The Letter escrita por Regina Rhodes Merlyn


Capítulo 1
Capitulo Unico


Notas iniciais do capítulo

Podem me chamar de maluca!! Eu deixo. Até porque devo ser mesmo!!!
Com quatro fics pra cuidar, invento esta One!! Só posso ser maluca!!!
Se bem que não inventei. Essa criatura( a One Shot) me acordou l i t e r a l m e n t e as cinco da manhã de ontem "pedindo pra nascer"!! Bem que tentei ignorá-la mas revelou-se impossível.
E neste caso qual o melhor a ser feito?? Não lutar!
Portanto, eis-me aqui,flores , para minha primeira one.
E não podei ser diferente. O meu, o seu, o nosso casal favorito, Rhodreese(ou Rheese,como já vi em alguns lugares!) é o protagonista.
Boa leitura. Aguardo o retorno de vocês....
Bjinhos flores...
P.S: Cartas, do Roupa Nova, ditou o tom desta One Shot!



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"Cartas, não olham nos olhos; Foi bem mais fácil escrever; Dentro de cada palavra vai um pouquinho do meu coração..."

 

Chicago Med (corredor do hospital)

Recosto minha cabeça na parede, fechando os olhos. Estou cansado. Estou muito cansado. Cansado de tudo e de nada. Cansado de não poder interferir. Cansado de não conseguir por um ponto final nessa situação!!

Não sei que dia é hoje. Se é final se semana ou feriado. Perdi a noção do tempo desde que cheguei aqui e desisti de prestar atenção as conversas das pessoas pelos corredores

Suspiro. Apesar de os primeiros dias terem sido os mais estranhos e dificeis, o passar dos dias não tem ajudado muito. Nem melhorado minha situação. Ou piorado.

Na verdade é essa incerteza que está me destruindo aos pouco.

'- Está triste?'—-escuto uma vozinha doce perguntar a meu lado e viro a cabeça em sua direção, abrindo os olhos. Sentada na cadeira do lado, uma garotinha de espertos olhos negros e sorriso angelical me observa, atenta e curiosa, balançando as pernas---'Está triste?'—repete.

'-Não....E sim'—-respondo, deixando um sorriso triste transparecer em meu rosto.

'-Não fique!'--pede,ficando de pé sobre a cadeira, levando as duas mãozinhas a meu rosto, segurando-o--'Vai dar tudo certo. Você vai ver!'—-garante, com a certeza e pureza que só as crianças tem.

Antes que eu tenha a chance de responder, minha atenção se volta para o quarto a nossa frente onde os monitores disparam freneticamente, alertando os médicos que mais uma vida estava chegando ao fim. 

Em poucos minutos, uma multidão de médicos e enfermeiros chega ao quarto,iniciando os procedimentos de ressuscitação.

Em outro tempos, eu certamente seria um deles,lutando para manter a vida do paciente.

Agora tudo que posso fazer é olhar e torcer por meus colegas, acompanhando seu desespero e angustia quando,mais uma vez, perdem a batalha.

Sinto uma mão apertando a minha e me volto para a garotinha, que observa a cena em um misto de ansiedade e medo. Aperto sua mãozinha de volta, sorrindo compreensivo.

'-Sophie, está na hora.'—-escuto uma voz de mulher chamar e ergo os olhos vendo-a aproximar-se pelo corredor,parando junto a nós, a mão estendida na direção da garotinha a meu lado--'Vamos?'—-convida.

'-Mas já??'—-Sophie questiona, chorosa--'Não posso ficar mais um minutinho?'---pergunta, juntando os dois dedinhos da mão em um gesto gracioso e doce.

'-Não, meu bem. Não pode. Precisamos ir'—-reforça a mulher, firme,porém docemente.

'-Meu amigo pode ir com a gente?'—-questiona,pulando da cadeira,aceitando a mão que lhe era oferecida.

'-Não ,meu amor. Ele não pode.'--informa, me dirigindo um olhar gentil--'Ele ainda precisa ficar mais um tempo. '—-diz,sorrindo.--'Vamos indo,meu bem?'--reforça o chamado.

