O Príncipe escrita por TheSecretWriter


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Olá! ^_^ Esta é a primeira parte da coletânea de one-shots "When a Kid Goes Missing", espero que goste!



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— Carric, príncipe elfo paladino do reino de Arbok, esta é sua última chance de resgatar a princesa antes que ela caia nas garras do terrível dragão do pântano, Sinistrus Morbidus — anunciou Dustin, mestre daquela partida de Dungeons & Dragons — Está preparado?

— Após semanas e semanas de incansáveis buscas, perigosas aventuras e florestas exploradas, finalmente temos a chance de vencer esta missão — Will continuou, falando como seu personagem.

— Ou colocar tudo a perder e ser mortos pela criatura — encerrou Lucas — Tudo depende do que sair nesses seus dados, Carric.

— Você consegue, Mike. Sei que vai levar todos nós de volta ao reino, sãos e salvos — Will sorriu e me deu um tapinha no ombro.

Peguei os dados e encarei o tabuleiro um instante, todos os olhares estavam sobre mim, ansiosos. Ali, naquele momento, eu não era mais eu: era o príncipe de Arbok e o porão de casa era meu reino. Pelo último mês, vínhamos jogando RPG compulsivamente, ainda mais frequentemente do que já costumávamos jogar antes. Em meu reino de fantasia, eu podia escapar da realidade — ou melhor, podia escolher aquela na qual queria viver. E eu havia escolhido a que, não importasse quantas vezes perdêssemos, sempre nos daria a chance de recomeçar no dia seguinte e ninguém nunca realmente era abandonado ou deixado para trás, nem desaparecia em pleno ar. No jogo, eu podia vê-la.

Respirei fundo e rolei o dado. Era ele quem definiria meu futuro: o número certo e a princesa estaria a salvo. Com o número certo, eu seria um herói.

— Onze — Dustin disse, desanimado. O nome me chamou a atenção e me libertou de meus devaneios — Droga, Mike.

Meus amigos suspiravam desapontados e só quando olhei para a mesa entendi o porquê. Onze não era um nome, era um número. O número errado. Meio para baixo, Dustin nos contou o trágico final ao qual estávamos fadados:

— Carric tenta atacar o dragão, mas erra a pontaria, permitindo que a fera agarre a princesa com as patas e a esmague entre seus dedos em pleno voo. Os dois cavaleiros e o príncipe são obrigados a observar, impotentes, enquanto as vísceras e membros da princesa caem do céu numa chuva vermelha frente a eles.

Lucas me encarava com o semblante fechado, o que fez os outros dois caírem na risada. O riso contagiou o resto de nós e logo ninguém mais estava irritado ou frustrado por eu ter destruído o trabalho que construímos ao longo de semanas.

Já era tarde, então Dustin e Lucas foram para casa após guardarmos as peças do jogo. O irmão de Will já o estava esperando no andar de cima, provavelmente conversando com Nancy. Os Byers haviam decidido que Will não pedalaria à noite sozinho por um bom tempo após o que ocorrera no outono daquele ano.

Quando a porta de entrada bateu a última vez no andar de cima e foi trancada por minha mãe, a casa e o porão começaram a ficar mais e mais silenciosos, até que fui deixado sozinho, imerso em meus pensamentos. Me senti mal. Sentia falta de algo que sabia que não conseguiria de volta.

Olhei para o lado e vi a tenda que montara para Onze na noite em que a conheci. Sem que pudesse controlá-lo, meu corpo se arrastou para dentro daquela e minha cabeça se deitou sobre o travesseiro no qual um dia a da menina estivera. Inspirei profundamente, tentando captar o mínimo resquício de seu cheiro, mas, assim como ela, ele havia desaparecido.

Deitei-me de costas sobre o chão da cabana, encarando o lençol que lhe servia de teto. Comecei a pensar em nosso RPG, mais uma vez tentando fugir da realidade.

Eu era um príncipe. Era um príncipe e não conseguia salvar a princesa. Pelo contrário: na verdade, era ela quem me salvava, uma e outra vez. Salvou minha vida quando pulei do penhasco, enfrentou os valentões na escola, salvou do tédio minha existência quando quase a atropelei com minha bicicleta naquela inesquecível noite chuvosa.

O problema é que, quando ela precisou, eu não pude fazer o mesmo. Rolei os dados e perdi, não consegui vencer o dragão, assim como antes não conseguira acabar com o Demogorgon, quando ela me salvou de novo, talvez pela última vez. Com certeza eu daria tudo o que tenho ou já tive para trazê-la de volta.

Todos os dias, há um mês, é assim. Me esforço para ficar onde estou — seja em meu reino imaginário, seja na realidade à qual estou preso — mas minha mente, desobediente, viaja de volta àquela sala de aula uma e outra vez. Estou lá, ela está lá também.

Tento memorizá-la, faço-me perguntas, tento respondê-las com base no que vejo em minhas lembranças. De que cor eram suas meias? Como eram seus sapatos? Seus cadarços estavam amarrados ou desamarrados? Havia terra sob suas unhas? Sangue escorrendo de seu nariz? A cena se passa uma e outra vez em minha mente, como uma fita sendo rebobinada incansavelmente.

O que mais temo é me esquecer dela. E se daqui vinte anos me esquecer de seu rosto? E se daqui quarenta anos, esquecer seu nome? E se daqui dez minutos, me esquecer da voz dela? Do riso dela? Daqueles olhos? Não posso me deixar esquecer. Não posso perdê-la de novo.

A partir daquela noite, decidi parar de descer ao porão quando Lucas, Dustin e Will não estivessem em casa jogando Dungeons & Dragons comigo. Não é saudável me fazer sofrer daquele jeito. Subo direto ao quarto quando chego da rua, deito-me em minha cama e encaro o estrado de madeira da cama de cima. Memórias de anos atrás invadem minha mente quando fecho os olhos.

Quando eu era menor e ficava bravo, triste ou com medo, minha mãe cantava para mim uma canção que dizia que, se eu contasse até dez, aquele sentimento ruim iria embora e eu voltaria a ficar bem. Estou bravo. Assustado. Triste. Só que agora não sei mais o que fazer, pois toda vez que eu chego ao dez, só o que quero é Onze.


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Notas finais do capítulo

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Espero que tenham gostado!



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