—Magali?-Cebola acordara esbaforido do pesadelo que tivera a alguns segundos atrás ,suas mãos suavam enquanto uma descarga elétrica parecia percorrer o seu corpo. Apesar de não dormir direito á muitas noite por conta de tantos pesadelos, Cebola ainda não conseguia se acostumar com aquilo , já que nem o sono lhe trazia a segurança e a calma que costumava lhe trazer antes.

  Agora com os olhos praticamente arregalados, suas pupilas levemente dilatadas e a visão um pouco desfocada,procurava sua amiga por todos os cantos, percorrendo a extensão daquele quarto de cores neutras que lhe transmitia uma sensação horrível de vulnerabilidade. A cama da qual Magali repousava a poucos minutos atrás agora estava com os lençóis todos revirados e jogados no chão, que pareciam formar uma trilha de tecidos até o banheiro.

Cebola sentiu um nó se formar em sua garganta ao direcionar sua visão ainda turva até a porta cinza entreaberta do toilette. Aquela estranha sensação poderia ser facilmente comparada com um mal presságio, mas o garoto preferiu acreditar numa versão um pouco mais otimista. Talvez sua amiga tivesse melhorado e agora estava agindo normalmente.

—Maga?-A cobaia voltou a chamá-la, desta vez com um tom  mais calmo e menos esbaforido do que antes. Seus pés pisavam com extremo cuidado no carpete cinza para se aproximar da porta da forma mais silenciosa possível. Por mais que em sua mente,Cebola,lutasse para manter seus pensamentos elevados, seus instintos mantinham seu corpo em estado de alerta.

—Sim?-Uma voz doce (e estranhamente calma para quem parecia estar em estado de choque a alguns minutos atrás) ecoou do banheiro, fazendo Cebola sentir um novo arrepio percorrer a sua espinha dorsal.

—Você já tá melhor?-Mesmo um pouco receoso, o garoto tornou a se aproximar cada vez mais da porta.

—Claro, eu não poderia ficar daquele jeito pra sempre, não é?-Um tom quase debochado saia da boca de Magali, fazendo Cebola suspeitar ainda mais que havia algo errado naquela melhora tão repentina.-E você? Porque acordou tão cedo? Deveria ter descansado mais um pouco depois de tudo o que você passou.

—Eu não consegui dormir direito...Fiquei preocupado com você depois que te vi naquele estado.-O garoto ficou cada vez mais perto da fresta da porta, tentando ver o verdadeiro estado de sua amiga.-Tem certeza que está bem?

—Você não confia em mim?-De um tom de deboche a voz doce de Magali soou mais séria do que o normal.

—Claro que confio, não foi a toa que eu te pedi pra entrar naquele laboratório do Franja comigo...-As mãos levemente trêmulas de Cebola abriam a porta vagarosamente sem que Magali pudesse perceber.-...Mas eu tenho medo que você se machuque.-Chegando a tempo de impedir um suicídio.

A garota tentava se mexer, mas Cebola a imobilizava enquanto tentava tirar uma navalha da qual Magali lutava para não soltar de suas mãos.

—Me solta!-A garota se debatia, tentando se desprender dos braços de Cebola.-VOCÊ NÃO ENTENDE!EU PRECISO DISSO!-Suas lágrimas escorriam enquanto sua voz doce rapidamente se tornava um “rugido”.

—VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO!-Cebola ainda tentava tirar aquela navalha das mãos de sua amiga, mas a garota se debatia tanto que era quase impossível tirar aquilo de suas mãos.

—QUEM É VOCÊ PRA ME DAR ORDENS?!EU FAÇO O QUE EU QUISER COM O MEU CORPO!

—Eu não vou deixar você fazer isso!-O garoto segurava as lágrimas, juntando forças para arrastar Magali para fora do banheiro.-Você é a minha amiga! Jamais vou permitir que você tire a própria vida!

—Amiga?!Pare de mentir! Nós dois sabemos que essa parceria é insignificante!-A garota cerrava os dentes ainda tentando se soltar.-Pare de fingir que um dia fomos amigos! Desde pequenos nunca nos demos bem e agora você se diz meu amigo? DEPOIS DE TUDO O QUE ME FEZ PASSAR PARA ENTRAR NA MERDA DO EXPERIMENTO QUE VOCÊ QUERIA PARTICIPAR,AINDA TEM A OUSADIA DE SE “PREOCUPAR” COMIGO?!

—o que eles fizeram com você?

—O que você fez comigo?-Magali não pestanejou e empurrou Cebola contra a parede do banheiro, fazendo-o chocar suas costas contra os azulejos. Embora a tentativa de parar o amigo tenha funcionado, não fora o suficiente para que o mesmo desistisse do seu objetivo.

Assim que Magali saiu as pressas do banheiro tentando procurar o cartão ou chave que destravasse a porta do quarto, Cebola usou das suas ultimas forças para se recuperar do empurrão e com as costas extremamente doloridas, praticamente saltou encima de Magali, imobilizando-a no chão.

Com metade do rosto prensado contra o piso, a garota tentou pela ultima vez se mutilar com a navalha, mas foi rapidamente impedida pelo amigo que prendeu um dos seus pulsos e arrancou a força a navalha de suas mãos.

—Nunca mais faça isso...por favor.-Cebola implorava,visivelmente abalado, que sua amiga não fizesse nenhuma bobagem.-Eu não posso te perder.-O garoto ainda mantinha Magali imobilizada pelo peso do seu corpo e pela força de suas mãos que ainda apertavam os pulsos da garota.-E-eu sei que eu errei com você no passado, sei que nunca fui um bom amigo, mas eu estou tentando me redimir,juro! Se eu soubesse que a minha decisão idiota iria te afetar desse jeito e nos meter nesse lugar horrível que estamos agora, eu jamais deixaria você entrar nesse experimento!

A expressão de ódio e raiva no rosto de Magali deu lugar para uma expressão serena, fazendo com que Cebola se acalmasse e soltasse um pouco dos pulsos de sua amiga.

—Eu sei que você jamais iria desejar meu mal- A garota se levantou aos poucos, até manter o seu rosto a centímetros de distância do de Cebola.-Eu também não seria capaz de desejar o seu mal.-As mãos frias de Magali percorriam o rosto de Cebola, seus dedos acariciavam seus cabelos pretos, seus olhos se mantinham fixados no olhar um pouco assustado do garoto.

—Magali...o que está fazendo?-Cebola tentava se distanciar da amiga,mas a mesma se inclinava cada vez mais até imobilizá-lo completamente.

—Me desculpe por te fazer esperar tanto tempo por isso...-Magali colou os seu lábios com os de Cebola,beijando-o ternamente.