Masks escrita por Gabby


Capítulo 1
Dearly Devoted Ansel


Notas iniciais do capítulo

Todo título será uma "referência" à cultura pop (pelo menos, eu vou tentar isso), e o primeiro título traz referência a um dos livros da série Dexter (o serial killer mais simpático da TV), "Dearly Devoted Dexter", que quer dizer algo como Querido e Devotado Dexter.
Espero que vocês gostem! XOXOXO



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Direciono o rosto para a janela, vendo a pacata vista da minha rua —uma série de casas bem-favorecidas em tamanho, mas pobres em criatividade — passar e ser substituída por outras avenidas de Skymirror. Eu odeio a minha rua, porque é povoada por socialites, em casas com o mesmo modelo. A falta de originalidade desses pseudo-ricos me deprime, e eu gostaria de ter uma casa com um design mais moderno, espaçosa e com paredes de vidro. Mas, no entanto, sendo minha família aspirante à aristocrata, minha casa segue o mesmo modelo ridículo e americano de todas as casas da minha rua.

Olho para as costas de minha mãe e de meu pai. Estão vestindo Prada, Armani, e coisas que famílias pobres com certeza não teriam nem dinheiro para comprar imitações. No entanto, como essa situação era uma “situação de emergência” — uma reunião com pessoas mais ricas do que a gente, nesse caso o chefe do meu pai — e não podemos usar algo que custa menos do que a nossa alma, deixamos até de comer para comprar uma roupa diferente da semana passada, ou do mês ou ano passado — pois não se pode repetir roupas no clube, pelo que parece.

Não somos tão ricos quanto parecemos. No entanto, parecer já é mais do que suficiente. Eu nos chamo de pseudo-aristocratas, o que faz com que minha mãe — que é uma alpinista social — grite comigo.

O meu pai é advogado de uma firma de advocacia. Ele tenta, e mamãe ajuda, a qualquer custo, arranjar amizade com o chefe para ganhar uma promoção. Essa é mais uma dessas tentativas: um encontro em um clube de campo. Felizmente, minha mãe conseguiu ser mais simpática e ganhou uma grande amizade com a esposa do chefe de meu pai. Por causa dessa forte amizade — interesseira amizade — meu pai e o chefe dele, Rochefort, tornaram seus laços afetivos mais próximos. No entanto, a promoção do meu pai não parece fazer parte do pacote . Como filho dos Falconer, eu também tenho um papel — a família Rochefort tem um primogênito da minha idade, Jackson, um garoto arrogante que tem tudo que quer apenas pelo sobrenome. Eu preciso ser amigo dele — como se por um segundo aguentasse a cara esnobe e burra do mesmo.

Skymirror é uma cidade mediana no estado estadunidense de Nova York. Somos famosos por nossos bosques e montanhas, além da energia nuclear produzida na cidade. Temos uma importante e grande usina, que é local para passeios escolares das escolas da cidade e das cidades vizinhas. Seria um bom lugar, se não fosse tão chato. Nossa cidade não é visitada por celebridades, é alvo de conspirações, ou tem grande taxa de homicídios. É apenas uma cidade onde nada de legal, ou interessante, ou importante acontece.

Chegamos ao clube de campo. Para definição do lugar, eu preciso dizer que quem disse que o Paraíso não está na Terra é pobre ou mentiroso, pois ele está em vários lugares: lindo, comprado e muito caro. O Clube de Campo Corelli é um lindo lugar, verde e enorme; onde, quem pagar, pode fazer de tudo: desde nadar, até ostentar uma vida de lorde inglês, caçando patos e tomando chá. O clube tem campo de golfe, estábulos para cavalo, salão de festa, e muito mais. Acho que tem tudo o se que deseja, tirando as coisas sujas e sem classe — é apenas uma coincidência que as coisas sujas sejam as mais divertidas, eu acho. 

Tenho que passar uma tarde inteira com meus pais e os Rochefort. Não consigo parar de pensar em como parecemos uma família do século retrasado, arranjando algum tipo de acordo. Eu aposto que, se os Rocheforts tivessem uma filha, eu seria obrigado a pedir-lhe em casamento.

Meu pai é melhor no golfe do que o Rochefort — que é o pior jogador de golfe que eu já vi em toda a minha vida, embora insista no esporte e se julgue talentoso. Isso faz com que ele fique irritadinho, e leve em consideração meu pai como um inimigo, e o jogo de golfe “amigável” como uma competição séria. Jackson e eu jogamos também, mas nossa presença é apagada pela competição dos dois patriarcas — muito embora meu pai tente apaziguar o Rochefort, sem ter nenhum interesse no ganho do jogo.

— Querido — tenta Suzanne de Rochefort —, não acha que está sendo competitivo demais? Isso é só um jogo, afinal.

