Entre dois mundos escrita por Vicky18


Capítulo 63
Fase Gama


Notas iniciais do capítulo

Oie pessoal,tudo bem com vocês?Vortei com mais um capitulo quentinho do forno pra vocês:)Espero que gostem e tenham uma boa leitura.



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Como naquele sonho que tivera a muito tempo atrás, tudo era branco e sem vida.As paredes pareciam se estender ao infinito e ao mesmo tempo se encolher em um cubículo.

Cebola estava no meio daquilo, sentado em uma cadeira branca com seus pulsos e pés amarrados em cintas de couro preto que contrastavam com o resto do lugar. Como um pedaço do inferno no paraíso.

 Quando percebeu que aquele não seria um teste convencional como todos os outros,mal teve tempo de deter a ação dos incontáveis funcionários mascarados que vieram na sua direção como uma matilha faminta por uma presa.

O garoto havia tentado se soltar e gritar até que perdesse sua voz, sentia que aquele era o seu fim e que não havia mais nada que pudesse fazer para evitar o que estava prestes a vir.

Anne o observava no canto da sala com seus braços cruzados e um olhar analítico. Sem expressar empatia ou dar nenhuma dica sobre o que aconteceria a seguir.

"Não se preocupe, é apenas um teste"

 A voz do doutor Jeremy ecoou pela sala, mas não dava pra ver de onde o som vinha.

Mesmo com a afirmação,a cobaia sabia que não seria um simples teste,poderia sentir que o comportamento de Magali e suas últimas ações eram apenas sinais do que estaria por vir. E talvez aquela hora fosse o que estava por vir.

 O mais estranho daquele momento, é que depois do susto, Cebola só conseguia pensar em sua amiga. Se ele não voltasse de lá, o que aconteceria com ela? Afinal de contas, pra onde a levaram antes que o teste começasse?

 

De repente, as luzes se apagaram e o branco se tornou breu.

 

Um leve ruído em um canto da sala ecoou como um sino pelos tímpanos do garoto que ainda tentava se libertar das amarras.

Alguns poucos passos do que pareciam ser de muitos pés deram a volta onde estava o rapaz.O som da respiração pausada e quase imperceptível soprava no ouvidos da cobaia como se estivessem a um palmo de distância do seu corpo.

 Quando o som dos passos cessaram, as luzes se acenderam novamente.

 Magali parada na sua frente a poucos metros de distância, lhe observando com um olhar vazio e frio.

 Seu cabelo amarrado para trás junto ao seu uniforme branco com as costuras perfeitamente alinhadas ao seu corpo. Era assustador como ela parecia um clone de si mesma.

 Atrás dela mais um grupo de funcionários,todos com máscaras coloridas e sem contexto algum com aquele momento. Seus olhares igualmente sem vida também analisavam a criatura vulnerável amarrada como um animal naquela cadeira no meio do vazio da sala branca.

 Cebola queria fazer inúmeras perguntas para a amiga, mas sabia que talvez ela não estivesse consciente o suficiente para responde-las. Também não teve muito tempo para se expressar caso quisesse, já que sua amiga ergueu um pouco a jaqueta branca, retirando uma adaga branca de lá.

 E com a delicadeza de um bailarina dando seus primeiros passos de dança,os dedos da garota manuseavam a arma, posicionando-a com perfeição para utilizá-la.

 Com passos calmos, se dirigiu vagarosamente na direção do seu amigo.

 – Maga...O que está fazendo?- A pergunta retórica da Cobaia soava mais como uma súplica ou um pedido de socorro. Seus olhos tentavam se comunicar com os de Magali, numa tentativa desesperada de despertar sua consciência naquele estado em que se encontrava.

 Mas nem as súplicas foram capazes de evitar que a garota se aproximasse o suficiente para cumprir com a função que lhe fora dada.

 A tão esperada fase Gama estava apenas começando, e se Magali obedecesse aos comandos, seria a primeira cobaia na história a sobreviver ao experimento Alfa atingindo o resultado que tantos outros cientistas tentaram alcançar por anos. Olhares de expectativa brilhavam por de trás daquelas máscaras, uma torcida silenciosa que esperava ansiosamente para ver o resultado final de seu trabalho.

