No light, no light escrita por I like Chopin


Capítulo 15
Lei de Murphy


Notas iniciais do capítulo

OLÁ!
Gostaria de começar esse capítulo agradecendo a cada cometário e a cada um que me desejou feliz aniversário. Obrigada, vocês são dms. *-*
E COMUNICAR QUE A FIC ACABOU DE RECEBER SUA PRIMEIRA RECOMENDAÇÃO E O GRITO QUE EU DEI NÃO FOI NADA BAIXO.
Jéssica Salvatore, suas palavras não só me deixaram extremamente feliz, como também muito honrada. Espero continuar sempre digna delas.
Capítulo especial para a Regina e o Eduardo, que eu fiquei sabendo que também fazem aniversário em fevereiro. #AquarianosVencem
E, gente, eu sei que o combinado era um capítulo por semana, mas é meu terceirão e também é meu primeiro ano morando fora de casa. Vamos combinar de 15 em 15 dias só por enquanto, shall we? XD
Só até eu pegar o jeito da coisa.
As fontes desse capítulo foram Wikipedia e o filme Interestelar (assistam!!). kkkkkk



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‘‘Janine, pare de se comportar como se tivesse doze anos e estivesse indo para o primeiro dia de aula na escola nova. É só mais um dia de trabalho, tudo normal. ’’

Com um tom de desafio no olhar, encarou seu reflexo no espelho do banheiro, segurando a escova de cabelo azul como se fosse sua mortífera estaca de prata.

Seguindo a lei de Murphy, as mechas ruivas pareciam ter amanhecido muito mais revoltadas que de costume. Sem se dar ao luxo de desistir, refez o coque apertado no topo da cabeça pela quinta vez.

Seus lábios se curvaram num pequeno sorriso de vitória ao perceber que nem mesmo um fio havia ficado solto dessa vez. Pelo visto, ter um pouco de paciência fazia bem de vez em quando.

Tudo na casa estava em absoluto silêncio.

Durante a tarde anterior, havia sempre as vozes de Abe ou Pav, passos rápidos de Mabel e o barulho ocasional de algum outro empregado.

Janine não sabia ao certo quantos eles eram, mas duvidava que alguém além de Pavel, Mabel e dela mesma dormissem ali. Por volta das seis da tarde, todas as vozes começaram a morrer, até que o silêncio, cortado de hora em hora pelo barulho estrondoso do cuco do relógio da sala, começou a reinar.

Antes de fechar a porta do quarto impecavelmente arrumado, deu mais uma olhada no relógio em cima da mesa de cabeceira: seis horas em ponto.

No corredor, passou por um grande espelho pregado na parede e não se conteve em olhar, preocupadíssima, se algum fio havia se soltado.

Fora Pavel, depois de ter lhe explicado brevemente sobre os horários do patrão, quem tinha aconselhado que ela se levantasse a essa hora.

Apesar de ter a mania de acordar antes das cinco da manhã, Ibrahim felizmente não fazia seus guardiões adotarem o horário bizarro que costumava seguir.

Tendo a incrível capacidade de se ajustar rapidamente a qualquer horário ao qual tivesse que se submeter, humano ou Moroi; foi capaz de criar um padrão próprio no qual conseguia juntar um pouco dos dois mundos.

Isso queria dizer, na prática, que estava trabalhando, resolvendo problemas ou se encontrando com pessoas importantes das quatro da manhã até mais ou menos duas da tarde.

Janine não entendia lá muito bem como funcionava essa lógica, mas tinha consciência de que não deveria jamais começar um novo trabalho discutindo com o patrão.

Porque, para o bem ou para o mal, era nisso que Ibrahim Mazur havia se convertido: o Moroi que de agora em diante teria que dar a vida para proteger.

Portanto, era realmente melhor que esquecessem aquela relação que tinham construído da forma mais bizarra possível naqueles poucos dias que passaram juntos no Cairo.

Relações tinham o poder de complicar o que era fácil e geralmente acabavam envolvendo sentimentos. Nada de bom jamais saía disso.

Era óbvio que aquilo tudo fora apenas uma loucura passageira, um devaneio sem causa aparente.

—É óbvio.  – confirmou a sua imagem no espelho.

Janine logo se repreendeu por ter tido que repetir a frase em voz alta. Não era como se ela precisasse ser convencida disso.

Era tudo muito óbvio. Extremamente claro.

