Nico olhou mais uma vez para seu relógio de cabeceira que agora marcava exatamente 19:30. Ele imaginou que do outro lado do Atlântico, as aulas da manhã de Will já deviam ter acabado e ele podia estar disponível para conversar. Droga, Nico ficaria contente só de olhar para ele e dizer “oi”.

Assim que viu que Will aparecia online, clicou para chamá-lo. Ele não respondeu de imediato como costumava acontecer. Com a testa franzida, Nico insistiu, até que finalmente uma janela surgiu em seu notebook com um rosto de cabeleira loira esfregando os olhos. Nico demorou uns dois segundos para se dar conta de que não era Will. Observou meio paralisado a imagem do loiro que não era Will sacudir no visor à medida que este depositava o notebook à sua frente na cama em que estivera dormindo.

Nico corou ao perceber duas coisas: que se tratava da cama de Will e que o loiro que não era Will estava sem camisa, exibindo um torso muito bem definido, principalmente enquanto tentava arrumar o cabelo ao mesmo tempo em que falava com Nico.

— Você me acordou – o loiro que não era Will acusou. – Isso não faz bem para a pele. - Ele estava olhando para a frente, para a tela do notebook, mas não para Nico e sim para o próprio reflexo, Nico percebeu. – Imagino que queria falar com Will. Ele está tomando banho.

— Q-Quem é você? Eu... Will... – Nico conseguiu falar enquanto sentia um bolo quente se formando em seu estômago vendo aquele homem ridiculamente bonito seminu na cama de Will.

— Eu sou o sol da vida dele – o homem disse, finalmente olhando para Nico e abrindo um sorriso de propaganda de creme dental. – Você deve ser o... Rico?

— Ni-co – Nico retrucou entre dentes, prestes a xingar o homem de tudo em que pudesse pensar e depois fechar o computador com um baque quando ouviu:

— Pai! O que você tá fazendo?

Era a voz de Will. Nico parou, achando que não tinha ouvido direito. O loiro que Will tinha chamado de pai levantou os olhos e disse:

— O barulho desse negócio me acordou. É aquele namorado que você arranjou na Espanha.

— Pai, eu estava na Itália. Nico é italiano.

Pouco depois, a janela de vídeo passou a mostrar o rosto de Will, com o cabelo molhado arrepiado e uma toalha no pescoço.

— Ai, meu Deus. Me desculpe por isso – Will começou a falar muito rápido enquanto andava com o notebook até parar no que devia ser a cozinha. - Eu cheguei e liguei o notebook, mas está muito quente, então resolvi tomar um banho, aí você... Minha nossa! Viu só? Eu não estava brincando quando disse que nada podia prepará-lo para conhecer meu pai. Espero que ele não tenha dito nada muito...

— Uou, uou, espere! – Nico fez um sinal de tempo. - Aquele cara é seu pai? – Nico cruzou os braços, não querendo se deixar convencer, mas mesmo assim se dando conta de que os olhos do homem eram do mesmo azul dos de Will e era definitivamente mais velho, embora suas atitudes não deixassem isso ser percebido logo de cara.

— Ele apareceu aqui essa manhã dizendo que quer ficar por um tempo – Will esfregou a têmpora.

— Por que seu pai quer ficar dividindo um apartamento com caras de universidade?

— É uma história um pouco complicada...

— Eu tenho bastante tempo.

Will suspirou.

— Você lembra que eu disse que a família do meu pai é meio grega?

Nico assentiu.

— Eles são exagerados e estão sempre se metendo uns nas vidas dos outros... Meu avô tem uma empresa que funciona mais ou menos como uma máfia... A família mora numa casa enorme e chique onde todo mundo faz o que meu avô manda, senão... Bem, no caso do meu pai, ele foi expulso do paraíso e parece que meu avô está ameaçando deserdá-lo. Ainda não entendi direito por que eles brigaram dessa vez... Não é a primeira vez, sabe. Só espero que meu avô volte atrás logo.

Nico olhou de volta para ele agora definitivamente envergonhado por quase ter tido uma crise de ciúmes por causa do pai de Will.

— Sabe o que mais? Ele disse que precisava dormir. Eu disse que o melhor que podia fazer era arranjar um colchonete e pôr no meu quarto. Ele disse que sentia muito que eu precisasse dormir no chão, mas ele tinha certeza de que seria por pouco tempo.

Will fez uma cara tão indignada que Nico não aguentou e riu.

— Ai, me desculpe, é que... Isso é muito... E eu achava que a minha família era louca... Eu não acredito que conheci seu pai e ele estava sem camisa...

Nico fez uma careta.

— Quando eu conheci seu pai, eu estava sem camisa. Acho que minha experiência foi mais perturbadora. Não que isso seja uma competição.

— Você não me fez lembrar disso! – Nico apoiou a testa na mão, sacudindo a cabeça, voltando a rir e a corar. - Eu já estava quase não lembrando mais disso toda vez que vejo meu pai!