Now Before and Then and maybe a little for later escrita por Mares on Mars


Capítulo 4
... and Maybe a Little for Later!


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo dessa mini fic, que apesar de mini, é bem gigante!



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Os dois dias que se seguiram à notícia da morte de Phil Coulson passaram como um borrão pelos olhos dos quatros agentes, que haviam se aquartelado no apartamento do colega falecido. Incapacitados de dormir, ou de conversarem sobre qualquer assunto que não fosse Philip Coulson, eles se viram em um looping de compartilharem bebidas e memórias sobre o homem. Nenhuma lágrima fora derramada depois da primeira noite, e Melinda tomara para si a tarefa de ser forte pelos companheiros. Sua fachada era pacífica, e ela passara longas horas se revirando na cama de casal de um dos quartos de hóspedes. Maria e Natasha estavam compartilhando o outro, e Clint dormia no sofá, todos incapazes de entrarem no quarto principal, onde Phil dormira durante os últimos 10 anos de sua vida. No final do segundo dia, um quinjet veio buscar os quatro agentes, e em menos de três horas eles se viram em Wisconsin. O velório durara a noite e madrugada inteiros, e dezenas de agentes da SHIELD compareceram. Assim que pisara dentro do salão onde o caixão fechado se encontrava, Melinda sentiu um calafrio em sua espinha, e teve que caminhar até o banheiro e jogar água em seu rosto para se recompor. Assim que voltara ao lugar, Natasha a segurara pelo braço, e a levara até um canto onde estavam os quatro Vingadores, em trajes sociais. A russa apresentou Melinda a eles como a melhor amiga de Phil, e os quatro homens prestaram sua condolências, e assim que as apresentações se encerraram, ela pediu licença e se afastou, em busca de uma única pessoa na sala. Ela encontrou Audrey Nathan sentada em uma cadeira afastada do centro da sala, agarrada firmemente a um lenço branco em sua mão.

— Audrey … — Melinda chamou com a voz suave e a mulher ergueu o olhar, o rosto manchado de lágrimas — Eu sou Melinda…

— Eu sei quem você é — a mulher respondeu com a mesma suavidade da chinesa e fungou forte.

— Eu só queria dizer que sinto muito — disse, sem saber o que mais poderia falar em tal circunstância.

— Eu o conhecia há um ano… — Audrey soluçou, e a chinesa sentiu-se tentada a sentar-se ao lado da mulher e consolá-la — Mas você… Você o conhecia há mais de 20 anos — ela prosseguiu, surpreendendo a agente — Eu não consigo imaginar a sua dor — comentou com a voz fraquejante e Melinda suspirou forte, como se tivesse acabado de ser socada no pé da barriga.

— Ele era o meu melhor amigo … E ele te amava demais — falou lentamente, tentando manter sua fachada de firmeza, impedindo que suas ruínas fossem expostas. Ela recordou-se de uma de suas últimas conversas com Phil, em que ele falara sobre o quanto estava apaixonado por sua violoncelista, e ela sentira-se extremamente feliz por seu amigo.

— Ele te amava também … — Audrey afirmou, e pela primeira vez, direcionou um sorriso para a chinesa, que sentiu-se mais destruída do que nos últimos dias — O senhor Fury me disse que o Phil morreu como um herói…

— Isso é verdade … Sem ele, nós todos estaríamos perdidos — Melinda confirmou, e sentiu-se confortável para sentar-se na cadeira ao lado da mulher. Por longos minutos, as duas ficaram em silêncio, encarando inconscientemente o mesmo ponto da sala: o grande caixão de madeira escura.

— Um militar veio aqui agora há pouco… Ele me perguntou se receberia a bandeira depois do enterro — Audrey começou a falar após o silêncio — Eu disse que você deveria receber… Por tudo o que vocês passaram juntos — informou, e a princípio, May sentiu-se compelida a negar, a dizer que Audrey deveria ter a bandeira, pois ela era a mulher que Phil escolhera para amar, mas após considerar bem, sentiu-se honrada.

— Obrigada — disse sinceramente, olhando a violoncelista nos olhos.

