Querida Lucy,

Não sonhei com você esta noite. Na verdade, não tive sonho algum.

Não pude vê-la, não pude ouvir sua voz.

E, de certa forma, isto tornou esta noite ainda mais solitária. Coisa que, admito, não pensei que fosse possível.

Cana apareceu por aqui, ontem à tarde. Pra variar, estava com uma garrafa na mão. No entanto, ela não estava bêbada.

Consegue acreditar nisto? Cana estava totalmente sóbria.

A garrafa, ela tratou logo de dizer com uma voz monótona, era pra mim. Disse que o álcool era a melhor forma de tentar aliviar um pouco a dor.

Não respondi, apenas fiquei a encarando. Ela simplesmente entrou e se largou no chão da sala, próxima aos sofás. Então olhou para trás e, ao ver que eu continuava mantendo a porta aberta e não falava nada, ela suspirou. E disse que aqui era sua casa e eu não tinha o direito de expulsar ninguém.  Já que você nunca mandaria uma amiga embora.

Estressado por ela ter razão bati a porta com força e fui me juntar a ela.

Não falamos nada. Afinal, não havia nada que se pudesse dizer.

Pela primeira vez, o silêncio que se instaurou por esse apartamento desde que você foi embora, não me incomodou.

Era como se pela falta de palavras ela entendesse tudo que se passava dentro do meu coração.

Happy resmungou algo como “fique mais um pouco” quando Cana se levantou. Havia anoitecido há pouco tempo. Antes de passar pela porta, ela se virou e disse

“Eu sei que você sente falta dela. Muito.

E, sabe, está sendo difícil para todos nós também.

A Lucy também era minha amiga, Natsu.

Mesmo assim, é bem pior para você e Happy, não?

Vocês três eram realmente uma família.

Mais do que isso.

Lucy sempre foi especial para você.

Não é mesmo, Natsu?”

Ela bateu a porta com força quando saiu, mas só para abri-la de novo e gritar um “dê uma passada às vezes na guilda, pelo menos. Ou vamos achar que você morreu aqui dentro!”

Não respondi.

E, diferente daquela vez com a Erza, eu não consigo ouvir o som da porta batendo. Apesar de ter certeza que isso aconteceu.

Porque tudo o que consigo ouvir é o som do meu próprio coração batendo e as palavras de Cana se repetindo em minha mente, como um mantra.

Hey, Lucy, não ligue para Cana.

Essa idiota não sabe o que fala.

Eu e você somos apenas amigos.

Ah, porque essas me palavras me parecem tão falsas ao escrevê-las?

Hey, Lucy, me explique por que isso está acontecendo.

Você deveria ser minha melhor amiga. Apenas isso.

Meus sentimentos por você deveriam ser iguais aos que sinto por Erza, Wendy e Lisanna. Igual ao que sinto por todos na Fairy Tail.

Então por que meu coração está batendo tão forte?

Por que minha mão está tremendo?

Por que

Eu sinto

Que não consigo mais

Viver

Sem você?

Hey, Lucy, volte logo para podermos resolver esta história de uma vez.

Quem sabe, olhando em seus olhos, eu não encontre uma resposta para todas essas perguntas?

Com Amor,

Natsu.

P.S: querida Luigi... Quer dizer, Lucy! Quando você voltar, tem algo que quero experimentar. Não se esqueça disso!