Em cinco estações escrita por Glória San


Capítulo 2
Capítulo um – Este mundo pode ser salvo


Notas iniciais do capítulo

Olá, estou de volta, e conto que estou pensando em fazer uma playlist pra fic... Não sei, mas quero terminar no capítulo 5, enfim. Digam o que estão achando e boa leitura ♥



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Capítulo um – Este mundo pode ser salvo

Este mundo pode ser salvo.

Era tudo o que Efrem sempre pensou, tudo em que suas ideologias se baseavam.

Quando todos achavam que o mundo era cruel demais, que faltava apenas um meteoro: oh, ele tentava ver o lado bom da situação. Isso começou quando, com doze anos de idade, ele descobriu que a marca em seu pulso queria dizer que, sim, ele não estava sozinho. Que não precisava sentir medo de seu pai pra sempre, que alguém viria protegê-lo e salvá-lo, que o mundo poderia ter pessoas boas.

(Talvez esse tenha sido seu grande erro. Não acreditar que saiu daquela situação sozinho, colocar suas esperanças em um deus e em alguém que nem sabia que ele existia; ele era forte, apenas não via isso naqueles dias. Não como via hoje.)

Pessoas como a professora que viu seus hematomas, quando ele tinha quatorze anos, e o ajudou; pessoas como seu vizinho que disse que não havia nada de errado com ele, quando em seu país era proibido até mesmo falar para as crianças sobre sua existência; pessoas como a amiga que contou sobre as almas gêmeas e sobre como ele deveria ter esperanças.

Esse mundo não é inteiramente cruel.

Não quando, com dezoito anos, ele conseguiu sair da casa do pai com o próprio esforço. Foi graças às aulas de teatro que fazia na escola de um senhor que frequentava à mesma igreja que ele. Efrem era um bom ator, e esse senhor, Aleksandr, sabia de sua situação. Não foi moralmente difícil para o garoto unir o útil ao agradável.

Ainda assim, com sua situação familiar caótica e infância no mínimo complicada, Efrem não conseguia odiar alguém. Era frustrado, claro; às vezes não deixava de pensar em como poderia ter sido sua vida em outro lar. Não reprimia isso, claro que não... Porém, mesmo seu pai, agressivo e sempre alto por drogas ilícitas ou álcool, não era odiado; pelo contrário, Efrem o compreendia.

Como não entender alguém que perdeu tudo, desde a alma gêmea até todos os bens materiais, tendo assim arruinados toda estabilidade, bens financeiros e felicidade? Não era difícil ter empatia por alguém tão infeliz.

(No começo, antes de conhecer a história do homem, seus pensamentos eram quase egoístas: por que amar sua alma gêmea e não um pedaço dela, o que ela deixou pra trás? Mesmo assim, nem ele sabia se poderia amar uma pessoa que matou sua pessoa designada. Parou de culpar seu pai depois disso).

Efrem sabia, porém, que parte do que seu pai sentia por si era sua própria culpa. Ele teria sido um filho mais querido se não fosse sua orientação sexual; como uma bússola quebrada, ela apontava para o lugar errado. Para onde definitivamente não deveria apontar no lugar em que Efrem morava. Ele pensou seriamente em cometer suicídio mais vezes do que poderia se lembrar. E a frase em seu pulso direito era tudo o que tinha para se apegar quando as coisas pareciam impossivelmente insustentáveis.

“Sempre podemos registra na memória”. Que tipo de pessoa falaria isso para alguém a primeira vista? Não era um julgamento, longe disso! Efrem apenas ficava realmente curioso para saber quem poderia falar algo assim sem se constranger. Era uma frase bonita e ele ficava contente por não ser aquelas pessoas que tinham em uma parte muito visível alguma ofensa aos antepassados ou xingamentos bem mais diretos (existiam muitos e muitos casos de pessoas cujas almas gêmeas foram encontradas em situações... adversas).

Ele sempre se apegou a esse detalhe. Ao de que haveria alguém gentil e profundo o suficiente no mundo para, no primeiro encontro e para um completo desconhecido, falar algo acalentador assim. Foi o fato que o manteve vivo durante anos dentro de sua armadura de poeira cósmica.

Então, por que agora algo parece errado com esse pensamento? Por que parece ingênuo?

Ah. Porque Efrem encontrara sua alma gêmea. E foi a coisa mais decepcionante que já aconteceu em sua vida. Os anos com seu pai, as dificuldades que passou na Rússia: tudo isso foi uma bobagem em comparação a seu coração quebrando em milhões de pedacinhos, até se transformar em pó.

