Uma vida feliz para Arlequina? escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 13
Capítulo 13 – A piada mortal




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Capítulo 13 – A piada mortal

— Vai mesmo me dizer? – Ela perguntou descrente, sua voz ainda baixa, sentia uma moleza em seu corpo.

— Calma, linda – ele sussurrou deslizando a mão pelo topo de sua cabeça – Não fale muito.

Harley fechou os olhos e aproveitou aquele momento raro, embora mantivesse firmes seus pensamentos de que não deveria ceder.

— Isso ainda dói?

— Um pouco. As ervas de Pam devem ter aliviado.

Ambos ficaram em silêncio e por um instante Harley sentiu suas esperanças se esvaírem, achando que ele havia desistido de falar. O Coringa puxou um dos bancos altos em frente ao balcão, tentando não fazer muito barulho e se sentou em frente a ela.

— Há muito tempo... Tanto tempo que não me lembro mais o nome do dono dessa história, eu não tinha nem a sombra dessa aparência que você e todos conhecem. Era um cara bem menos forte, sem tatuagens, cabelos negros, um comediante fracassado e completamente normal.

— Você já fazia piadas então? – Ela sorriu.

— Sim, antes de eu me tornar a maior delas. Estudei filosofia e química antes, trabalhei numa indústria de químicos, mas tudo era muito triste. Não lembro de detalhes, mas tudo lá dentro era muito triste, com se estar vivo fosse uma prisão capaz de me matar. Foi quando percebi que a maioria das pessoas nunca vive, só existe. Eu queria que todos rissem e se sentissem felizes. Mas ninguém entendia minhas piadas.

Ele fez uma pausa na qual apenas se encararam.

— Não levou muito tempo pra recebermos ameaças de despejo e mal termos condições de arcar com necessidades vitais. As pessoas começaram a me dizer pra mudar de emprego, mas não havia tempo. A situação pedia urgência.

— Você disse nós?

Mais uma pausa.

— Harley...  – ele começou – Eu estada casado.

Ela não podia negar que estava enciumada em saber que não fora a única, mas não era tão louca ao ponto de não ter noção de que nenhum dos dois tinha culpa de um passado onde nem se conheciam. Na falta de resposta, ele continuou.

— Eu fui a um lugar onde havia caras perigosos, caras maus. Aceitei entrar num esquema com dois deles, só pra conseguir o suficiente até ajeitar as coisas. Assaltaríamos a fábrica onde trabalhei. Eu usaria um tubo vermelho transparente na cabeça e uma capa, pra não ser reconhecido, e supostamente ficar livre depois. Me chamariam de Capuz Vermelho. No meio da nossa conversa, policiais apareceram atrás de mim. Fiquei com medo, achei que estavam me descartando. Mas insistiram. E me contaram... Que tinha acabado de perder minha mulher. Em um acidente com eletricidade. E meu filho que nasceria em três meses.

Harley ficou em choque e por um tempo não conseguiu pensar em nada. Além de uma mulher, havia uma criança? Um bebê inocente, que perdera a vida antes mesmo de tê-la realmente? Seus olhos se encheram de lágrimas, não sabia se de ciúmes, raiva, tristeza, mágoa por ele nunca ter contado, ou tudo junto.

— Harley... Não chore, amor. É por isso que nunca contei. Um dos motivos pelo menos.

— Apenas continue... – ela pediu enxugando os olhos.

— Quando me contaram isso... Eu desisti. Não tinha mais motivo. Mas os dois me forçaram. Nos encontramos à noite, mas algo deu errado, o Batman nos encontrou na metade do caminho lá dentro e nos perseguiu. Eu caí no mesmo tanque que você, mas ninguém me tirou de lá. Eu afundei até ser levado pra fora pelo encanamento. Eu sentia dor, minha pele ardia, meu corpo todo ardia. Eu gritei até conseguir tirar aquela porcaria vermelha da minha cabeça. Por um instante eu não sabia quem eu era e depois nada mais importava. Só senti vontade de rir, e eu ri muito, muito naquela noite. E foi assim que fiquei como você me conhece.

— E depois?

— Eu não lembro, Harley. Só me lembro de estar sozinho, sempre. Dizem que se passaram dez anos. Eu voltei pra Gotham e me lembrei de algumas coisas. A única que eu não tinha esquecido um dia sequer era o Batsy, o momento em que nos olhamos antes de eu cair no tanque. Quando cheguei aqui e descobri que ele continuava na ativa e tinha uma aprendiz... Eu decidi me divertir um pouco com ele. Então aconteceu toda a história com a família de Gordon que você já sabe. Não provei meu ponto, mas o Batsy finalmente entendeu a piada mortal. A piada que sempre esteve em nós dois, e em todas as pessoas do mundo inteiro. Acho que a vida é a piada mais mortal pra qualquer um – ele inspirou fundo e continuou – Depois disso eu fiquei um tempo em Arkham, mas fugi rápido e assim foi, de lutas com o Batsy a férias em Arkham até eu encontrar você.

— Isso é tudo?

— Não... Eu matei os monstros que mataram eles dois. E aquele tanque parecia ter qualquer coisa que tornava seus piores pesadelos reais e tão prioritários quanto continuar vivo. E o meu pesadelo naquele dia era meu dia ruim, realmente ruim. Aquilo doeu muito e eu continuei vivo sentindo a dor. O passado dói muito, por isso nunca quero estar nele. Ele é como a loucura. Depois que você cai, é impossível voltar.

— Então esqueça-o.

— Não acabou...

— Mas...

— Shh... – ele disse pondo o indicador sobre seus lábios – Um dia um garoto que apanhava do pai e o viu matar sua mãe, tornando-se criminoso e fazendo muitas coisas ruins por causa disso notou que uma garota loura o observava todos os dias. Ele sabia que ela gostava muito dele. Mas o tempo passou e nunca mais se viram até o dia em que ela se apaixonou por mim de novo.