 

Algumas horas depois, Stark, Rogers, Banner, Thor, Barton e Fury se alinharam ao lado do caixão, e ao fim de uma contagem de três, eles ergueram o pesado objeto para fora de seu suporta, e seguidos pelo grupo ali presente, saíram em direção à cova já aberta. Foi uma caminhada que durou 10 minutos, e durante todo esse tempo, um único agente da SHIELD tocava as notas épicas do tema de Star Wars. Em algum momento, Maria e Natasha haviam estendido as mãos para Melinda e Audrey, e agora, as quatro mulheres caminhavam lado a lado, em silêncio contemplativo. Era uma das cenas mais tocantes que já fora vivenciada por aqueles agentes, que todos os dias se colocavam na linha de frente a favor do mundo e agora se juntavam em homenagem a um companheiro que morreu como um herói.

— Senhoras e senhores,  — o capitão Rogers começou a dizer assim que o caixão de Phil foi posicionado sobre a armação metal que o abaixaria até o fundo da cova — Eu não conhecia Phil Coulson há muito tempo. Na verdade, eu o conheci há cincos dias atrás. Um homem calmo, inteligente, gentil, íntegro… Um homem que acreditava em um mundo melhor, que acreditou até o último segundo na causa em que lutava. Eu podia não o conhecer bem, mas ele me conhecia, imaginem vocês a minha emoção ao saber que um agente como ele me tinha como inspiração — ele discursou, e um sorriso leve formou-se em seu rosto — Phil Coulson partiu dessa vida como um herói, uma inspiração aos que virão. Um homem que deixará um vazio difícil de preencher na vida de seus companheiros. Nós o saudamos hoje, com tristeza e ao mesmo tempo orgulho, de podermos ter conhecido tal herói, por termos tido a oportunidade de compartilhar uma conversa, um abraço… Em todos os nossos corações, ele será imortal! — o homem terminou seu discurso, e do lugar onde estava, com os pés cravados firmemente no chão, Melinda May sentia como se pudesse se desfazer em pedaços. Nos últimos dois dias havia sido forte, havia se impedido de chorar, e até evitara em pensar no momento em que teria que se despedir por fim de seu melhor amigo. Mas agora o momento chegara, e o som do violino solitário, a dor que sentia era impossível de conter. Nick Fury dera um passo em direção ao caixão, e contra todo o protocolo, ele foi o único responsável por retirar a bandeira dos EUA de cima do tampo de madeira, e dobrou-a em quatro partes. Imediatamente, ele caminhou solenemente na direção de Melinda.

— Agente May — ele disse com a voz mais firme que conseguira e a chinesa esticou as mãos para receber o pedaço de pano, que agora significava o mundo para ela. Sem hesitar, ele se afastou e deu um sinal positivo para que começassem a abaixar o caixão.

— Eu preciso sair daqui — ela sussurrou para Maria, que estava a seu lado, e sentiu seu coração acelerar como jamais sentira — Eu preciso sair daqui — repetiu, sentindo-se fraca demais para continuar ali. Rapidamente, e antes que alguém pudesse impedi-la, ela desvencilhou-se de alguns agentes que estavam atrás dela e correu para longe dali. Para longe do funeral, e para longe do corpo morto do homem que amava.



Ela chorou naquela noite, assim que retornara ao apartamento de Phil. Ela ajoelhara-se no meio do chão da sala, agarrada à bandeira que Fury a entregara, e chorara copiosamente até se sentir vazia. Quando não havia mais nenhuma lágrima a escorrer, ela se levantara, e corajosamente, desde que recebera a notícia mais terrível de sua vida, ela marchou em direção ao quarto de seu amigo. Foi uma luta interna, até que reuniu coragem o suficiente para girar a maçaneta. Entrar no quarto dele era como receber um soco no rosto. O cheiro de seu perfume italiano estava em todos os cantos, e seus ternos estavam perfeitamente alinhados dentro do guarda roupa. Seus discos, categoricamente posicionados próximos à vitrola antiga, os livros em ordem alfabética nas prateleiras. Suas miniaturas do Capitão América, os pôsters do Elvis Presley nas paredes de pedra, e o único porta retrato na mesa de cabeceira, com uma foto de suas versões muito mais jovens, no dia de sua formatura na Academia. Tudo ali havia sido tocado por ele, tudo ali tinha significado, e saber disso a destruía. Melinda repetia mentalmente que não era justo. Phil tinha uma vida, tinha alguém para amar, tinha apreço por sua casa, seu carro, suas coleções preciosas. Ele era alguém que vivia alegremente todos os dias, e se orgulhava de seu trabalho. Era um ser humano decente, que deveria viver feliz e saudável até os 110 anos e morrer dormindo, após viver um dia tão maravilhoso quanto todos os outros. Tomada pelo sentimento, e exausta de chorar, a mulher arrastou-se em direção a cama, e encolheu sobre as cobertas, entregando-se ao cansaço físico. Naquela noite ela dormiu em paz.



