Lembra-se quando virara rotina olharmos o sol deitar-se e trazer as estrelas?

Tínhamos não mais que seis anos quando te encontrei aqui e me sentei ao seu lado. Lembro do seu sorriso tímido e da franja que cobria seus olhos. Você fingia me ignorar, e eu querendo um novo amigo permaneci ali de rosto corado e mãos apertando a saia do meu vestido.

Eram seis da tarde, nunca irei me esquecer. O vento era bem calmo, nem ameaçava derrubar as folhas da árvore ali ao lado, mas ainda assim senti frio quando o sol se pôs. Você assistia aquilo silencioso, eu o acompanhei. Em minha pequena vida, não havia visto algo mais lindo.

Eu fiquei sem jeito, o silêncio nunca fora um amigo fiel, até eu te conhecer. Então eu disse “Oi”, quase tão baixo e tímido quanto os grilos que começavam a surgir. Você me olhou e se levantou. Passou por mim e achei que não diria nada, mas você parou ao lado daquela árvore e deu atenção para suas flores, eu sorri quando ouvi sua voz de menino dizer “As flores têm a cor do seu cabelo. Elas são bonitas.”

Não aja tão estranho

Duro como uma pedra

Se te mostrei pedaços de pele

Que nem mesmo a luz do sol não toca

E tantos sinais que nem eu mesma conhecia

Te mostrei a minha força bruta

Meu calcanhar de Aquiles, minha poesia

Lembra-se quando roubara meu primeiro beijo assim que o sol desapareceu?

Era meu aniversário de doze anos, minha mãe havia me feito uma festa e somente você não levou presente. Eu fiquei chateada com sua falta de consideração, quão infantil foi aquele bico que direcionei a você. Mas então, você olhou para os lados e pegou minha mão quando viu que ninguém olhava, me arrastou para perto da árvore sem dizer uma única palavra. Tão taciturno que com o tempo aprendi a relaxar com o silêncio. Sentamos na relva verde e apreciamos o nosso momento particular.

Antes que o sol se pusesse, você me estendeu uma caixinha cor-de-rosa. Eu sorri tirando rápido das suas mãos e abrindo apenas para sorrir ainda mais. Era a gargantilha com um pequeno coração de cristal como pingente que nunca mais tirei.

Pedi para que colocasse em mim, não me aguentando de felicidade. Você, com suas mãos sem jeito e cara de quem não queria estar fazendo aquilo, conseguiu prender o fecho.

“Obrigada, Sasuke. Ele é lindo, o mais lindo que já ganhei em toda a minha vida.” Eu disse admirando meu pingente com real emoção, quando ergui meus olhos você ainda estava perto e me olhava. O sol se punha e nós não desviávamos os olhos para vê-lo, apenas a suave brisa de pôr do sol chegava até nós naquele momento. Seus cílio negros piscaram uma única vez antes de você se inclinar e me beijar.

Foi um selinho, mas parece que foi tão demorado e tão doce. Meus olhos se arregalaram e meu coração parecia querer sair pela boca. Você se afastou, tinha os olhos fechados, mas quando os abriu também os arregalou. Ficamos por alguns segundos assim, olhando-nos como se tivéssemos descoberto o maior tesouro de toda a vida, e talvez tivéssemos mesmo. Mas então você se levantou e correu dali, me deixando sozinha, sem nem ao menos o sol como companhia.

Me deixou sozinha com o melhor presente que recebi e que ainda era sentido em meus lábios.

O que você fará?

Só uma história mais

O que farei se não voltar a ver você?

Oh, oh

Lembra-se quando o sentimento foi mais forte que seu silêncio e você disse que me amava?

Era primavera e a nossa árvore estava no auge de sua beleza. Eu me sentei ao seu lado e em silêncio observamos o sol se pôr. Você tinha acabado de receber a carta de aceitação na universidade militar e juntos havíamos comemorado com nossos amigos. Você seria engenheiro naval, iria realizar um de seus sonhos que somente eu sabia.

Quando o sol se foi, você pegou a minha mão. Eu o olhei, sentindo o coração palpitar como sempre aconteceu depois do nosso primeiro beijo. E mesmo que tenhamos fingido que nada tinha acontecido, aos poucos sentíamos que aquilo era maior que nós.

