Como Ser um Príncipe - Interativa escrita por Mila


Capítulo 26
Céu de cristal


Notas iniciais do capítulo

Oláa, voltei numa terça. Bem precisa.
Peço para vocês começarem a prestar atenção nas selecionadas, suas interações (principalmente com o príncipe)... pois perto do final da semana da paz haverá nova votação para vocês... e sim, nova eleiminação.
(Lembra que Liam disse que já terá formado sua Elite? Pois é.)

Acabei dividindo esse capítulo em dois. Está ficando maior do que eu pensava, mas não vi nenhuma "cena" que poderia ser cortada.
Preciso aprofundar as selecionadas, os conflitos e os eventos da Semana da Paz.
Então preparem-se pois vocês terão muitooooo Liam Éire nos próximos capítulos.

Boa leitura!

Link da música que eu coloquei nas coroas que tem um (aqui) do lado, para caso o link não funcionar: https://youtu.be/DDWKuo3gXMQ?t=51s



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Dia 56 

Estava nevando quando todos – Liam, Kiara, Sienna, Álan e Finn - saíram da sala de música procurando seus próprios aposentos.  

A história permaneceu grudada aos pensamentos de todos eles, mas em especial aos de Liam Éire, que se sentiu terrivelmente culpado pela pressão que fizera sobre Sienna após ouvir a história da rainha. Ele pediu-lhe desculpas e ela não pareceu guardar remorsos. Estava apenas cansada.  

Quem não estava? O próprio Liam agora conseguia sentir vários pontos doloridos em seu corpo onde fora atingido pelos tomates da população revoltada – outro problema que logo ele haveria de lidar também.  

Porém, naquele momento, ele se pegou pensando em destino; pois uma coisa estava clara para ele após ouvir a biológica e inevitável queda da Dinastia Hibernia – ele já era o Príncipe Herdeiro há muito tempo. Mesmo se Sienna não tivesse renunciado a sua legítima coroa – afinal, poucos sabiam sobre a sua falsa paternidade e queriam tocar nesse assunto -, biologicamente, o próximo sangue real da Nova Irlanda sempre fora de Liam Éire.  

Ao chegar a porta de seu quarto, ele encontrou o Rei Donavan.  

Liam suspirou. Já era hora do sermão?  

—Liam. - Ele falou logo que o jovem se aproximou. - Decidi encarregá-lo do andamento da Semana da Paz.  

O herdeiro parou em frente ao monarca. Piscou os olhos e tentou clarear a mente. Era muita informação para um dia só, as palavras do rei mal faziam sentido.  

Vendo a expressão confusa no rosto dele, Donavan 

explicou: 

—O incidente de hoje mais cedo mostra que as pessoas não confiam em você. O passado da Dinastia Éire lhes deixou uma má impressão quanto a você. - Ele desviou os olhos por um momento, visivelmente não querendo tocar no assunto. Agilmente, voltou ao tema principal da conversa: - Mas você não fez nada para eles pensarem bem ou mal de suas ações.  

—Hmm. - Ele resmungou, incerto se aquilo era algo bom de ouvir.  

—Então eu lhe darei sua primeira função: Coordenar a Semana da Paz, não deixar que ela saia do planejado. Se houver algum problema, por menor ou maior que seja, é a sua função dar um jeito nisso. A intenção é causar uma boa impressão às famílias reais, que são nossos aliados políticos, e assim, ganhar a confiança deles também. Eles estão preocupados com essas mudanças em Nova Irlanda e não sabem ao certo o que pensar. Precisamos substituir rumores e pré-conceitos por ações concretas.  

Conforme as palavras do rei começaram a lhe fazer mais sentido, Liam deu um passo para trás.  

—Ahn, você quer que eu tome conta de vários reis e rainhas e príncipes e princesas de diversos lugares do mundo? - Ele observou o rei. - É, sério?  

O rei olhou para Liam enquanto balançava a cabeça. 

—Sim. - Respondeu, convicto. - Sua nova responsabilidade. Mostre a eles quem você é; quais são as suas capacidades e intenções. - Ele ergueu a mão, como se fosse tocar em Liam, mas hesitou e desistiu. Estranho demais. Num tom mais calmo e até gentil, Donavan aconselhou: - Essa é a sua oportunidade de ser um príncipe. De fazer o que você quiser. Prometo que não vou opinar.  

