Green Eyes - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 4
Mente Confusa


Notas iniciais do capítulo

Olá! ♥ Como vão? Já peço desculpas pelo atraso, vai ser mais ou menos assim daqui pra frente. Vida tá corrida ;-;. Mas enfim, eis mais um capítulo do ponto de vista do Jay *-* Espero que vocês gostem! Boa leitura!



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            Maravilha. Como se não bastasse ver Lily saindo com aquele imbecil de cabelos sebosos ainda tinha que aguentar ela dizendo que era amiga dele. Há. Lils é ingênua demais para enxergar do que se trata aquele mané, ela simplesmente só conseguia ver o lado bom das pessoas, e eu impreterivelmente era o único ser que ela não fazia o mesmo; Seria por que eu não tenho o meu lado bom? Não interessa. Ela saíra batendo a porta e minhas têmporas latejaram no mesmo ritmo.

Mas que diabos estava acontecendo? Lily tinha toda a razão, sempre tinha. Eu não era capaz de exigir ou controlar nada na vida dela, nunca fui. Então por que uma força dentro de mim diz o contrário? Para onde o James de anos atrás, o convencido de si e o galanteador tinha ido? Porque se tinha uma coisa que eu não estava sentindo no momento era o meu ego intacto.

Já estava escuro e no dia seguinte eu tinha de fazer outra sessão de fotos. Izzy tinha me arrumado mais três serviços, eu estava completamente desanimado. Alguma coisa no início sabia que eu estava fazendo a coisa certa, de que a minha aparência e ousadia eram tudo em mim, só que eu mesmo já estava convencido de que isso não era totalmente verdade. Pela primeira vez em um mês eu desejei não trabalhar no que eu quis por muito tempo. Era horrível a sensação de sentir-se enganado por si mesmo.

Passei as mãos sobre o meu rosto e respirei fundo.

            – Calma, James... – murmurei para mim mesmo e saí em direção à cozinha. Peguei um copo de água gelada e virei de uma vez só.

            Estava prestes a voltar com o meu treino com o violão, meu celular vibrou no bolso da minha calça. Quando tirei o aparelho do mesmo, e vi que era uma chamada via Skype vinda de Izzy, desliguei e joguei o celular na cama. Peguei o meu iPad e avistei diversas mensagens de minha namorada. Respirei fundo mais uma vez e retornei a chamada que antes fora recusada no meu celular.

            – Jay! – a voz de Izzy ecoara pelo meu quarto vazio e eu suspirei. Ela estava de pijama e estava para ter a sua bela noite de sono, esperava eu, já que não existia nenhuma minúscula parte de mim que desejava conversa com ela por agora – Caramba! Por onde você andou? Eu tenho muitas coisas pra te falar, inclusive sobre o que vamos fazer amanhã e...-

            – Izzy, hoje não. Podemos falar sobre qualquer coisa, mas por favor, não hoje – disse a interrompendo e notei a sua expressão animada se transformar de uma mulher totalmente sem graça. Me desculpe, mas não estou com paciência por hoje.

            – O que aconteceu, James? Você realmente não quer conversar? – neguei com a cabeça e ela suspirou – Tudo bem, podemos nos falar amanhã, se preferir.

            – Ótimo. Até amanhã então – desliguei a chamada de vídeo e deixei o meu quarto.

            Passei pela escura sala de estar e cheguei até a minha sacada. Ao abrir a vidraça, me contento em apenas fechar os olhos e sentir a brisa noturna sobre o meu corpo. O stress estava acabando comigo, não podia me deixar abalar por muito tempo, ou acabaria totalmente devastado.

            Depois de passar horas ali fora, adentrei e me deitei no sofá. Tudo o que passava na TV eram notícias sobre a vitória dos Holyhead Harpies em cima dos Chudley Cannons na partida que eu assistira com os marotos. Rolei os olhos e optei por deixar a televisão desligada.

            Mal havia me tocado de que tinha dormido no sofá se não tivesse caído de cara no chão com o susto levado ao ouvir a campainha ignorante do meu apartamento tocar. Passei a mão pelo rosto e me levantei percebendo que já eram 06:07. Já era pra eu ter tomado banho e me arrumado para a sessão de fotos. E como se minhas expectativas fossem uma previsão para tudo, quando atendera a porta era Izzy. Franzi o cenho por perceber que a camisa dela estava suja.

            – James! Você não se arrumou ainda? Estamos atrasados e...-

            – O que aconteceu com a sua camisa? – perguntei quando ela adentrou o cômodo e largou a sua bolsa em cima do sofá.

            – Ah... Isso – ela rolou os olhos – foi só aquela sua amiguinha babaca que não olha por onde anda, acabou com a minha camisa de marca. Saiu correndo que nem uma louca e acha que me dar uma nota de cem libras e ir embora vai acertar as coisas. Em que planeta se compra um tecido de qualidade desses por cem libras?

            – Relaxe, é só lavar. E sobre quem é que você está falando? – parei em sua frente depois de fechar a porta atrás de nós.

            – Da garota ruiva, que conheci na sexta-feira. Ela saiu com um copo de café e decidiu que seria uma boa ideia derramá-lo em cima de mim, mas é claro que ela se enganou – ela bufou e eu congelei – Não tem uma camisa minha por aí não? Não posso sair no meio da rua assim.

            O quê? Lily tinha derrubado café em cima de Izzy? Haha. Imaginei a cena cômica em que se passava a situação. Lily correndo como uma louca e ao dar um passo infalso acabou por derramar todo o conteúdo do copo que carregava em sua mão em cima de Izzy. Mas por que Lily estava com tanta pressa? O que será que ela estava para fazer?

            – Olá? Terra chamando James... – Izzy ergueu as sobrancelhas me permitindo sair de meus devaneios; sacudi a cabeça e me direcionei para o banheiro.

            – Devem ter algumas coisas suas aí na última gaveta da minha cômoda. Eu vou tomar um banho, já estamos atrasados demais – dei de ombros e adentrei no chuveiro.

            Ao sair do chuveiro, notei que Izzy não estava mais vestida como antes. Ela tinha trocado a sua roupa completa, agora vestia uma saia preta colada até em cima dos joelhos e uma camisa branca que era tão cara quanto a que vestia antes de ser sujada por cafeína. Por algum motivo aquele visual me lembrara de Lils, deve ser porque ela usara exatamente a mesma combinação na noite anterior quando fui ao cinema com os Marotos; na verdade tudo ultimamente tem me lembrado ela.

            – Obrigada, sei que estou deslumbrante. Assim como você vai estar em instantes – ela disse sorrindo convencida e eu não fiz outra coisa a não ser forçar um sorriso.

            Vesti-me e Izzy e eu fomos direto para a agência. Coloquei a roupa do dia e fui arrumado pelas maquiadoras mais uma vez. Joshua estava irritado.