Antes de acompanhá-la, Sophie larga sua mão,vindo até onde estou, me dando um beijo estalado na bochecha, voltando a pegar na mão da mulher, seguindo junto com ela pelo corredor, acenando uma última vez antes de virarem no canto, sumindo de minha vista.

'-Ela está certa.'--escuto a voz familiar do rapaz que tem me acompanhado (ou devo dizer perturbado!?) nos últimos dias e volto a fechar os olhos--'Só depende de você,Connor!'--assegura.

'-Olha só, se não veio até aqui pra me dar uma solução definitiva pro meu caso, pode tratar de sumir da minha frente! Não estou nem um pouco disposto a te aturar hoje.'--afirmo, voltando-me para ele, que permanece sentado a meu lado, inabalável, um sorriso franco nos lábios, seus olhos, de um azul cinza que mudam de cor de acordo com a luz do ambiente, refletindo o sorriso.

Depois de alguns dias bem angustiantes, sem entender porque todos estavam me ignorando, ele aparecera, sentando a meu lado no corredor, conversando comigo, me acalmando.

Minha alegria inicial por ter alguém me ouvindo, conversando, me dando atenção,logo foi substituída pela raiva, a dor, a tristeza e a angustia por ter finalmente entendido o que estava acontecendo.

Depois vieram a revolta, o medo, a dor e a tristeza mais uma vez. Por fim, a conformidade, o tédio e finalmente o cansaço que me encontrava no momento.

'-Estamos meio mal humorados hoje,não é mesmo?'--pergunta, irritando-me.

Levanto da cadeira, dando-lhe as costas,começando a caminhar pelo corredor na direção do lugar onde me encontrava,muito embora soubesse que de nada adiantaria pois iria me seguir, parando ao passar pela sala de espera da UTI, escutando o choro inconformado de uma mulher, amparada por um homem (que acredito seja seu marido) que também chorava,muito provavelmente os pais da pequena Sophie.

Paro,olhando a cena por um segundo.

'-Eles vão ficar bem'--afirma o rapaz, parando a meu lado.

'-Não precisava ser assim.'--digo,pensativo.

'-Por que? Por acaso acha que se fosse você a cuidar dela o resultado seria diferente?'--pegunta-me.

'-Isso nuca saberemos, não é?'--devolvo, olhando em seus olhos.

'-Modéstia não é bem o seu forte!'—-exclama, sorrindo —-' Quer dizer que seus colegas não se esforçaram para salvá-la? Ou foram incompetentes?'--pergunta,provocativo..

'-Não foi isso que quis dizer. Sabe muito bem disso!'--bufo, voltando a andar, ele me seguindo.

'-Pois foi o que pareceu'--afirma,tranquilamente.

'-Vai a merda!!'--digo,parando na porta da UTI, segurando a respiração(engraçado conseguir fazer isto na situação que me encontro), entrando na sala, lentamente, vendo minha irmã dormindo na poltrona colocada junto a janela.

'-Ela veio te ver. De novo.'--o rapaz fala junto a meu ouvido, passando por mim, parando a alguns centímetros de Sarah.

'-Não me diga,gênio! Sabe que se não dissesse nem teria notado!'--ironizo,passando por ele, indo sentar-me no parapeito interno da janela, encostando a cabeça no vidro, acompanhando os pingos da chuva que caia lá fora escorrem, suspirando.

—Olá,Connor. Como você está hoje?--escuto Sarah perguntar e viro o rosto para vê-la.

Está cada dia mais linda!

—Hoje está sendo uma verdadeira loucura! Houve um acidente com o metro, mais um, e temos muitos feridos lá embaixo--diz, ajeitando travesseiro sob minha cabeça-- Mesmo assim, consegui dar uma fugida para te ver. Não sabia se mais tarde vai dar tempo. Então, falei com Maggie e vim--informa, puxando a cadeira, sentando-se ao lado da cama onde meu corpo se encontra, um emaranhado de tubos e fios saindo e ligados a meu corpo, me ajudando a respirar, monitorando meus batimentos,pulsação..Me mantendo vivo!--Sinto sua falta!--declara, colocando minha mão entre as suas.

