Com o passar dos anos, Catelyn acabara por perdoar o marido, mas mesmo assim não aceitava a presença do enteado na mesma casa que ela. Na verdade, ela fez tudo o que podia para que Ned devolvesse o garoto.

Ao contrário da mãe, Robb Stark considerava Jon seu melhor amigo durante a infância; afinal cresceram juntos; e seria absolutamente normal que ambos além de frequentar a mesma escola, estivessem na mesma sala. A Mrs. Stark fez dos céus terra e no fim, os garotos foram separados, na escola, o que não impedia o filho de ir em busca da companhia do outro.

Todos os dias, o pequeno e ruivo Robb saia de sua sala, correndo pelas escadarias da escola em busca do meio-irmão, e numa dessas vezes o garoto se acidentou.

Era horário de aula e o Stark tinha fugido se sua sala. Por faltar algum tempo para o intervalo a escola estava sendo limpa naquele exato momento, e o piso estava molhado e escorregadio. Ele não sabia ler, e também não prestara atenção na placa que avisava, estava com pressa e ansiava pelo irmão, queria mostrar-lhe o mais novo desenho feito em sala.

A queda inevitável aconteceu e a criança bateu a cabeça.

Catelyn saiu desesperada de casa, vestindo uma blusa do avesso e o cabelo despenteado, para chegar à enfermaria e ver ninguém menos que o bastardo do seu marido cuidando de seu menininho. Ele quem havia descoberto o irmão inconsciente no corredor.

A mão gordinha de Jon Snow, como fora chamado, pousava hora na testa do ruivo, hora na sua. Ele não sabia nada sobre medir temperatura, mas seu pai, Ned Stark, havia feito isso inúmeras vezes quando estava doente. A cadeira ao lado da cama havia sido abandonada e o moreno sentava sobre a cama para facilitar o acesso ao meio irmão. Os dedos da mão livre de Jon apertavam a mão inerte de Robb. O rosto pálido, tão parecido com o de seu pai, estava vermelho e banhado em lágrimas.

Entrou rapidamente pegando o primogênito no colo.

—Vamos pro hospital Jon.

Dois dias depois e Robb ainda estava internado, inconsciente. Seu pobre menino não merecia esse tipo de sofrimento. Catelyn ficava o tempo todo junto ao menino, sem comer, beber, dormir... Ned vinha sempre trazendo o outro filho, que se sentava do lado oposto do ruivo, encarando-o na expectativa de que ele iria acordar apenas por sua presença.

Agora, era apenas ela e os dois meninos. Ned havia ido atender uma ligação da Empresa, alguma coisa tendo relação com seu amigo Robert, um bar e menções a Raegar Targaryen. Catellyn Tully observava apenas o filho, todo o resto eram meros vultos memoriais que logo iriam embora com o vento. E então começou a chorar em cascata. O peso do peito chegou num ponto em que ela não podia mais suportar.

Pelos Deuses, ela sentia falta da risada doce, dos abraços macios de seu pequeno... Seu corpo tremulava em reposta aos espasmos, e precisava se apoiar na cama pra poder inspirar e mais lágrimas caírem.

—Mãe, não chore... – Uma mão pequena e fria apertou a sua e instintivamente olhou seu pequeno Robb na maca, imóvel.

O pequeno Jon Snow lhe olhava com lágrimas caindo pelo rosto, assim como ela. Mergulhou naqueles orbes escuros, e deu um tapa na face do menino.

—Nunca mais me chame assim. Eu não sou a sua mãe! – Jon, assustado, levantou rápido do chão, interpondo a maca do meio irmão entre os dois. Murmurou baixo um “desculpe” olhando seus próprios pequenos pés.

Ned Stark entrou no quarto observando, calado, a esposa e o filho. O menino trazia uma marca vermelha no rosto que não estava ali quando ele saíra do quarto, a mulher encarava o outro, completamente alterada, e Robb se mexendo coçando os olhos.

Robb fora liberado do hospital no mesmo dia, pouco depois de a marca no rosto de Jon sumir. Mas o coração frágil do garoto ainda estava ferido.