            – Acabou, Vossa Alteza? – ele revirou os olhos.

            – Sinto muito pelo atraso. Sei que prometi não chegar mais atrasado, mas eu tive algumas coisas para resolver e...

            – Não estou com paciência para ouvir as suas desculpas hoje, Potter. Vamos logo com isso – ele disse com rispidez e eu concordei dando de ombros, afinal, eu é quem estava errado no meio dessa história toda.

            A sessão passou rápido e eu não tardei ao ir para casa, não estava no clima de fazer nada além do que ficar no meu quarto e tocar violão. Chegamos em casa e fui direto pro quarto. Izzy ficou na sala conversando com algumas amigas e as suas risadas certamente davam para se ouvir da cabine telefônica há uns três blocos de quarteirão daqui. Revirei meus olhos e fechei a porta do meu cafofo. Peguei meu violão e decidi fazer a minha própria versão de “Green Eyes” do Coldplay. Sempre utilizei os acordes e vozes originais, por que não fazer um cover?

            Me sentei no chão encostando na minha cama e depois de uns trinta minutos de pesquisa comecei a arriscar os meus próprios acordes. O restante dos dias foram todos dedicados a isso. Quando finalmente achei que tivesse realmente pegado todo o jeito da coisa, Izzy abre a porta e me interrompe.

            – Vou pedir uma pizza, você vai querer do que?

            – Não sei, qualquer uma tá ótimo – disse dando de ombros e ela suspirando se retirou.

            Minutos depois estávamos lá, eu e ela na mesa da cozinha mergulhados em total silencio enquanto tentava engolir uma pizza de brócolis. Eu ainda não sabia qual era a dela de transformar uma coisa tão maravilhosa, que era a pizza, em alguma coisa tão horrível, que era isso que eu tentava engolir. Comi apenas um pedaço e fingi estar satisfeito. Fiz menção de deixar a mesa, mas Izzy me interrompeu.

            – Já? Não vai querer nem mais uma fatia? Não vou conseguir comer isso tudo sozinha – ela olhou como se isso fosse uma tarefa impossível, o que não seria se a pizza fosse de queijo, por exemplo.

            – Não estou com muita fome... Agora se me der licença... – me levantei e ela se levantou junto comigo me fitando com uma expressão raivosa.

            – Não. Quero que você me responda uma coisa primeiro – parei em sua frente como se sibilasse um “o que é?”. Ela caminhou até a sua bolsa em cima do sofá e tirou de dentro dele um... um... – Posso saber o que significa isso?

            Arregalei os meus olhos ao reconhecer o pequeno álbum que ela segurava nas mãos. Esse era o álbum onde só estavam presentes as fotos de Lily, já que eu era apaixonado por ela no colegial, eu me apeguei à ideia de fazer uma coleção de fotos dela, mas ela nunca soube, esse segredo nunca saiu de dentro das conversas marotas; passamos o ensino médio inteiro para terminar de completá-lo, Remus fez a maior parte, já que tinha mais habilidades com tudo o que se relacionava a livros e essas coisas do tipo.

            – Onde você encontrou isso? – meus olhos expressavam raiva.

            – Não interessa. Só quero saber o porquê de você ter uma porcaria de álbum da garota babaca que derrubou o café-

            – Primeiramente: Lily não é uma babaca. Em segundo lugar, não sei como você achou isso, mas tenho certeza que você não gostaria nem um pouco que eu mexesse nas suas coisas.

            – Não gostaria, mas não encontrei porque estava mexendo nas suas coisas, só estava procurando a minha camisa que a sua amiguinha fez questão de manchar – riu com sarcasmo e jogou o álbum sobre mim. – Você é ridículo, James Potter – ela caminhou até a porta da saída e a abriu, fazendo menção de sair.

            – Você é quem está errada. Ninguém te deu permissão para pegar o que não é seu – me irritei.

            – Ah, francamente. Eu estou errada?! Você não tem nada haver com aquela garota! Por que não para de pensar nela por um segundo? Pensei que me amasse! – ela exclamou e seus olhos marejaram.

— Não estou pensando nela o tempo todo, pare de exagero Izzy – tentei ficar o mais calmo possível.

            – Exagero?! Você só tem estado aéreo nesses últimos dias, James. Nem tem tido tempo para passar com a sua namorada, fica só enfurnado nesse seu quarto idiota tocando músicas que falam sobre olhos verdes e pensa que eu não sei o que isso significa?

            – Izzy... -

            – Eu pensei que me amasse, droga! – ela me interrompeu e eu ri involuntariamente de maneira sarcástica.

            – Me desculpe Izzy, mas amor não é um sentimento que se adquire em um mês de namoro – disse o que parecia óbvio e ela arregalou os olhos, sua respiração se desregulou e eu tive uma breve impressão que ela fosse gritar.

            Tey

            – Ótimo, porque eu não mereço nada que venha de você – disse ela furiosa depois de me dar um belo tapa na cara.

            Fiquei apenas ali parado como um idiota, reunindo todas as minhas forças para continuar desse jeito. Izzy parecia a pessoa certa, mas que tipo de pessoa certa não respeita a privacidade do parceiro? Que se dane, tudo na minha vida estava uma droga mesmo... Fechei a porta depois de voltar à realidade e dei um belo de um murro na parede do corredor, por um momento eu pensei que ela fosse quebrar, já que era feita de madeira e só forrada com gesso. Só segundos depois fui sentir os nós dos meus dedos doerem com o impacto.

            – Droga! – disse para mim mesmo e me escorei numa porta deslizando até chegar ao chão, minha cabeça estava entre os joelhos.

            Esse foi o momento que eu descobri o quão fraco eu era. O que estava acontecendo comigo? Essa era a primeira vez em anos que a vontade de chorar batera à minha porta, e eu lembrava muito bem qual fora a última, talvez os motivos se coincidissem um pouco.

Flashback On

            Era a última semana do colegial e eu já tinha um plano perfeito para o dia da formatura, não tinha como falhar. Lily estava num meio termo, quer dizer, ela me odiava, mas eu conseguia ter uma conversa civilizada com ela de vez em quando, quando ela estava de bom humor (o que era raro, pelo menos em minha frente). Agora eu e os marotos estávamos no shopping escolhendo a nossa roupa para a festa de formatura. Precisávamos estar impecáveis, afinal, eu era o pedaço de carne mais cobiçado daquela escola e quem andasse comigo deveria estar de mesma maneira, quer dizer, nunca ninguém vai chegar aos pés da minha beleza inigualável, mas eles podem fazer um esforço, certo?

            – Certo, o que vocês querem ver primeiro? A roupa do baile ou os sapatos? – disse enquanto eu e os Marotos caminhávamos pelos corredores do shopping.

            – Qualquer um, só quero terminar logo com isso pra irmos pro Burger King – Peter disse e o restante de nós rolou os olhos.

