de modo acelerado acompanhando as batidas céleres do seu coração. Estando de olhos fechados sem ver como estava o restante da equipe, ela acabou concluindo intuitivamente que o treinamento deveria ter sido pesado para todo os outros também. Mas então, quando abriu os olhos relanceou uma olhadela para os outros rapazes — entre eles seu colega de quarto, seu primo e o amigo loiro deles, que faziam parte da equipe sem camiseta —, nenhum deles pareciam terem sido afetados com o “treinamento pesado”. Mesmo que alguns estivessem do mesmo jeito que ela — caídos e estirados de modo derrotado no gramado —, Ginny notou claramente que seu colega de quarto (assim como os amigos dele) estavam com um aspecto normal, tranquilos, como se não tivessem se desgastado nenhum pouco, depois de 2hrs de treinamento. E aquilo deixou-a irritada, assim com um pouco apreensiva também. Afinal, se ela quisesse fazer parte do time masculino, teria que conseguir dar conta de um simples treinamento diário com aquele.

Droga, deixe de ser molenga Ginny! Na próxima você vai ter que dar conta...

Mas então, apenas para finalizar o treinamento, o técnico mandara todos eles fazerem flexões de quatro series de 40 repetições cada. E foi aí que Ginny percebera que os treinamentos que ela fazia todos os dias sozinha, eram frouxos demais, café com leite, mão-com-açúcar, comparados com aqueles ali...

— Descansar pessoal.

Concluiu o treinador, momentos depois de uma longa tortura. E Ginny não pudera evitar de sentir um alivio extremo. Finalmente...

— Hoje eu vi um grupo muito motivado e cheio de garra. Isso deixaria qualquer técnico orgulhoso, rapazes.

A satisfação dele só poderia ser; ver todos os seus jogadores suando bicas. Visto que, o sorriso de canto e a fisionomia ereta denotando a mesma seriedade de início, certamente não foram abaladas no técnico.

— Agora, vou separar vocês em dois grupos: reserva e titular. Os que ficarem no time reserva, não fiquem chateados, vocês também fazem parte do time tanto quanto os titulares. Só que... é claro, não vão participar dos jogos.

E ali estava o momento decisivo. Era por causa daquele momento que Ginny suportara todo aquele martírio torturante, ser uma garota no time titular numa equipe dominada por homens — mesmo que eles não soubessem que ela era uma garota. Seria com toda a certeza, um tapa na cara de todos aqueles que não acreditaram e debocharam dela. Seria a comprovação de que uma garota poderia jogar futebol, igualmente, ou até melhor do que muitos deles. E tudo isso era por causa do futebol...

Que seja o time titular, por favor, tenho que estar no time titular!

— Longbottom — decretou o técnico para o mesmo rapaz gordinho que estava ao lado de Ginny, e este olhou para a camiseta de cor laranja de modo compreensivo, como se já estivesse esperando por aquilo.

— Creevey — um garoto de cabelos loiros encaracolados e de estatura baixa, que havia conservado um sorriso entusiasmado durante o treinamento inteirinho, o mesmo sorriso murchou lentamente ao ver a camiseta laranja estendida para si.

Depois vieram, Finnigan, Boot, Coleman, Davis…

— E, Weasley — para decepção e desesperança de Ginny, o técnico não estava se referindo ao meu primo. Mas, sim ao novato estranho que era alérgico ao sol...

Não, não pode ser.

— Todos vocês que eu acabei de chamar, são o time reserva.

Ginny olhou mais uma vez, para sua camiseta de cor laranja.

E em toda a sua vida, ela nunca imaginou que fosse ser possível odiar tanto uma única cor.

x.x.x.x

Após anunciar os nomes dos times titular e reserva, o técnico mandara todos os rapazes para os vestiários.

Ginny ainda não estava conseguindo acreditar que não fora escolhida para o time titular, já que sua ficha ainda não havia caído. Por isso, ela movia-se como se estivesse no piloto automático, totalmente apática. Fora por causa disso que ela nem percebera aonde estava indo, até estar completamente dentro do território alfa que exalava testosterona em todos os cantos; o vestiário masculino.