 Anne se atentava a cada mínimo movimento que Magali fazia, sentindo seus estomago queimar de tanta ansiedade. O Dr.Jeremy assistia ao “espetáculo” por trás de um vidro fosco, com o olhar tão vidrado no momento que mal conseguia piscar. Eles estavam muito perto de conseguir o que ninguém jamais conseguiu.

 

Mas ninguém esperava que um movimento súbito quebrasse todas as expectativas.

 

O som do impacto das gotas de sangue no piso branco ecoou pela sala,o silencio se tornou inquietante e todos os funcionários saíram de suas posições para evitar que o experimento fosse por água abaixo.

A adaga tinha dado meia volta e sua lâmina rasgou o estômago de Magali, que em um lapso rápido de consciência se recusou a esfaquear o próprio amigo, e indo contra as orientações que lhe foram dadas pelo chip implantado em sua cabeça, feriu a si mesma para evitar o pior.

 Tudo pareceu correr em câmera lenta quando Magali encarou o amigo em milésimos de segundos antes de cravar aquela adaga em seu corpo.

 – DETENHAM-NA! RÁPIDO!- A voz do Dr.Jeremy ecoou pela sala como um chiado agudo que adentrava nos tímpanos de cada um ali dentro.

 Incontáveis funcionários conseguiram segurá-la, mas o estrago já estava feito. Cebola só assistia aquela cena em estado de choque, os gritos estavam presos em sua garganta enquanto a aflição e o medo se espremiam em seu peito.

O uniforme branco estava se tornando vermelho vinho, os lábios rosados de Magali logo se empalideceram e seus olhos castanhos reviraram. Nenhum grunhido de dor saia de sua boca entreaberta enquanto os demais funcionários lhe carregavam as pressas para fora da sala.

 – Tirem-o daqui!- A voz de Anne soava como um eco distante nos tímpanos da cobaia, que agora era desamarrada da cadeira e retirada do local por alguns médicos que estavam ali por perto. Cebola não movia sequer um músculo tamanho fora o choque que teve ,mas isso não impediu que lhe carregassem à força de volta ao seu dormitório.

 

Horas depois…

 –Mandou me chamar?-Anne adentrou na sala de reuniões a passos curtos.

— Sente-se, por favor.- O homem do outro lado da mesa não lhe dirigiu o olhar e continuou vidrado na tela do computador a sua frente.- Sabe porque te chamei aqui,não sabe?

 – Eu posso imaginar sobre o que seja, senhor.

 – O que houve lá dentro não deveria ter acontecido, pelo menos não estava previsto segundo os relatórios que você tem me mandado nos últimos dias.

— Foi um erro, senhor.

— Erros não são permitidos na minha organização e muito menos em um experimento como este. Você não tem noção de quanto dinheiro e tempo investi para poder realizar esse experimento e agora tem a coragem de me dizer que tiveram a ousadia de cometer um erro?! Mesmo com toda a estrutura e equipamentos que disponibilizei pra vocês?!

 – Senhor, tenho certeza que vamos encontrar o responsável por isso.

 – Eu sei quem foi o responsável...e você também sabe.- Anne sentiu a tensão percorrer cada músculo do seu corpo quando os olhos do seu chefe lhe encaram. Ele sabia do que estava falando e isso a deixava ainda mais assustada com que estaria por vir.- Você pode ter enganado muita gente sobre quem não deu o adesivo para a cobaia, e não os julgo por ter acreditado em você, afinal de contas você é a supervisora do trabalho de todos os funcionários desta unidade e estando em um cargo de tamanha importância dificilmente alguém duvidaria da sua palavra. Mas difícil, não é impossível.

 O homem se levantou de sua poltrona e dera a volta na mesa até se aproximar de sua funcionária.

 – Quanto mais alto você está, maior é a queda. Agora me diga, Anne, em que degrau acha que está?

 – Eu não sei, senhor.

 – Tem certeza que não sabe? Porque age como se estivesse no topo da cadeia alimentar quando se trata de incriminar pessoas injustamente por erros que você permitiu que acontecessem. Age como se estivesse no topo da escada quando mente e altera informações de relatórios para benefício próprio...ou para o benefício de outra pessoa.

 – Eu estava apenas tentando fazer o meu melhor. O garoto tem potencial para participar da nossa equipe já que está em boas condições físicas e mentais desde as primeiras etapas do processo.

 – Mas isso não foi informado no relatório, foi?

 – Não, senhor.

 – E o Dr.Jeremy? Soube em algum momento deste garoto “prodígio”?