            – Mas que droga, em Rabicho? Só pensa em comida. Nem era pra ter vindo conosco... – Remus se pronunciou como se fosse o nosso intercessor.

            – Só estou dizendo – ele deu de ombros e eu rolei os olhos mais uma vez.

            – Vamos primeiro nas roupas – Sirius se manifestou e eu assenti com a cabeça – Nossa, isso soou muito feminino, por Merlin! – todos nós assentimos entre gargalhadas.

            Caminhamos até a loja mais cara de ternos do shopping, meu pai tinha dito que bancaria os trajes de todos os Marotos sem problema algum, então por que não aproveitar essa oportunidade pra experimentar do melhor?

            Depois de a atendente nos mostrar alguns dos modelos de ternos, cada um pegou dois e fomos ao provador. Eu, obviamente, fui o primeiro a experimentar o meu conjunto. Os dois ficaram espetaculares, mas um em especial me chamou atenção, então fiquei com ele. Sirius e Remus foram mais indecisos, estavam discutindo se as mangas realmente estariam do tamanho certo e alguns detalhes na gola.

            – Eu gostei muito desse, mas será que aquele outro smoking não fica mais elegante? – Aluado perguntou enquanto se olhava no espelho.

            – Relaxa, Aluado. Esse tá ótimo – disse sinceramente.

            – Concordo com James, afinal, vocês já demoraram demais e eu estou quase pagando o meu e indo embora – olhamos para Peter com uma expressão de “só-paga-pra-você-ver-se-você-não-fale” – Tá bom, eu não tenho grana pra bancar isso aqui, mas é melhor vocês irem logo.

            – É que esse é bem mais caro e...-

            – Não se preocupa, cara. Você sabe que o papai aqui vai pagar com todo o prazer – bati no peito convencido lançando um sorriso de canto.

            – Você ou o seu pai? – perguntou Six.

            – Você entendeu – disse bufando.

            – Ótimo, então vou ficar com esse mesmo – Aluado concluiu – Six?

            – O meu já tá no caixa – ele ergueu as sobrancelhas e nos rimos.

            Passei o cartão de crédito e uma onda de boas vibrações me atingiu quando eu vi que a transação fora concluída, meu pai era o melhor. Fomos para a loja de sapatos, que foi muito mais rápido, já que Peter não parava de nos atormentar para irmos comer logo.

            Depois de eu, Sirius e Remus comermos alguma coisa (Peter devorou), fomos para casa e assim que pisamos o pé em casa meu pai apareceu na sala de estar com um sorriso que eu conhecia melhor do que ninguém; era aquele sorriso de “eu-sei-que-eu-sou-demais-admitam”.

            – E então, garotos? Como foram as compras pra festa de formatura? – ele nos cumprimentou com um toque e depois observou a gente se jogar no sofá com as sacolas.

            – Boas, se não fosse o esfomeado do Peter enchendo o nosso saco a cada cinco minutos teriam sido melhores ainda – Sirius disse chutando a cara do amigo.

            – Ai! Vocês que demoram demais. Cadê que eu demorei pra pegar o meu smoking? – Rabicho defendeu-se.

            – Mas fora isso... Ótimas compras, obrigado pai – Six disse e eu sorri, os demais Marotos também agradeceram, o que só fez com que o ego de meu pai se expandisse ainda mais.

            Fomos para o quarto e eu estava esperando Sirius terminar de massacrar Rabicho no videogame, enquanto isso, eu e Rabicho tratávamos de alguns detalhes.

            – Bem, acho que essa foi a última – disse Aluado, colando a foto na última página do livro que eu batizei como “Álbum da Ruivinha”.

            – Ah, perfeito! Caramba, obrigado Remus, você ajudou demais – sorri de orelha a orelha enquanto contemplava a minha grande obra de arte.

            – Que nada, mas você sabe que se ela souber disso você está morto, não é? – ele deu uma risada nasalada e eu afirmei com a cabeça.

            – Eu estou plenamente ciente disso. E como eu tenho amor à minha vida eu vou manter essa belezinha aqui em segredo – passei a mão pela capa do álbum.

            – AH! ISSO NÃO VALE! – Rabicho esperneou.

            – Como não vale? Você que é ruim demais. Não faz uma cesta, pelo amor de Merlin – Six caçoou.

            – Ainda bem que acabou, porque agora a competição é de igual pra igual – encarei meu amigo com um olhar de desafio e ele riu com deboche.

            – Você não é páreo pro O’Chantrey aqui, meu brother – gabou-se.

            – O’Chantrey – ri devolvendo o mesmo tom de deboche – isso é o que vamos ver... – estralei meus dedos e peguei o controle do videogame e começamos a partida de basquete.

            Depois de uns quarenta minutos, descemos para o jantar com um Sirius reclamou.

            – Também... Você tava com o controle melhor, isso é trapaça.

            – Ah! Nem vem com essa, Almofada. Você sabe que eu ganho de você até sem controle nenhum.

            – Convencido igual ao pai... – minha mãe disse negando com a cabeça ostentando o seu sorriso maravilhoso enquanto arrumava as últimas coisas da mesa, já que Dylan, o mordomo/empregado tinha tirado uma folga.

            – Sei que sou... – sorri passando as mãos pelos cabelos e me sentei presenciando Peter furtando um punhado de batatas-fritas, na qual a minha mãe fez questão de fazer impecavelmente.

            – Pare de comer com as mãos, seu porco! – xinguei Peter e os demais Marotos riram.

            – Deixe Peter comer da maneira que ele quiser, James. Coma o seu jantar e deixe o menino em paz – minha mãe disse e eu sorri negando com a cabeça, imitando um gesto típico dela, pude notar ao observar com o canto dos olhos que ela sorrira ao perceber que eu o usara.

            Jantamos todos à mesa. Já tínhamos falado de tudo um pouco. Papai sobre os negócios da empresa dele, mamãe sobre alguns projetos que ela estava planejando com papai e agora o assunto era a formatura.

            – E então? Vocês já sabem quem vão levar ao baile de formatura, meninos? – meu pai perguntou depois de terminar de beber o seu copo de suco.

            – Que pergunta mais idiota pai. Sabe que vou levar minha ruivinha para o baile – disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

            – Vai? – minha mãe ergueu as sobrancelhas – Ela aceitou? Como você conseguiu? Ela sempre te odiou...

            – Eu vou levá-la, mesmo que ela ainda não saiba disso – sorri galanteador – tenho meus métodos. Certo, Marotos? – os garotos sorriram com malícia e minha mãe estreitou os olhos.

            – O que vocês estão aprontando, James? – ela perguntou com firmeza.

            – Não me pergunte coisas difíceis que eu não responderei com mentiras – sorri de lado e desviei de um chinelo que minha mãe lançara em minha direção – Esqueceu que eu jogo no time de basquete, mãe? – sorri desafiador e saí correndo para o quarto antes que eu estivesse realmente encrencado. Feriado típico dos Potter.

