Tão Perto, Tão Longe escrita por Miss B W


Capítulo 1
A distância entre o corpo e a alma


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura u.u



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Ele estava a puros cinco passos daqui, mas eu não tinha coragem de completar o caminho, de encará-lo novamente nos olhos e de me perder pela milionésima vez em suas palavras doces.

Não quero me enganar mais uma vez, não quero saber que por detrás de suas verdades há sórdidas mentiras. Que tudo que ele faz é me entupir de amor e logo me partir em desespero.

Porque eu não quero chorar novamente.

Ele é e sempre será o enganador, a mente perversa que brinca com suas presas, e eu, eu serei para sempre apenas isto, mais uma de suas caças. Não passamos de dois seres atormentados que brincam continuamente de gato e rato. Mas eu me cansei.

Sinto minha pele fria, congelando na dura maré, não quero nadar mais quilômetros até a costa. Não quero me perder até a saída mais próxima.

E ele olha para mim, chamando-me com seus olhos de constelação.

Mas há muito mais por trás desse simples jogo. E eu estou, definitivamente, desistindo.

Corri pelo convés, arrastando meu vestido de pregas cinza barroso, desfiz o penteado, e em menos de cinco minutos eu estava em águas profundas, mergulhando num oceano que eu sabia muito bem possuir saída.

E antes de desaparecer das vistas ainda tive uma última visão, cujos olhos apresentavam desespero, uma condenação que nunca imaginei ter contato.

Eu estou aliviada e, pela primeira vez em anos, sentindo-me viva.

Não sei como me acostumei em tão pouco tempo a viver em terra firme, a não ter mais a presença forte dele por perto, mas aconteceu, e apesar de não sentir mais sua respiração e seu coração latente, eu ainda possuía a sensação de tê-lo por perto, vivendo o fantasma que nunca morre e nunca me abandona. O tipo de homem que ele nunca foi e ainda me dói saber que nunca será.

Os anos passaram numa velocidade incoerente, alguns mais rapidamente, outros tão lentamente que me puxavam para baixo, para o fundo do poço.

Eu queria vê-lo outra vez, o aperto no peito não conseguia mais se saturar com trabalho em massa, com letras de músicas, com os choros da madrugada ou com os sonhos nitidamente sufocantes.

Não consigo esquecê-lo... E por um instante penso que talvez ele estivesse realmente certo ao dizer que o amor é uma droga que vai te sugando e sufocando até não restar nada mais que uma pura solidão e uma dor excruciante no coração e na consciência.

Foi quando ele surgiu.

Seu navio escorou no porto da cidade em que parei há cinco anos; toda a tripulação sorria em meio ao dia mais nublado e mórbido da semana, porém para eles tudo parecia tão perfeitamente feliz que ninguém se atrevia a contradizer toda a emoção em arco-íris.

Tentei ao máximo ignorar os arrepios que insistiam em percorrer a minha pele em completa antecipação, embora fosse inevitável. Eu não tenho e nunca terei uma maneira de ignorar ou não sentir o que sinto, não se tratando dele.

Foi num rompante, foi inesperado, foi mágico, foi tóxico.

Ele se virou e eu o vi com precisão. Os mesmos cabelos escuros, os mesmos orbes intensamente azuis enegrecidos. E ele olhava diretamente para mim, como se eu fosse seu pior – ou melhor – fantasma.

Por um segundo tudo que quis foi sair de toda aquela agitação que tomou meu âmago, deixá-lo pela segunda vez. O fiz.

E tudo estaria maravilhosamente bem se aquele par de braços não houvesse me impedido de continuar. Eles me apertaram em conjunto de seu forte peito, tomando todo o meu ar, aconchegando-me ali como em tantas noites fizera. Somente aí tive noção do tamanho da saudade que corrompia minha sanidade.

Por um mundo onde não houvesse medo, perda, fuga, ou terror, por uma eternidade onde só o amor bastasse, eu o atingi com tudo o que eu tinha preso.

Porque não importa o tempo que se passou, mas o que temos pela frente, e bem, ele é – e sempre será - o mar e eu espero ser sua mais violenta onda.


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Notas finais do capítulo

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