Nymphadora, escrita por Eponine


Capítulo 1
um de novembro de mil novecentos e noventa e seis




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Nymphadora,

Você nem era nascida quando eu me apaixonei pela primeira vez, e tardou a chegar.

Quando eu me apaixonei pela primeiríssima vez, assim como qualquer viajante inexperiente, eu não tinha nenhum preparo, mas um pacote inteiro de incertezas. Todos os erros possíveis a serem cometidos, foram cometidos, acredite, foram. E veja, diferente de meus melhores amigos, eu era alguém que aprendia com erros. Na segunda vez em que me apaixonei, eu já não era inexperiente. Eu reconheci aqueles tão terríveis sintomas, como, a dor no coração imaginário, o redemoinho devastador no nó do estomago, o suor da ansiedade banhando minha testa, a secura que cobria meus lábios enquanto meu cérebro se perguntava o que fazer, o que dizer, como agir...

Na terceira vez, eu já sabia me cuidar sozinho, sem precisar anunciar para o mundo (de forma inconsciente ou não) de que eu estava apaixonado e eu não podia fugir do ocorrido. Era mais fácil desviar o olhar na hora certa, fingir indiferença, fazer a melhor a atuação possível enquanto seu peito ameaça romper a qualquer segundo e berrar:

Estou apaixonado!

Não acredito que as pessoas amadureçam. Elas envelhecem e são obrigadas a deixar velhos hábitos, forçadas a adotar responsabilidades. A experiência é um presente amaldiçoado: Nada mais te dará os sintomas de uma primeira vez, tudo será repetições disformes daquela memória. E você irá rir de si mesmo, lembrando de como se desesperou por nada. Jurei que não sentiria de novo todos esses sintomas, jurei que seriam apenas cópias mal feitas do que um dia eu senti por aquela garota que sequer me lembro o nome, com charmosos dentes tortos e unhas que nunca cresciam, esgueirando-se de corredor para corredor em seu uniforme da Corvinal.

Nymphadora, como você demorou... Como você demorou!

Veja, eu não gosto de me apaixonar, porque me apaixonar me deixa triste e eu tenho sentimentos que você não entenderá. Com o passar dos anos eu me tornei cada vez mais associal, cada vez mais... Misantropo. Eu me apaixonei pela minha solidão, eu me apeguei a ela de uma forma que eu afastava qualquer um que se aproximasse demais, sem perceber, sem notar. Sou um completo maluco, porque, eu amava as pessoas, mas não queria ninguém perto de mim. Eu aprecio minha própria companhia, e a solidão e eu mantemos um relacionamento saudável, onde nenhum dos dois exige demais. Como diria Thomas Mann, solidão dá à luz ao original em nós, a beleza, estranha e perigosa.

Acho que estou me alongando para explicar algo muito simples, eu não tenho o talento de Vladmir Nabokov, eu nunca conseguiria colocar em palavras uma descrição tua, e acho que nem mesmo ele conseguiria. Você teve a afronta de reinventar um velho e batido sentimento, que quando aparecia, trazia mais dor de cabeça do que novas sensações. Tenho trinta e seis anos, mas posso jurar que estou com dezesseis. Se meu coração pudesse raciocinar como meu cérebro, ele pararia, daria um fim nessa loucura em que me meti. Como alguém explica o amor? Eu só consigo pensar em um nome:

Nymphadora.

Nympha, libélula incompleta.

Dora, se amor tivesse um som, seria esse.

Você sente que é infantil e desinteressante, não percebe que sua mudança repentina de assunto, sua percepção distorcida e radical do mundo, irradiando verdades absolutas, com toda a sua experiência de vinte e poucos, é a coisa mais atrativa em você. A sua combinação inteligível de roupas, as quais, só fazem sentido absoluto em você, apenas em você. Ansiosa, pensando que não está vivendo até o limite... Eu amo você, eu amo você, eu amo você, eu amo você, eu amo você...

Quero fazer amor com a sua existência, quero me perder em você até você me achar e me libertar dessa terrível prisão, desse mundo que só fala sobre você. O tempo inteiro, é tudo sobre você.

Eu a amo de uma forma que eu tenho a consciência de que não sou o melhor para você, na verdade, você merece um homem que Deus, Merlin, seja lá quem nos observa, ainda sequer pensou em criar, apenas espalhou pedaços dele por aí. Entretanto, eu estou em um nível de loucura em que simplesmente não posso recuar, não há para onde correr. Você me afundou em uma bolha, como aquelas histórias de paixões ardentes em que você chega a sentir pena do personagem.

Que enrascada, você pensa... Que enrascada.

E como um viajante velho, eu volto as minhas origens, trocando as mãos pelos pés e sentindo todos os costumeiros sintomas como se fossem pela primeira vez, como se todas as outras versões tivessem sido fases que eu tivesse que passar, para que quando fosse a sua vez... Meu coração estivesse pronto, depois de uma longa trilha para o lugar certo.

Nos vemos em outro dia, Nymphadora.

 

Remus

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu tenho um amor não declarado pela Nymphadora, eu disfarço bastante. Eu não consigo ver ela como uma palhaça sem o menor sentido, ela tem um ar muito maturo, não sei se eu estou viajando, mas sei lá... Ela parece uma personagem muito matura e única.

Também tenho outras homenagens a ela, como:

Tonks (que é na visão do Bill!):
https://fanfiction.com.br/historia/652077/Tonks/

Como não esquecer essa garota (que também é na visão do Bill)
https://fanfiction.com.br/historia/652587/Como_Nao_Esquecer_Essa_Garota/

Mas nenhuma dessas é Bill/Dora, eu nem tenho coragem de fazer isso, eu deixo tudo nas entrelinhas, as usual hahahahahaha

É isso, espero que tenham gostado.

Leiam os livros do Thomas Mann.