— Molly

— Tem certeza disso? – perguntei mais uma vez ao meu pai. Estávamos terminando de colocar as coisas para mudança no carro, não eram muitas coisas, bom, pelos menos as que sobraram depois do incêndio que destruiu nossa casa.

Faziam duas semanas desde que o incêndio ocorreu, por sorte nem meu pai ou eu estávamos em casa quando aconteceu, por sorte o lado da casa onde meu quarto ficava não foi tão danificado e pude recuperar grande parte de minha coisas. Infelizmente a casa precisaria ser reformada por inteiro, então desde o ocorrido eu e meu pai nos hospedamos em um hotel no centro de Londres.

Como logo ele viajaria a trabalho novamente – ele era historiador e precisava dar continuidade nas pesquisas e projetos na América Central – e meu último semestre do colegial começaria, tínhamos combinado de ficar no hotel até ele precisar viajar, depois eu ficaria no dormitório do colégio porque ele ainda não queria me deixar morar sozinha.

Até o dia que encontramos uma velha amiga da família, Wanda – só depois fui descobrir seu sobrenome – mamãe e ela tinham sido melhores amigas desde o colégio até a faculdade, depois de ambas casarem acabaram perdendo o contato. Wanda ofereceu sua casa para que eu me hospedasse até me formar, obviamente meu pai adorou a ideia e concordou na hora, claro.

 A ideia em si não era de todo ruim – no fundo eu sabia que ele tinha medo de me deixar sozinha e eu ter uma recaída – o problema era o sobrenome dela, não era um comum ou que eu fosse simplesmente esquecer.

— Claro que tenho minha querida Elizabeth, eu nunca tomaria uma decisão que não fosse boa para você. – não consegui evitar um sorriso ao ouvi-lo me chamar pelo meu segundo nome e também o nome de minha falecida mãe.

— Sei que não. – coloquei a última das malas nos bancos de trás.

— Pronta para ir? – me perguntou abrindo a porta do passageiro.

— Sim, senhor William Hooper. – imitei uma continência e entrei no carro, meu pai entrou e deu a partida. Liguei o rádio para me distrair tentando em vão não ficar nervosa, não consegui nem me concentrar na música que a banda dos anos 60 cantava.

— Wanda tem dois filhos, você vai ter companhia da sua idade, um deles é dois ou três anos mais velho que você, se não me engano. – meu pai comentou, tentando puxar papo durante o caminho.

Apenas concordei com um aceno de cabeça, eu não precisava entrar em pânico. Ainda. Eu realmente não me importava em ir morar por um tempo na casa dos Holmes, o problema era um dos filhos de Wanda, Sherlock.

Sherlock Holmes. Alto, olhos claros, cabelos cacheados, veterano, minha paixão durante o primeiro ano do colegial. Como poderia esquecer a paixão platônica que nutri por ele durante aquele ano? Quando finalmente decidi criar coragem, me declarar e convidá-lo para ser meu par no baile de final de ano, como esqueceria a maneira rude que ele rejeitou meu convite e desprezou meus sentimentos?

Tinha sido humilhante e cruel.

Meu pai tinha acabado de estacionar o carro em frente à casa da família Holmes, onde eu moraria pelo resto do ano. Inspirei e expirei o ar para me acalmar. Aquilo tinha acontecido fazia tempo, no pior dos casos era só eu fingir que nada tinha acontecido. Pelo que me lembrava, arrogante do jeito que Sherlock era, ele nem devia se lembrar desse fato – eu contaria com isso.

Parecia uma piada, uma brincadeira de muito mau gosto, uma travessura feita pelas forças que moviam o Universo. Nunca imaginaria que reencontraria minha paixão do colégio assim, era como se o Universo estivesse rindo da minha cara enquanto comia pipoca assistindo como eu me sairia nessa situação.