“Você vai sentir minha falta?” você perguntou e eu achei tão bobo de sua parte perguntar algo tão óbvio. Então me lembro da garganta fechar-se e as lágrimas egoístas que eu tinha guardado enquanto te parabenizavam saíram sem pudor. Eu chorei de soluçar e aquela foi sua resposta. Você me puxou aninhando minha cabeça em seu peito e acariciou meu cabelo. Minha dor antecipada por sua partida molhava a camisa do uniforme, e os soluços batiam em sua pele como um sofrido e desesperado pedido para que ficasse.

O sol se pôs e eu não o vi porque me negava a aceitar que mais um dia estava acabando e que logo eu não o teria perto de mim. Meu peito doía tanto, o ar me faltava e a tristeza acumulada com a saudade banhavam meu rosto e retorciam minhas expressões.

Você me apertou mais forte contra seu peito quando o vento da noite me fez estremecer. Eu me perdi no tempo dentro dos seus braços. Então, ao perceber que eu havia me acalmado, você me afastou um pouco apenas para olhar em meus olhos. Parecia tão sereno em contraste com a minha destruição. Você afagou meu rosto e secou minhas lágrimas.

Eu tinha tanta coisa para te dizer, tanta coisa, mas todas elas sumiram de minha mente quando o nosso segundo beijo aconteceu. Esse foi nosso primeiro beijo de verdade, com intenção de não acabar cedo e com maturidade para ser profundo.

Não ficamos nos olhando como daquela vez, e você tampouco saiu correndo. Eu aninhei meu rosto em seu pescoço e voltei a chorar. Você continuou ali, com seus braços em volta de mim me mantendo aquecida em meu desabafar.

“Você vai voltar? Diga-me que vai” eu supliquei quando minha voz voltou e os soluços cessaram. Continuei com o rosto escondido em seu pescoço, me agarrando ao seu cheiro como calmante. E o silêncio da noite foi rompido pelo ressoar quente da sua voz “Eu te amo, Sakura.”

Não abandone o barco

Tanto tempo antes de que partamos

Até uma ilha deserta

E depois, depois veremos

Se você me vê desarmada

Por que lança os seus mísseis?

Se já conhece os meus pontos cardeais

Os mais sensíveis e sutis

Lembra-se quando me ligou para dar a notícia e eu não o atendi mais?

Eu esperava sua chegada, enfim você iria voltar para casa, mas a guerra estourou e você foi chamado. Em outro país. Outro continente.

Oh, eu sinto tanto a sua falta.

Seu irmão uma vez me encontrou em nosso ponto de encontro de todas as tardes, ele me deu uma foto sua e disse que você havia perguntado de mim. Não faz ideia do quanto chorei quando ele me deixou sozinha.

Peguei meu celular e disquei seu número, aguardei ansiosa até que você me atendesse, até que eu pudesse ouvir sua voz e sentir-me novamente em paz. Mas nem ao mesmo chamou.

Me neguei a assistir televisão e saía de perto de qualquer um que estivesse conversando sobre a guerra. Eu fugia de tudo isso que pudesse me lembrar de você, apenas para poder te encontrar onde sempre deveríamos nos encontrar.

Ontem vi sua mãe na janela, ela parecia distante olhando para o céu com um lenço nas mãos. Não tive coragem de perguntar o que havia acontecido, não tive coragem de pronunciar seu nome e nem que alguém mais dissesse perto de mim. Ou para mim.

A guerra estava chegando ao fim, e eu não tinha mais notícias sobre você.

Se desde o dia em que você não está

Vi a noite chegar muito antes das seis

Se desde o dia em que você não está

Vi a noite chegar muito antes das seis

Ainda não é pôr do sol, mas eu ocupo o meu e o seu lugar perto da nossa árvore.

Os dias ficaram mais curtos desde que você partiu. A noite vem ligeira, levando o sol com brutalidade e me fazendo perdê-lo. O vento não é mais uma brisa que só nos fazia se arrepiar, agora vem gélida e leva as flores cor de rosa da nossa árvore velhinha.

Mas eu não desisto do nosso lugar e permaneço aqui, esperando a sua volta. Meu coração pulsa quando a lua se ergue e me abraço desejando que fosse os seus braços em volta de mim.

Só queria seus lábios tocando os meus mais uma vez, não importa se fosse como naquela primeira vez. Só queria você ao meu lado olhando o sol se pôr, poderia ficar em silêncio e focar sua atenção à ele, eu juro que não me importaria. Sasuke, só quero acreditar que os passos que escuto atrás de mim neste momento, são os seus voltando para mim.

betado por Mirys