Harley arregalou os olhos. Lembranças vieram a sua mente, lembranças enterradas que já estavam muito, muito longe.

— No dia em que matei os caras que eu ia contratar e nós brigamos... Eu não estava bem com isso. Meus homens disseram que eles eram um músico fracassado e o outro trabalhava numa indústria química, e que uma vítima recente era uma mulher grávida de seis meses. A vida é má quando quer. Muito má.

— Você... Podia ter me contado antes – ela disse um pouco nervosa.

— Harley, se acalme. Isso pode abrir – falou indicando o ferimento.

— Você me ama, Pudinzinho?

Aquela pergunta de novo. Aquele apelido de novo. Ela queria acabar com tudo, por que estava perguntando aquilo?!

Aquela pergunta de novo. Aquele apelido de novo. Harley estava ferida e talvez pela primeira vez ele não fosse o culpado, ao menos não diretamente, mas ela estava magoada e muito mais ferida por coisas bem menores que o impacto de uma bala.

Quando se deram conta seus rostos já estavam muito próximos, seus olhos estavam fechados, os lábios colados num beijo calmo e sem segundas intenções como tantas vezes.

— Não parece, mas eu te amo – ele sussurrou – Volta pra casa, amor.

Ela não respondeu. Queria, mas não voltaria tão fácil. O amava, mas não fora só uma vez que havia escutado o mesmo dele para voltar e ser agredida. Então apenas o encarou. O Coringa suspirou.

— Você tá ferido.

— Só tiros de raspão, baby. Não são nada demais. Descanse agora... Minha pequena Harley Quinn – pediu beijando a testa da mulher machucada e a vendo fechar os olhos depois de algum tempo.

Secou as lágrimas que escorreram pelo rosto pálido e a observou adormecer. Pâmela entrou cautelosamente de repente, temendo ouvir algo que não devia.

— Me dê uma boa razão pra não matar você por Harley estar chorando.

— Ela só ficou nervosa. Uma história muito longa e complicada. Nós não brigamos nenhuma vez, eu juro. Deixa ela dormir um pouco.

Pam verificou as bandagens para se cerificar que não havia mais sangue nelas do que antes e arrumou novamente a toalha sobre Harley, decidindo tirar seus braceletes dourados para deixá-la em posição mais confortável, colocando-os junto com as botas do outro lado do balcão.

— Se ela sofrer pelo quer que tenham conversado juro que quando toda essa bagunça acabar você nunca mais vai vê-la.

O Coringa apenas suspirou e revirou os olhos, segurando uma das mãos de sua palhacinha entre as suas. Sua atenção foi chamada quando Pâmela ligou a TV pendurada acima das mesas e baixou o som para que não chamassem atenção do lado de fora nem acordassem Harley. A Hera ficou pasma ao ver Waller sendo presa. O noticiário parecia uma loucura, se dividindo entre mostrar as ruas vazias de Gotham em meio ao caos, o Batman, e Waller sendo levada algemada por policiais.

— A assistente do governo Amanda Waller acaba de confessar várias irregularidades e crimes em serviço, incluindo matar vários policiais inocentes, contratados para sua proteção durante a missão secreta do governo para deter a meta humana conhecida como Magia meses atrás. Ela também assume a culpa pelas irregularidades e crimes atribuídos ao grupo de criminosos contratos conhecidos como Esquadrão Suicida, durante o combate à Magia. Recentemente todos os membros ainda detidos foram colocados em condicional e permanecem em monitoramento até reconstruírem suas vidas. Exceto um que pediu para permanecer na unidade prisional. Um membro em especial, a criminosa conhecida como Arlequina, continua como fugitiva. O governo deseja recuperá-la, e está disposto a negociar uma condicional caso se entregue e aceite as condições impostas, especialmente se provar não estar relacionada aos incidentes desta noite e se for encontrada viva, uma vez que Waller relatou tê-la visto ser baleada e cair por vários metros de altura, sendo provável que não tenta sobrevivido, embora até agora ninguém a tenha encontrado – a repórter falava – Não se sabe o que levou Waller a revelar tais fatos. Ela foi encontrada sozinha, confusa e desarmada em um edifício abandonado em meio aos locais destruídos da cidade há poucas horas. E começou a falar uma série de coisas enquanto os agentes a guiavam para o exterior do local. As autoridades tentaram estabelecer uma conversa, mas no momento Waller se recusa a dizer qualquer outra coisa. Em breve voltaremos com mais informações.

Pâmela e o Coringa ficaram mudos olhando a TV enquanto começava uma propaganda qualquer.

— Ela respirou o gás da verdade daquele espinafre ambulante.

— Você a viu?

— Fui embora antes dela chegar, mas aqueles dois tentaram usar o gás da verdade e do medo em mim. Ainda devia estar no ar quando ela chegou. A única coisa que sei com certeza é que ninguém vai tirar minha Harley Quinn de mim...

******

Waller foi confinada em uma sala protegida na delegacia. Não tinha ideia do que acontecera quando encontrou aqueles dois. De repente estava fora de si e eles desapareceram. Contou tudo que havia escondido por tanto tempo ao primeiro que apareceu, e ao invés de ser guiada de volta à segurança de sua sala, foi levada como prisioneira confessa. Estava prestes a revelar suas suspeitas sobre a identidade do homem morcego quando percebeu que já havia se complicado demais e não tinha prova alguma sobre isso. Então apenas se calou e se deixou levar.

— Sorte sua, Batman... Mas se eu conseguir sair daqui, é melhor se esconder melhor atrás daquela máscara.


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