 Anne sabia que se dissesse a verdade para o seu chefe, seu cargo e sua reputação estariam por um fio dentro da organização. O Dr.Jeremy nunca teve conhecimento dos acordos que sua colega de trabalho fazia com a maioria das cobaias que já tinham passado por lá. Embora estivesse numa posição privilegiada dentro da organização ,se sentia rebaixada pelos demais colegas que ocupavam cargos superiores e por isso encontrou uma forma perfeita para se sentir no controle quando criou contratos falsos para manter cobaias e funcionários de baixo escalão em suas mãos, com promessas de benefícios ou até mesmo da própria liberdade, que no final das contas nunca eram cumpridas e só serviam saciar uma necessidade de uma mulher frustrada.

 – Ele sempre soube, o tempo todo. Mas não permitiu que eu comunicasse ao senhor,já que ele chantageou a cobaia e tentou manipulá-la sem seguir o regulamento da nossa organização.Eu o apoiei porque achei que isso seria bom para o andamento do experimento,até que hoje vimos este resultado desastroso.

 – Bom, não sei se posso confiar em você e muito menos no Dr.Jeremy. Mas tenho certeza de que a cobaia não mentiria pra mim a respeito disso.- O chefe voltou a se sentar em sua poltrona antes de terminar seu comunicado.-Antes de terminar, teria mais algo a me dizer?

 – Apenas que tudo o que eu fiz foi pelo bem da organização, senhor.E sempre estaria a sua disposição para auxiliar no que for necessário.

 – Pode se retirar e retornar para a sua unidade.

 – Sim, senhor.- Anne mal conseguia sentir suas pernas quando ouviu as portas da sala se fecharem pelas suas costas.Ela sabia que Cebola não perderia a oportunidade de jogar tudo no ventilador se caso encontrasse com o seu chefe naquele dia e sabia a ameaça que aquilo poderia representar ao seu cargo.

 Por isso teria de tomar medidas drásticas para calar a cobaia o mais rápido possível.

 

Enquanto isso...A poucos quilômetros dali ==============

 – Cas...É você?- Mônica balbuciou ao ver o seu amigo adentrando no quarto no hospital.

 – Sou eu, Mô.- A garoto conseguiu sentir o toque quente da mão do seu amigo apertando a sua.- Como você tá?

 – Eu tô legal... Foi um ferimento grave, mas não foi rompido nenhum ligamento da minha perna... Então isso já conta. E você?Veio pro hospital também?

— Não. Fiquei na delegacia mesmo…- Cascão começou a se perguntar se realmente deveria falar sobre a conversa que teve com Franja, embora sua amiga tivesse o direito de saber, talvez ela não fosse capaz de entender a complexidade da situação e poderia ficar ansiosa com algo que não poderia mudar(Já que não tinha sido uma cobaia no experimento).

 – Eles tinham alguma informação sobre a Maga e o Cê?! 

 – Algumas, mas não o suficiente... Agora com as buscas pelo professor Licurgo, eles vão ter que investigar o laboratório do Franja e todos aqueles equipamentos.Inclusive,o delegado me pediu pra te perguntar se você sabia como funcionava para ligar aquelas máquinas ou como o professor fazia elas funcionarem.

 – Bom,o programa já estava aberto no computador era só acionar uma alavanca que tinha numa máquina ao lado.

 – E essa máquina fica aonde?

 – Encima da escrivaninha,junto aos computadores.Não é difícil achar.

 – Eu espero que não seja mesmo…

 – Porque ele quer saber como funciona?A polícia entende dessas coisas?

 – Eles querem identificar para ver se não conseguem localizar mais laboratórios clandestinos pela cidade,sabe como é né?Tem louco pra tudo.

  – Nem me fale...E eles não te falaram mais nada?

  – Infelizmente não, mas vai dar tudo certo.

 – Tomara,Cas,tomara.-Mônica dera um sorriso sonolento para o amigo,ainda um pouco dopada por conta da anestesia.

 Já Cascão sabia que ter mentido para a própria amiga não fora uma ação muito digna,mas naquele momento foi necessária.Mônica não estava em condições físicas ou psicológicas para voltar para o cativeiro do qual lutou tanto para escapar.

 Cascão teria de voltar ao mundo paralelo sozinho para terminar o seu trabalho e torcer para que o professor Licurgo não estivesse mais lá para lhe dar boas-vindas.






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