—Tudo bem... - Ele murmurou. Uma parte de Liam ainda estava procurando sinais no comportamento do rei que mostrassem que tudo isso era apenas uma pegadinha. A outra parte não conseguia formular nenhuma outra hipótese para o ganho dessa estranha e perigosa liberdade.  

Donavan assentiu e lhe desejou boa-noite. E esse foi o fim de um dos dias mais esquisitos da vida de Liam Éire.  

♕ ♕ ♕ 

Dia 57 

Pai e filho pararam lado a lado para observar o imenso mosaico do brasão da Dinastia Hibernia no centro do pátio do Jardim Principal. Vermelho, dourado e verde e com uma frase em latim. Majestoso sob o imenso lustre de cristal que se destacava em meio a paisagem coberta de neve.  

—Uau. - Douglas comentou tentando controlar a expressividade do rosto. - Um pouco exagerado.  

Liam teve que rir; não conseguiu se segurar. Ele virou-se e bateu no ombro do pai.  

—Dê-lhes um crédito. Eu irei ficar com a coroa, afinal.  

O mais velho gargalhou alto e abraçou o filho de volta. Com o sorriso congelado no rosto, ele repreendeu aos sussurros o jovem: 

—Nunca diga isso em voz alta, moleque.  

 

A área ao fundo do Jardim Principal, era menor e mais reclusa, proporcionando mais privacidade e até aconchego para um evento intimista. Uma grande fonte marcava o centro do espaço descoberto, dentro delas, largas vitórias-régias boiavam na superfície da água estática por uma fina camada de gelo e, em meio a elas, uma estátua do que parecia ser um anjo, na opinião de Liam.  

Ao lado da fonte, ficava o pátio com o brasão Hibernia, sobre o qual havia o resplandecente lustre de cristal. Esse espaço era coberto por uma estrutura elegante de pilastras de gesso com um toldo transparente como teto, todo decorado com diáfanas cortinas esvoaçantes; local que fora preparado para funcionar como uma pista de dança. E depois dele, alguns poucos degraus levavam a entrada de uma estrutura maior, um ambiente fechado com alto pé direito e gigantescas janelas de vidros. Acomodava perfeitamente bem seiscentas pessoas, embora o evento contasse com muito menos que isso.  

Lá seriam foram distribuídas as mesas dos convidados e todo o rebuscado chá da tarde.  

O lado de fora chamou mais a atenção do herdeiro – era um garoto de fazenda afinal de contas. Fora a fonte e o ambiente arrumado para as danças, todo o local era cercado por um arbusto com um metro e meio de altura, o qual, por sua vez, era cercado por outra parede de arbusto, como um pequeno labirinto verde que fora tomado pela neve da noite anterior.  

Como um garoto, Liam pensou que antes daquela festa acabar, ele ainda iria explorar aquelas paredes vivas.  

♕ ♕ ♕

Morrendo de curiosidade, Liam não conseguiu se controlar. Ele afastou-se da princesa herdeira da Escócia e se aproximou de Mirelle Smith, que havia parado em frente à fonte de água congelada já há alguns minutos.  

—Impressionada? - Liam perguntou-lhe ao parar ao seu lado. Tinha um sorriso grande no rosto que, igual sua curiosidade, era incontrolável. A expressão reflexiva de Mirelle lhe deixara imensamente intrigado... e isso o divertia.  

Ela olhou para ele e também sorriu.  

—Eu... estou pensando em muitas coisas. - Ela respondeu, impressionada consigo mesma. Antes que Liam pudesse perguntar, ela apontou para as vitórias-régias fixas à água congelada. - Primeiro pensamento: Como essas plantas conseguem sobreviver ao gelo?  

Liam desviou o olhar da jovem para analisar a planta. Ele nunca fora bom em botânica.  

—Hm, talvez elas não possam. - Foi a melhor resposta que ele pensou.  

—Exato! - Mirelle concordou. - Acredito que são tropicais. Pode se adaptar ao clima da Nova Irlanda... Mas não ao inverno.  