Ela estacou no meio do caminho quando percebeu aonde se encontrava.

Todos eles estavam tirando as roupas na frente uns dos outros, sem a menor cerimônia ou pudor. Se ela não estivesse tão distraída, não teria entrado ali de jeito nenhum!

— Ah que ótimo. Estava mesmo precisando de um banho... — dissera Ron logo atrás, ao entrar no vestiário junto com Harry e Draco. Os três que foram escolhidos para o time titular — obviamente —, não estavam vestidos com as suas respectivas camisetas que tinham um grande título no meio, LIONS. Mas estavam com elas apoiadas nos ombros, portanto, foram logo tirando as bermudas que estavam usando de modo displicente, ficando apenas de cueca boxer totalmente à vontade.

Ginny olhou chocada para aquilo tudo, e rapidamente teve que desviar o olhar quando Draco Malfoy tirou a última peça que estava usando ao entrar na cabine do chuveiro.

Ai meu Deus, eu vi a bunda dele! Eu não posso ficar aqui, não posso tirar a roupa... Não posso ficar nua, eles vão ver que eu não tenho um...

— WEASLEY! — gritou o técnico no meio de toda aquela bagunça, e Ginny imediatamente saiu correndo, quase tropeçando nos próprios pés, antes que fosse obrigada a ver mais alguma outra parte da anatomia masculina que não quisesse.

Ao chegar aonde o treinador estava, Ginny pode notar que agora ele estava com uma plaquinha de identificação, a qual não estava usando durante o treinamento, nela dizia; Técnico Black. E ela teve que controlar totalmente seu impulso de alivio, ao quase enlaçar pelo pescoço o treinador Black, quando ficara de frente para ele. Então, tentando controlar o seu subido ímpeto, respirou fundo, dizendo apenas:

— Sim, senhor?

— Sala da Supervisão Disciplinar, agora! — vociferou ele, mandando Geofrey sair do vestiário. E foi o que Ginny fez, sem questionar.

x.x.x.x

Eles descobriram, já era. Você foi desmascarada Ginevra...

Ginny que já se encontrava na Sala da professora Chefe responsável pela Supervisão Disciplinar de Hogwarts. Compreendera que aquela escola não era normal, mas, àquela sala não fugira a regra, visto que, era no mínimo peculiar. Os tons da decoração chamavam a atenção logo de cara, pois tinham um gosto bem particular, ou digamos assim; incomum.

O papel de parede continha desenhos de gatinhos sorridentes num fundo rosa, no chão havia um tapete bem grande e felpudo na cor rosa-claro, cortinas floridas e almofadas fofinhas com estampas de gatos.

Era tudo muito... Rosa e delicado. Rosa demais, em todos os cantos.

— Nossa, será que foi a Paris Hilton que decorou isso aqui? — Ginny acabou pensando em voz alta, sem perceber.

— Hem, hem — uma tosse curta se fez ouvir perto da porta, e Ginny virou-se imediatamente para encarar uma mulher baixinha, gordinha, com um rosto que lembrava muito um sapo, vestida por inteiro com roupas em vários tons de rosa, assim como um lacinho no alto da cabeça, no geral, a cor não era nenhum um pouco surpreendente.

A professora, que Ginny deduziu ser a chefe da Supervisão Disciplinar, trazia no semblante uma leve curvatura no canto dos lábios, e não era exatamente um sorriso.

— Como vai, Senhor...?

— Weasley. Geofrey Weasley, senhora.

— Oh, sim, Senhor Weasley — falou a professora com cara de sapo, aproximando-se de Ginny analisando-a com os seus olhos miúdos, mas ao perceber o estado em que o aluno se encontrava, afastou-se rapidamente torcendo o nariz em desagrado. — Você está precisando urgentemente de um banho, Senhor Weasley.

