Síndrome de Stendhal escrita por Feluriana


Capítulo 1
Ars longa, vita brevis


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Não descrevi a obra propositalmente, pensem em suas pinturas favoritas ao ler isso.



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(...) mas quando se contempla um nascer do sol, o mar, a baía de Nápoles, sente-se uma grande tristeza e o que mais me incomoda é que não se sabe o porquê.

Dostoiévski 

Contemplar a beleza emoldurada era místico.

Entrei no museu como uma turista qualquer, despretensiosa. Era a primeira vez que eu visitava um local como aquele, todavia sempre nutri um amor selvagem pela arte em meu âmago. Não conhecia técnicas, me limitava a entender somente a parte sensorial. Narciso jogou-se em águas profundas pela intensa admiração que sentia por sua aparência e eu podia compreendê-lo, de alguma forma. Afogaria-me caso visse aquela obra de arte – pendurada na parede com louvor – na superfície de um rio ou mar.

Era surreal. A riqueza de detalhes permitia que um observador exímio contemplasse fragmentos da alma do pintor, você podia sentir o criador em casa pincelada. Quase consegui entrever uma testa vincada, um lábio comprimido e gotículas de suor acima do lábio superior. Como um ser humano tão falho poderia ser de tal maneira um criador cósmico? A apoteose humana, senhoras e senhores! Contemplem a alma imortal da arte. O artista de nada importa, o que sobrevive é seu trabalho. Ou talvez, sua essência seja eternizada, presa à tela, para ser admirada enquanto houver sensibilidade nesse mundo.

Você está habituado com a sensação de olhar fixamente para algo e sua visão periférica ir, gradativamente, desvanecendo? O mesmo acontece quando repetimos um nome inúmeras vezes e, subitamente, ele perde o sentido. O idioma tão corriqueiro para você assemelha-se a uma linguagem bárbara, completamente desprovida de significado. Dessa forma eu parei de tomar consciência das pessoas ao meu redor, como se elas nunca tivessem existido. As paredes ao redor da pintura também foram desaparecendo e, por fim, a moldura. Umas pontadas em meu peito mantinham-me cônscia da minha existência em um plano real, pelo dor eu sabia que precisava existir. Sem isso, eu teria acreditado não ser real porque, em minha mente, minha essência havia sido tomada pela pintura e em nada a arte e o que era material se diferenciavam. Tínhamos nos tornado um só: pintor, pintura, expectadora, paredes, molduras e desconhecidos ao redor.

Um calafrio perpassou minha espinha e senti minhas extremidades geladas. Era difícil respirar. Mas quem o faria perto de tanta beleza?

A pintura foi ficando distante, cada vez mais me negando sua exuberância. O baque surdo da minha cabeça contra o chão trouxe-me de volta ao momento.

A última coisa que me questionei antes de perder os sentidos foi como algo assim tão belo, tão perfeito até em suas falhas, poderia não ser nocivo? Claro que seria.

Às vezes, há tanta beleza no mundo que quase que não consigo suportar e meu coração parece que vai desmoronar...

Beleza Americana (1999)


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Notas finais do capítulo

Adoraria que você me dissesse o que achou, que tal?
Bjos de luz!!



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