O príncipe olhou para os próprios pés, refletindo sobre aquilo. Ele não tinha certeza quanto ao que dizer. O pensamento de Mirelle era interessante, mas era algo totalmente inusitado para ele. Liam era leigo em assuntos de jardinagem.  

Ela olhou para ele, notando ligeiramente seu desconforto.  

Elle apenas sorriu e deu de ombros. 

—Eu costumo prezar muito pela vida. Seja ela qual for.  

Liam a olhou surpreso e então riu. Definitivamente um novo ponto de vista. Um bom.  

Ele então apontou para a estátua que erguia-se do centro da fonte.  

—Muito bem e qual é a sua análise do anjo? 

Foi a vez de Mirelle rir.  

—Não é um anjo. É uma fada.  

—A asa tem penas. - Argumentou sem pensar. A jovem riu ainda mais e sua risada chamou atenção das pessoas mais próximas. Incerto quanto a atenção que recebia, ele ergueu as mãos e confessou, um pouco corado: - Tudo bem, talvez eu esteja acostumado com desenhos.  

A selecionada o olhou com carinho e um pouco de pena. E insistiu: 

—É uma fada.  

Embora estivessem chamando bastante atenção em frente a diversos reis e rainhas de diferentes lugares do mundo, Liam estava se divertindo. E Mirelle também. Tentando conciliar os dois, o jovem herdeiro se aproximou da selecionada – que estava ainda mais alta que ele do que o usual, devido aos saltos altos – e sussurrou, como se fosse um espião: 

—OK. Cuidado com o que vai dizer agora, srta. Smith, pois dizer que a estátua do anjo é na verdade uma fada, pode acabar com uma monarquia. -  Fingiu seriedade. Olhou para a estátua de canto de olho como se ela fosse um suspeito num crime. - Pega mal o rei e a rainha acreditarem em seres místicos.  

Os olhos de Mirelle brilharam e ela tentou reprimir uma risada. Ela olhou para cima e depois lutou para recuperar sua atenção. Focou seu olhar na fada e se justificou.  

—A imagem das fadas mudou muito nas mídias e ao longo dos anos; a Antiga Irlanda trouxe a sua versão como uma entidade dotada de poderes e... uma espécie de mensageira do outro mundo. - Disse, depois de escolher as palavras e as lembranças com cuidado. Liam abriu a boca para perguntar, e ela sabia o que era. "Outro mundo". Ela revirou os olhos, sorrindo. - Ah, isso não é importante. Onde eu quero chegar é que a origem das fadas é muito antiga. O nome, fada, vem do latim, fatume significa fado. - Ela o observou, de canto de olho e para sanar quaisquer dúvidas, simplificou: - Destino.  

—Oh! - Liam exclamou, realmente surpreendido. Observou a estátua, a fada, com novos olhos. - Não mancha tanto a imagem da monarquia quanto eu pensava.  

Mirelle balançou a cabeça para os lados, tentando se impedir de gargalhar. Ela rapidamente tenta mudar de assunto: 

—Você acredita em Destino, senhor príncipe? 

—Senhorita selecionada... - Ele respondeu, entrando na brincadeira. Seu olhar foi da fada para além dela, vasculhando raciocínios nunca antes feitos. Então ele sorriu e confessou: - Eu preciso acreditar que toda a confusão que é minha vida um dia irá ter uma boa conclusão.  

E bastou apenas isso para que Mirelle não conseguisse mais segurar as risadas. Ela gargalhou alto e Liam também riu. Quantos anos eles tinham? Ele se sentia como um garoto de onze anos.  

Haviam refletido sobre alguns assuntos importantes com sinceridade e haviam brincado... Sim, eles pareciam mesmo duas crianças.  

Ao retomar o ar após tanto rir, Liam observou o monarca da Inglaterra se aproximar de três selecionadas. Isso tirava os quatro da zona de conforto. E também Liam.  

Não sabia o que esperar dessa interação, mas o aviso do rei soou claro em sua mente: Qualquer conflito, era responsabilidade dele resolver.  

♕ ♕ ♕ 

Inesperadamente o Rei Arthur se aproximou de Gwen e Riley, tirando-as da conversa sobre as últimas cartas que receberam de suas famílias. Elas se curvaram numa reverência atrapalhada de quem foi pega desprevenida.  

