— Papai. – Nico estava deitado de lado na cama e acordou com mãozinhas que sacudiam seu braço. – Papai!

— Bom dia, Mae – ele disse, sonolento, sem abrir os olhos.

— Bom dia. - Nico sentiu que ela apoiava nele os braços e o rosto sobre os braços. - Você já vai acordar?

— Hmmm... Só mais cinco minutos, tá bom, querida?

Ela passou alguns segundos brincando com o cabelo dele em silêncio, até que:

— Papai?

— Hm?

— Você ia preferir ser uma nuvem ou um hipopótamo?

— Acho que... Uma nuvem em forma de hipopótamo.

Nico a ouviu rir. Ela sempre achava graça das respostas dele.

— Não sei... – Ela falou. - Deve ser legal ser um hipopótamo... Ele passa o dia todo na piscina do zoológico... Os pinguins também. Acho que eu ia querer ser um pingüim, porque eles vivem perto dos ursos polares e das focas... – Pausa. - Papai?

— O quê? – Nico perguntou com um bocejo virando de costas na cama e esfregando os olhos. Maeve se deitou perto dele.

— Você fica muito triste quando o papai Will tem que ficar de noite no trabalho e você precisa dormir sozinho? O pai da Lily é contador. Ele trabalha em casa. Por que você não diz pro papai Will virar contador também?

Nico voltou-se para ela, que o encarou de volta com seus adoráveis olhos de um tom exótico de azul e o pijama de estampa de panda.

— Sabe, Mae... – Ele começou a dizer, tirando uma mecha de cabelo castanho dos olhos dela. - O papai Will nasceu com essa vocação de ajudar pessoas que estão doentes e queria ser médico desde sempre. Não foi fácil para ele conseguir isso. É um trabalho duro, com pouco tempo livre, mas é o que ele ama fazer. Ele faz tudo que pode para também ser um bom pai...

— Ele é um papai maravilhoso! Por isso ia ser divertido ter ele em casa com a gente o tempo todo...

Nico sorriu.

— Tenho certeza que ele também gostaria de poder passar mais tempo aqui, mas não seria justo querermos ele só para nós. Pense em todas as crianças que precisam da ajuda do papai.

Maeve pensou.

— O papai disse que são crianças muito dodóis... Elas ficam na cama o tempo todo e não podem nem sair para brincar...

— Sim. Elas precisam de muita atenção e os cuidados certos para ficarem bem e voltar logo pra casa.

Vendo que a filha tinha ficado meio triste pensando naquilo, Nico acrescentou:

— Eu sinto saudade do papai quando ele precisa passar muito tempo no hospital, mas sabendo de tudo isso, eu não posso deixar de apoiá-lo. E também... Eu tenho por perto uma criaturinha muito, muito, muito especial que não me deixa ficar triste nunca.

Ele levou as mãos até a barriga dela e começou a fazer cócegas enquanto falava “muito” várias vezes, fazendo-a cair na gargalhada. Depois disso, puxou-a para perto e beijou o lado de sua testa.

Eles ficaram ali, num silêncio confortável, até que Maeve voltou a falar:

— Papai... A minha barriga tá com fome de brownie – Ela falou, esfregando a barriga.

— Fome de brownie, é? – Nico a observava, apoiando-se sobre um cotovelo.

— É sim. Brownie bem quentinho com um pouco de sorvete...

— Maeve, brownie com sorvete no café da manhã? – Ele perguntou, sério.

— Só um pouquinho de sorvete!  Só essa vezinha! Por favor! Por favor! – Ela suplicou.

Por fim, Nico suspirou, dizendo:

— Só porque é domingo. E só um pouquinho de sorvete.

Maeve comemorou e se ergueu, ficando de joelhos na cama para apressá-lo.

— Tudo bem, tudo bem!... Pode ser agora mesmo, papai?

Nico levantou, e ela já estava na porta. Ele a seguiu para fora do quarto pensando no que poderia dizer para Will se ele descobrisse o cardápio do café de Maeve aquela manhã... “Droga, ele vai descobrir. Brownie e sorvete têm algum valor nutritivo adequado para uma criança de quatro anos?”.