'-Também sinto a sua...Muito.'--admito, vindo até ela,tentando,em vão, tocá-la—-'Por que veio aqui,Sarah? Por que tem vindo todos estes dias? Devia me odiar pelo que te fiz passar!'--resmungo, mau humorado —-'É pena, é isso? Está com pena de mim,Sarah?'--questiono, um misto de angustia,dor e raiva tomando conta de mim —-'Não quero sua pena! Guarde-a para si!'--bravejo —-'Saia daqui! Vá embora!!'--ordeno, alterando minha voz —-'ANDA! SAI LOGO DAQUI!!'--grito, derrubando a bandeja na mesa atrás dela, que se vira, assustada.

—O que foi? O que aconteceu? Connor acordou?--ouço Claire perguntar, acordando assustada, dando um pulo da poltrona.

—Não Claire. Ainda não--Sarah lamenta, agachada,recolhendo os cacos do copo espalhados pelo chão,levando a mão a boca pouco depois de começar a fazê-lo--Ai!!--exclama.

—Se machucou?--minha irmã pergunta solidaria, aproximando-se dela, que se erguera.

—Não foi nada. Só um corte pequeno--afirma, tranquila.

'Estou sempre te machucando ou magoando de alguma forma'--afirmo, tristemente, olhando de uma para outra —-'Vocês duas'--corrijo-me.

— O que houve? Se feriu Sarah?--escuto a voz de Maggie, que entra acompanhada por Will e Nigel, nosso neurologista.

—Não foi nada,Maggie. Um corte a toa--minimiza Sarah quando ela pega sua mão, observando ferimento no dedo--Veio avaliar Connor novamente, Nigel? Não é muito cedo? Em relação a sua última avaliação,digo--argumenta, encarando-o.

—O pai dele pediu--Nigel informa, erguendo uma pálpebra, depois a outra, lançando um facho de luz em meus olhos--Ainda sem reação--avisa, colocando  as mãos nos bolsos do jaleco--Eu não entendo. Simplesmente não entendo. Fisicamente ele está bem. Seu corpo está se recuperando como esperado. Ou estou enganado?--questiona,voltando-se para Will, que parece ter envelhecido uns trinta anos nos últimos dias.

—Está certo.--afirma-- Tudo está correndo dentro do esperado --para, me observando, ou melhor, observando meu corpo-- Também não consigo entender porque ainda não reagiu--pondera, pensativo.

—Seria bem isso acontecer logo. O senhor Rhodes está ficando cada vez mais impaciente além de questionar nossa competência e nossos métodos e tratamento--Nigel comenta, sorrindo sem graça para minha irmã--Desculpe, senhorita Rhodes, mas é a pura verdade.

—Não precisa se desculpar--diz,suspirando--E pode me chamar de Claire, Nigel--pede, um sorriso tímido, no lábios--  Eu bem sei o quanto meu pai anda irritado e nervoso.Melhor do que ninguém,aliás. Especialmente comigo. Brigamos praticamente todos os dias por conta de Connor--revela, tocando meu pé por sobre o lençol--Mas se ele pensa que vou deixá-lo desligar os aparelhos de meu irmão, está muito enganado! Connor ainda está aqui. Eu posso sentir. E enquanto eu sentir isto, não permitirei que o faça. Nem que pra isso precise brigar com ele na justiça!--decreta, categórica,me surpreendendo.

'-Então,Connor, o que me diz?'--ouço a pergunta ser dita em meu ouvido, lembrando-me da presença do rapaz na sala.

'-Não disse pra ir embora,não?'--rebato,afastando-me de Sarah e os demais —-'Já que não quer me ajudar,faça o favor de não encher meu saco!!'--digo, encostando-me na janela, os braços cruzados.

'-Não depende de mim ajudá-lo e sim de você mesmo'--afirma, parando a minha frente,repentinamente sério —-'Depende de você,Connor. Sempre dependeu'

'- De mim é que não!!'--digo, cético —-'Se dependesse de mim estaria fora desse lugar a muito tempo!'--asseguro, abrindo os braços, abrangendo toda a sala —-'Está louco se pensa que gosto de estar aqui, nessa situação!'