Ginny franziu o cenho, e sorriu de modo contido apenas. Disso, eu já sabia.

Com o seu terninho felpudo e cor de rosa, a professora Chefe contornou a mesa no centro da sala, e sentou-se em sua cadeira de espaldar alto, que a deixava ainda mais pequena do já era.

— Sou a professora Dolores Umbridge, chefe da Supervisão Disciplinar de Hogwarts. Chamei-o aqui, apenas para dar-lhe alguns avisos, querido.

Algo no tom de voz da professora com cara-de-sapo, dizia que Geofrey era tudo, menos querido. E isso fez Ginny querer sair o quanto antes daquela sala asfixiantemente rosa. A professora Umbridge tinha um sorriso ingenuamente gentil, mas era ao mesmo tempo maléfico, e a sua voz produzia um tom agudo e infantil, fazendo-a lembrar de mel envenenado.

— Em primeiro lugar, como chefe da Supervisão Disciplinar de Hogwarts, devo lembra-lo de aqui, não serão tolerados qualquer tipo de desobediência e insubordinação por parte dos alunos. Os horários entre as aulas devem ser utilizados, apenas e, restritamente, para aprimorar seus estudos. As regras devem ser seguidas, para o melhor desempenho de todos. Sendo que todos aqueles que não as seguirem, serão punidos, exemplarmente.

Enquanto falava, a professora, não desviava seu olhar de Geofrey, nenhum segundo se quer. Ginny entendeu, que ela estava testando o novato. Um movimento em falso, e a cobra atacaria o animalzinho indefeso. Mas, seria um equívoco a cobra achar que o animalzinho não saberia se defender...

— Então, para concluirmos, agora vou verificar o seu histórico de transferência Sr. Weasley.

Droga, ela não pode ler a ficha do Geofrey. Pode ter uma foto dele lá, e ela vai acabar percebendo as diferenças...

— Aããã, na verdade, professora Umbridge — Ginny começou a dizer apressadamente, quando a professora estava prestes a se levantar para ir até o armário com os arquivos. — A vice-diretora McGonagall, já verificou a minha ficha. E ela me disse que está tudo certo.

O semblante da professora cara-de-sapo, se fechou imediatamente, à menção do sobrenome da vice-diretora. E Ginny percebeu, que havia alguma coisa errada, entre a professora Chefe da Supervisão Disciplinar e a Vice-Diretora de Hogwarts.

— Bem, nesse caso, se a professora McGonagall já averiguou e aprovou os seus antecedentes... — dizia a professora Umbridge, quase rangendo os dentes. — Vou dispensa-lo por hoje, senhor Weasley.

Deu certo, ela acreditou...

Ginny quase saltou de felicidade ao se levantar da cadeira.

— Ah, mas, antes que saia... — interrompeu a professora, quando Ginny estava prestes a sair da sala. — Devo alerta-lo, senhor Weasley, de que acima de qualquer coisa, eu não tolero mentiras por parte de nenhum aluno nesta instituição.

Alertou ela enfaticamente dando uma risadinha infantil, que soou pela sala, e Ginny percebera que aquela mulher não era, definitivamente, flor que se cheire.

x.x.x.x

Mais tarde, na hora do jantar, depois que Ginny conseguira se levar apenas com lenços umedecidos dentro da cabine do banheiro masculino. Conseguindo resolver aquele problema pelo menos por um tempo. Isso fez com que ela se sentisse um pouco mais otimista, afinal, estar no time reserva não era exatamente o fim do mundo.

Se eu tentar me aproximar mais dos jogadores do time titular, eu posso conseguir uma chance de jogar nas partidas oficiais...

— Aqui está, sanduíche natural e suco de maça — disse a garota do outro lado do balcão, que se chamava Astoria, pelo menos era esse o nome bordado no avental dela.

— Valeu.

Depois de agradecer, ela virou-se para ir até o Salão Comunal, aonde ficavam as mesas das refeições. Chegando lá, Ginny relanceou um olhar a procura do seu colega de quarto, e o encontrou sentado junto com Ron e Draco.