‘‘Não era você que sempre preferiu a escuridão?’’

Os olhos de sua imagem eram inquisidores e Janine não teve como respondê-los. Recompôs-se, respirando fundo e descendo as escadas o mais silenciosamente possível.

—Bom dia, coleguinha.

Pavel, usando uma bermuda jeans e uma camiseta com o nome de uma banda de rock dos anos sessenta, estava sentado numa poltrona de couro vermelha. Em suas mãos, havia um jornal em turco, do qual ele não despregava os olhos.

Cada elemento da cena era tão improvável e confuso que Janine não sabia por onde começar a perguntar.

—Você gosta dos Beatles? – esta foi a primeira frase que seu cérebro confuso e com sono conseguiu formular.

—Eles são ótimos. – ele finalmente dobrou o jornal no meio e o colocou na mesinha de centro à sua frente.

—E você lê turco?

—Não – ele riu – Só algumas palavras. Mas estou tentando me forçar a aprender.

Fazendo uma pequena careta, acrescentou:

—Não é uma língua muito amigável.

—Pensei que por você ser russo, qualquer idioma seria fácil comparado à sua língua materna.

—Ótima piada, Jenny. – Pavel revirou os olhos – Vem, vamos tomar café.

Seguindo pelo corredor, guiou Janine até as cozinha nos fundos da casa. Havia um balcão de granito em forma de L, onde de um lado ficavam a pia, o micro-ondas e o fogão. Três bancos estavam do outro lado, que seria talvez meio metro mais alto. 

 Também havia uma mesa de madeira com seis lugares e uma porta que levava para os fundos do jardim. Não era muito maior que a cozinha do apartamento de Janine nos Estados Unidos.

 -Sempre pensei que vocês tivessem uma cozinha industrial ou qualquer coisa parecida. Para banquetes enormes com centenas de convidados.

 -Nós temos. – ele respondeu sorrindo e jogando-lhe uma maçã – Fica no subsolo.

 Jenny puxou uma cadeira na mesa e deu uma mordida em sua maçã enquanto Pavel buscava a cafeteira já cheia.

 -Mabel é uma excelente cozinheira e adora coordenar os empregados que contratamos para essas ocasiões. Mas nós não damos tantas festas quanto você pode pensar.

 -Não deve ser seguro para um perseguidor chamar tanta atenção. – ela não se conteve em comentar em voz baixa.

 -O que disse? – ele perguntou ao se virar com uma xícara de café em cada mão.

 -Nada, Pav. – ela pegou uma das xícaras e agradeceu.

 Ele se sentou de frente para ela lhe estendeu então uma colher e o açucareiro.

 -Então, segunda-feira é um dos dias em que nos desencontramos. Geralmente não acontece muita coisa nesses dias de semana, só reuniões de negócios. Abe tem um escritório no centro da cidade e costuma ficar lá até uma da tarde. Não se esqueça de tomar bastante café, as coisas podem ficar cansativas depois de algumas horas.

 Ela assentiu e levantou-se para lavar a xícara na pia. Olhando pela janela logo acima do balcão, perguntou a Pavel:

 -O que tem ali naquele galpão coberto?

 -Ah, Abe construiu uma piscina. Ele nada bem, sabe? Aliás, ele pediu para você encontrá-lo ali depois que terminasse de tomar café.

 Passos apressados invadiram a cozinha e logo Janine pôde ouvir Mabel cumprimentando o guardião:

 -Bom dia, querido! Dia de folga?

 -Sim, hoje o trabalho sobrou todo para cima da guardiã Hathaway aqui.

 Janine pôde ouvi-la dando a volta pela mesa:

 -São muitas as tatuagens que você tem no pescoço, menina. Deve ser muito sortuda.

 Institivamente, colocou a mão sobre a nuca e se virou.

 Janine estava atônita. Ter a oportunidade de ficar cara a cara com um Strigoi estava longe do que chamaria de ‘‘sorte’’.

 No entanto, acabou sendo salva quando Pavel a elogiou:

 -Janine é uma das guardiãs mais talentosas que conheço.

 Mabel lhe lançou outro olhar de cima a baixo, do tipo que conseguia fazer Janine sentir como se estivesse tendo até sua alma analisada.

 Por fim, a governanta suspirou e numa atitude de aceitação disse-lhe com a voz branda:

 -Não precisa se preocupar com a louça, querida. Eu cuido disso.