            A semana na escola foi tranquila. Fiquei longe de Lily durante todo esse período, apenas colocando meu plano em prática. O plano consistia em: Eu fiz um perfil falso num site de relacionamentos e comecei a flertar com Lily por lá, sem que ela soubesse que o cara era eu, é claro. E eu a conquistaria do jeito que sempre costumei ser, então quando finalmente a encontrasse, ela descobriria que é realmente capaz de me aturar e até gostar um pouquinho de mim. Sei que não é grande coisa, mas com certeza pode funcionar. Já tinha feito isso há alguns meses, então ela já tinha conhecido o meu eu de um jeito bem legal, assim como eu “conheci” ela.

            A cerimônia/baile de formatura já era amanhã à noite e todos os Marotos já tinham ido deitar, já que já passavam das uma da manhã. Me deitei em minha cama e peguei meu celular, esse era mais ou menos o horário que Lily e eu costumávamos nos falar. Abri a página do site de relacionamentos e vi os dizeres: “Lily Evans está online”, sorri. A foto de perfil dela era uma corça, era o animal preferido dela. A minha era um cervo, que por ironia do destino era o meu favorito. E então nos perguntamos: Que tipo de malucos colocam a foto de um perfil de um site de relacionamento com animais? Acredite, eu me pergunto isso até hoje.

            Abri o chat dela e comecei a conversa.

Joe Marpetts: Lily! Como vai, Lírio?

Lily Evans: Bem, e você Joe? ^^

J.M: Melhor agora...

Sabia que se tivesse olhando para ela no momento ela teria corado.

L.E: Assim você me deixa sem graça...

L.E: Bem... Como eu já te disse, amanhã é a minha formatura e eu queria que viesse. Até porque eu ainda não tenho par.

Hahaha. Adorava quando ela mudava de assunto, ainda mais quando tudo estava caminhando para o que eu mais queria.

J.M: Uau, estou sendo convidado para ser o seu par no seu baile de formatura? Ok, agora eu é que eu estou sem graça.

L.E: É sério, Joe.

J.M: Hm, claro. Você sabe que eu estarei honrado em te acompanhar. Mas concorda que precisaremos de um sinal para nos encontrarmos e você saber que sou eu, certo?

L.E: Ah, verdade. Mas você tem alguma ideia?

J.M: Bem, eu tava pensando... Eu posso ir com uma gravata vermelha, já que você disse que a festa toda se resume em azul.. E você... Pode ir com um acessório vermelho.

L.E: Por mim tá ótimo. Tenho um batom vermelho aqui que eu nunca usei, mas acho que é muito padrão, e se outras meninas usarem também?

J.M: Nah. Eu certamente poderia te distinguir no meio de outras garotas, Lily.

L.E: Ok, então. Só espero que o Potter não apareça para estragar tudo.

J.M: Se ele chegasse o que você faria?

L.E: Não sei, talvez minha mão voaria e pousaria no meio da cara dele.

J.M: Kkkkk. Não seja tão cruel com o garoto, Lily. Ele só ama você.

L.E: Ama nada. Potter não tem a capacidade de amar ninguém além dele mesmo.

Ouch, essa doeu.

J.M: Mas relaxa, se ele aparecer pra te encher você sabe que pode contar comigo. Só falar o que quer que eu faça eu farei.

L.E: Obrigada, Joe. Você é um amor.

J.M: Eu sei que sou, ruivinha.

L.E: Convencido.

J.M: Sempre.

            Conversamos por mais alguns minutos, e quando Lily percebeu que três da manhã já era demais, ela se despediu e foi dormir, fiz o mesmo. Eu tive certeza de que caí no sono sorrindo.

            Apesar de ter madrugado na noite passada, eu fui o primeiro a acordar. Hoje era o grande dia. Iria me formar e iria me juntar à Lily no baile de formatura. Não sabia como ela iria reagir, mas o sentimento de ansiedade não parava dentro do meu peito. Eu conhecia Lily melhor do que ninguém para saber que ela não saberia como reagir quando visse que eu era o Joe, agora o que ela faria vai além dos meus conhecimentos, ela podia me bater na cara ou me beijar, quem sabe.

            – Acorda, Bela Adormecida! – gritei depois de jogar um travesseiro na cara de Almofadinhas.

            – Me deixa, Pontas! – ele falou no meio dos cobertores.

            – Hoje é a formatura! – sorri tão forte que achei que meus lábios iriam se rasgar, se é que isso é possível.

            – Só porque você vai realizar o seu sonho de sair com a Lils não quer dizer que você tenha que me acordar a uma hora dessas... – ele resmungou emburrado.

            – Já é meio dia, Sirius... – disse uma voz sonolenta do outro lado do quarto. Aluado tinha acabado de acordar também.

            – E daí... Me deixem vocês dois...

            – Ótimo. Eu vou tomar café – me levantei e me encaminhei para a porta.

            – Ahn? Café? Esperem por mim! – Peter se levantou desengonçado e foi até o banheiro correndo, o que fez com que todos acordassem, afinal, Peter era um bobão, não tinha como não rir dele.

            Depois de prontos, descemos todos para o refeitório. Lily, Holly e Dora já estavam lá. Sorri de canto. Lily, Lily... Você não sabe o que te aguarda...

            – Bom dia meninas! – disse sorridente e me sentei ao lado do amor da minha vida – Bom dia, ruivinha – sorri galanteador.

            – Quantas vezes eu vou ter que falar que meu nome é Evans? Mas que chatice! –ela bufou e terminou de beber o seu copo de cappuccino, que tanto adorava.

            – Não sei. Até que eu pare, talvez... – passei a mão entre os meus cabelos e me servi de ovos fritos com bacon.

            – Ele quis dizer nunca – Sirius disse enquanto passava o braço ao redor de Holly. Eles iriam ao baile juntos, não namoravam, mas estavam ficando.

            Meu lírio revirou os olhos e ignorou os comentários.

            – Já tem um par para o baile, Lils? – disse depois de engolir um bacon. Ela respirou fundo, eu era um chato (hehe).

            – Evans! E sim, pra sua infelicidade eu já tenho um par pro baile – ela sorriu vitoriosa, eu tive vontade de rir. Ela mal imaginava que o par dela era nada mais nada mesmo do que James Potter, o cara que ela sempre odiou.

            – Quem é o desgraçado? – Eu tinha que fazer um teatro, certo?

            – Para de ser imbecil, não é da sua conta, Potter. Você verá essa noite. Agora se me dão licença, eu tenho que terminar de ler “As Crônicas de Nárnia” para depois de me aprontar para o baile – ela saiu e eu sorri de lado. Os únicos que sabiam sobre o plano eram os Marotos, ninguém mais desconfiava de nada.