Perfeito!

— E aí, galera — cumprimentou empolgada aproximando-se deles —, posso me sentar aqui com vocês?

Sem esperar por uma resposta, Ginny foi logo se sentando. E acabou não notando a troca de olhares de incomodo entre os três amigos.

— E aí, o teste de futebol foi uma palhaçada, não acham? — Foi logo dizendo tentando se justificar. — Qual é, eu no time reserva? Isso foi ridículo, não é mesmo?

Nenhum dos três concordou, e Ginny reparou que o clima ficou estranho e constrangedor, principalmente, para ela.

Mude de assunto, rápido, rápido...

— Então, o jogo contra os Wilders, vai ser interessante...

— E, porque você acha que vai ser interessante? — Harry quis saber, e Ginny notou que ele estava se segurando para não rir.

— A minha irmã estuda em Holloway. Ela namorava o idiota do Michael Corner.

Depois do que ela disse, os três explodiram em risadas. Porém, Ginny não conseguiu entender o porquê daquilo ser tão engraçado.

— Quer dizer, que a Ginny já namorou o tal Michael Corner? — repetiu Ron ainda rindo.

— É, eles namoraram sim — Ginny confirmou, ainda sem entender. — Mas, o que tem de tão engraçado nisso?

— É que eu conheço esse cara — Harry explicou sorrindo. — Já fiz ele chorar durante um jogo.

E mais uma vez, os três caíram na risada.

— Espera aí, foi você?

Ginny se lembrava daquele jogo. Na verdade, não especificamente do jogo, pois ela não havia visto. Porém, ela se recordava claramente da expressão de derrota que Michael fizera depois da partida. Ele sempre fora competitivo demais, e nunca soube perder. Por isso, para Ginny aquela reação não fora uma surpresa, mas ela não havia acreditado quando disseram que o capitão dos Wilders havia chorado com a derrota para os Lions.

— Pode crer, fui eu mesmo.

— É, e foi muito engraçado — Draco falou ainda rindo.

Ginny estava impressionada, afinal, se fosse pelo que ela apenas ficou sabendo, do que os outros disseram que aconteceu naquele jogo, Harry não era simplesmente um jogador qualquer.

— Mas, então, conta aí Geofrey — disse Draco depois de conseguir parar de rir —, a sua irmã é gostosa?

Ron fechou o semblante na mesma hora e lançou um olhar carrancudo para Draco, Harry apenas ficou curioso. Todavia, todos eles ficaram esperando uma resposta de Geofrey.

Só que Ginny não sabia qual era a resposta certa.

— Ããã, é, eu acho que sim... — disse pensando por uns instantes — mas, ela tem uma personalidade incrível.

Os três acabaram torcendo o nariz com o que Geofrey dissera, indicando que garotos não consideravam aquilo como uma qualidade. Não foi uma boa resposta, Ginny.

— Ei, ei Chang na área — alertou Ron, quando duas garotas apareceram no Salão Comunal.

Ginny olhou para a porta de entrada do salão e viu a garota oriental que ela atropelara no outro dia, chamada Cho Chang, entrar junto com uma amiga. Seus olhares acabaram se cruzando quando a amiga dela apontou discretamente com a cabeça para a mesa em que eles estavam. Cho abaixou o olhar timidamente depois de encarar Geofrey por um segundo apenas, do mesmo jeito que ela havia feito quando se encontraram no dia anterior.

— Ei, aquela ali é gostosa — Ginny falou tentando descontrair a situação.

No entanto, mais uma vez, dissera a coisa errada.

— Aí cara, acho bom você não falar dela desse jeito — ameaçou Harry aborrecido, demonstrando estar claramente enciumado.

— Por que? Ela é a sua namorada por acaso? — retrucou ela na defensiva, com um leve embrulho no estômago ao vislumbrar a ideia. 

— Bem, que ele queria... — insinuou Ron com um sorrisinho de canto.