'-Então por que ainda está?'--questiona-me, tranquilo.

'-Me diz você!!'--exclamo, apontando-o —-'-Você que é o anjo ou sei lá o que aqui!! Não deveria me orientar, me mostrar o caminho a seguir ou uma dessas baboseiras qualquer?'--falo, irritando-me com seu sorriso calmo —-'-O quer que eu diga? Que estou cansado disso tudo? Que quero que acabe logo? É isso? Quer que eu diga que estou de saco cheio? —-bravejo, ficando mais e mais irritado.

—O que está acontecendo??--escuto a pergunta feita por Will, sua voz parecendo vinda de longe, muito longe,tensa.

'-Pois bem, você venceu!'--declaro, aproximando-me do rapaz —-'-ESTOU DE SACO CHEIO DE TUDO ISSO! NÃO AGUENTO MAIS!! POR MIM PODE TERMINAR AQUI E AGORA!!—-berro a plenos pulmões.

Mal termino de falar e sinto minhas pernas fraquejarem, caindo ao chão em seguida.

'-Mas o quê..??'--ergo a cabeça com dificuldade, minha respiração tornando-se pesada assim como meus braços e pernas.

—Ele está tendo uma parada!!---ouço Will dizer e me viro para ele, vendo-o baixar a cama, deixando meu corpo reto enquanto começa a fazer as massagens em meu peito, Nigel acionando o botão de emergência enquanto ajuda-o.

—NÃO! CONNOR, MEU IRMÃO!! POR FAVOR,NÃO!!-- Claire grita enquanto Maggie a arrasta para fora da sala ao mesmo tempo que April e Jeff chegam para ajudar Will e Nigel.

'-É o que deseja, Connor? É isto que quer?'--ouço meu anjo (ou seja lá o que ele for) questionar mas antes que tenha chance de responder, escuto a voz doce de Sarah.

—Não me deixe,Connor, por favor! Não me deixe,meu amor!!--pede, agachada ao lado da cama, a boca colada em meu ouvido e olho para ela, surpreso--Lute! Não desista. Por mim. Por nós...Lute,Connor! LUTE!...Eu te amo!!--declara-se, beijando meu rosto, as lágrimas escorrendo por seu rosto.

Ergo os olhos para o jovem em pé perto de mim,impassível.

'-Me ajude!'--peço em um fio de voz, erguendo, com muito esforço,minha mão para ele.

Após um segundo que me pareceu uma eternidade, segura minha mão, me ajudando e ficar de pé novamente.

—Está de volta!!--escuto a voz de Will, o alivio transparecendo.

—Obrigada,meu amor! Muito obrigada!!--Sarah fala, beijando minha boca por cima dos tubos, unindo nossas cabeças.

'-Cuidado com o que pede'--o jovem me alerta e volto-me para ele,encarando-o —-'Tenha certeza de ser o que realmente deseja'--avisa, caminhando em direção a porta, voltando-se para mim, um sorriso estampado no rosto novamente —-'E a proposito, meu nome é Rafael'--revela —-'Caso queira saber!'--pisca para mim, saindo porta afora.

**********************************

Três semanas depois

Depois do que aconteceu aquele dia na UTI, as coisas voltaram a mesma rotina de antes. Ou seja : eu vagando pelos corredores do Med, quase sempre  Rafael a meu lado( apesar de continuar achando-o um pé no saco, estamos nos entendendo melhor!), acompanhando a rotina de meus colegas, especialmente Sarah, de quem tenho passado grande parte do tempo junto, não esperando apenas que vá me visitar na UTI (sim, eu permanecia preso a cama e aos mesmos aparelhos!), mas por todo o hospital.

Algumas vezes sussurro um eu te amo em seu ouvido, causando-lhe, acredito eu, cocegas visto que sempre que o faço se encolhe toda como fazia quando beijava seu pescoço, pouco acima da junção com o ombro, um sorriso doce dançando em seus lábios nessas ocasiões, sendo substituído logo em seguida por um triste quase sempre acompanhado por lágrimas. 

