Uma vida feliz para Arlequina? escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 22
Capítulo 22 - Esclarecimentos




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Capítulo 22 - Esclarecimentos

Os dois adentraram silenciosamente a sala de Pam e Selina seguiu até o quarto, sorrindo diante de mais uma cena mágica que certamente nunca esqueceria. Harley estava sentada na cama, amamentando Joe, vestido com um macacão azul clarinho, encolhido nos braços da mãe. A palhaça tinha um sorriso enorme, bem como Pam, enquanto Lucy, no colo da Hera, parecendo uma bonequinha loura com roupinha rosa, repetia várias e várias vezes a palavra “mamãe”, um pouco desajeitada, olhando para Harley, que se desmanchava em felicidade.

— Mama...

— Eu te amo tanto, meu amor! – Ela disse para a filha.

Ao notar a presença de Selina, e o Batman do lado de fora do quarto, sem tirar o sorriso do rosto, Pam deixou Lucy deitada ao lado de Harley e pegou uma das toalhas dos bebês para cobrir a amiga, deixando só os pezinhos de Joe visíveis.

— Bom dia. Entre, morcego – ela falou trazendo duas cadeiras para os dois e pegando Lucy outra vez.

Acomodou a menina no carrinho para gêmeos que guardara em sua casa desde o nascimento dos dois. Tudo que havia para os bebês na casa de Harley, também havia na de Pam. Ela se tornara oficialmente a madrinha dos bebês desde que soubera da gravidez de Harley. E assim que haviam estabilizado a palhaça após ela não perder a vida por muito pouco quase uma semana atrás, Pam e Selina haviam reorganizado tudo no quarto que Pam reservara para os bebês.

O homem morcego entrou e viu Harley lançar um olhar de Selina para ele e vice versa com um sorriso cheio de insinuações, depois ela riu e não disse mais nada. Selina a encarou e Harley apenas sorriu e desviou o olhar, contendo um risinho. Era estranho ver a palhaça sem maquiagem. Bruce observou a cena em volta, abrindo um leve sorriso. Encarou os olhinhos azuis de Lucy, sentindo-se curioso para saber se veria algo do Coringa neles, mas havia apenas a doçura e energia de Harley. A menina riu e estendeu a mãozinha na direção do morcego, que se agachou na altura do carrinho e deixou que a pequena agarrasse seus dedos e o obervasse com curiosidade. Trocou um sorriso com ela quando a mãozinha delicada soltou a sua. Sentou ao lado de Selina, em seguida encarando Harley.

— Eu fico feliz por você

— Temos muito a conversar, Batsy – ela sorriu.

Bud e Lou vieram correndo de outro cômodo da casa, farejaram o Batman e rosnaram irritados, indo se esconder do outro lado da cama de Harley.

— Meu Pudinzinho ensinou a eles que você é mal – ela sorriu não ligando para a ironia do que acabara de dizer – Vai levar alguns séculos até gostarem de você.

— Posso viver com isso.

— Por que não decide por onde devemos começar?

— Pedindo perdão a você.

Todos ficaram em silêncio e apesar de não dizer nada, estava estampada no olhar de Harley uma grande confusão de sentimentos.

— A primeira coisa que pensei quando descobri sua gravidez foi a vida horrível a qual o Coringa submeteria essas duas crianças. Nem pensei que você seria uma mãe tão boa. Tentar tirá-los de você foi um dos maiores erros que eu cometi até hoje. Me perdoe, Harley.

Ela olhou para o bebê em seus braços, ainda que não pudesse realmente vê-lo por baixo da toalha, depois olhou para Lucy, que olhava curiosa para cada um no quarto.

— O tempo que nós perdemos não vai voltar. Mas como eu poderia dizer não? Nós invadimos sua mansão, tentamos raptar um de vocês e roubar coisas... Perdemos o controle e tocamos fogo em tudo. Me perdi do meu Pudinzinho naquele lugar gigante. Quando pensei que morreria ali dentro ele me encontrou e nós saímos. Ele estava feliz, me lembro que ele ria muito, muito... – Harley falou balançando de leve o bebê em seus braços, que havia parado de mamar por um instante e se agitado, mas logo ele voltou a se alimentar e se acalmou – Então no caminho pra casa ele disse que tinha matado o garoto prodígio. Também sei do que ele fez com a sua garota e com o comissário muitos anos atrás. E acho... Que ele também matou os seus pais – ela disse séria, encarando o morcego.