 Mais uma vez, Janine ficou sem reação. No entanto, um olhar de Pavel a fez se mexer de onde estava até a porta que levava ao jardim.

 -Eu vou encontrar Ibrahim então.

 Com um sorrisinho, pensou que, talvez, suas cinco marcas Molnija tivessem conquistado ao menos um pouco a confiança de Mabel Brooks.

 O dia tinha amanhecido nublado e prometendo chuva. Seguiu por um caminho aberto com pedregulhos no meio do jardim até o enorme galpão retangular. Havia três janelas fechadas no alto de cada uma das paredes e apenas uma porta.

 Hesitou por um segundo antes de puxar a maçaneta e entrar no lugar.

 Ibrahim Mazur tinha no quintal de casa nada mais nada menos que uma piscina olímpica.

 Todo o lugar era artificialmente iluminado e ela finalmente pôde descobrir de onde vinha o barulho alto que podia escutar fora do galpão: Ibrahim mais parecia uma sombra de tão rápido que conseguia se mexer em baixo d’água.

 Havia uma mesa de plástico branco com duas cadeiras na beirada da piscina, e como havia uma toalha pendurada em uma delas, Janine sentiu-se livre para sentar-se na outra.

 A guardiã conhecia o nado borboleta, e não aguentando de curiosidade, cronometrou no relógio de pulso quanto tempo ele levaria para atravessar os cinquenta metros de comprimento que possuía a piscina.

 O resultado encontrado foram fascinantes vinte e dois segundo e e trinta e sete milésimos. 

Apoiando-se na beirada, ele tirou os óculos de natação dos olhos e passou a mão pelo rosto, respirando profundamente.

 Ao olhar para cima, deu de cara com uma Janine que o observava encantada. Ele sorriu enquanto ainda tentava recuperar o fôlego.

 -Isso foi incrível! Você tem noção de como é rápido? Por que não participa de uma olimpíada ou algo assim?

Ele deu uma risada fraca ao responder:

—Pelo mesmo motivo que você não participa de uma maratona. Mesmo sendo rápida, forte e resistente.

Sem saber onde ele queria chegar, arqueou as sobrancelhas:

 -Sim, e tenho essas características muito mais desenvolvidas que humanos comuns. Exatamente por isso, participar de uma maratona não seria nada mais que trapaça. 

Ele levantou a mão e olhou para ela como se dissesse: ‘‘Está vendo só?’’.

Sem entender, ela argumentou:

—Mas isso não se aplica aos Moroi. Vocês são, na maioria das vezes, mais fracos até que humanos. Sem ofensa.

Ibrahim sorria satisfeito e parecia ter chegado exatamente no ponto que queria:

 -Não somos mais fracos, guardiã Hathaway. Somos mais preguiçosos e acomodados que qualquer outra coisa. É claro que os dampiros são mais adaptativos; mas mesmo o mais rápido e forte de vocês não valeria nada sem o treinamento duro ao qual são submetidos.

 -Nisso eu realmente devo concordar com você. É irritante ter que sempre agir como se fôssemos super-heróis sem falha alguma.

 Satisfeito que ela estivesse concordando com sua linha de raciocínio, Ibrahim sentiu-se motivado a continuar expressando suas ideias:

—E é igualmente desgastante que nós Moroi sejamos vistos como inúteis que não conseguem nem ao menos se proteger. Podemos não possuir o mesmo potencial, mas certamente valeríamos mais se fizéssemos um pouco de exercício. E ainda há todo esse poder de controlar um dos elementos naturais que simplesmente não para de ser desperdiçado com futilidades. Imagine como seria ter Moroi treinados com técnicas de combate lutando contra Strigoi.

 Janine tinha os olhos azuis muito abertos enquanto o ouvia falar. O que Ibrahim estava defendendo era um dos assuntos mais polêmicos e controversos discutido há décadas pela Corte: simplesmente a participação de Moroi em batalhas ao lado de Guardiões.

 -Você tem consciência do que está falando, não tem? Sabe quantos Moroi querem mandar matar pessoas que defendam que eles também deveriam lutar? Pessoas que queiram ‘‘alterar a ordem natural das coisas’’?

Seu sorriso não se deixou abalar:

 -Bem, e o que eu posso fazer? É uma pena que haja tanto poder sendo desperdiçado. Confesse, nós Moroi podemos ser úteis se soubermos como agir. Lembra quando você matou aquele Strigoi no Cairo.

