Somos Pó e Sombras escrita por Lari


Capítulo 1
Capítulo Único




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A postura que Tessa havia adquirido diante da morte de Will era a de alguém visualmente indestrutível. Ela agia como se estivesse conformada que seu marido iria morrer e não havia nada que ela pudesse fazer, quando na realidade ela sentia-se queimar por dentro, toda e qualquer fibra ou musculo ardia e a todo o momento ela sentia vontade de vomitar.

Ela não podia e não queria perder o seu Will, a ideia de viver uma eternidade sem estar ao lado de seu amor era impensável e só a fazia ter vontade de morrer também, para que assim continuasse ao seu lado. Talvez ser imortal tivesse vindo muito mais como um fardo que ela deveria carregar, do que como um presente, como ela poderia sobreviver à perda dos que amava? Tessa não conseguia ter ideia de como Magnus fazia isto há séculos e conseguia viver consigo mesmo.

—Tessa... – ela estava encostada à porta do quarto deles quando o ouviu chama-la, abraçada a si mesma, abriu os olhos, antes fechados por culpa do peso e da agonia que ela sentia dentro de si. – Sei que está aí, amor.

Ela apertou os braços em volta de si quando o ouviu novamente, se abraçando ainda mais forte, como se aquilo fosse confortá-la de alguma forma. O espelho do corredor refletia a mesma imagem que refletia há anos, Tessa não havia mudado, continuava jovem como antes. Ela abriu a porta, olhou para Will, deitado na cama, e sorriu levemente para ele. A realidade de sua aparência não era a mesma realidade da dele, mas mesmo com os cabelos negros tendo adquirido fios grisalhos, e a pele algumas rugas, ele ainda era o mesmo Will por quem a garota se apaixonara, um amor que poderia incendiar cidades, e eles possuíam a mesma idade, mesmo que isso não fosse nada visível.

Ele estendeu a mão para ela, que fechou a porta do quarto antes de se sentar à beira da cama, tentando não deixar que as lágrimas aparecessem. Ela amava olhar para ele e se lembrar de como se apaixonara pelo garoto feroz de olhos azuis escuros, os quais ainda mexiam com ela inevitavelmente. Ah, Will...

—Sei que está sofrendo, minha Tessa, e não precisa esconder isso de mim, nunca precisou esconder nada e não é agora que precisará.

Will tomou as mãos da mulher na dele, e ela não mais conseguiu segurar o choro ou a emoção, e sendo assim as lágrimas brotaram em seus olhos, que ficaram marejados e logo ela chorou, a pose indestrutível esvanecendo. Ele se colocou sentado com algum esforço, colocou-a em seus braços e a abraçou fortemente.

—Não posso te perder, Will. A eternidade sem você não é nada convidativa, eu só queria que... Pelo Anjo! Por que não podemos ir juntos? Isso é tão injusto.

—Tess, não diga isso, Céus, não diga nada disso. Olhe para mim – e ela o fez, mesmo com os olhos inchados e vermelhos, Will ainda a achava a mulher mais bela que um dia conhecera. – Parte meu coração, tanto quanto parte o teu, ter que deixa-la e ainda mais, ter que deixa-la sofrendo como está, mas a morte é cruel e não vai me poupar, sabe disso. Somos pó e sombras.

—Como eu supostamente saberei viver sem você, Will?

Ele sorriu, um sorriso melancólico, os olhos marejados. Levou sua mão até o rosto dela, Tessa fechou os olhos, sentindo o toque dele como se fosse a última vez que ele a tocaria desse jeito, e as chances diziam que provavelmente era a verdade. Ele traçou com os dedos, delicadamente os traços dela, passando por todo o seu rosto e depois pelo pescoço, dando atenção especial às clavículas acentuadas dela e depois parou, esperou que ela abrisse os olhos e ela o fez.

—Tess... – ele sussurrou, o coração partido, e pensou consigo mesmo que se o amor fosse capaz de superar a morte, o deles o faria com maestria e então ele não teria que deixa-la. Will beijou-a, os seus lábios tocando os dela de uma forma delicada e carinhosa, diferente dos beijos ferozes que um dia entre eles aconteceram, mas realmente sentindo seus lábios nos dela e o choque que aquele gesto causava em ambos. – Eu te amo, e sempre vou, não importa onde esteja.

—Eu te amo, Will Herondale, e sempre irei.

Não havia mais nada a se fazer a não ser esperar até que todos chegassem, Tessa se deitou ao lado de Will e pensou que deveria ter de se recompor em algum momento, mas então esse pensamento a deixou e ela decidiu que a coisa mais importante ali era estar ao lado do homem que amava, do homem que amou e que sempre iria amar, pelo resto de sua longa vida, ela se lembraria do seu primeiro amor.

Quando seus filhos chegaram e para se despedir, nem assim Tessa deixou Will, segurou sua mão o tempo todo e ficou ao seu lado, o coração temendo a hora que teria que chegar, ficava cada vez mais apertado e doía cada vez mais, como se soubesse que uma parte dele morreria junto com Will em breve.

Jem chegou e o coração dos três instantaneamente se quebrou em pedaços ao se olharem, não acreditando no quanto o destino podia ser cruel, ele os olhou, tinha um olhar de solidariedade e compaixão, e um Jem que já há muito não viam, estava de volta ali naquele instante, para Will, por Will, e por Tessa. Ela se deitou ao lado de Will novamente enquanto Jem tomou seu violino em mãos e começou a tocar, tocava a história dele e a deles, cada pedaço da vida de Will sendo transmitida em música.

Ave atque vale — ela sussurrou no ouvido de Will, apertando sua mão e sentindo sua correspondência ao toque pela ultima vez, seus olhos se fechando, Tessa sentiu seu coração sendo esmagado, desejando gritar de dor, mas não o fez. – E meu coração também irá.

Ela fechou os olhos. A música cessou.


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