— Eu fiquei sabendo que ela levou um fora daquele namorado dela, o universitário — fofocou Draco —, e agora ela deve estar completamente arrasada, vulnerável, com a confiança e autoestima lá embaixo.

Os quatro olharam novamente para aonde as duas amigas haviam se sentado. E Ginny acabou percebendo que a garota oriental, estava com leves olheiras embaixo dos olhos, demonstrando que ela devia ter passado a noite em claro, chorando.

— Em outras palavras — Ron concluiu —, está na hora de você cair em cima Harry.

Mas, então, um rapaz pomposo com uma postura elegantemente arrogante apareceu e aproximou-se da mesa em que estavam Cho Chang e sua amiga, sentando-se ao lado na garota oriental sem perder tempo.

— Eu odeio esse cara — Harry disse incomodado com a aproximação do outro.

O rapaz pomposo começou a falar algumas coisas para as duas, porém nem Chang e a amiga ficaram interessadas no que ele estava dizendo.

— Parece que você tem um concorrente... — alertou Ginny vendo a cena.

— Claro que não, é o Smith — Harry disse enfaticamente. 

— Um idiota qualquer — constatou Ron, e os outros dois concordaram.

Ginny olhou mais uma vez para onde Cho estava. E num dado momento a garota acabou cruzando o olhar com Geofrey de um modo consternado, como se fosse chorar a qualquer momento.

— Ela parece tão triste. É de partir o coração...

Harry, Ron e Draco olharam para ela com o cenho franzido, estranhando a sensibilidade repentina de Geofrey.

— É só que, eu consigo entender o que ela está passando — justificou. — Eu também acabei de sair de uma relação ruim. Quero dizer, você acha que conhece alguém depois de tanto tempo junto. Mas aí, você percebe que tudo o que aconteceu, não passou de uma grande mentira, cada toque, cada beijo...

— Temos aula de álgebra. Tchau.

Sem esperar por uma conclusão os três saíram o mais rápido possível dali, quase correndo. Antes que Geofrey desse mais uma demonstração de toda a sua sensibilidade “masculina”.

— Além disso, é quase impossível fazer uma menina calar a boca! — ela tentou consertar, mas já era tarde demais.

Que ótimo, ao invés de fazer parte da turma, você vai ser terminantemente excluída Ginny.

x.x.x.x

Depois daquele treinamento torturante, ir dormir fedendo, não era uma experiência muito boa.

Por causa disso, Ginny resolvera acordar antes de todo mundo. Às 4hrs da manhã mais precisamente. Para tentar pegar o banheiro masculino deserto.

Felizmente, era assim mesmo que ele estava quando ela chegou lá.

— Eu não acredito — sussurrou contente consigo mesma. — O chuveiro está vazio!

Em seguida, começou a se preparar para um bom banho — o mais demorado possível —, movendo-se rapidamente, antes que algum intrometido aparecesse. Retirou o pano que usava para disfarçar os seios, enquanto fazia uma dancinha alegre e feliz no meio do banheiro.

Infelizmente, sua felicidade durou muito pouco...

— ARÁ! 

Assustada ao perceber que não estava mais sozinha no banheiro, Ginny virou-se rapidamente escondendo o corpo de modo apreensivo quando, o tal Smith do jantar, apareceu de roupão olhando acusadoramente para Geofrey.

Droga, ele percebeu, ele sabe!

— Sou Zacarias Smith, monitor-chefe e membro da Supervisão Disciplinar. E devo dizer, que você está claramente violando uma regra muito óbvia — ele constatou veemente direcionando o olhar para baixo, e Ginny seguiu-o com temor. — Onde estão os seus chinelos de borracha? Temos que usá-los antes de entrar no chuveiro. Você não leu o regulamento?

Ela respirou fundo fechando os olhos, aliviada por ele não ter percebido nada que fosse relevante ao disfarce. Em seguida, Ginny acabou revirando os olhos para aquele maluco metódico do banheiro. 