Durante os três dias que se seguiram, Melinda continuou no apartamento, que agora pertencia à SHIELD. Ela buscara caixas de papelão em um depósito, e começara a juntar tudo o que era significativo para ela. Todos os discos e livros foram mantidos, assim como os pôsters das paredes, os VHS de Star Wars e o porta retrato da mesa de cabeceira. Ela deixara os ternos onde eles pertenciam, mas vasculhara algumas gavetas atrás das antigas camisetas que ele usava durante a Academia. Elas estavam velhas e surradas, mas ainda tinham o cheiro dele, e isso era o suficiente para que as mantivesse. Quando tudo o que ela manteria fora colocado em caixas, ela desceu até a garagem e colocou-as no banco de trás do Corvette. Por último, ela juntou todos os pertences de Molly - dois pés de alface, uma cenoura, uma caixa de morangos e a carteira de vacinação - e com dificuldade,colocou o jabuti dentro de uma gaiola que comprara para transportá-la e levara-a até o carro. Com mais força de vontade do que consideraria possível, a mulher colocou as chaves do apartamento em cima da bancada da cozinha e desativou todo o sistema de segurança, para que a SHIELD pudesse fazer o que bem entendesse com o imóvel. Sem se conter, ela deu uma última boa olhada no lugar, onde tantas vezes tivera ótimos momentos, sentada na tapete da sala, rolando os olhos por alguma piada ridícula do amigo, ou vendo algum filme esdrúxulo que Phil encontrara na internet. Com um suspiro longo, ela pegou as chaves do carro e apagou a luz ao sair do apartamento.



Demorou uma semana para que ela parasse de chorar antes de dormir, ou praticamente desmaiar de exaustão. Ela passava o dia inteiro limpando o próprio apartamento, e o mesmo tempo, procurando outro lugar em que pudesse morar, pois novamente, tudo ali a trazia alguma memória. Ela também arranjara uma discussão com seu senhorio, pois o homem insistia que ela não tinha direito a uma segunda vaga de garagem para “seu carro chique”, e em menos de dois dias, ela se livrara de seu Prius, deixando sua única vaga de garagem para o Corvette, que passava os dias e noites coberto com uma lona, para impedir que ela fosse danificada de qualquer maneiro. Na segunda semana, ela foi obrigada a voltar a trabalhar, e com relutância, pois acreditava que Molly estava tendo alguma crise depressiva, saía de seu apartamento às 8 horas da manhã. Quase um mês depois da Batalha de Nova York, e da perda de seu melhor amigo, Melinda sentia como se sua vida voltasse ao antigo ritmo entediante, e em certos dias, ela mal sentia vontade de sair da cama. Molly se tornara sua único companheira durante aqueles dias, já que a agente se recusava a atender os telefonemas de seus amigos, que ligavam diariamente, preocupados com a mulher. Era uma terça feira comum, até que sua mãe ligara, e deixara um sermão de 10 minutos na secretária eletrônica, sobre a importância de não se isolar após uma perda. Num outro dia, a mulher sentiu-se desesperada para falar com alguém, e chorou ao perceber que a única pessoa com quem poderia falar, era exatamente o motivo de sua dor.

— Maldito seja você Phil Coulson, por morrer antes de mim — ela dissera baixinho, e aquilo tornara-se sua frase diária. Toda as vezes que algo acontecia, absurdo ou não, simplesmente algo que ela gostaria de contar para ele, ela dizia essa frase para si mesma, e em seguida anotava o acontecimento em um post it, e o colava em sua agenda.

 

Na quinta semana após a morte de Phil Coulson, um burburinho se instaurou no escritório, no 2º subsolo do prédio da SHIELD.

— Arrume a mesa, o Diretor está descendo para uma inspeção surpresa — um de seus colegas de trabalho disse com um tom um pouco apavorado e ela revirou os olhos. Nick Fury não a assustava de jeito nenhum. Quando o elevador abriu suas portas, um silêncio mortal estabeleceu-se, enquanto o homem com o tapa olho passava direto por todos os cubículos, em direção ao lugar onde a mulher se sentava.