Estes momentos são os mais dolorosos para mim. E não estou ficando doido quando falo que sinto dor ao vê-la sofrer. Estou sentindo dor sim.  Não uma dor física. É algo mais denso, profundo. Que vai no amago do meu ser,me deixando inquieto.

'-Connor'--escuto Rafael me chamar, me tirando do devaneio —-'-Vim me despedir. Estou indo embora'--avisa, me apavorando.

'-Como assim? Não decidi nada! Não ainda. Preciso de mais...'--ele não me deixa continuar.

'-Falei que eu estou indo. Não você.'--reitera, sorridente.

'-Como assim está indo? E eu? Como fico? O que faço? Como vou sair dessa situação?'--bombardeio-o, seguindo-o pelo corredor —-'-Não pode me deixar assim! Precisa me dizer oque fazer.'--afirmo, desesperando-me ao vê-lo acenar —-'-Rafael,por favor, me ajude!'--imploro.

'-Sabe o que fazer,Connor. Sempre soube. Só não está tendo coragem'--fala, parando, voltando-se para mim —-'-Devia ir até seu quarto. Sarah está lá. Sua irmã também'--avisa, um sorriso misterioso —-'-E Connor...Até breve!'--despede-se acenando uma última vez antes de sumir.

Fico parado um tempo, observando o espaço vazio deixado por ele, suspirando, resignado, antes de fazer o que havia sugerido.

Quando  me aproximo do quarto, vejo meu pai sair de lá pisando firme, da forma que faz sempre que toma uma decisão definitiva, sem admitir contestamento.

Sinto um formigamento estranho percorrer meu corpo ao mesmo tempo que uma sensação de pânico toma conta de mim.

Corro até o quarto aproveitando a saída de minha irmã, amparada por Maggie, chorando copiosamente.

'-Claire? O que houve? Que aconteceu?'--questiono mesmo sabendo que não me ouviria.

Dentro do quarto, Sarah está sentada em uma cadeira junto a cama,April a seu lado.

—Eu sinto muito,Sarah--ouço-a lamentar-se.

—Importa-se em me deixar sozinha com ele um pouco,April? --Sarah pede e April concorda com um aceno,saindo do quarto.

'-O que está acontecendo,afinal,Sarah?  Por que toda essa...'--paro, entendendo,finalmente, o que se passava —-'-Espera ai...Meu pai saiu daqui a pouco..Depois Claire...Não! Não,não,não,não! Não pode deixá-lo fazer isso,Sarah! Por favor, não permita, meu amor!!..Onde está Claire? Por que foi embora? Por que não está cumprindo o que prometeu?'--me desesperando.

—Eu deveria te odiar.--escuto Sarah dizer e paro--Como teve coragem de me trair depois de tudo que vivemos?! E justo com a Samantha!!--recorda-- Não que se fosse com outra seria menos ruim. Com qualquer uma iria doe. Mas com ela, doeu mais!--fala e baixo a cabeça, triste--Sabe, pensei que tínhamos algo especial, algo bom entre nós...

'-E tínhamos!'-- afirmo, ficando de frente para ela, no lado oposto da cama —-'Mas me acovardei e estraguei tudo!'--digo.

— Você me fez duvidar, com sua traição. Mas só durante um tempo--garante, levando a mão ao bolso do jaleco de onde retira um envelope--Já não havia mais dúvida quando Will me entregou isto.--afirma, segurando o envelope firme nas mãos...

'-A carta! '--exclamo,surpreso —-'-Minha carta!'

"....Dentro de cada palavra, eu me desenho inteiro pra você! ..Um verso de amor, vai tomar o meu lugar, quem sabe ele me ajuda a confessar..."

—Ele me entregou assim que cheguei ao Med, aquele dia--para, enxugando as lágrimas antes de continuar--Estava prestes a embarcar quando ele me ligou contando do seu acidente, que estava mal e talvez não sobrevivesse...-nova pausa para respirar--Larguei tudo e corri de volta pra cá. Não podia ir embora. Não sem me despedir... Mas ai você sobreviveu!! Você sobreviveu, meu amor, e reacendeu a esperança em meu coração!--fala, abrindo o envelope, esticando a folha,um riso sem graça surgindo--Já li e reli tantas vezes que o papel amarrotou--justifica-se,me fazendo rir--Foi a coisa mais linda que já recebi até hoje!!...Não sei se parou para ler depois tê-la escrito. Acho que não...Normalmente não paramos pra fazer isso. Ler uma carta depois que a escrevemos. --suspira,puxando o ar antes de começar a ler....