Logo depois, Harry pareceu no banheiro exibindo seu abdômen definido e seus olhos verdes semi-acordados. Que ótimo, ele é lindo até com a cara amassada. Ele passou ao lado dos dois dando uma “atoalhada” proposital na cabeça do mauricinho chato, fazendo-o lacrimejar e perder o foco e Ginny acabou rindo daquilo. Só que não poderia estar mais irritada, por eles estarem ali, cedo demais...

Droga, banheiro cheio. De novo.

— E aí, cara — tentou cumprimentar cordialmente.

— E aí — resmungou Harry, com um belo mau-humor matinal.

Como sempre...

Por isso, sem querer ficar ali por muito tempo Ginny foi logo juntando suas coisas.

— Então tá, nós vemos por aí.

Estava quase saindo do banheiro, quando Harry chamou por Geofrey.

— Ei, cara, você esqueceu o seu... — ele alertou enquanto segurava a facha de pano que Ginny usava para disfarçar os seios — pano?

— Ah é, valeu.

Ela pegou rapidamente o que havia esquecido — antes que ele percebesse e fizesse alguma pergunta —, e saiu o quanto antes dali.

x.x.x.x

A partida contra os Wilders estava acontecendo.

Mas, não era uma partida normal. Os jogadores batiam uns nos outros de propósito, como se fossem leões selvagens sedentos por sangue. Era uma partida brutal e violenta.

— WEASLEY, VOCÊ VAI JOGAR — gritou o técnico Black.

Ginny que estava no banco de reservas, ficou sem entender absolutamente nada.

— Vamos Weasley, você ficou surtada? Levante daí, agora! — repreendeu o técnico, mais irritado do que nunca e ela quase pulou do bando.

No entanto, quando Ginny se levantou, percebeu que não estava usando o uniforme do time, estava com um vestido de debutante cor de rosa com muitos babados e uma armação enorme deixando-o volumoso da cintura para baixo; uma escolha obvia que sua mãe faria. Só que ela não estava indo para um baile, mas, sim, para uma partida de futebol brutal, selvagem e lamacenta.

Ela corria e desviava de todo mundo que conseguia, tentando driblar a bola dos outros jogadores, enquanto segurava os babados do vestido. Alguns jogadores se atacavam no meio do caminho, se jogando uns contra os outros. Quando Ginny finalmente conseguiu chegar em frente ao goleiro dos Wilders, seu ex-namorado. Percebeu que ele não estava nenhum pouco preocupado.

Michael sorria debochadamente dela. Dizendo com gestos que ela nunca iria passar dali.

Ginny então se preparou para dar o chute em direção ao gol.

Olhou fixamente para Michael que continuava rindo dela, se posicionou e chutou a bola com toda a força que conseguira. Nem ao menos acertou a bola. Escorregou nos babados do vestido antes, caindo lentamente em direção ao chão lamacento, girando com os pés para o alto, caindo e, levando consigo toda a sua dignidade.

Todos ao redor estavam, rindo, debochando e gargalhando dela.

Estirada no chão, Ginny olhou para o céu. 

De lá uma enxurrada de água caiu como um baque em cima dela...

Acordou atordoadamente com nariz entupido d’água.

— ESTÁ NA HORA DE ACORDAR! — gritou alguém, enquanto várias mãos seguravam Ginny e a erguiam de sua cama que antes estava quentinha e confortável, mas que agora estava completamente fria e molhada.

— ME SOLTEM, ME SOLTEM! — ela gritava como uma garotinha assustada.

Alguns instantes depois, Geofrey e o restante do time reserva estavam amontoados num canto escuro do vestiário masculino, com todas as luzes apagadas, sem poderem ver nada. Os titulares do time que naquele momento cobriam os rostos com máscaras pretas, faziam uma baderna enorme.

— SEJAM BEM-VINDOS AO INFERNO!

Um deles gritou a plenos pulmões, e todos os outros responderam rosnando como leões selvagens, batucando e batendo os pés.