— Agente May — ele cumprimentou com seu tom formal de sempre.

— Diretor Fury — a chinesa respondeu no mesmo tom e olhou-o, sem mover um músculo de seu rosto.

— Nós precisamos ter uma conversa séria, e você precisa ver uma coisa, então por favor, venha comigo — ele informou calmamente e mesmo desconfiada, a mulher obedeceu-o, levantando-se de sua cadeira.

Os dois caminharam em direção ao elevador, que subiu em direção ao telhado, trazendo a tona a sensação de deja vu, da última vez que se encontrara com Phil. Somente quando os dois estavam embarcados em um helicóptero, e esse alçava vôo, o diretor começou a falar.

— Existe um projeto… Nós o chamamos de T.A.H.I.T.I., é um projeto de reabilitação, e um programa totalmente experimental — ele começou a explicar com um tom grave — Durante os últimos anos nós fomos capazes de aperfeiçoar a técnica, e de curar muitos agentes. Esse programa foi criado junto com a Iniciativa Vingadores, com o propósito de evitar a perda de um dos heróis.

— O que eu tenho a ver com esse programa? — ela perguntou com certa indiferença. Por mais que admirasse o trabalho feito pelos tais heróis, no fundo, culpava-os pelo o que acontecera.

— Nós o trouxemos de volta a vida, May — o homem anunciou rapidamente e ela piscou sem entender.

— O que? — questionou, sem saber se compreendera o que fora dito.

— Nós trouxemos Phil Coulson de volta a vida — repetiu e ela encarou-o, incrédula — Desde o minuto em que ele foi declarado morto nós viemos trabalhando para que ele não estivesse mais … morto — disse com a voz um pouco mais suave do que antes — Foram dezenas de cirurgias, e procedimentos complicados demais para que eu posso explicar.

— Eu não acredito — ela rebateu, com uma dose de agressividade.

— Nós estamos indo agora mesmo até a instalação onde ele está se recuperando — o diretor informou e ela sentiu-se tonta — Agente May, o que eu acabei de lhe dizer é um segredo que não pode nunca ser dito. Quando o agente Coulson acordar, ele não tera memória de nenhuma de suas cirurgias. Ele acreditará que ficou morto por 40 segundos, e como recompensa, nós o enviamos para uma ilha, onde ele se reabilitou.

— É pra isso que você me chamou? Pra me pedir para guardar um segredo? — perguntou, encarando o homem com força.

— É uma das coisas… Quando Phil estiver de volta, eu vou recompensá-lo realmente. Uma unidade móvel, e uma equipe que responda somente a ele … E é pra isso que eu preciso de você.

— Você me quer nessa equipe… Pra ficar de olho nele — deduziu e o diretor assentiu.

— Eu preciso que você observe qualquer sinal de deterioração, física e mental … E preciso que você monte essa equipe!

— Por que eu?

— Porque você é a única pessoa que eu posso confiar… Porque eu sei que você se importa com ele tanto quanto eu — respondeu sinceramente e ela calou-se — Agente May, eu posso contar com você? — perguntou, olhando-a com seriedade.

“É claro que sim, pelo Coulson qualquer coisa”, ela se sentiu tentada a dizer, emocionalmente abalada com a quantidade de informações que fora despejada em seu colo nos últimos cinco minutos. Ela sentia como se o peso do mundo fosse removido de suas costas, somente para ser substituído por outro. A tarefa de voltar para o trabalho que abandonara há anos, com o intuito genuíno de proteger seu melhor amigo. Ela não tinha mais o que considerar.

— Eu serei o que você precisa — ela afirmou e o diretor sorriu, virando-se para o piloto do helicóptero e dando as instruções para prosseguir até o locar onde Coulson se recuperava.

Naquele momento, com a luz do sol entrando pela janela do helicóptero, e com a perspectiva de ver seu melhor amigo que acreditava estar morto, toda sua vontade de chorar fora substituída por um sentimento tão forte que ela mal podia conter dentro de si. “Phil Coulson… graças a Deus você está de volta pra mim”, ela pensou aliviada e fechou os olhos, aproveitando os últimos minutos antes da nova grande virada de sua vida.


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Notas finais do capítulo

Preciso dizer que escrevi esses quatro capítulos em uma tarde, depois de um sonho que eu tive, e sim, espero que tenha emocionado vocês, pelo o menos um pouquinho. Sempre um prazer escrever pra vocês.

Titia ama vocês!