Detesto quando escorro até você feito a chuva que acha caminho pelas linhas do solo e encontra descanso numa poça d’água. Parece que meu destino é você e não há força que me desvie de me encaixar ao seu lado.

Detesto como contrario minhas promessas de não lhe ver e me pego descendo a rua que promete um novo encontro. Quase corro para não perdê-lo de vista e feito uma boba contorno os obstáculos que me atrasam só para cair no mar do instante em que você me nota.

Detesto fluir o carinho inconsciente com o qual lhe toco porque sempre o espanta como se meus dedos fossem espinhos gelados. É mesmo tão ruim? Eu não encontro uma boa resposta para isso.

Queria reverter a cascata do tempo para o dia que eu decidi lhe observar e desistir daquela bobagem. Queria não me derramar em admiração por seu rosto e não permitir que as gotas do seu silêncio me molhassem de uma paz profunda. Perceber quando meu coração começou a flutuar sobre a fantasia de você me amar. Retomar a lucidez que me escorria a cada “oi” e “tchau” não dito.

Essas palavras tão pequenas que eu desejo todos os dias para ter a certeza de que tudo vai bem. Mas o que é o tudo afinal? Não existe no meio do nada que seus olhos mostram. Não cabe no vazio da expressão com a qual você me olha. Apenas me chove de tristeza.

Então, eu estanco os sentimentos que deságuam por sua causa outra vez. Inquietos, eles fervem em mim, insatisfeitos, arranham minhas proteções, enfurecidos, abrem furos em minha represa, gotejam para fora e se acumulam aos meus pés. Sem demora, a poça se converte num lago que me encobre e quando meu “eu” pesado afunda para as entranhas, você está lá de alguma forma. Um segundo de sorriso ou metade disso, mesmo que não seja para mim, ainda me leva ao início.