As desilusões desse dia não foram, infelizmente, algo superficial a ponto de ser em nível de aparência... Essa parte foi perfeitamente bem. Não que a ligação característica desse nível de compatibilidade não tenha sido suficiente. Oh, como foi. Demais, até. O desapontamento não era com a pessoa em si, mas com a situação. Foi tão diferente de como ele idealizou durante toda sua vida que, quando deitou a cabeça no travesseiro e se lembrou do sorriso fácil do homem, questionou-se pela primeira vez em anos o porquê de parecer estar fadado a tanta desventura. Nada parecia dar certo por muito tempo em sua vida.

O que aconteceu naquele dia foi muitas vezes passado por sua cabeça; Efrem chegara mais do que animado no estúdio, acompanhado da amigável Sun Hee, uma das mulheres que mais admirava no meio da moda, que o trouxe de Milão apenas porque seu novo chefe pediu. Ao que parece, ele era bem influente por aqui. (E não é como se o modelo sentisse qualquer culpa pela forma que entrou. Se por propostas, ele estaria em alguma série americana muito bem sucedida. Seu pai apenas não poderia saber de sua nova vida, ou melhor, que ele ainda existia).

O lugar era enorme por dentro e por fora, entretanto, o modelo não deu tantas atenções. Estava acostumado. Sun Hee o olhou de forma cortês, como agiu em toda a viagem que fizeram juntos, e sorriu um fino sorriso de boca, sem dentes e simpatia exacerbada, apenas educação.  

— Você pode conhecer com quem vai trabalhar nesse shoot, Efrem. Eu te garanto que são todos ótimos profissionais! – ela riu de forma claramente forçada. Efrem devolveu em sorriso calmo, de sua índole, porque não tinha a intensão de fazer o dia dela ainda pior. Pedira fervorosamente a ela para que pudesse acompanhá-la em sua visita ao estúdio. Ela preferia que ele ficasse no hotel e não a atrapalhasse, ao que indicava tudo, mas ele estava curioso demais para ajudá-la.

Conversou com uma das maquiadoras e perguntou pelo fotógrafo. Sabia que ele era uma das partes mais importantes do trabalho e que, quase como amantes, eles precisavam sentir alguma ligação (mesmo que modelos fossem frios e distantes nas fotografias; apenas não, claro, se o trabalho exigisse). Pelo menos foi assim nos últimos trabalhos.

— Ah, o Demétrio. – ela deu de ombros, pouco interessada. Parecia íntima deles. – Ele é casado com a Sun. Só que não ‘tá aqui porque é marido dela, mas é marido dela porque é um bom fotógrafo. Ele já trabalhava aqui bem antes de se casar. – a moça parecia um pouco apressada em defendê-lo, o que só fez Efrem pensar que o homem era uma dessas pessoas agradáveis que conquistavam rapidamente lealdade e admiração.

Sentiu-se aliviado. Conhecia o trabalho de Demétrio Acarella e nossa... Nunca viu tantas emoções cruas e tanto trabalho de luz em um único ensaio. Claro, o modelo ajudava, entretanto, aquilo não era um trabalho de pura aparência. Era técnica e paixão, era qualidade pura. Efrem não era um modesto a ponto de ser obtuso. Ele sabia bem que se encaixava em todos os estúpidos padrões de beleza da sociedade; então, só podia concluir que qualquer trabalho seu em conjunto com Demétrio seria excepcional.

— Então eu vou lá, Carmen. – esse era o nome da mulher. Sorriu amigavelmente e se despediu com um aceno mínimo. Estava ansioso para conhecer o homem por trás das fotos mais bonitas, em sua opinião, e mais bem pagas, um fato indiscutível, na indústria da moda. Entrou na sala de enorme porta preta e olhou ao redor. Uma mulher de mais ou menos sua idade estava tendo ajuda para os últimos retoques da maquiagem, antes das fotos.

Algumas pessoas posicionavam as luzes e as ajustavam, enquanto outras organizavam as peças de roupas para a próxima sessão. Ninguém estava parado; menos, é claro, Sun Hee e o homem ao seu lado. Ele limpava, concentrado, a lente de uma câmera que a Efrem não interessava marca ou modelo, mas o fazia com tanto cuidado que não pôde deixar de pensar que era emocionalmente importante ou, no mínimo, cara.