"...Você vai lê que tudo em mim pede o fim do silencio; Esperar já não é o bastante....."

        Querida Sarah

Cartas não olham nos olhos,não hesitam, não perdem a voz nem tremem diante da presença da pessoa amada.

Foi bem mais fácil, pra mim, escrever.

Em primeiro lugar, quero te dizer que sou um idiota covarde!!  Um estupido que jogou fora a melhor chance que teve até hoje de ser feliz!

Algum dia poderá me perdoar??

Em segundo lugar, quero te dizer uma coisa...Não. Quero confessar uma coisa: Eu te amo!

Te amo com toda força que há em meu coração, em meu ser...Em minha alma!

Te amo mais do que a mim mesmo!..Te amo tanto, mas tanto, que chega a doer!

E por te amar tanto assim, acabei metendo os pés pelas mãos e fazendo a maior burrada de toda essa minha vida inútil!

Contraditório??  Sim. E muito....Tanto que não espero que me entenda.

Minha família não foi, e ainda hoje não é, um modelo de felicidade, tranquilidade,paz e conforto!  Longe disso.  Bem longe disso!

Talvez por isso sempre fugi de relacionamentos sérios. Sempre que percebia que isto poderia acontecer, pulava fora sem a menor cerimonia! 

Ergui barreiras ao redor de mim, do meu coração, achando que estaria seguro, protegido.. Ledo engano!

Você destruiu todas as minhas barreiras. Uma a uma. Colocou todas por terra com um simples sorriso.

E quanto mais te conhecia, quanto mais nos amávamos, quanto mais conhecia  não apenas a Sarah mulher, mas a Sarah profissional, amiga, companheira, divertida, doce, vibrante...mais me descobria envolvido, apaixonado.  

Me apavorei!

Não tenho vergonha de admitir...Eu, Connor Rhodes, do alto de toda minha experiência, me apavorei diante de um par de olhos castanhos, os mais doces que já vi, um sorriso meigo  e um jeito de menina-mulher que me fascinou desde o primeiro momento que invadiu a sala onde estava carregando aquela criança no colo, brava, exigindo atendimento.....No mesmo hospital que acabou vindo estagiar... A meu lado!

Repito: algum dia poderá me perdoar??

Possivelmente a resposta, caso tivesse coragem de perguntar-lhe, seria um sim. Afinal, você é uma pessoa melhor do que eu sou. Do que jamais serei.

Honestamente, não sei o que viu em mim que te fez aceitar meu cortejo (antiquado,não?). O que te levou a me dizer sim , quando te convidei pra sair, meses depois??

Mais ainda: o que te fez permanecer a meu lado depois de ver todos os meu defeitos(que não são poucos),depois de conhecer todos os meus traumas, minhas feridas abertas ??

Talvez a esperança vã de concertar o que não tem concerto! Acho que te mostrei isso..Da pior maneira possível!!

Se arrependimento matar, vou morrer. Já estou morrendo, na verdade, pois te ver todos os dias, trabalhar a seu lado, cruzar com você pelos corredores sabendo que está me odiando, me mata um pouco a cada dia!

Mas eu mereço. 

Mereço cada sofrimento que quiser e puder me causar, mesmo sabendo que não o fara. Como disse antes, é uma pessoa bem melhor do que eu.  Sei disso. Sempre soube.

Talvez por isso tenha decidido por um ponto final em nossa relação. Me afastar enquanto não havia te arrastado pra dentro da escuridão em que vivo. Pra dentro do meu mundo conturbado e confuso.