 -Sim, e eu admito que você ajudou bastante. Mas os dampiros são perfeitamente capazes de fazer isso sozinhos. E mesmo se por algum milagre os Moroi aceitassem lutar ao nosso lado, levaria muito tempo para treiná-los.

 -Ninguém disse que seria fácil, Janine. Obviamente, teremos que passar por todo um processo. Agora, os fatos são que os números de dampiros diminui ao mesmo tempo em que o de Strigoi cresce. E os Moroi, que são o centro dessa história toda, simplesmente ficam sentados com seus braços cruzados. No momento em que se virem forçados a lutar sem ter alguém atrás de quem se esconder, eles vão perceber que não podem depender dos dampiros para sobreviver.

 -Foi isso que aconteceu com você? Se viu impotente numa situação de vida ou morte e percebeu que precisaria aprender a se defender?

 Ibrahim não respondeu sua pergunta. Apenas sorriu calmamente e mergulhou de novo, emergindo em frente à escada que saía da piscina.

 ‘‘Não olhe!’’, Janine ordenou a si mesma quando ele saiu da água apenas de sunga.

—Pode me passar a tolha, por favor? – ele pediu ao parar ao seu lado.

 Pelo seu tom de voz, ela tinha certeza absoluta de que ele estava se controlando para não rir. E, obviamente, estava fazendo tudo de propósito.

 Esticou o braço por cima da mesinha branca e alcançou a tolha azul pendurada na cadeira da direita.

 Olhou para ele só por um segundo ao estendê-la: ele não era musculoso, mas tinha o corpo bem definido. E Janine conseguiu se controlar o suficiente para não olhar o resto.

 Ele agradeceu e colocou a tolha sobre os ombros, dando a volta pela mesa para se sentar na cadeira ao seu lado.

 Ibrahim inspirou profundamente mais uma vez antes de perguntar:

 -Que horas são?

 Saindo de seu pequeno transe, puxou a manga do blazer preto para olhar o relógio de pulso simples.

 -Seis e quarenta e três. – ao notar o quanto sua voz saíra estranhamente falha, pigarreou e repetiu – São seis e quarenta e três agora.

 -Bem, isso quer dizer que tenho uma reunião daqui a exatos trinta e sete minutos. Como Pavel está de folga nas segundas, quase sinto em dizer que será você quem terá que me acompanhar ao escritório.

 Ela concordou com a cabeça e ele continuou:

 -Por favor, peça a Mabel que chame Osman, meu motorista.

 Concordando mais uma vez, murmurou um ‘‘com licença’’ antes de se levantar e rapidamente se encaminhar para a porta.

 -Você conhece a Lei de Murphy? – ele perguntou antes que ela tivesse a oportunidade de chegar até a porta.

 Ela girou nos calcanhares e o encontrou com o corpo virado para trás na cadeira e um sorriso no rosto.

 -Todos pensam que é uma maldição, mas na verdade não é. – ele continuou, deixando-a sem saber qual seria o destino da conversa – Ela apenas diz que se algo tem chances de acontecer, irá acontecer. Toda essa história de Moroi lutando ao lado dos guardiões irá acontecer na hora certa, se tiver que acontecer.

 -Quase me esqueci de que você acredita em destino. – ela respondeu com o tom bem próximo a uma crítica.

 -Eu acredito que o destino nos oferece as oportunidades.  – ele sorriu – E é nosso trabalho agarrá-las antes que seja tarde demais.

 E naquela mesma manhã, quando Ibrahim se sentava de frente para ela na limusine, Janine se encontrou não conseguindo tirar os olhos dele.

 Em sua cabeça, ecoavam suas palavras sobre a Lei de Murphy. Se essa máxima pudesse realmente ser aplicada a qualquer aspecto de suas vidas; seria por isso que a guardiã estaria passando por aquela situação?

 Cada vez que dizia a si mesma que esqueceria tudo o que vivera e sentira ao lado de Ibrahim, a vida parecia lhe dar uma amostra de como estava irremediavelmente conectada ao seu perseguidor de olhos negros.   

 A única explicação era a Lei de Murphy.        


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Notas finais do capítulo

Essa coisa da água vai ser trabalhada mais pra frente, vocês verão. É meio triste e meio macabro. :3
Ai, como eu queria ser ryca e phyna como esse turco-maravilha.
Próximo capítulo tem personagem novo, não percam!
Kisses.



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