Tinha amanhecido há pouco tempo. Dois semideuses estavam estirados lado a lado no píer do lago de canoagem sob o suave sol de outono.

— Eu me sinto tão idiota fazendo isso – resmungou Nico, uma figura interessante com sua pele pálida, roupas escuras e óculos de sol. Ele tinha tentado escapar da ordem médica de tomar banho de sol, alegando que seus olhos estavam muito sensíveis depois do tempo no mundos dos mortos. A única resposta de Will tinha sido oferecer-lhe os óculos.

— Shhh! Eu já disse que não quero ouvir reclamações! Da próxima vez pense nisso antes de fugir para outra missão suicida no Mundo Inferior.

Will ainda estava aborrecido e magoado. Nico partira no meio da noite para atender a um chamado do pai. Como ele poderia ter imaginado que o “probleminha” com que Hades queria ajuda tomaria três dias e tanto de sua força?

— Eu já expliquei e até pedi desculpas – defendeu-se Nico, exasperado. – Por que ainda preciso ficar de castigo no sol?

— De castigo!? Foi você quem disse que a luz do sol o fazia sentir melhor depois de exagerar com suas coisas do Mundo Inferior.

Nico grunhiu. Era verdade, mas de jeito nenhum um filho de Hades aceitaria aquela situação calado.

— Mas por que eu precisaria disso quando tenho você sendo, tipo, meu sol particular? – Nico perguntou, virando para encarar Will com um sorriso de provocação.

As bochechas do loiro coraram, mas ele logo se recuperou.

— Você acha isso engraçado, não é Garoto da Morte? – disse ele. – Mas não foi engraçado ficar me perguntando se você estava bem, ou mesmo se ainda voltaria, por três dias!

A dor na voz dele de repente desarmou Nico completamente. Ele não conseguiu pensar em algo esperto com que retrucar. Quando falou de novo foi num tom muito sincero:

— Eu não queria preocupá-lo! – disse Nico tirando os óculos, depois estendendo a mão até o braço de Will. - Não pretendia ficar fora tanto tempo...

Will tentou manter a expressão dura, mas os cantos da boca acabaram formando um sorriso. Ele pôs uma mão na bochecha de Nico.

— Só não faça de novo, por favor, está bem?  Eu sei que esse tem sido seu jeito por muito tempo... Você se acostumou a não ter que se explicar para ninguém, mas... É diferente agora, não é?

Havia certa insegurança no tom de Will, que Nico se apressou a afastar.

— Agora é bem diferente – Nico sorriu de volta, aquele sorriso que sempre acabava aparecendo quando Will estava por perto.

Os dois garotos se inclinaram um para o outro. A mão de Will ainda na bochecha de Nico enquanto a mão de Nico foi até a cintura de Will. Mas antes de seus lábios se tocarem, uma voz os sobressaltou:

— Ei, caras, vão para um quarto! – Era Sherman Yang, que inconvenientemente tinha acordado mais cedo que de costume para se exercitar.

— Vá cuidar da sua vida! – Nico retrucou, irritado, sentindo o rosto esquentar furiosamente. O outro garoto só se afastou, rindo.

— Desgraçado idiota... – Nico voltou a deitar de costas e cruzou os braços sem parar de resmungar xingamentos.

Will riu e beijou sua bochecha.

— Quanto tempo mais temos que ficar aqui? – Nico perguntou, emburrado.

— Só mais quinze minutos – prometeu Will.

Nico soltou o ar pesadamente, colocando os óculos de volta.

— Ei, você não acha que aquela nuvem parece uma tartaruga? – Will perguntou, tentando animá-lo.

Nico observou a tal nuvem por uns segundos.

— Para mim, parece mais um crânio com espadas atravessadas.