Charles de Rochefort arruma os cabelos ralos castanhos claros do rosto, os jogando para trás. Ele tem um tom de pele queimado, que se assimila a um bege ou um laranja amarronzado, como uma folha seca no outono.

— Eu não estou sendo competitivo, Suzanne — responde Rochefort, mentindo com um tom paciente. — Como você disse, é apenas um jogo.

— Não se esqueçam porque estamos aqui — minha mãe interfere. A mão no queixo, o rosto em formato de coração, os cabelos loiros escuros, da cor do meu, na altura dos ombros. — Os meninos: Ansel e Jackson se parecem tanto, devemos colaborar para a sua amizade.

         O gosto amargo de desprezo por ser comparado a Jackson desce por minha garganta, como se fosse bile. No entanto, abro um sorriso. Jackson sorri de lado, e seu sorriso falso não é nem de longe tão bom quanto o meu.

         — Ah, viu? Que lindos! — exclama Suzanne de Rochefort, e minha mãe assente com os olhos ao mesmo tempo afáveis e afiados como uma lâmina.

♠♠♠

         O que mais odeio em Jackson é que ele não precisa se esforçar para nada, pois seus ancestrais de sobrenome Rochefort já fizeram todo o trabalho. As pessoas podem dizer que não me esforço para nada e tenho tudo o que quero, mas o fato é que eu me empenho muito para ter o que desejo. Tudo que eu obtive até o momento foi mérito próprio: minha posição de quarterback, meu título de Rei do colégio, minha fama e meu status social. É necessário certo empenho para conquistar a garota que quiser, fazer as pessoas me obedecerem por vontade própria... para tudo isso são necessárias palavras gentis e bem-planejadas, olhos e feições condizentes com a cena em questão, e não é fácil fingir tudo isso nas horas certas, que acabam sendo todas elas. Já Jackson, desde pequeno, só precisa dizer as seguintes palavras: “Sabe com quem está falando? Isso mesmo, o filho dos Rocheforts”. Acho que simples duas frases não poderiam me irritar mais, ainda mais ditas por aquela voz convencida de taquara rachada de Jackson.

         Tive que passar a tarde inteira com ele, aturando sua superioridade esnobe, e suas piadinhas malvadas sobre as pessoas, incluindo eu. Sou um grande fã de humor negro, mas minha risada soou falsa naquela tarde. Eu não tinha uma condição de me defender das piadas de Jackson e mandar-lhe outras, pois o mimado certamente recorreria ao papai, que com certeza desaprovaria minha atitude. E então eu ia apanhar feio em casa.

         Eu estava sozinho com ele, porque meu pai e o Rochefort ainda estavam naquele jogo de golfe ridículo, com revanches infinitas. Há essa altura, minha mãe e Suzanne já deveriam ter se cansado, e foram fofocar com as outras socialites.

          Minha tarde foi notoriamente chata, com uma companhia de quem eu não gostava e que me era bastante desinteressante. Tentei pensar nas atividades em si para ver se me animava, mas não deu certo. Enquanto eu e Jackson assistíamos á uma corrida de cavalo, fiquei olhando para o rosto das outras figuras em volta, adivinhando suas emoções pelas expressões faciais.

         — Imagine se o cavaleiro caísse — comenta Jackson, com o rosto voltado para a área de equitação, onde o cavaleiro e seu cavalo pulavam os obstáculos como entretenimento.

         Eu acho que sorrio.

♠♠♠

         Vamos tomar café da tarde com os mais velhos. É um local aberto, com centenas de mesas com toalhas rendadas brancas e mesas e cadeiras com um design fino e requintado que eu gosto. O branco das mesas combina com o verde claro da grama, e a combinação é harmoniosa e dá a sensação de estar no Céu. Não me pergunte o que acontece quando chove, pois eu acho que eles subornam o clima. Têm dinheiro para isso; e, com dinheiro, realmente pouquíssimas coisas são impossíveis — eu tenho um pai advogado, que faz coisas impossíveis com dinheiro todos os dias.

         Meu pai, assim que nos viu, acena com o olhar. Ele é um homem controlado, e dificilmente faria um gesto exagerado como berrar nossos nomes e acenar com as mãos como se fosse um tolo. Está com o cabelo impecavelmente preso com gel, e eu posso ver um ou outro fio branco como se fossem mechas em seu cabelo. As pessoas dizem que eu puxei o formato de rosto do meu pai, e de fato vejo uma semelhança no queixo, mas não acho que é tudo isso que as pessoas falam.

         Do lado de meu pai, minha mãe e os Rocheforts conversam. Sentamos-se à mesa, e desfrutamos das bebidas quentes e dos pães e bolos demasiadamente bons que servem. Os Rocheforts e minha mãe bebem chá, enquanto eu e meu pai preferimos café. Puxei dele essa aversão á chás, embora não tenha herdado o vício dele por cafeína.