Mais silêncio.

— Harley... Ele te contou isso naquela noite? – Pam perguntou com cautela.

— Não, Ruiva. Mas eu liguei os pontos depois que ele me contou uma coisa. Eu me lembro de muito anos atrás, antes de eu trabalhar em Arkham, ouvir na TV sobre um casal de milionários mortos. Nunca pegaram o assassino.

Harley pensou em continuar, o assassino era seu vizinho, o garoto sofrido por quem se apaixonara perdidamente na época, mas não tinha intenções de revelar tanto assim para o Batman.

— Você tem todos os motivos do mundo pra pensar que eu seria uma mãe ruim. Ou que o senhor Coringa mataria nossos bebês ou me faria abortar.

— Ele chegou a citar que desejava um herdeiro, mas não dessa forma. No final das contas espero que isso tenha sido evitado. E estamos falando de você. Apesar de ter ajudado em algumas, não foi você quem fez essas coisas – o Batman lhe respondeu, e Harley podia ver a dor escondida no fundo de seus olhos – Não consigo odiá-la depois de tudo que o Coringa fez você passar. E depois de tudo que passou pra chegar até aqui e ter seus filhos de volta.

Harley não teve tempo de responder, Joe a havia soltado e ela o olhou por baixo da toalha, trocando um sorriso com o filho.

— Meu príncipe – sussurrou para ele.

Pam a ajudou a arrumar roupa e a deitar Joe em seu ombro para que arrotasse, removendo a toalha e a guardando. Harley beijou os cabelos dourados do menino e o abraçou, dando batidinhas leves em suas costas, logo conseguindo cumprir sua tarefa e permitindo que Selina o acomodasse no carinho ao lado de Lucy. O ferimento ainda não estava fechado, portanto Harley não deveria fazer muitos esforços, e segurar um dos bebês por muito tempo poderia fazê-la forçar muito o local, ainda que ela estivesse sentada.

— Eles estão aqui finalmente, isso não importa mais.

Harley e Bruce trocaram um olhar significativo, onde Pam e Selina podiam ver uma concessão silenciosa e mútua de perdão.

— Acho que você podia começar a miar agora – ela sorriu olhando para Selina.

— O que querem saber primeiro?

— O óbvio. Por que você estava com meus filhos por um ano se devia procurar uma família? Embora eu me sinta grata por não ter feito isso.

— Harley... Eu simplesmente não consegui depois de ver a dor nos seus olhos quando os levei. Até o Coringa parecia meio triste, você então estava devastada. E nem vou falar de Pam. Eu sabia que a qualquer momento você não suportaria e procuraria um jeito de viver com eles. Como eu os tiraria de uma família adotiva depois?

— Então você criou meus sobrinhos por um ano no meio de uma montanha de gatos?!

— Não tanto assim, tenho muitos gatos, mas minha casa não é superlotada deles também. E mantenho tudo limpo e não deixo pelos de gato de acumularem por todo lugar, meu cuidado foi ainda maior quando eu estava com eles dois. Se deram muito bem com meus gatinhos, mas eu não deixava nenhum entrar no quarto quando eles estavam comigo. Contei com duas amas de leite pra alimentá-los. Se eu desse só mamadeira nunca mais iam querer ser amamentados.

— E o que há de errado com seu telefone?

— Ele nunca mais funcionou muito bem depois que quase foi destruído numa briga contra assaltantes meses atrás. Preferi deixar assim mesmo. Dificultaria no caso de alguém tentar me rastrear – ela disse enfaticamente olhando para o Batman – Apesar de um dos motivos de você ter me selecionado é que o conheço bem e sei como driblá-lo – ela disse à Hera.

— Eu fiz, mas apenas uma vez recentemente, quando comecei a desconfiar dos motivos de estar sumida por um ano.

— Vou providenciar outro em breve – ela disse encerrando o assunto – E quanto aos amigos de Harley? Você não ia falar sobre isso com Pam?

— Que amigos?

— Espero que não se importe de receber algumas poucas pessoas aqui mais tarde – ele disse à Hera Venenosa – Todos eles estão em condicional e reabilitação. Não podiam se comprometer de forma alguma, mas todos ficaram em alerta quando um deles descobriu sobre os planos de Amanda Waller.