            Terminei de comer e vi Dora e Remus conversando do outro lado da mesa, sorri de leve e deixei o refeitório indo caminhar por aí.

            Escureceu rápido, sem nem que eu soubesse, já eram cinco horas da tarde. Eu e os marotos fomos para o dormitório masculino. Esperei que todos se arrumassem e descessem para só depois começar a tomar o meu banho. Tinha que entrar de maneira triunfal naquele baile. Primeiramente eu iria com a minha gravata azul só para receber o diploma, e quando o baile começasse eu a trocaria pela minha gravata vermelha.

            Depois de pronto me olhei no reflexo do espelho e sorri satisfeito. O meu smoking era perfeito, preto, liso com o caimento perfeito para os meus sapatos sociais de bico redondo. Embaracei meu cabelo e deixei o dormitório. Desci até o grande salão onde seria realizada a cerimônia. Reconheci Lily de longe, seus cabelos ruivos caíam sobre seus ombros nus e ela usava um vestido azul marinho que caía até o chão; perfeita.

            Aproximei-me dos formandos sem conseguir tirar os olhos de minha ruivinha e fui interrompido pela voz da diretora começando a pronunciar os sobrenomes dos formandos em ordem alfabética. Depois que alguns subiram ao palco, eu tive a belíssima visão de Lilian Evans levantando centímetros de seu vestido na parte dianteira para subir os degraus, ela estava simplesmente deslumbrante e o seu sorriso só estava me desestabilizando ainda mais, sentia que ela podia notar o meu olhar no meio de toda essa gente de tão intenso que ele era. Ela recebeu o seu diploma emocionada e então foi que meus olhos pairaram em seus lábios, estavam coloridos pelo seu batom vermelho, senti meu coração palpitar tão forte dentro de mim que meu pai teve que dar um leve tapa no meu braço para que eu tomasse consciência que eu já tinha sido anunciado. Balancei minha cabeça brevemente e subi ao palco sendo que a única coisa que consegui fazer fora murmurar um “Obrigado” e retornar à minha posição para que eu voltasse a contemplar a linda garota que estava há duas fileiras à frente.

            Depois de todos aqueles discursos clichês que são feitos na formatura, a festa finalmente começou e eu percebi que já era hora de começar a colocar o meu plano em prática. Fui para o dormitório rapidamente e troquei de gravata. Meu coração chegava a doer de tanta ansiedade. Ajeitei a gola da minha camisa e respirei fundo.

            – Vamos lá, James Potter... – murmurei para mim mesmo e me pus a andar em direção à garota mais linda daquela festa, que agora já estava sozinha.

            Parei de andar na metade do caminho quando vi que Snape se aproximara.

            – Mal jeito, Pontas... – Sirius surgiu das cinzas do além.

            – Não posso simplesmente chegar nela no meio de toda essa gente. Tenho que despistar esse seboso.

            – Cara, eu juro que Ranhoso está tão ridículo que eu tô quase pedindo a sua miopia emprestada, puta merda – ele falou e eu ri. Só Sirius para me fazer rir numa hora dessas.

            – Tive uma ideia – sorri de canto e saí para pegar um drinque. Depois que achei Lily sozinha, sorri de lado e virei a bebida. Ajeitei a minha gravata e caminhei em direção à ela.

            – Esperando por alguém? – disse sorrindo de lado e ela me olhou com aflição e depois rolou os olhos.

            – Não é da sua conta, Potter.

            – Ouch. Por que não podemos simplesmente ter uma conversa civilizada? Tenho certeza que não vai se arrepender... – disse sorrindo de lado e ela me ignorou cruzando os braços olhando freneticamente de um lado ao outro do salão. Ela ainda não tinha percebido.  – Holly me contou sobre um tal de Joe – me encostei na parede ao lado dela e passei a observar a festa.

            – Contou? Idiota! Fiz ela guardar segredo! Ah, ela vai me pagar... – ela se enfureceu e eu a fiz se calar a prendendo na parede.

            – Não a culpe... Eu já sabia disso há tempos.

            – O que está f...fazendo, Potter? E como você s...sabe sobre o Joe? – ela gaguejou ao sentir meu olhar intenso e meu hálito sobre ela.

            – Talvez porque seja eu quem está usando uma gravata vermelha... – sussurrei e ela congelou.

            – O quê? – ela parou de súbito e me encarou franzindo o cenho.

            – Não existe Joe nenhum, ele sou eu, Lily – disse ajeitando minha gravata mais uma vez como se enfatizasse que eu estava usando a cor combinada.

            – Não brinque comigo, Potter. Holly provavelmente te disse sobre a cor que estávamos supostos a usar – ela estava fazendo de tudo para concluir que o que presenciava era uma farsa, mas parecia não estar se convencendo o suficiente.

            – Então ela também sabe a senha da conta do Joe no site de relacionamentos? – disse tirando o meu celular do bolso e mostrando à ela a nossa aba de conversas – Por que acha que o perfil do Joe tem um cervo de perfil? Porque é o nosso animal favorito – expliquei sorrindo, mas Lily não parecia estar nada feliz com a descoberta, muito pelo contrário, seus olhos começaram a marejar e meu sorriso se foi à medida que uma de suas lágrimas havia escorrido de seus lindos olhos verdes.

            – Não acredito... – ela sussurrou se livrando de meu aperto contra ela. – Não acredito que você fez isso! Seu insensível! – ela agora gritava e mesmo que a música estivesse alta, algumas pessoas pararam para assistir a cena – Eu pensei que tivesse conhecido alguém que realmente se importasse comigo... E...eu, eu pensei que estava fazendo a coisa certa e aí vem você para estragar tudo!

            – Mas se você achou que era a coisa certa, por que mudou de opinião agora? E quem disse que eu não me importo com você? Você é a pessoa na qual eu mais me importo nesse mundo, Lily! Por que você não vê isso? – era agora ou nunca.

            – Por que eu mudei de ideia? – ela me encarou com uma expressão de “Sério?!” – porque você apareceu e estragou tudo! Quer dizer, você sempre estraga tudo, não é Potter? – a voz dela falhava entre as palavras, e eu senti uma sensação terrível atingir a boca do meu estômago como se tivesse sido baleado. – Nada mais importa, eu vou embora! – ela me fuzilou com o seu olhar que continha a mistura de ódio e profunda decepção e saiu correndo enquanto segurava a frente do vestido.

            – Lily! Por favor! – saí atrás dela até alcançá-la nos jardins. Tentei fazer ela olhar para mim, mas foi a mesma coisa que nada, a única coisa que ela fez foi parar de correr. – Eu te amo, Lily. Eu só fiz isso para que você percebesse que pode gostar da minha personalidade – suspirei – você pode estar me odiando agora, mas você gostou de mim como Joe e isso pra mim já é muita coisa – ela ficou calada ainda tentando reprimir as lágrimas – mas de que adianta você gostar do Joe e não gostar de mim? – abaixei meu olhar para ela e fiz menção de levar minha mão até o seu rosto, o que foi um fracasso, pois só as palavras delas me fizeram recuar imediatamente.