Era como um amante tocando na companheira, com devoção e carinho. Era bonito de se olhar. Sorriu de uma forma que não conseguiria explicar se pedissem que o fizesse. Antes que pensasse no que falar, saiu em sua voz, animada e limpa, não cansada e fraca, como se sentia depois de horas num avião:

— O homem da minha vida está aqui, eu não acredito! – Riu sem saber por que. Talvez pela cara de espanto que ele fez, porque talvez não estivesse acostumado com modelos que tratassem tudo com tanta... falta de profissionalidade. Não foi sua intensão, com certeza não, mas saiu. Nada que pudesse fazer mudaria isso. Talvez se arrependesse mais tarde; a saída agora era continuar no papel. – Esse é o melhor dia de todos! Sun Bae Hee e Demétrio Acarella na mesma imagem. Nem sei o que dizer, apenas queria ser você e registrar o momento... – sorriu mais largamente quando os olhos castanhos (com tons esverdeados, talvez... Refletiria mais tarde, sozinho em sua cama) arregalaram-se por trás dos óculos e o observava com atenção indisfarçada.

Sun se remexeu desconfortável, e foi em consideração a ela que Efrem não continuou com... o que quer que estivesse fazendo. O fotografo parecia bastante desconfortável, e foi divertido fazê-lo assim, como nunca antes. O rapaz não era babaca a esse ponto. Qualquer arrependimento foi minado, porém, quando Demétrio lambeu os lábios finos e aparentemente ressecados da mesma forma que alguém com os lábios machucados pelo frio faria em seu país. A ação adorável só saiu de seu cérebro quando ele sorriu pequena e amigavelmente. Sentiu algo se movendo em seu estômago, indo em direção ao duodeno e opa! Estava solto em todo o seu tronco, batendo no peito e em todo o abdômen também, pedindo para ser libertado.

— Sempre podemos registrar na memória. – então o que quer que estivesse no tubo de seu sistema digestório já subira o suficiente para se prender na garganta e tornar o ato de respirar suficientemente difícil. Efrem nem lembrava mais o que falara para receber aquela resposta. Os joelhos fraquejarem e os olhos molharem rapidamente com a falta repentina de ar. – Eu tenho muitos ciúmes das câmeras. – Sua mão esquerda correu ao pulso direito inconscientemente, sentindo a frase queimar e doer, pela primeira vez em sua vida. Um clima pesado e desconfortável, como uma tempestade no meio de um piquenique, se instalou em todo o cômodo. Todos perceberam que havia algo ali, entre eles.

Então era isso encontrar sua alma gêmea? Ela não era verdadeiramente sua? A única pessoa que o entenderia no mundo não estava interessada? Qual o sentido de esperar tanto, então? Por que ele encontrou outra pessoa que parecia tão perfeita ao seu lado? Por que estava agindo tão egoísta de repente, como nunca antes, nem mesmo com seu pai? O que acontecia com o casamento dele? Com ele e com Sun? Os pensamentos invadiram sua cabeça em enxurrada, sem realmente seguir alguma ordem lógica. Engoliu as lágrimas e o bolo na garganta, como estava acostumado a fazer. Aquela pessoa não merecia - apesar de não o ter esperado, apesar de não o dar esperanças - seu lado chorão e triste.

— Efrem Petrovich, apesar de eu achar os sufixos uma frescura. – riu discretamente, estendendo a mão. Os sufixos eram mais complicados que isso, mas preferia que não fosse chamado por eles. Não queria, mas algo o impulsionou a olhá-lo melhor. Os óculos finos, os cabelos alourados, o nariz reto e o sorriso de caninos levemente tortos... Tudo fez seu peito quente, mesmo que triste. – Pode me chamar só de Efrem, ou de fã. Eu não me importo. – Apertou a mão com firmeza, sentindo sua pele arrepiar com o contato direito. Não queria que Demétrio percebesse sua reação inapropriada, mas achava difícil quando ele mesmo olhou com um pouco de rancor a aliança dourada na mão esquerda.

— Efrem parece de origem russa. – a voz que não era particularmente atraente, mas compreensiva e cheia de mansidão, puxou conversa. Do jeito que estava, não achava que conseguiria falar mais, então sorriu e acenou. – Você sabe então, como fã, que sou casado com Sun Hee? Essa adorável dama é a minha esposa. Incrível empresária, incrível publicitária. – recebeu um sorriso apologético e quis cometer algum ato de violência ali. Como assim eles não teriam ao menos uma conversa para porem-se a par da situação? Ele era cruel... Falando assim que não tinham chances, que acabava por ali o que quer que tenha alimentado... Os ombros estavam tensos e doloridos, a garganta apertada de raiva e todos os seus ideais e esperanças se desfazendo em um sopro... Não queria pensar sobre isso, verdadeiramente não. – Desculpem-me. – ele falou para todos, mas parecia estar olhando diretamente para si. Apertou as mãos em punhos quando Demétrio pegou a câmera e ajustou os óculos, encarando-o por cima das lentes. – Tenho que terminar de ajustar o material para a próxima sessão. Descansem bem, Sun e Efrem. – ele falou para os dois, mas, por algum motivo, parecia tudo para si, apenas para si.