Talvez meu pai tenha razão e eu tenha herdado a doença de minha mãe (pelo menos que ele diz que ela tinha!)..Se for o caso, te salvei de um futuro ainda mais triste do que o que te ofereci ao terminar tudo entre nós....Se não for, condenei a mim mesmo a um futuro negro e triste longe de seus sorriso, seus olhos, seus beijos...Longe de você!!

Tão perto e tão longe!!

O que me resta agora sem o ter o seu amor?? O que faço com esse sentimento dentro do meu peito,queimando feito brasa acesa??  O que faço, como sobrevivo sem você? Esperar?? Não. Isso não me basta! Já não é o bastante pra mim.... 

Por essa razão, estou te escrevendo. 

Cheguei a uma dolorosa conclusão: Não posso viver sem você!! Eu simplesmente não existo sem você!! 

Então se talvez, e apenas se talvez, você decidir me perdoar e me dar uma segunda chance, vou ser o homem mais feliz deste e de qualquer mundo, universo, dimensão ..O que quer que seja, que já existiu!!  

E te prometo gastar cada dia de nossas vidas reparando a dor que te causei..Cada um de meus dias, durante o tempo que tiver na face da terra será dedicado a te provar o quanto te amo...Te provar que meu amor é maior que tudo..Que é e  sempre será só seu para sempre!

 Me perdoa!!!

  Do idiota que te ama....

Sempre seu..

Connor

P.s: Cartas esperam resposta!!!

Quando ela termina de ler, ambos estamos chorando copiosamente.

—Vou te contar um segredo--diz, fungando, enxugando as lágrimas--Antes mesmo de lê-la, já havia te perdoado..Não sei o que vi ou deixei de ver em você, seu bobo idiota!!--xinga, me fazendo dar um riso de canto de boca---É assim que o amor funciona. Não precisa de explicações ou motivos. Só acontece e pronto--diz, devolvendo a carta ao envelope, levando-o ao bolso do jaleco, a mão trazendo um outro envelope pardo, característico de exames laboratoriais--Tenho mais um segredo pra te contar--continua, abrindo-o, suspirando antes de prosseguir-- Só recebi os resultados agora a pouco, antes de saber que...-para,apertando -o em suas mãos, fechando os olhos--De hoje em diante, não serei apenas eu a sentir sua falta..Sentir saudades de você, de seu riso, seu jeito moleque...E só posso agradecer porque um pedacinho seu vai continuar a meu lado...Vou poder carrega-lo...Já o carrego, na verdade..-para, passando a mão sobre a barriga, acariciando-a..

'-O que está querendo dizer,Sarah??'--questiono, abrindo a boca, surpreso mais uma vez..—-'-Você está...'

— Estou esperando  um filho seu!--revela--Um filho nosso!

Me encosto no vidro da sala, buscando o ar..

'-Pai?? Eu vou ser pai??'--espanto-me mas antes que tenha tempo de processar a infirmação, a porta é aberta dando passagem a meu pai, seguido por Will, Ethan, David e Daniel além de Nigel e April, que fica ao lado de Sarah

—Pai, por favor!!--escuto minha irmã suplicar amparada por Maggie junto a porta.

—Ele não vai acordar,Claire. Precisa aceitar isso!--diz, olhando-a--Acredite, eu mais do que ninguém gostaria de ter a chance de me redimir com seu irmão--declara.

—Tem certeza absoluta, senhor Rhodes??-David questiona, parado ao lado dos monitores.

—Sim. Connor não iria querer ficar vegetando em cima de uma cama.--afirma e pela primeira vez concordamos em alguma coisa--Não vou mantê-lo aqui apenas por não aceitar o fato de que não irá voltar...

'Escolha!!'--ouço, olhando para os lados a procura de Rafael.

—Quer sair??-David pergunta para Sarah, que nega com a cabeça, colocando a mão sobre as de Will e April--Então vamos lá..Adeus meu amigo. Foi o melhor pupilo que já tive e com certeza terei pelo resto de minha vida!!--declara, enxugando uma lágrima--Só queria que soubesse--justifica-se, um meio sorriso no rosto.

—Adeus Connor. Me desculpe qualquer coisa....Eu só..-Will começa, parando a seguir, a voz presa na garganta..