            – Não me toque! – ela ainda fitava o gramado e abraçava a si mesma, depois ergueu um olhar carregado de frieza – Eu não quero ver você, não quero estar com você, muito menos gostar de você. Porque gostar é uma palavra que não existe no meu vocabulário quando se refere à você. Eu te odeio e nada vai mudar isso – ela deu as costas e saiu.

            Aquelas palavras foram piores do que ser baleado, com certeza. Lily tinha um poder enorme sobre mim, e tudo o que ela dizia tinha significado direto na minha vida. Não existia mais nada agora, nem James ousado, nem orgulhoso, nem nada. Lily era o meu mundo e agora eu sabia que eu a havia perdido para sempre, nada mais importava.

Flashback Off

            Fui tirado de meus pensamentos ao ouvir a doce de voz de Lily Evans. Procurei por seus olhos e quando os encontrei me ergui fiz de tudo para que eles ficassem ali, ela havia aberto a boca para se pronunciar, mas eu fui mais rápido. Alguma coisa dentro de mim queria que ela soubesse tudo sobre mim. Meu namoro com Izzy não passara de um momento e eu estava mais confuso do que nunca. O meu ataque de ciúmes em relação à Lily me tirava do sério, nunca suportei Snape, mas se ela tivesse realmente sendo feliz com ele eu a deixaria ir, porque é isso o que eu sempre fiz, a vontade de Lily. Isso pode ter soado um pouco como um cachorrinho que faz tudo que o seu dono pede, mas eu sempre senti que o meu dever era ver Lily sorrir, e se aquele seboso de cabelos oleosos pode proporcionar isso à ela eu não posso fazer nada além de me afastar.

            Que sentimento era esse? Por que depois de tanto tempo aquela sensação indescritível de estar na presença dela me invadia novamente? Mal pude notar que já estávamos discutindo mais uma vez, típico de Lily e eu. Pude perceber a tristeza transparecer dela, minha mão foi involuntariamente até o seu rosto, e os seus olhos... os olhos que sempre cobicei desde que era um adolescente patético estavam me olhando mais uma vez, e era diferente. Era como se ela tivesse algo para me dizer, mas o seu instinto não deixara que ela se pronunciasse. Ela apenas me desejou uma boa noite e entrou em seu apartamento.

            Voltei ao meu apartamento mais aéreo do que nunca e a primeira coisa que fiz foi pegar aquele álbum em minhas mãos. Quanto tempo fazia que eu tinha isso? Provavelmente anos que mofaram na gaveta. Anos que mesmo de vez em quando me vinham à mente algumas memórias sobre a garota que me odiava me trouxera. Foram tantos momentos, tantos foras, tantos “Eu te odeio, Potter”, tantos “Eu te amo, Lily”, tantas lembranças que eu só queria fechar os olhos e poder voltar àquele tempo, voltar ao tempo em que eu era normalmente odiado por Lily, odiado por ela, mas ao mesmo tempo ela tinha o poder de sorrir, tempo em que eu não era a causa da sua dor, ou talvez só um pouquinho.  Pela primeira vez eu me dei conta de que já não conhecia mais Lilian Evans.

            O despertador tocara sem motivo algum, já eram seis da manhã e eu não havia dormido um cochilo sequer. Só uma coisa me vinha à mente “O que causara as lágrimas que eu ouvira na noite passada através da porta de Lily? Quem era o causador daquele sofrimento?”.

Seis e quinze. Eu não tornaria àquela agência nem que me pagassem. Não pelo meu término com Izzy, mas por todas as confusões psicológicas que eu estava tendo nos últimos dias. Nem eu mesmo era capaz de me entender, então como os outros o fariam? James Potter tinha mudado, mudado de uma maneira nunca vista. A sensação daquela noite do baile de formatura tinha retornado e eu estava me sentindo devastado, eu não podia continuar assim, a vida segue e eu tenho coisas a viver. Tenho que seguir o que o meu verdadeiro e novo eu diz que eu preciso fazer, e com certeza não é trabalhar naquela porcaria de agência. Essa fora a hora que eu tive uma ideia brilhante, o banho me ajudara nisso.

Sete e três. Peguei o violão e comecei a tocar a música que me definia no momento, a melodia era perfeita para os meus ouvidos e não demorou para que a letra saísse por dentre os meus lábios acompanhando aquele som. “Green Eyes” era a música. Era tudo o que eu conseguia pensar, o cover, as notas, a melodia. Havia trabalhado nela há semanas, e essa fora uma das razões para o enfurecimento de minha ex-namorada, mas eu sabia que dessa vez era pra valer, a música era tudo pra mim e eu tinha certeza de que eu poderia me mover a partir disso, mais do que num passado onde a minha beleza era tudo.

Peguei a meu instrumento e o posicionei dentro da maleta, a coloquei nas costas e saí de casa. Entrei em meu Thunderbird e saí dirigindo até a casa de Sirius. Subi as escadas da entrada do prédio dele e apertei um botão que se encontrava ao lado dos dizeres “Black”. Ainda eram sete horas, Almofadinhas provavelmente me mataria por estar acordando nesse momento. Depois da quinta chamada, o interfone finalmente foi atendido por uma voz totalmente sonolenta.

A não ser que seja a polícia de Londres eu exijo que seja lá quem estiver aí vá embora agora...

— Almofadinhas, sou eu, Pontas. Dá pra liberar aí? – passei a mão pelos meus cabelos enquanto suspirava, a fumaça que saíra de minhas vias respiratórias era devido ao clima frio que se instalara. Dezembro estava cada vez mais próximo, e junto com ele vinha o final do ano; como o tempo passa rápido...

Ah não acredito que está me acordando às... – ele fez uma pausa como se olhasse as horas – Sete e quarenta e oito da manhã de sábado.

— Preciso conversar com alguém, e você é esse alguém – fui direto e pelo silêncio que se fez no interfone eu pude mentalizar um Sirius surpreso erguendo as sobrancelhas.

Realmente, eu nunca ia atrás de conversar com nenhum dos Marotos, geralmente ou quase sempre eram eles que vinham extrair pedaços desconexos de informações que achavam interessante para eles mesmos. É, de fato, muito estranho aparecer na casa de um amigo as exatas sete e quarenta e oito da manhã num sábado, mas consideremos que seja um caso de precisão.

Ouviu-se o barulho do portão de entrada ser destrancado e eu entrei, subi as escadas do prédio até chegar ao andar do apartamento de meu amigo, que era no terceiro piso. Nem precisei tocar a campainha para que Six abrisse a porta. Ele se mostrou com os olhos inchados do sono na qual teria recentemente sido despertado e me cumprimentou com um abraço que sempre dávamos um no outro quando as coisas estavam... estranhas, digamos assim.

