Mike olhava para Tyler de forma ameaçadora.

Eleven já tinha visto aquele olhar, e sabia que ele estava com raiva, como no dia em que eles viram os bombeiros tirarem o suposto corpo de Will de dentro da pedreira e ele achara que ela estava mentindo o tempo todo.

— Mike...- ela pegou no seu cotovelo. – Vamos embora.

— Eu só estava falando com ela. – Tyler respondeu na defensiva.

— Não, você estava chamando a minha namorada para sair, eu ouvi bem.- Mike estava enfurecido. – Qual é a sua?

— Ela não é sua propriedade, sabia? – Tyler desafiou.

— O quê?

Mike saltou da sua bicicleta e, discretamente, Eleven levantou a mão e o paralisou onde ele estava:

— Vamos. AGORA.

Ter uma namorada telecinética com os poderes de uma X-Men não era algo a ser ignorado, então Mike subiu na sua bicicleta novamente e ela o seguiu, subindo na garupa.

Fizeram o percurso até a casa dele em silêncio. Mike falou quando chegaram, agradecendo pelos seus amigos não estarem mais lá:

— El, o que aquele idiota estava querendo com você?

—Eu não sei bem. – ela franziu o cenho. – Sair comigo. Mas eu sei que não deveria, porque a forma como ele quer sair comigo é como nós dois fazemos. E você é meu namorado. Tem coisas que só namorados fazem.

Mike abriu e fechou a boca, um pouco estupefato pela explicação clara e eficiente dela; depois, falou:

— Você teria aceitado?

Eleven piscou rápido, aturdida:

— Como?

— Se eu não tivesse chegado a tempo...- ele continuou.

— Mike, eu não acredito. – El sussurrou. – Eu sou sua namorada. Isso não significa nada?

Ele sentiu o estômago afundar de angústia. Com apenas poucas palavras, Mike viu a vergonha apanhá-lo como um trem descarrilhado.

Eleven lhe virou as costas e foi saindo do porão:

— Espera, El, aonde você vai?

— Para casa.

— Vamos conversar!

— Eu já falei o que tinha de ser dito. – ela respondeu, tácita, e foi embora.

Mike ficou parado no meio do sótão, triste e lentamente tomando consciência do quanto havia magoado Eleven.

[...]

— El, posso entrar? – Will perguntou, batendo na porta do quarto da “irmã”. – Aconteceu algo entre você e o Mike?

Ela estava triste, com um nó entalado na garganta. Tentou ler um livro, mas ele estava ao lado dela, após a garota fracassar miseravelmente em se distrair.

— Acho que nós brigamos.

— Bem, pela cara dele, acho que brigaram mesmo. E qual foi o motivo?

El sentiu uma lágrima pingar na bochecha:

— Ele acha que eu poderia namorar o garoto que está trabalhando na biblioteca.

Will balançou a cabeça em entendimento:

— E você sente algo por este garoto?

—NÃO! CLARO QUE NÃO!- ela quase pulou da cama. – Eu nem consigo imaginar minha vida sem o Mike... eu não entendo como ele não consegue ver isso.- ela suspirou.

Joyce entrou no quarto, limpando as mãos em um avental:

— Will, será que você pode tirar a El um pouco deste estado em que ela se encontra desde ontem? – ela pediu.

— Acho que só quem pode fazer isso é o Mike, mãe.

— O que houve, afinal? – Joyce olhou pros dois.

— Mike está com ciúmes de El com o garoto que trabalha na biblioteca.

A garota levantou os olhos tristonhos para Joyce:

— Eu... eu não gosto dele...

— Então, Mike Wheeler foi atingido pelo monstro dos olhos verdes.

— Monstro?! – Eleven se exaltou.

— É só uma forma de falar, El...- Will deu um tapinha na sua mão.

— Isso quer dizer que ele está com ciúmes. – explicou Joyce.- Ciúmes é quando você está inseguro acerca dos sentimentos da pessoa que você ama, e acaba se tornando possessivo. Você só quer a pessoa para si, entende?

Eleven balançou a cabeça, começando a entender.

— Vocês precisam conversar, ficar chorando pelos cantos não vai melhorar em nada.

— Mas, Joyce, e se ele não acreditar em mim?