Não acredito, eles estão fazendo a iniciação...

Em seguida, os leões selvagens começaram a jogar restos de comida nos novatos com direito a mingau de aveia, purê de maça, e molho de tomate. Na junção se formou uma pasta grudenta e fedorenta, pois provavelmente eram restos de comida estragada.

— Senhores — um deles começou dizendo, — quero apresentar à vocês, os novos jogadores do time deste ano!

Como índios num ritual, continuaram a batucar tudo que viam pela frente. Rosnando e gritando.

— TIREM A ROUPA AGORA MESMO!

Ah não, a roupa de novo não...

Logo, sabendo que não era um pedido, mas, sim, uma ordem, todos os novatos começaram a tirar os seus pijamas grudentos que estavam usando imediatamente. Menos Ginny, que estava pensando desesperadamente num jeito de sair daquela bagunça. 

Sabendo que era mais baixa que todo mundo que estava ali, sorrateiramente Ginny abaixou-se discretamente entre os rapazes, se esgueirando por debaixo de todos eles. Quando conseguiu chegar até uma parte segura do vestiário perto na porta de saída, lembrou-se que havia um alarme de incêndio bem ao lado da porta. Por isso, sem demorar ou pensar muito, acionou o alarme.

Um chafariz de água saiu por todos os canos de água da sala. Causando uma confusão total.

Aproveitando a distração, enquanto os rapazes tentavam entender o que havia acontecido, Ginny saiu correndo dali.

Chegando na ala masculina, ela percebeu que não poderia ficar ali naquele estado, toda suja de mingau de aveia, purê de maça, e molho de tomate.

Só que não poderia ir para o banheiro masculino, já que estava quase amanhecendo, e provavelmente muitos já estariam por lá. A ala feminina, estava fora de cogitação também. Contudo, havia apenas um lugar que Ginny sabia que não haveria ninguém... Pelo menos, não alguém que estivesse vivo.

x.x.x.x

O banheiro feminino interditado estava silenciosamente quieto.

Aquilo era um bom sinal, afinal Ginny não escutou nenhum choro de criança. Portanto, a murta-que-geme não devia estar ali.

Nossa, isso é ridículo Ginny. Fantasmas não existem!

Ela olhou em volta do banheiro mais uma vez, averiguando ao redor, e acabou concluindo que realmente não tinha por que ter medo de aparições de uma garota morta.

Estou assistindo Supernatural demais...

Rindo consigo mesma, Ginny sentiu-se um pouco mais aliviada, por saber, que pelo menos ali, ela poderia tomar um banho tranquilamente, sem se preocupar que alguém fosse parecer de repente.

Por isso, ela começou se livrando aquele pijama sujo e nojento. Depois para se sentir mais livre, tirou a facha de pano que comprimia o seu peito. Mas, quando fora tirar a peruca ruiva... Ginny ouviu a porta do banheiro ranger, e imediatamente percebeu que não estava mais sozinha no banheiro.

— O que você está fazendo aqui? — ela ouviu Hermione Granger a monitora chefe, indagar.

Ginny virou-se lentamente para encarar a expressão zangada da outra garota. E contemplou a expressão furiosa de Hermione se alterar rapidamente para chocada, quando ela entendeu astutamente quem Geofrey Weasley era na verdade.

Agora, sim, você foi desmascarada Ginny...

Maldita falta de sorte.


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Peço mil desculpas pela demora gente. Mas, essas últimas semanas não foram fáceis.

Não quero que próximo capitulo demore muito, mas nunca se sabe o dia de amanhã, não é mesmo...? Por isso, não prometo nada.

Só espero, que vocês me digam o que acharam. Então, será que a Hermione vai descobrir tudo agora? Me falem o que vocês acham que ela vai fazer...

Viram o fenômeno da Superlua? Foi lindo, não é? O próximo será só daqui 18 anos em 2034. Mas não se preocupem o próximo capitulo da fic, não vai demorar tanto assim... eu acho hahaha.

Um grande abraço.