'Escolha'--escuto mais uma vez e olho para cima, sorrindo.

'-Já escolhi!'--declaro, no exato momento em que David começa a desligar os aparelhos que me mantinham vivo, começando a sentir a mesma estranha sensação de formigamento , sentindo-me ser puxado por um vácuo, o rosto de Sarah sendo a última coisa que vejo antes de tudo escurecer...

***************************************

Sarah

—Está feito--escuto David dizer, e fecho os olhos, segurando a mão de Connor entre as minhas, permitindo que as lágrimas corram livremente.--Hora do óbito...--escuto-o prosseguir,parando, calando-se.

Ergo a cabeça vendo em  sua expressão um misto de surpresa e alegria. Abro a boca pra perguntar o que estava acontecendo quando sinto minha mão ser pressionada. Seguro o ar, ficando de pé em um salto, voltando-me para a cabeceira da cama, vendo os olhos de Connor se abrirem lentamente

—Connor!!--exclamo, aproximando meu rosto do seu, verificando se não estava imaginando coisas--Ele voltou,não foi??- pergunto, voltando meu rosto para April e Will, que sorriem entre lágrimas, tal como eu-- Não estou imaginando não é, David? Ele está aqui,não está? Ele acordou não foi??--questiono e o vejo balançar a cabeça afirmativamente, emocionado demais pra falar.  

Volto-me novamente para seu rosto, vendo seus olhos abertos e brilhantes. Os olhos que tanto amo!!

—Você voltou,meu amor!!--digo,beijando sua testa--Você voltou pra mim!!!--comemoro,encostando minha cabeça a sua...

*****************************************

Sete meses depois

Connor

Ansioso, espero do lado de fora da sala de parto, sentado na cadeira de rodas que Will insistira em me obrigar a vir sob ameaça de trancar-me no quarto se não aceitasse.

Ainda estou me recuperando do acidente que sofri e que quase me levou embora.

Escapei por muito pouco. Muito pouco mesmo.

Desde que acordei, tenho tido sonhos engraçados. Alguns tão reais que chego a perguntar por determinadas pessoas que estiveram internadas aqui no Med durante minha "ausência". Algumas vezes, pego minha irmã, Will,Natálie ou algum dos meus amigos me olhando de um jeito estranho.

Mas quer saber? Pouco me importa!! O que realmente importa para mim é estar junto de Sarah! Ter feito as pazes com ela foi o melhor remédio que puderam me dar. E quando falo desses sonhos malucos, ela não me olha estranho ou critica. Apenas sorri do seu jeitinho que amo, e ai nada mais me importa.

E em poucos minutos, estaria segurando nosso filho também.

—Já chega! Vou entrar--anuncio, ameaçando levantar-me da cadeira.

—Ah, mas não vai mesmo!--Will afirma, segurando meus ombros forçando-me a sentar novamente-Fica quietinho ai ou te levo de volta por quarto--ameaça.

—Você e qual exercito? --desafio.

—Ele e eu!!--Ethan fala,parando a minha frente,os braços cruzados--Vai encarar??- desafia-me mas antes que responda, escutamos um choro de criança.

—Nasceu!!--Maggie avisa, abrindo a porta --É um menino!!..Pode entra papai!!--convida e salto da cadeira sob os protestos de Will e Ethan, entrando no quarto apressado,parando junto cama onde Sarah se encontrava, deita, mais linda do que nunca!!

—Nosso filho!!--mostra-me, descobrindo o rostinho enrugado envolto em uma manta em seus braços.

—Ele é lindo, Sarah!!--declaro, beijando-a--E perfeito. Assim como você>>

—Então, já pensaram em um nome??- Natálie pergunta, sorridente,Will abraçando-a, rindo também.

Troco um olhar cúmplice som Sarah antes de voltar-me para nossos amigos.

—Rafael -digo,sorrindo--Ele vai se chamar Rafael!!--reitero, voltando a olhar dentro dos olhos de Sarah--Que significa Deus curou!!!

 

" ...E vai saber que meu amor é maior que tudo! E está escrito que é seu pra sempre!...."

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem...Boa tarde. Bjinhos flores!!



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