Weltgericht escrita por Eclair


Capítulo 1
Capítulo Único




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As pessoas já sabiam de mais um fim do mundo, desta vez por conta da inversão dos polos magnéticos por um canal do YouTube. Se a sociedade acreditou? A resposta é não, obviamente, mas não demorou muito para o mundo se tornar um caos.

Os únicos mortos eram sete pessoas que humanos não eram mais. Tornaram-se deuses e nomearam aquele caótico evento de Weltgericht, que significa “o fim do mundo”. Este evento foi um divisor de tempos, sendo um evento comparável ao nascimento de Cristo.

778 d.W, Severn, localizado no antigo território canadense.

Robert despertava em mais uma manhã, que diferente das outras, era ensolarada pelo que pôde perceber ao olhar pelas brechas das cortinas. Logo alguém estaria vindo abri-las e revelar todo o calor do lado externo e mesmo estando desperto, o jovem não sentia a mínima vontade de levantar da cama, passando a admirar o lustre pendurado no teto cor de marfim, com seus enfeites brilhantes e exagerados para um quarto.

Cobriu a face com um travesseiro quando começaram a abrir as cortinas enquanto outros vinham em sua direção para leva-lo ao banho.

— Vamos Alteza, por favor. Sua Majestade, a Rainha Magdalene lhe chama para o café da manhã.

Grunhiu baixo enquanto se levantava da cama, deixando-se ser levado ao banheiro, onde o deixaram sozinho com os próprios pensamentos mórbidos sobre como aquele dia seria ruim antes mesmo de começar. Desfez-se das roupas de dormir, revelando um corpo banhado pelo Sol e cheio de cicatrizes de guerras travadas ao longo de seus 24 anos, a primeira delas sendo aos doze, quando um soldado inimigo do dobro de seu tamanho lhe feriu no ombro esquerdo.

Dentro da banheira, procurou esvaziar a mente, pois não gostava de discutir com os pais logo de manhã cedo sobre o maldito casamento com a filha de algum duque no qual ele não recorda o nome. De qualquer maneira, não importava, pois tanto ele quanto o duque não seriam mais do que meros enfeites naquele reino matriarcal.

Mergulhou, pensando que a noiva Sarah não era tão ruim como ele pensava que fosse. Afinal, eram almas gêmeas e normalmente, esse sistema funcionava muito bem para casamentos, além do fato de que é muito fácil identifica-las pela primeira frase que dirão já que está tatuada no pulso e surge quando se é atingido os quinze anos, existindo raros casos que surge com uma idade menor.

Soube que tinha ficado muito tempo na banheira quando escutou batidas na porta, certamente de empregadas preocupadas com cada movimento dele. Sentindo-se incomodado, saiu da banheira, vestiu o roupão e mais uma vez, deixou-se ser guiado pelas empregadas até o quarto, onde ele já enxergava a roupa que haviam decidido para ele, e onde mais uma vez foi deixado sozinho.

Arrumou-se, observando-se no espelho, notando a altura mediana, o olhos cor de âmbar que lhe encaravam de volta com certa apreensão, o sorriso que tentava se formar em seus lábios e os cabelos escuros recém-cortados depois de três anos insistindo em mantê-lo mais longo. Desistiu de forçar o sorriso enquanto calçava os sapatos.

Enquanto ia para a sala de jantar, notou os magos caminharem pelo corredor falando em línguas desconhecidas a ele, talvez uma das antigas, antes do Weltgericht. Quando foi visto por eles, todo o grupo acenou com a cabeça e o ultimo falaria a frase que ele escutava todas as manhãs:

— Bom dia, Vossa Alteza. Teve bons sonhos?

— Bom dia, senhor August. Os deuses não me deram nenhum sonho, mas dormi muito bem. — os músculos da face doíam de tamanho o esforço feito para forçar um sorriso.

Ao se afastar, pôde ouvir os magos continuarem a conversar e a palavra “maldição” acabou por se destacar, temporariamente chamando a atenção do jovem príncipe, que preferiu ignorar os perigosos sinais que os magos mostravam, os mesmos magos que destronaram o primeiro da linhagem Cartwright para colocar a rainha Louisa como governante, transformando o reinado de patriarcal para matriarcal.

— Pelo sagrado diamante Robert! O que causou tanta demora?!

— Bom dia para a senhora também mãe. — sentou-se em seu lugar que era ao lado de Sarah, que comia os waffles com uma voracidade disfarçada, o que fez Robert sorrir um pouco antes de se virar para o próprio prato, constrangido.