O monarca sorriu para essas jovens e também para Charlotte que estava ali perto, convidando-a para a conversa; mas o olhar dele faiscou num brilho de ousadia.  

—Presumo que as senhoritas sejam uma das selecionadas de Príncipe Liam... - Ele comentou retoricamente. - Foi... surpreendente ver a Nova Irlanda incorporar as tradições de Illéa em sua cultura.  

As garotas se entreolharam momentaneamente, compartilhando a mesma insegurança. O Rei Arthur era o terceiro filho dos soberanos de Illéa. Ele casou-se com a herdeira da Inglaterra, provavelmente por alguns arranjos políticos, mas seu irmão, o primogênito da família passou por uma Seleção há pouco mais de uma década. Portanto, a experiência e a cultura de Arthur quanto ao concurso eram bastante profundas e, portanto, conversa com ele sobre isso era adentrar num campo minado, em que cada passo deveria ser meticulosamente cuidadoso. 

Foi Gwen quem tomou coragem para a primeira interação com o rei. 

—Bom, ela foi incorporada exclusivamente para o Príncipe Liam. Ele ascendeu ao trono muito rapidamente. - Ela esclareceu, cautelosa. Arthur apertou os olhos e Gwen logo voltou a falar para evitar possíveis mal-entendidos. - Eu não acredito que a Seleção permanecerá na monarquia de Nova Irlanda por outras gerações... 

A voz de Gwen sumiu e ela olhou para as meninas, em busca não só de esclarecimento, mas de apoio.  

A sugestão deixou Charlotte apreensiva. A Seleção na Nova Irlanda fazia sentido dentro da situação incomum do herdeiro. Diversos assuntos políticos relacionados ao príncipe tiverem que ser adiantados, desenvolvidos na mesma rapidez com que ele recebera o título, e sua união matrimonial não era um tópico que fugira à regra. Era algo claro para a jovem e, de certa forma, compreensível.  

Porém, ela não conseguia imaginar o concurso a longo prazo, as repercussões talvez não muito boas que isso poderia ocasionar. Trocar de dinastias já era uma mudança demasiadamente grande para a população nova-irlandesa lidar.  

Frente ao silêncio e falta de jeito das garotas, Arthur, mais educado, mudou cordialmente de assunto.  

—É com certeza algo novo ao reino. Mas posso perguntar o que lhes intrigou na oferta de poderem candidatar-se à Seleção?  

Elas se entreolharam de novo, dessa vez tentando resgatar memórias não muito claras e já antigas para poder evocá-las.  

Charlotte empalideceu ligeiramente. Para fugir. Mas ela logo sorriu e deu a sua resposta: 

— Confesso que estava curiosa para conhecer o "novo príncipe".  

Arthur assentiu com educação, achando um pouco de graça e se contentando com sua curta resposta, e virou-se para Gwen, pedindo por sua contribuição.  

— Hm, eu acredito que posso ser uma boa líder. - Ela disse. Frente ao olhar surpreso do rei da Inglaterra, ela fingiu não se incomodar. - Sou um pouco perfeccionista, e confio mais nas coisas quando são feitas por mim. Adoraria ajeitar o que precisa e fazer ações positivas para Nova Irlanda. - Ela sentiu que soou um pouco vaga e superficial, porém hesitava em entrar em detalhes como as situações sociais e econômicas de Nova Irlanda com o governante de outro país. Uma nação aliada à dela, verdade, mas ainda assim, outra nação. E quanto ao caráter mais pessoal de seu discurso, não achou que devesse dar explicações quanto a isso. Ela era quem era, e profundamente se importava com Nova Irlanda. - Acredito que já ter uma intenção é o primeiro passo. - E tive uma queda por Liam ÉireFelizmente, ela conseguiu controlar esse pensamento e não o expressar. Quando ela ficou sabendo do novo herdeiro e da Seleção, sim, ela tinha que confessar, gostar da aparência de Liam foi um grande incentivo para ter se inscrito.  

Inconscientemente os três se viraram em direção a Riley, mas ela não estava mais lá. 