A mulher fez um carinho no cabelo da garota:

— Mike é um garoto leal, El. Ele passou um ano com uma barraca montada no porão esperando você voltar. Ele olha para você com devoção. Ele vai acreditar.

El contraiu os lábios, juntando as pernas e apoiando o queixo nos joelhos.

[...]

Mike decidiu desviar o caminho após a escola e ir para a biblioteca, na esperança de ver Eleven lá e conversar com ela. No entanto, acabou encontrando Tyler, que estava chegando para trabalhar.

— Oi. – Tyler disse, um pouco hesitante.

— Olá. – Mike respondeu, apertando o maxilar.

Passaram alguns segundos se encarando, até que Tyler decidiu tomar as rédeas da conversa:

— Olha, sobre ontem... eu realmente não deveria ter chamado a sua namorada para sair. Acho que ela já tinha mencionado estar num namoro e eu ignorei, na esperança de que não fosse verdade.

— Ela é muito especial. – Mike disse. – Ela é incrível de uma maneira que você nem consegue imaginar.

— Bem, eu imagino. Você pareceu bem bravo. Você parece amá-la de verdade. Desculpa, eu não vou importunar a Elle.

Mike baixou os olhos e depois ofereceu a mão a Tyler:

— Espero que a gente não precise mais brigar depois desta conversa. Desculpas aceitas.

Tyler e Mike apertaram-se as mãos e o garoto Wheeler saiu em sua bicicleta rumo à casa dos Byers.

— Pensei que você não viria falar com ela. – Will comentou assim que viu o amigo na porta.

— Boa tarde para você também, Will.- Mike retrucou, azedo.

— Eu acabei de te ver na escola. Por que te daria boa tarde? – Will riu, e Mike desfez a carranca, dando um sorriso triste. – Ela tá muito brava comigo ainda?

— Ela não tá bem. E acho melhor você resolver isso antes que o xerife Hooper descubra que você andou partindo o coraçãozinho da protegida dele.

Mike sentiu uma fisgada de medo no peito e Will riu:

— Ela tá no quarto, vai lá.

Mike bateu na porta e Eleven estava lá, na cama, com o olhar perdido.

— Posso entrar?

— Pode. – ela respondeu com a voz baixa.

Mike adentrou o quarto e sentou na beira da cama de Eleven; ela parecia que tinha chorado, e aquilo partiu o seu coração:

— Eu... eu acabei de ir à biblioteca, pensei que você estaria lá.

— Não, achei melhor ler em casa. – ela desviou o olhar.

— Eu e o Tyler conversamos. Apertamos a mão como dois homens de bem. Eu não vou ficar atrás de vocês e achar que você está me traindo, El. Me desculpa.

A garota encarou o rosto de Mike: as sardas, os olhos escuros, a pele levemente pálida... ela levantou a mão e tocou em seu rosto:

— Por que você não acreditou em mim?

Mike fechou os olhos ao sentir o toque dela, por um instante:

— Porque eu fiquei cego de ciúmes. Porque eu fui um babaca.

— Nós prometemos, Mike. – ela sussurrou.

— Desculpa, El. – ele pediu de novo, chegando mais perto dela. Impossível estar ali, ao seu lado, sentindo a mão dela em seu rosto e não querer mais.

Eleven acabou com a distância entre os dois encostando suas testas:

— Por favor, confie em mim. Eu não vou a lugar nenhum e nem quero outra pessoa.

— Sim, El. Eu fui um idiota em duvidar disso.

Mike beijou a bochecha dela e levemente suas bocas se encostaram. Eleven inclinou um pouco a cabeça, fazendo com que Mike segurasse delicadamente seu pescoço. Aquela sensação inebriante e sempre nova de suas bocas juntas, as línguas se encontrando e as estrelas estourando em todas as direções era quase demais para ambos, mas eles só se separaram quando o ar faltou nos pulmões.

— Eu amo você. – ele disse, olhando fundo nos olhos castanhos dela.

Eleven sentiu o peito encher-se de uma maravilhosa felicidade:

— Eu também amo você.

— Agora que a gente fez as pazes... poderíamos aproveitar para nos beijar mais, antes que o Will venha bater na porta do quarto ver o que aconteceu. – Mike riu e ela riu junto, já colocando os braços em volta do pescoço do garoto, suas bocas indo mais rápidas em direção ao próximo beijo.