— Oi Robbie!— falou a jovem, notando o olhar do noivo desviar-se para o prato, já procurando o que queria comer.—Não precisa ficar assim por tão pouco, não me importo de que me olhe, afinal, vai ver esse rosto durante toda a sua vida.

—Eu sei Sarah, eu sei. Eu só não estou acostumado. — Robert notou o rosto claro da noiva se entristecer, com os longos cabelos negros caindo de cada lado do rosto, adicionando dramaticidade— Ei, não fique assim, não acordei bem hoje.

— Nunca acorda bem Robert. — a rainha comentou— Uma raridade seria se algum dia acordasse disposto e de bom humor. Não me ignore, garoto inútil!

O jovem ignorou o bradar furioso da mãe enquanto saboreava panquecas e ovos mexidos acompanhados de uma xícara de café. Ao terminar, despediu-se dos que se encontravam ali, foi ao banheiro e dirigiu-se a biblioteca estudar História, pegando o livro mais grosso que encontrou.

“(...) O mundo estava se preparando para receber um evento magnânimo dali a uma semana, as Olimpíadas. Contudo, no dia 29 de julho ocorreu um fenômeno que só deveria ter ocorrido dali a milhões de anos: a inversão de polos magnéticos.

Suas consequências foram enormes, ocorrendo de forma lenta e gradativa: de terremotos devastadores, rápida mudança climática, levando à formação de buracos no ozônio, diferentes daqueles lançados pelas indústrias, pane elétrica mundial, que trouxe o caos por alguns tenebrosos dias, a anomalias genéticas em humanos, etc.

Uma preocupação adicional é que um enfraquecimento e reversão eventual no campo desorientaram todas aquelas espécies que dependem do geomagnetismo para navegação, incluindo abelhas, salmões, tartarugas, baleias, bactérias e pinguins. Não houve consenso científico de como essas criaturas superaram o problema.

Várias mortes ocorreram. Todas em diferentes países, ocupando a mídia internacional enquanto o caos tomava conta do mundo, e as pessoas não sabiam o que fazer e no meio de toda essa tragédia, novos deuses foram decididos, para a paz e a calmaria voltarem ao mundo. A única diferença desses deuses era que cada um deles representavam os sete pecados capitais.

A esses deuses foi dado um diamante, além dos cinco continentes, que foram divididos entre os sete de forma que cada um controlava um determinado território. O diamante não ficaria com os deuses, mas escondido em uma caverna inacessível para os humanos, tornando-se um objeto tão raro e lendário que era difícil crer a sua existência, mesmo ele sendo o responsável pela “paz” no planeta.

(...) dois meses adicionais foram criados devido ao aumento de movimentos de rotação da Terra, que ocasionou a criação de novos dias (...)”

Cinco parágrafos e ele já não conseguia entender mais nada. Aquilo era confuso, como se os deuses que existiam antes dos Sete tivessem morrido, mas pelo que sabia, deuses eram imortais, não podiam morrer. Será que haviam coisas que nem os livros poderiam explicar?

Olhou para o relógio na parede, que sinalizava dez e meia da manhã, e percebeu que os preparativos para o casamento já estavam quase prontos e ele já não poderia ver a noiva.

— O casamento será ao pôr do sol, então vão levar mais ou menos sete horas e vinte minutos para a cerimônia ocorrer— bocejou enquanto fechava o livro no colo. —Que sono, deve ser as letras miúdas desse livro.

— Que nada Robbie! Você que é bastante preguiçoso! — uma voz feminina se fez presente ao mesmo tempo em que dedos finos e longos tiravam o pesado livro de seu colo e colocado de volta na prateleira.

— Hailey, o que está fazendo aqui, você deveria—

Ela sentou-se de frente para ele, interrompendo-o, com os curtos cabelos castanhos claros amarrados, deixando alguns fios soltos no rosto cheio de sardas.

— Primeiramente, eu não deveria estar fazendo nada. E você é um idiota de marca maior. Por que vai se casar com ela mesmo não sendo a sua alma gêmea?

— Minha mãe nunca aceitaria você como rainha Hailey.

— Você diz isso, mas tem certeza?

— Se eu tenho?! Ela já sabe de nós, e foi por isso que ela propôs esse casamento!

— Ei, não precisa se exaltar. Não vou sair desse castelo enquanto viver.

— Claro que não, já tem uma filha para criar. Uma filha que nunca vou poder assumir.