— O que essa bruxa queria comigo? Ela não foi presa?

— Sim. E não vai sair tão cedo, se sair. Mas ela queria você de volta, viva. E você deve imaginar o restante. Apesar de tudo que o palhaço fez, eu sinto muito que você tenha passado por tudo isso. Mas Waller não esperava perder Charada, nem ser presa. Ele foi enterrado em Arkham.

— Quem descobriu isso? – Pam questionou.

— Katana. Ela ouviu conversas estranhas numa visita à prisão, tem ouvidos muito aguçados como devem saber. No mesmo dia o Pistoleiro foi convocado para matar o Coringa e prender Harley, mas recusou. Foi ameaçado, por isso não podia dizer nada nem chegar perto dela ou tentar qualquer tipo de contato.

— Ele procurou você? – Harley perguntou.

— Não, acredito que ainda sente seu orgulho ferido. Procurou os outros membros do esquadrão. Alfred recebeu uma chamada de vídeo com todos eles me pedindo pra proteger Harley.

— Então quando salvou Harley estava indo atrás dela? – Pam perguntou.

— Não. Fiquei surpreso ao vê-la cair e descobrir que estava gravemente ferida. Não sabia que estava separada do palhaço e Waller a queria viva. O restante você sabe. Encontrei o palhaço quando deixei vocês, falamos brevemente, depois procurei pelos outros dois, mas acabei encontrando Selina.

Harley e Pam trocaram um olhar rápido. Certamente o que Batman e o Coringa haviam conversado tinha algo a ver com ele decidir contar o passado a Harley, mas aquilo ficaria para outro momento. E era possível ver nos olhos de Harley a felicidade e satisfação por seus amigos se importarem com ela.

— Até o Boomerang estava lá?

— Sim, até ele.

Ela sorriu, mas por pouco tempo.

— E o que vai acontecer comigo agora? – Harley perguntou.

— Continue aqui e se recupere. Depois resolva seus problemas e voltaremos a conversar.

— Mas estão me procurando. Se me pegarem lá fora?

— Não vai acontecer. Retomando o assunto... Seus amigos querem vê-la ainda hoje. E não sabem sobre seus filhos ainda.

— Deixe-os vir – Pam falou – Traga-os aqui hoje à tarde mesmo. Fará bem pra Harley.

— Eu o farei – o morcego disse se inclinando para afagar os cabelos louros dos dois bebês que haviam adormecido, e se levantou – Devo cuidar de outros assuntos agora.

Se despediram do morcego e Pam fez menção de acompanhá-lo até a saída, mas Selina se adiantou.

— Acho que devo instruí-lo sobre todos os gatos que estão rondando lá fora. Algum dos outros pode não gostar.

Os dois saíram, logo sumindo de vista, e quando tinham certeza que estavam longe o suficiente Harley e Pam se entreolharam e riram.

— A gatinha e o morcego – Harley começou – Sempre desconfiei!

— Deixe-os. Quem sabe agora ele deixa de ser tão frio.

******

— Não provoquem e eles não farão nada. É claro que você já sabe disso.

— Eu lembrarei de dizer.

— Eu sei que você gostou – Selina falou com um sorriso debochado, provocando o morcego, e o fazendo encará-la – Sabe... Não achei que sentiria sua falta depois de um ano longe.

Após um longo momento de silêncio em que apenas se olharam o morcego a puxou para perto com um braço e a beijou. Muito mais demoradamente do que ela quando ele havia chegado, com mais carinho do que se podia imaginar que aquele homem frio poderia ter. A gata envolveu suas mãos no pescoço do morcego e alguns segundos depois sentiu a mão dele em seu abdômen, a afastando delicadamente. Sentiu medo, um sentimento estranho para ela, ela não tinha medo, mas o carinho nos olhos azuis do morcego a confortou. Se continuassem poderiam não parar mais, simplesmente isso. O morcego deslizou a mão suavemente pelo rosto dela, a fazendo fechar os olhos e suspirar. Quando Selina tornou a abri-los o morcego havia desaparecido. Ela sorriu.

— Típico.

Ela riu e fechou a porta por onde o Batman havia saído, voltando ao interior da mansão.


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