—Hm, talvez ele tenha ficado entediada. - Arthur pressupôs com simplicidade, mas seus olhos alertas revelavam uma avaliação mais meticulosa do comportamento da garota.  

Charlotte riu forçadamente como se ele tivesse contado uma piada sem graça que carecia de um mínimo apoio.  

—É mais provável que seja apenas fome. - Sugeriu.  

—Sim, o cardápio está muito bom. - Gwen concordou como um eco da mentira da amiga.  

Porém, ela não conseguiu pensar em nada além do sumiço de Riley. Se Dressa estivesse ali também compartilharia de seu desconforto. Riley andava bastante arisca ultimamente e, naquela situação pareceu esquivar-se da pergunta do monarca, quanto ao que motivara sua vinda à Seleção.  

Felizmente, Liam intrometeu-se na interação. Colocou a mão sobre o ombro de Gwen, que estava mais próxima dele, e cumprimentou casualmente o rei aliado.  

—Vejo que conheceu minhas amigas, Vossa Majestade.  

Arthur apertou os olhos e abriu um largo sorriso.  

—Amigas. - Ele repetiu, refletindo sobre o termo. -Eu as conheci sim, Alteza. E pela breve conversa que tivemos, arrisco dizer que elas já são minhas amigas também.  

Gwen e Charlotte concordaram rapidamente, mas Liam sabia que Arthur brincava com ele quanto a sua escolha do termo em relação às selecionadas. Mas o príncipe também fingiu concordar, lembrando que a primeira regra estabelecida pelo Rei Donavan era de não criar problema. E Liam conseguia muito bem discernir a provocação implícita naquela conversa amistosa.  

Quando a banda acomodada em um canto da pista de dança começou a tocar a primeira valsa, Arthur pediu licença, dizendo que convidaria a esposa para uma dança. E Liam virou-se pa

ra as meninas, mais aliviado. 

—Espero que tenham dito coisas boas sobre mim. - Ele brincou. - Estou precisando aumentar minha popularidade. 

Em resposta, elas sorriso com simpatia, mas nada disseram. A dúvida quanto ao prazo de Seleção na Nova Irlanda as deixou incomodada. Não era familiarizada o suficiente com a tradição do concurso para dizerem se seria algo bom ou não mantê-lo por outras gerações.  

Liam sentiu o clima estranho e tentou quebrá-lo como quem não sabia de nada. 

Ele apontou, empolgado, para Charlotte. 

—Vamos dançar! Você não pode fugir da valsa para sempre. 

A expressão dela mudou. Ficou vermelha e depois balançou a cabeça para os lados. 

—Não, Liam. Não posso dançar no meio de inúmeras famílias reais. Eu sou um desastre. - Ela disse com convicção. - Sem chances de você me tirar para dançar hoje.  

Liam apertou os olhos, vendo ali um desafio, mas também sabendo que deveria respeitar as vontades de Charlotte.  

—Então, senhorita, você está convidada a uma aula de dança. Dessa vez, não pode recusar. - Ele afirmou, com a mesma convicção que a dela. - Você ainda irá gostar de valsa.  

Charlotte girou os olhos e deu uma risadinha.  

—É, veremos.  

Liam virou-se e sorriu para Gwen, com seus olhos castanhos brilhando de empolgação.  

—Srta. Seasher-Prix, você não pode fugir.  

—Bom, depois disso, é melhor eu não recusar o convite. - Gwen comentou, num tom divertido. Os olhos de Liam estavam tão lindos aquele dia. Aceitou a mão de Liam sem pensar e o acompanhou até a pista de dança, sobre o imenso brasão Hibernia feito com pedras.  

Encontro com o príncipe? Dança? Charlotte suspirou. As coisas estavam começando a ficar complicadas.  

♕ ♕ ♕ (aqui!)

Sentada a uma das mesas redondas do salão fechado, escondida do frio, Sienna Hibernia observava hipnotizada seu noivo conversar com os convidados. Ele ria, entretia-os e eles riam de volta. Carismático como sempre. Ela nunca ouvira uma única palavra pejorativa a seu respeito.  

Olhando-o de longe, ele parecia-se muito como sempre fora.  

