Desde que havia decidido ir embora de New Orleans com Kol, Rebekah sabia que a convivência com o irmão não seria exatamente fácil. Mas, bem, quando a convivência com qualquer um dos membros de sua família foi fácil?

Além do mais, ela conviveu a maior parte do tempo com Klaus, então entendia muito bem as constantes mudanças de humor e temperamentos explosivos, para não dizer agressivos.

Mas Rebekah também era capaz de perceber quando alguma coisa estava fora do normal com algum membro da família. E com Kol não era diferente.

Eles estavam viajando de cidade em cidade há alguns dias, a fim de aproveitar tudo e esquecer as dificuldades que enfrentaram nos últimos anos.

Porém a cada cidade que iam, várias mortes eram deixadas pelo caminho. Não que isso fosse alguma novidade, afinal Kol nunca foi exatamente o tipo de vampiro controlado. Assim como Klaus também não era.

Mas dessa vez era nítido que algo estava o movendo, fazendo-o ter seu instinto violento ainda mais apurado.

Fato este que fez com que Rebekah não se surpreendesse ao chegar para mais um evento em uma nova cidade e encontrar uma verdadeira carnificina no local.

— Bem, vejo que você aproveitou bastante a minha ausência nessa festa — Ela comentou olhando de cima a baixo o ambiente repleto de sangue aonde seu irmão se encontrava.

Rebekah andava entre os corpos caídos, com o som de suas botas de salto ecoando diante do silêncio.

O corpo nos braços de Kol já havia parado de gemer, cada vez mais enfraquecido com a perda de sangue. Estaria morto a qualquer momento.

Kol não pareceu perceber a chegada da irmã, concentrado demais em sugar até a última gota de sangue que podia.

— Precisamos dar um jeito nesses corpos — Rebekah continuou, dando um leve chute em um cadáver do que deveria ser um homem em seus trinta anos. — Não espere que eu faça todo o trabalho sujo.

Ao perceber a ausência de resposta, dessa vez a irmã mais nova se irritou. Ela se aproximou de Kol, arqueando o cenho.

— Kol, não está me ouvindo?

— Eu preciso de mais. — Foi tudo o que ele disse, soando exasperado. Kol largou o corpo que carregava no chão, sem se importar, olhando a sua volta a procura de algum humano ainda vivo naquele local.

Não havia mais.

— Eu preciso de mais sangue. — Se levantou, pronto para ir embora, mas a mão firme de Rebekah em seu ombro o deteve.

— O que houve com você? — Indagou preocupada — Sempre foi um psicopata descontrolado, mas dessa vez está diferente. Está pior.

— Eu estou bem, Beks.

O olhar que recebeu da Mikaelson deixou claro que ela não acreditou nem por um segundo em suas palavras.

— Isso é por causa da Davina? — O rosto de Kol se contorceu em dor ao ouvir aquele nome.

— Não importa. — Ele respondeu trincando os dentes e logo se desvencilhou de Rebekah, andando a passos firmes para a saída do salão.

— Pois eu aposto que importava para ela — Rebekah exclamou, fazendo o Mikaelson finalmente parar de andar, próximo a porta. Ela então continuou — Você deveria honrar mais a memória dela, não ficar descontando sua raiva em toda a cidade que pararmos, você-

— Você não entende! — Kol a interrompeu, gritando de forma nervosa — Davina foi a única pessoa que eu amei. A única pessoa que nunca me julgou pelo monstro que eu sou, ela sempre esteve lá por mim! E eu... — sua voz foi enfraquecendo conforme ia sentindo as lágrimas descerem por seu rosto — eu não pude fazer nada para ajudá-la, como sempre eu fui um monstro e... ela se foi.

Ele abaixou o rosto, deixando as emoções tomarem conta. Kol esteve segurando aqueles sentimentos desde a morte da bruxa, tentando ser forte e até mesmo descontando sua dor de outra forma... mas de repente guardar aquilo tudo se tornou demais para ele.

E Rebekah sabia daquilo.

Os vampiros têm os sentimentos ainda mais aflorados do que os de um humano normal. E não significava que aquele tipo de coisa ficaria fácil depois de centenas de anos. Nunca era fácil.

Rebekah se aproximou mais do irmão, segurando-o pelos ombros e o envolvendo em um abraço.

Kol encostou sua cabeça no ombro da loira, deixando as lágrimas caírem sem qualquer controle agora.

— Parece que fomos destinados a sempre sofrer por amor, talvez esse seja o preço a pagar por sermos o que somos — Rebekah murmurou para ele depois de um tempo, ainda entre seus braços.

Ela estava com os olhos marejados, como se compartilhasse da dor que seu irmão estivesse passando.

— Mas você não está sozinho, Kol — continuou, agora se afastando um pouco para encará-lo. Ele havia parado de chorar, mas sua face ainda refletia o sofrimento que havia se apoderado de seu coração.

Rebekah ergueu as mãos, tocando ambos os lados do rosto do irmão.

— Não precisa sofrer sozinho. Nós somos uma família, eu sempre estarei do seu lado.

Kol não disse nada, apenas se entregou novamente aos braços da irmã caçula.

Ele não estava acostumado a pensar que teria o apoio de sua família. Durante longos anos sempre se viu repleto de discussões que terminavam somente com uma adaga em seu peito, de tal forma que passou a acreditar que não se importavam com ele.

Mesmo depois de voltar a reencontrar seus irmãos, Kol tinha em mente que ele nunca fora mais do que apenas um aliado.

Mas então... Rebekah estava ali por ele. Desde que morreu, ela não parou um segundo de se preocupar em trazê-lo de volta, e agora depois de anos, estava lhe acompanhando, mostrando que não estava sozinho como sempre pensava.

Que ele era sim parte da família.

E talvez Klaus, Elijah e Freya também pensassem da mesma forma.

Aquela simples percepção fez com que algo se aquecesse dentro dele.

Kol sabia que demoraria um tempo para cicatrizar sua ferida. E provavelmente nunca se recuperaria por completo da morte de Davina. Mas agora ele também tinha consciência de que não estava sozinho, nunca esteve.

Eles eram sim uma família. E sempre estariam prontos para ajudar uns aos outros.