Adentrei e coloquei a maleta com o violão em cima do sofá, que estava cheio de cobertores, por sinal. A casa de Sirius, ao contrário da minha era totalmente fora de ordem, ele conseguia trazer coisas da cozinha para o quarto e outras coisas do tipo, só os Marotos e os meus pais eram permitidos entrar naquele recinto, pois só nós mesmos pra entender que Almofadinhas é do tipo bagunceiro desse jeito. Eu já nem ligava mais, talvez fosse por conta de anos de convivência.

— Fala irmão. O que te traz à minha casa à essas horas da madrugada? – para Sirius, seis, sete horas da manhã ainda eram consideradas metade da noite.

— Sirius, eu não sei como eu vou explicar isso, eu ando tão confuso com tudo o que vem acontecendo, cara... – suspirei passando as mãos pelo meu rosto.

— Ah, sei. Então espera um pouco que os outros também precisam ouvir isso aqui – ele caminhou até o seu quarto e gritou.

— BOM DIA, MAROTOS! – franzi o cenho e o acompanhei até o quarto.

Pude perceber um Remus que já lia à luz da luminária da escrivaninha, enquanto um Peter assustado se contorcia no chão.

— Me mata mesmo! – Peter se levantava do chão respirando ofegante – que horas são? – ele passou as costas das mãos nos olhos remelentos.

            – Sete e cinquenta e três – Aluado pronunciou-se depois de dar uma breve espiada no seu relógio de pulso, deixando o seu livro de lado.

            – Mas por quê? – e então percebi que Rabicho não se referia à “por-que-são-07h53min?”, mas sim “por-que-diabos-você-Sirius-Black-o-preguiçoso-de-merda-está-fazendo-acordado-a-uma-hora-dessas?”.

            – Pontinhas quer desabafar, parece sério. Vamos logo – Sim, Sirius podia ser um preguiçoso desgraçado, mas quando se tratava de ajudar os amigos ele sempre dava um jeito de deixar essa personalidade de lado.

            – Vocês dormiram aqui e nem me chamaram? – falei tentando quebrar o clima tenso com uma gargalhada.

            – É. Não gosto disso, mas eu percebi que você queria ficar sozinho. Eu meio que já esperava que você viesse me acordar a qualquer dia – ele disse dando de ombros e se jogou no sofá desarrumado.

            – Cuidado com o meu violão, cachorro – disse seriamente e ele rolou os olhos colocando o instrumento num lugar menos hostil.

            Todos os Marotos se acomodaram em um canto da sala, uns morrendo de sono, outro já mais acordado e eu ainda lá, calado. Não sabia realmente como ia explicar o que eu estava sentindo naquele momento, até porque nem eu mesmo conseguia entender.

            – Tic tac, Pontas. Não temos o dia todo, é melhor começar logo, ou eu terei o maior prazer de me retirar do recinto e voltar aos meus lençóis – Sirius bocejou impaciente. Remus e Peter estavam perdidos.

            – Tá! – revirei os olhos – Eu tenho andado pensativo nos últimos dias, e irritado também, basta só alguém dizer alguma coisa que eu já perco o controle – parei de súbito ao ver os olhares de “você-vai-falar-logo-ou-o-que?”. – Eu passei a semana toda trabalhando em um cover da minha música preferida no momento e a Izzy pareceu não se conformar muito. Ela acabou fuçando nas minhas coisas e achou o “Álbum da Ruivinha” – já ia continuando com a história quando Sirius me interrompeu.

            – Tá brincando que você ainda guarda aquela velharia? – o encarei com seriedade e ele se reprimiu – Certo, prossiga.

            – Aí nós começamos a discutir sobre eu ficar trancafiado no meu quarto e não dar nenhuma atenção que a Izzy merece e coisa e tal. Tirando a parte que ela só me odiou mais por eu ter um álbum de fotos de uma garota que não se resume a ela, ela odeia Lily, não só por causa disso, mas porque ela derramou café na camisa de marca dela – revirei os olhos e os Marotos riram. – E então chegou a hora que ela começou a fazer drama e disse que pesava que eu a amava – suspirei – eu já tava estressado por ter que lidar com o fato dela ter mexido nas minhas coisas, aí eu soltei um “amor não é uma coisa que se adquire em um mês de namoro”, ou coisa assim, ela deu um tapa na minha cara e foi embora.

            – Uau – Sirius surpreendeu-se. Os outros estavam tão concentrados na história que nem fizeram menção de se pronunciarem – então quer dizer que você e a velha das dobras finalmente terminaram? – Peter se jogou no chão começando a rir como se não houvesse amanhã, Aluado seguiu o bonde – Qual é James? Admita, aquela mulher tem tantas dobras que eu poderia fazer um origami com a cara dela facinho – foi aí que eu não me aguentei. Só Sirius pra me fazer rir numa hora dessas...

            Depois de nos recuperarmos, voltei à minha misteriosa vibração de cachorrinho perdido, que tinha aprendido com Six, obviamente.

            – Isso não é tudo, é? – Remus disse desmanchando o sorriso que tinha estampado no rosto e eu neguei com a cabeça.

            – Depois disso eu fiquei com muita raiva de mim mesmo – comecei – tanta raiva que comecei a me questionar sobre tudo o que tem andado acontecendo. Primeiramente a minha carreira, tenho pensado que ser modelo não é mais o meu papel-

            – Claro, porque eu é quem sou o garanhão aqui – Sirius me interrompeu se gabando e depois de ser fuzilado não só pelo meu olhar, mas também pelos de Aluado e Rabicho, ele calou a boca e eu pude continuar contando.

            – ...não é mais o meu papel. Não me sinto como antes, parece que de uns tempos pra cá as coisas mudaram pro meu lado. Eu me sinto mais ligado à musica e...

            – E então Lily apareceu – disse Remus e eu afirmei com a cabeça.

            Sábio Aluado...

            – Na noite em que eu a vi pela primeira vez depois daquela noite no baile, eu senti meu coração doer, era como se todas as sensações daquele fora retornassem em um piscar de olhos. Eu realmente me surpreendi como ela não me deu um soco na cara e saiu do Três Vassouras na mesma hora – fiz uma pequena pausa e felizmente pude continuar sem nenhuma interrupção. Esse assunto era considerado sério entre os Marotos. Falar em Lily em geral era um assunto sério, e eu jurara no colegial que se alguém dissesse alguma coisa contra ela seria imediatamente espancado pelo cara aqui. – Ontem à noite, depois de terminar o namoro com Izzy, eu fiquei desorientado. Mal tinha percebido que tinha me acomodado na frente da porta do apartamento de Lils. Ela chegou e parecia muito chateada com alguma coisa, e foi aí que eu me senti culpado. E se ela estiver assim por minha causa? Como na noite da formatura? Cara, eu não sei como eu vou me perdoar se eu for o motivo da dor dela.