Efrem acenou positivamente, sem condições de falar alguma coisa. Sun olhou dele para o esposo, o rosto torcido em uma expressão indecifrável. Os lábios se partiram em desgosto quando ela sussurrou para o fotógrafo um baixo “em casa conversamos.”. Tudo estava em silêncio, mas seu coração fazia barulho suficiente sozinho.

...

No trabalho, tudo aconteceu de forma automática. Nenhuma imagem parecia ter a emoção que deveria; a luz não parecia certa, o ângulo estava errado. O dia fora totalmente improdutivo. Só não mais improdutivo, desconfiava Demétrio, que meu dia será em casa.

Destrancou o apartamento na cobertura e abriu a porta, esperando mais que tudo tomar um banho e poder esquecer os olhos cor de avelã. Queria ter uma noite calma que não parecia possível; não, ao menos, quando sentada no sofá estava Sun Hee, o esperando. Ela parecia confortável em seu pijama de algodão, os cabelos presos descuidadamente, dando a ela um charme que apenas pessoas que você considera bonitas podem ter quando estão desalinhadas daquela forma.

Ele não reparou nisso, contudo. Não reparou em nada da aparência dela, porque não poderia, quando naquele dia a pessoa mais bonita que viu na vida simplesmente fez sua tatuagem arder.

Pensou que todos os seus planos afundaram no momento em que Efrem entrou em seu estúdio. Como conversaria com Sun sobre um possível tempo quando, naquele dia, aconteceram tantas coisas? Ele já tinha prometido a ela que nunca a abandonaria por uma inconstância. Não por alguém que acabara de conhecer. E se sabia de Sun, é que ela pensaria exatamente algo assim se Demétrio tocasse no assunto.

— Você quer conversar sobre isso? – ela questionou, não de forma rude e muito menos de forma melosa, mas firme e condescendente, como se lembrava dela. Observando-o com seus atentos olhos amendoados, ela levantou-se e caminhou até ficar em sua frente, o fino queixo projetado em sinal de que ela não tinha medo. Não percebeu naquele momento, porém mais tarde a adoraria por isso.

— Sobre o quê? – respondeu verdadeiramente confuso, porque não esperava que ela soubesse acerca do que ele queria falar. Então, não poderia imaginar qual era o assunto.

— Sobre o que aconteceu hoje, Demétrio. Eu não acho que sua reação tenha sido anormal, mas...

— Que reação, Sun Bae? – usou o primeiro nome dela completo, como nunca fazia quando estavam sozinhos. Mesmo que odiasse tudo aquilo, ainda eram amigos. Não tinha possibilidades de ela não ter percebido que havia algo errado com ele, contudo, será que pode realmente ter percebido tudo, perscrutado sua alma em tão pouco tempo?

— Você sabe do que estou falando e, se não quer que isso continue, precisamos conversar. – ela quase se alterou, irritada como nunca se mostrara antes. Demétrio se assustou porque, mesmo que achasse conhecer todas as facetas de sua esposa depois desses anos, não parecia ser bem verdade. Nunca a vira explodir antes. – Encontrou sua alma gêmea, e daí!? Eu já encontrei a minha e ainda assim eu gosto de você! – “Eu gosto de você”, pensou amargamente, nós nunca dissemos “eu te amo”.

A última parte dita em tanta angústia o preencheu de culpa. Ela não percebia? Será que sou o único aqui que vê a disfunção dessa merda toda? Demétrio sabia que Sun e ele não se amavam como um casal. Nem sequer se desejavam como um casal! Olhou para o chão, porque a conversa não parecia que poderia ser adiada.

— Você gosta de mim. Você não me ama. – declarou simplista, porque era a verdade. Chegara a essa conclusão enquanto bebia, durante os últimos oito meses. Ela tomou uma respiração afetada e posicionou a cabeça em um ângulo que mostrava claramente sua indignação.