O jovem que flertava com ela na adolescência, o adulto que aceitou o casamento entre eles quando isso foi proposto quatro anos atrás. O príncipe que sempre, sempre encantara a todos com o seu charme e postura.  

Nada parecia ter acontecido.  

Nenhuma carta insensível poderia ter sido escrita por alguém tão perfeito quanto Caleb Maddox.  

Sienna mantinha o queixo sobre a mão, o cotovelo apoiado sobre a mesa e o olhar completamente fixo no príncipe. Ela não percebeu o quão indiscreto era o seu comportamento. Ela apenas não conseguia acreditar como tudo parecia continuar o mesmo. 

Demorou um momento até ela percebeu que ele caminhava em sua direção. Sorriu e brincou que seu olhar era "pouco sutil". Ela corou, sem saber o que dizer, mesmo havendo muitas coisas que quisesse dizer.  

Caleb lhe estendeu a mão, chamando-a para dançar.  

Então ele a tomou nos braços e a sensação de familiaridade a invadiu, definitivamente como se tudo fosse como antes. Como se anos se passaram sem que eles se vissem e, naquele momento, todo esse tempo longe um do outro fosse dissipado imediatamente, como mágica.  

E parecia mágico. 

Ele a girou com a maestria de um bom dançarino, fazendo o vestido de Sienna rodar ao redor do corpo.  

A lady não precisava desviar o olhar de Caleb para saber que todos estavam os observando. Sempre fora assim: Juntos eles eram o casal perfeito. O sonho daqueles que não sabiam o quanto desejavam viver um conto de fadas até vê-los juntos.  

Caleb cresceu sabendo que nunca seria rei de Gales, sabendo que nunca poderia ser o seu irmão. E o surpreendente e cavalheiresco de sua história era que ele, em momento algum teve a ambição de conquistar o trono que não lhe pertencia, de ser alguém que não era. Era elegante o bastante para aceitar o lugar em que estava na hierarquia... e não fazer o papel de "irmão desprivilegiado". Pois, Caleb Maddox era qualquer coisa menos desprivilegiado.  

Em contraste, ele sempre fora uma pessoa vaidosa. Esforçar-se para atrair atenção e ser admirado eram parte de sua rotina, porém, não era um esforço exaustivo. Era algo completamente natural. Caleb era quem era, não havia nenhum pingo de falsidade ou exagero nele. Vaidade era parte de quem ele era, e atrair um público, era consequência disso. 

E Sienna achava essa sinceridade muito atraente. Em sua cabeça, ele era o corajoso príncipe sem direito ao trono, mas incomparavelmente amado pelo seu povo e pessoas ao redor. Com certeza, não era um coitado do Destino. 

Era o símbolo da perfeição de todos os membros da realeza... e a lady não fugia à regra.  

Sienna Hibernia sempre buscou a perfeição sua vida inteira. Num esforço, contrário ao de Caleb, bem exaustivo. Havia as pressões de sua mãe, dos estudos, do povo e inclusive dela mesma. Desejava alcançar respeito, admiração, idolatria... perfeição.   

O noivado foi arranjado devido a conveniências políticas, já fazia quatro anos, promovido em prol da aliança entre os dois reinos – Gales e Nova Irlanda. Porém, não foi a contragosto que ele foi aceito pelos noivos. Eles logo se entenderem.  

Embora fosse algo mais estético que sentimental, ambos viram vantagens e novas oportunidades com a união: A imagem deles era ainda mais forte quando juntos. Um verdadeiro sonho que se realizava. 

E logo não havia mais barreiras e limites a serem superados, Sienna Hibernia e Caleb Maddox eram o auge de todas as utopias.  

Porém ali, naquele momento em meio a pista de dança, com o braço dele na base de sua coluna e a mão dele enroscada na dela enquanto todos os observavam suspirando, Sienna percebeu que mal estava respirando.  

Por mais que ela quisesse fingir que distância, tanto física quanto emocional, desapareceria como mágica... e embora isso fosse relativamente fácil quando se deixava ser conduzida por Caleb... Sienna insistia em lembrar do último contato que tiveram. 

Um pedaço de papel com um seco e impessoal término.  

Ela se perguntava se algum daqueles pares de olhos que os fitavam sabiam da verdade. Que por baixo da perfeita imagem havia distância, superficialidade e mentiras.  