            – Você tentou perguntar para ela sobre isso? – Peter, o bobão que por um milagre de Merlin ainda não tinha ido comer nada na cozinha, se manifestou, ele parecia bastante envolvido com o meu depoimento, assim como restante dos Marotos.

            – Tentei, mas eu tava tão irritado com essa história do Ranhoso que acabei estragando todas as minhas chances de saber de alguma coisa – suspirei.

            – Tem certeza que você não sente mais nada pela Lily, James? – Aluado comentou – porque esse ciúmes que você tá sentindo não é nenhum pouco típico de quem não tá apaixonado por ninguém.

            – Eu... eu quero mostrar a música que eu treinei para vocês – mudei de assunto e pesquei minha maleta no meio das tranqueiras da sala de estar de meu amigo.

            Peguei o meu violão e comecei a tocar, meus olhos estavam fechados e eu sentia a música correr pelo meu corpo, eu sentia ela em cada átomo de mim mesmo, e essa era a melhor coisa de se saber manusear um instrumento. Ao final da música eu vi que os três estavam me encarando com as sobrancelhas erguidas, Sirius guardava o celular rapidamente como se tivesse escondendo-o de todos no cômodo, franzi o cenho, porém ignorei.

            – Caramba, James, isso tá muito bom, sério – Rabicho falou e eu sorri com dificuldade.

            – Cara, você tá muito apaixonado. Eu to falando que essa mulher mexeu com a sua vida? – Sirius disse depois de me dar dois tapinhas nas minhas costas.

            Ficamos conversando sobre como as mulheres mexiam com a gente e todas essas coisas. Narrei o mimimi de Izzy mais uma vez para que eles analisassem os fatos.

            – É por isso que eu prefiro armas, porque pelo menos nelas você pode colocar um silenciador, puta merda! Graças a Deus você se livrou dessa velha, Pontas. Você merece alguma coisa mais sofisticada, ou melhor, merece uma Lily – Sirius exclamou e todos os Marotos riram, mas eu apenas suspirei, minha cabeça estava uma confusão só.

            Contei aos marotos mais umas paradas e me dei conta que já era hora do almoço. Peter resmungava agora pela escassez de besteiras no armário de Sirius, o que era um milagre, nem tanto, já que provavelmente este primeiro devia ter consumido tudo na noite anterior.

            – Que ótimo, já passam das uma da tarde, eu podia estar acordando agora, isso é culpa sua e você sabe disso, não sabe? – Sirius disse tirando uma com a minha cara.

            – Cachorro... – ri negando com a cabeça.

            – Bem que o Aluado podia preparar umas bagaça pra gente aí – Rabicho falou com a boca cheia de biscoito de água e sal – to tendo que me sustentar com essas coisas horrendas aqui – ele apontou para o pacote de bolachas Cream Cracker.

            – Tá bom, já que eu to preso com vocês aqui mesmo – Aluado deu de ombros deixando o seu iPad de lado e caminhou até a cozinha. Sirius tinha ido pro quarto, provavelmente para se trocar, estava só com uma calça de moletom, que era o que costumava usar para dormir, assim como todos nós marotos, exceto Peter (ele tem mamilos salientes que qualquer um possui uma tentação fora do normal de apertar).

            Aluado pegou algumas coisas no armário e impressionantemente começou a cozinhar, e para a nossa surpresa o cheiro estava realmente bom.

            – E então Aluado? Como que tá você e a Tonks? – Sirius se escorou no balcão depois de voltar trocado com um sorriso malicioso.

            – Tonks? Nada, ela é só minha amiga – ele deu de ombros e continuou mexendo a mistura de dentro da panela.

            – Ah, vai dizer que vocês dois não trocam uma ideia? O tanto de tempo que você passa nesse seu iPad não é só pro seu blog, é? – Almofadinhas se encaminhou até a geladeira e pegou latinhas de cerveja, jogou uma para cada um de nós e se sentou na cadeira que ficava junto ao balcão de sua cozinha americana.

            – Sinceramente? Sim. Eu não troco mensagens com ninguém além de vocês três.

            – Poxa, Lupinzinho... Tá precisando de um empurrãozinho, meu velho – Sirius negou com a cabeça como se não pegar ninguém fosse a coisa mais sobrenatural do mundo.

            – Obrigado, Sirius, mas eu me sinto ótimo.

            As horas se passaram rápido depois disso. Comemos da deliciosa macarronada de Remus, e nesse dia descobrimos que ele tinha um grande talento nessa área, deixava qualquer Leonardo do MasterChef no chinelo, tá não é pra tanto, mas a comida dele é realmente ótima.

            Sirius tocou sua guitarra – sim ele toca guitarra. Na verdade, cada um de nós, Marotos, sabemos tocar algum instrumento. Sirius a guitarra, Aluado a bateria, Peter o baixo (já que só usava quatro cordas, uma pra cada dedo de sua mão aleijada) e eu no violão, na escola ficávamos pagando uma de banda, isso talvez pudesse virar um hobby, além de jogar basquete, obviamente – e eu o acompanhei com o violão. Aluado improvisou um batuque no balcão da cozinha e Peter só observou mesmo, já que se esbaldava com o saco de doces que compramos na Dedos de Mel, uma lojinha de doces que sempre costumávamos frequentar nas férias pra zoar. No fim do dia eu voltei para casa, disse que tinha que resolver uns assuntos (o que provavelmente não convenceu meus amigos) e deixei os Marotos.

            Na volta pra casa, resolvi passar no mercado para comprar algumas coisas, depois disso retornei ao meu carro e me direcionei para casa. Hoje tinha sido bem melhor. Falar com meus amigos me ajudava demais, sempre era bom desabafar. Eu tive tempo o suficiente para me reorganizar e eu pretendia investir na música, já que a vida de modelo tinha ido completamente por água abaixo, eu tinha que arriscar, certo?

            Atendi uma ligação de minha mãe, que era tipicamente de rotina e depois fui tocar mais uma vez. Aquela música era o que me sustentava no momento, cada palavra que se ouvia naquela coisa relacionava-se diretamente com o que eu estava pensando e vivenciando. Foi aí que me dei conta que a minha paixão do ensino médio que senti e sofri (e muito bem sofrido, aliás) por Lily Evans tinha realmente reascendido.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei. Capítulo pequeno! Mas eu tô com muitos planos para os próximos e eu tenho certeza de que vocês vão gostar (se gostaram até aqui, obviamente). Vou tentar trazer cada vez mais os Marotos pra ver se as coisas tomam um contexto melhor. Obrigada por lerem até aqui! Podem deixar sugestões nos comentários também, viu? Sou toda ouvidos! Um beijão! Até o próximo capítulo! :D



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