— Você não pode agir como uma vítima, Demétrio, porque também não me ama! Eu sinto o cheiro de tudo o que você toma antes de ir pra cama! Eu sei de tudo o que você fala enquanto dorme! – cuspiu, não com a intensão de machucar que ela obviamente não tinha, mas com raiva e frustração que guardara por dias e noites. Demétrio se sentiu triste e sujo por fazê-la passar por isso. Sun era boa demais para sofrer assim por alguém que nem a amava.

Ela percebeu o que falara, provavelmente, e suspirou, cansada e arrependida. Torceu as mãos pequenas entre si e fechou os olhos, magoada. Parecia estar tomando a decisão mais difícil dos últimos tempos.

— Desculpa por isso. Apesar de eu não estar errada sozinha. – acusou-o levemente, e o silêncio se fez presente por alguns segundos. Ela abriu a boca para tentar respondê-la, mas fechou rapidamente, como um peixe. Ela o encarou melhor e torceu os lábios, desviando o olhar para seus pés descalços. – Eu nunca vou te prender a mim. – sussurrou, chorosa. – Nunca vou te ameaçar e não quero ser egoísta... Eu sei bem que você não tem a intensão de nos machucar, eu também não tenho. – ela soluçou. Demétrio sentiu as pernas de repente fracas. Estava tão ferido por si só, tão chateado por fazê-la insegura... Se pudesse, ele certamente a amaria e então eles não teriam que passar por isso!

— Sun, não tem que...

— Calma, me deixa terminar. – ela riu baixinho, não parecendo ter forças de aumentar o tom de voz. – Eu quero que saiba que eu não culpo a você e nem ao menino... Eu sei o quanto é inevitável e o quanto dói... Não quero que passe pelo que passei. E quero mais! – ela continuou, quando viu sua expressão mais abalada do que quando sua mãe morreu. Naquele tempo, ele não estava preparado para a tragédia, e a ficha demorou a cair. Aqui e agora, o que tanto previu acontecia bem diante de seus olhos sem que pudesse fazer algo para impedir. Não algo útil, pelo menos. – Não se culpe por nós não sobrevirmos. Acontece.

Demétrio sentiu os olhos úmidos e a garganta travada. Ele se recusou a botar pra fora por tanto tempo, e agora parecia vir tudo de uma vez. Quando Sun o viu chorando, ela saiu de seu papel sério e responsável e o abraçou, escondendo seu rosto vermelho e triste em seu peito, fungando. É por isso que eles deram certo por três anos. Porque Sun sempre segurou as pontas quando essas coisas aconteciam. Mas agora...

— Eu não quero que você se culpe pelo o que não é sua culpa. Nesse momento apenas nós, não a situação e nem sua alma gêmea... Nós dois quebramos tudo e não adiantou nada. A gente já era um monte de pedaços. – Ele a abraçou mais forte.

— Eu te amo, Sun. – desengasgou as palavras de uma forma dolorosa, beijando o topo de seus cabelos macios. Foi a primeira vez que falou algo assim, e nem sequer tinha os sentimentos certos, mesmo depois de três anos. – Você é a minha melhor amiga. – ela riu e o silêncio foi o único barulho que se podia ouvir, até que ela respondeu.

— Eu também te amo, Demétrio. Porque você também é meu melhor amigo. – ele achou, verdadeiramente achou que poderia ser o amor da vida dela, assim como ela poderia ser o amor da sua. Mesmo que não fossem almas gêmeas, eles eram compatíveis e se adoravam. Ele sabia, entretanto, o porquê de não terem dado certo; não foi por faltas de esforços, eles tiveram o suficiente disso, afinal. Foi porque não se pode estar entre uma mulher e a sua solidão.

Eles riram. Então, doce e levemente, abraçados e ligados pelo laço mais forte desse mundo, algo que não era acidental como sangue ou tatuagens, eles choraram.

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Notas finais do capítulo

Eu vou tentar explicar um pouco sem spoilar ou sem afetar a interpretação de ninguém: na Rússia, é proibido falar para crianças que gays existem. Na Rússia, não é proibido ser gay, mas é uma merda. E o Efrem definitivamente é bom demais pra passar por isso. Eu o amo e vou protegê-lo.
Então, no meu UA Soulmate, a orientação sexual existe. Se você é lésbica e sua alma gêmea é um homem, você não será sexualmente atraída para ele. Poderão ser amigos e o coitado pode (muito provavelmente vai) se apaixonar por você, mas você não pode fazer nada, azar o dele. HAHAHAHA é bem a minha cara fazer essas coisas.
Enfim, Sun rainha, resto nadinha, minha personagem preferida. Então, digam o que estão achando (principalmente você, Yasmin, vamo falar mal do Demétrio).



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