O príncipe continuava agindo como se nada tivesse acontecido, como se tudo de fato estivesse impecavelmente perfeito. Como sempre fora. Mas Sienna não conseguia separar a bela imagem do príncipe - seu príncipe - dos sentimentos que se seguiram ao ler aquela carta. Humilhação, abandono, nervosismo. Fora ele que a machucara. Machucara demais.  

Ela definitivamente não conseguia falsear a perfeição enquanto o mundo por de baixo dos panos agitava-se e enrolava-se num denso caos de imperfeição. 

—Caleb. - Ela o interrompeu perto do fim da música. Disse num fio de voz. Ergueu o rosto para olhar fundo em seus olhos azuis. - Podemos conversar? 

♕ ♕ ♕ 

Ela o puxou para um canto mais reservado, longe da pista de dança, atrás da fonte de água e vitórias-régias congeladas, próximo às paredes de arbusto cobertas de neve. Havia pouco aquecedores ali perto. Sienna imediatamente sentiu a diferença de temperatura.  

Sozinhos, todos os seus sentimentos quebraram as barreiras que mantinham, e Sienna se viu com muita raiva.  

—O que? O que está acontecendo, Caleb? O que você está fazendo? 

Seu rosto sorridente mudou de expressão, surpreso ao ver a mudança de comportamento dela. Não precisou que Sienna reformulasse as perguntas indiretas para que ele as entendesse. Ele suspirou, afastando-se dela para se esticar discretamente, como se estivesse se preparando para o desafio que viria a seguir. 

—Eu... Eu cometi um erro, está bem? - Confessou, caindo os braços ao lado do corpo. - Eu acho que deveríamos continuar nosso noivado, independe das mudanças no que foi proposto.  

—No que foi proposto? - Ela repetiu sem pensar. O entendimento do termo veio um segundo depois e seu rosto se abriu em compreensão, seguida de mais raiva. - Oh, a minha renúncia. Bom saber quais são suas prioridades.  

Ele a observou com as sobrancelhas franzidas. Era como se Sienna estivesse falando outra língua... ou simplesmente não fosse mais a mesma.  

—"Prioridades"? - Foi a vez dele de responder, ainda em dúvida. Ele esclareceu: - O noivado foi uma intenção de unir o segundo príncipe do Reino de Gales com a futura rainha de Nova Irlanda. Você renunciou a coroa. O acordo teoricamente acabou.  

Sienna o olhou sem dizer nada. Ódio faiscava de seus olhos. Mas ela queria ver aonde as interpretações de Caleb os levariam. Ele permaneceu com o olhar de quem tenta compreender a situação. 

—Sienna, prioridades? A prioridade era estabelescer os sucessores do trono de Nova Irlanda. Tendo isso rompido, o que... - Ele olhou para os lados, tentando entender. - o que resta? Amor? - Caleb voltou a olhá-la e por mais sutil que tenha sido, ele notou uma mudança em sua postura diante daquela última palavra. Ele deixou seus ombros caírem e ele a olhou incrédulo. - Qual é, Sienna, tudo isso não foi por causa de amor.  

Ela já sabia de tudo isso: De que não havia amor, apenas políticas e estética.  

Mas... Por que aquilo a estava machucando tanto agora?  

—Você não... - Caleb a olhou novamente, tentando ler suas expressões. - Você não está apaixonada por mim, está? 

A sugestão a fez romper o silêncio. 

Argh! Por favor, Caleb! - Ela reclamou, revirando os olhos. Seu tom de voz foi alto e enfático o suficiente para atrair atenção de algumas pessoas mais próximas dos dois. Sienna voltou-se para ele, cruzando os braços de novo. Reafirmou, em tom mais baixo: - É claro que eu não estou apaixonada por você. 

Ele se inclinou em sua direção, sussurrando: 

—Então você tem que me explicar o que está acontecendo aqui, porque eu estou ficando sem ideias.  

—Meus sentimentos! - Ela respondeu de prontidão. - Não é amor, mas achei que tínhamos uma relação de, no mínimo, cumplicidade. — Ela revirou os olhos novamente diante da palavra que ela mesma dissera. Não havia sentimento algum naquilo. - Se é para terminar comigo, eu espero pelo menos um pouco mais de respeito. Aquela carta foi totalmente insensível. E agora você vem aqui e propõe que esqueçamos tudo isso?  