         Percebo que meu pai está paquerando a Sra. Rochefort. É algo singelo, mas eu noto seus olhares e toques. Acho que minha mãe os nota também, mas não acredito que ligue. Meu pai tem um histórico grandioso de traições, e depois de um tempo ela deixou de reclamar. Em verdade, tudo que a interessa é o dinheiro, e, se ele não a privar disso, acho que meu pai e a secretaria podem transar até na frente dela, e ela não vai ligar.  Quando eu tinha uns 15 ou 16 anos, ela começou a contratar uns jardineiros jovens e musculosos para observar trabalhar. Há realmente poucos meses é que ela começou a trair de verdade. É um pouco estranho ter uma mãe que pega garotos de 22 anos. Na verdade, é bem vergonhoso.

         Eu, meu pai, minha mãe e os Rocheforts conversamos sobre o colégio e as propostas de faculdade. Digo que vou conseguir uma bolsa na faculdade com o futebol americano, e meu pai conta o quanto sou bom jogando, mesmo que não tenha visto quase nenhum dos meus jogos. Esse é o momento da minha vida onde eu mais recebo elogios dos meus pais: manifestos de orgulho jogados ao vento, na esperança de impressionarem os ricos.

♠♠♠

         Quando eu cheguei em casa, não fiquei muito. Apenas tomei um banho quente, e coloquei roupas menos caras. Escovei os dentes, arrumei o cabelo, passei desodorante e peguei as chaves do carro para sair dali o mais rápido possível. Parto para uma festa de um amigo na casa dele. Meus pais não se incomodam com isso, pois já estão mais que acostumados. Na verdade, é algum tipo de benção que a festa seja no sábado e que eu possa acordar meio-dia amanhã.

         Eu posso ouvir o som da música alta um pouco depois de avistar a casa. Consigo uma vaga no final da rua, e vou caminhando até a casa, calmamente. Até chegar lá, tenho certeza que já passou das 22:30 horas. Eu geralmente chego nesse horário, onde as coisas já estão bem desenvolvidas, as gatas bêbadas, e a festa começa de verdade.

         Percebo que já tem um indivíduo pouco afortunado vomitando no jardim. Pouco afortunado, eu penso, será o Eric que precisará limpar isso de manhã. Na verdade, acho que o vômito no jardim será a coisa menos nojenta e difícil que ele precisará limpar.

         Abro a porta da casa, onde sou recebido com o odor forte de cerveja, música alta e ar de suor. As pessoas dançam como vermes pulsantes, e percebo que pelo menos a metade já está sob efeito de bebidas alcólicas, ecstasy ou maconha. Eric Saddler caminha até mim, dançando mediocremente, com uma bebida na mão.

         —Ansel, pensei que não viria! — ele exclama.

         Eu dou de ombros.

         —Bom, estou aqui agora, não estou?

♠♠♠

         Sou um dos únicos adolescentes, talvez uma das únicas pessoas, que não faz nada demasiadamente. Nunca fico bêbado ou chapado em festas. Tomo em torno de duas cervejas, até que vejo uma garota que me chama atenção. Creio já a ter visto na escola, mas não sei o nome dela. O fato é que ela está dançando com uma outra menina de forma sensual, com um rosto malicioso. Ela tem cabelos pretos, e lábios vermelho desejo. Rebola com seu vestidinho curto, a bunda em formato de coração, e olha para mim com seus olhos castanhos escuros. Vou até ela, dirigindo-lhe a variação do meu olhar que quer dizer o mesmo que o dela: foda comigo, foda comigo.

         — Qual é o seu nome?

         — Angie. — Ela dispensa a amiga que dançava com ela com um aceno. Coloca os braços no meu ombro, me olhando olho no olho. — Ansel, não é?

         Eu não respondo, pois o movimento de seus lábios me inspira desejo. Eu a beijo, ferozmente. Percorro minhas mãos por todo o seu corpo, tateando as curvas que o vestido molda. Ela coloca as mãos por debaixo da minha camiseta, arranhando minhas costas com as unhas pintadas de preto. Eu gemo, e aperto seu bumbum.

         —Oh, espere! — ela diz, me afastando parcialmente de seu corpo. —Antes de irmos lá para cima, para ser melhor. — E tira um comprimido de ecstasy da bolsa, nós o partimos ao meio e o engolimos.

♠♠♠

         Transamos duas vezes. Durante o intervalo, eu e Angie dividimos um cigarro de maconha. Quando terminamos, pego minhas roupas e vou embora. É em torno de 02h30min da manhã quando saio de lá, e Angie fica. Provavelmente para transar com outro cara.


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