Caleb dessa vez compreendeu o olhar de Sienna. Ela estava inconformada.  

E lá no fundo ele se sentiu um pouco ameaçado. Ele não era o vilão daquela história e, por isso, se colocou na defensiva, seus sentimentos também começando a borbulhar.   

—E quanto aos meus sentimentos? 

—Oh, agora você está bancando a vítima. - Ela riu irônica. Lutou contra a vontade de aplaudi-lo. - Muito maduro, Caleb.  

—Certo, eu te enviei uma carta insensível, mas você renunciou sem antes conversar comigo sobre isso!  

Ela o olhou com a ainda mais incredulidade. Aquilo era sério? Eles realmente estavam tendo aquela conversa? 

—É o meu direito como herdeira. - Ela reclamou em resposta. 

—Não quando estamos noivos. Era a sua coroa e a minha coroa. Estamos nisso juntos, Sienna!  

—Sienna, precisa de ajuda?  

O príncipe e a lady olharam para o lado e viram Álan Seamair há poucos passos dali. Depois olharam para si mesmos. Os dois estavam tão perto, gritando aos sussurros um com o outro, que Sienna mal percebeu Caleb agarrando seu braço. Como havia chegado naquele ponto? 

Num movimento rápido ela se livrou do aperto de Caleb e deu um passo atrás.  

—Não. Está tudo bem. - Ela respondeu, séria.  

Caleb olhou para a própria mão, abrindo e fechando os dedos percebeu que fizera uma impensável força ao segurar Sienna. Não se orgulhava daquilo.  

—Você pode ir. - Ele resmungou, sem olhar para Álan.  

O príncipe colocou a mão no bolso do terno, como se nada tivesse acontecido e Sienna bufou – Ah, ele fazia aquilo tão bem.  

Álan olhou da lady ao príncipe e não saiu do lugar.  

Caleb então notou a presença dele e o fitou. Não o conhecia.  

—O que você ainda está fazendo aqui? 

O mais velho dos irmãos Seamair fitou o nobre com intensidade e depois voltou-se novamente para Sienna. Ao vê-la massageando o braço, questionou: 

—Você está bem? 

Inconformado, Caleb se colocou entre os dois.  

—Ela já disse que está bem. - Ele reafirmou. - Agora sai daqui.  

—Ela pode responder por ela mesma. - Álan insistiu, teimoso. Seu tom de voz estava diferente. A suavidade e tranquilidade de antes fora substituída por uma entonação mais forte. E imprudentemente destemida.  

A mudança tomou a atenção de Sienna, que não dava grande atenção ao desenrolar da conversa entre os rapazes, acreditando que aquilo acabaria logo.  

Quando ela ergueu o rosto para observar a cena, a expressão no rosto de Álan lhe mostrou que era tarde demais. Caleb deu um passo à frente, intimidando o outro a continuar sua ousada intromissão na conversa. O movimento foi o bastante para o estopim.  

—NÃO! - Foi o que Sienna conseguiu gritar um segundo antes de acontecer. 

Com a mão em punho, Álan socou o rosto de Caleb Maddox.  


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Notas finais do capítulo

Heey espero que tenham gostado.
Parte dois logo está aí.

Comentem o que acharam, por favor, estou precisando da devolutiva de vocês.

Fui criando roupas para esse evento no polyvore (mila-dy.polyvore.com), mas não fiz de todas, pois isso acabou me atrasando com a escrita. Talvez eu crie as restantes.
E eu tive um pequeno problema de "criar visuais para o rigoroso inverno de Nova Irlanda". É difícil.

Eu não tenho recados para dar hoje. Como disse acima, é importante que vocês já vão analisando as selecionadas e escolhendo suas preferidas. Pensem em quais você gostaria de ver na elite (ao lado da sua própria, claro)... e lembrem-se que a Elite será formada, em minha história, por seis meninas. Portanto, são poucas. Não se apeguem a muitas. Hehe *-*

Obrigada mais uma vez pelo carinho de vocês!
Até logo!



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