Hailey o olhou entristecida antes de depositar um beijo na ponta do nariz de Robert, que sorriu envergonhado antes de comentar que os escuros olhos da moça eram lindos.

— Devia ser poeta, minha estúpida alma gêmea.

— Realezas podem ser poetas, minha querida. São tão tristes quanto eles, afinal.

— Besta. — Beijou os lábios do príncipe com certo carinho, para depois se tornar um beijo fervoroso e cheio de sentimento.

Naquele final de manhã, os amantes se tornaram um mais uma vez. Talvez não fosse a última, já que teriam uma vida pela frente, ou será que não? Horas mais tarde, tudo já estava preparado para o casamento e a coroação, deixando o príncipe deveras apreensivo, já que obviamente não queria se casar com Sarah.

— Lembra-se da primeira coisa que te falei?

— Claro Hailey, você me ameaçou de morte como poderia esquecer? Por que pergunta?

— Você, além de dizer que não morria me prometeu levar ao local onde o Diamante da Criação está.

— Quem disse que quebro uma promessa? Aliás, azul fica ótimo em você.

— Obrigada.

Durante a cerimônia, Robert se pôs a pensar no que ouviu dos magos mais cedo e não pôde deixar de ficar nervoso sobre isso. Aqueles magos eram capazes de qualquer coisa para ter o que queriam, e temia o dia em que eles colocassem algo em prática.

Durante a coroação, ele começou a sentir-se estranho, como se a magia estivesse saindo do controle, algo que não deveria estar acontecendo já que ele tinha total domínio sobre a magia dele. Olhou rapidamente para os magos e depois para Hailey, que tinha Anya nos braços. A filha de olhos dourados e sardas no rosto pardo, com ondulados cabelos negros, usando um vestido bege. A doce e frágil Anya. Desejava falar para Hailey que a filha poderia ficar no chão, mas logo entendeu ao ver o rosto da garotinha de cinco anos iluminando-se ao vê-lo, provavelmente comentando com a mãe sobre como ele estava legal.

Sentiu o peso da coroa na cabeça e olhou para a mãe, que erguia a espada em uma altura suficiente para decapitá-lo. Assustado, afastou-se para trás e tentou perguntar a ela porque estava fazendo aquilo, mas a voz não saía. Contudo, Magdalene parecia saber exatamente o que o filho queria perguntar.

— Ora Robbie, que importância teria você nesse reino se você não consegue obedecer ao que eu ou Sarah diz?

— Se eu sou o único que não tem fios me controlando, significa que vocês duas tem medo do que eu possa fazer.

— Realmente, é tão imprevisível. Casou-se às escondidas com uma plebeia e ainda teve uma filha com ela, e ambas são tão insignificantes que eu deveria mata-las, somente para você aceitar seu destino e morrer junto delas já que as pragas devem morrer juntas.

No momento em que escutou aquilo, Robert entendeu o motivo da magia descontrolada. Raiva e ódio floresceram em sua face e as armas presentes no salão se posicionaram no meio do ar enquanto ele podia escutar Hailey pedindo que a filha saísse de lá, como se previsse o que iria acontecer, para logo depois, levantar o rosto e sorrir para ele.

Como em uma ventania, as armas acertaram todos os convidados no salão. No meio do caos, Robert estava confuso, pois não deu tempo para ele absorver toda a informação do se desdobrava ao seu redor, como se por alguns instantes ele estivesse fora daquela realidade.

E ao voltar ao fato de que tudo aquilo estava realmente acontecendo, gritou em um misto de horror e desespero, procurando Hailey pela multidão de corpos, avistando-a estendida no chão com o vestido azul marinho sujo de sangue com adagas fincadas em seu abdômen. Tremia ao tirar as armas do corpo dela enquanto lágrimas grossas embaçavam sua visão, e ao terminar abraçou o corpo sem vida da amada, esperando que ele pudesse trazê-la de volta à vida de alguma forma.

A pequena Anya voltou ao salão por ter escutado o grito do pai cheio de dor e arrependimento, mas sabia que ele não tinha toda a culpa daquilo ter acontecido. Seus sapatos brancos ficaram sujos por conta do sangue no chão em que ela pisou, e decidiu se aproximar do seu pai em prantos, mesmo que ele lhe pedisse para partir.

A garotinha abraçou o pai pelas costas enquanto ela mesma chorava. “Foi culpa dos magos e da vovó”, ela murmurava. Mesmo que a rainha Magdalene não a reconhecesse, ela ainda chamava de avó.

Os corpos foram enterrados e Anya foi entregue aos pais de Hailey, que mesmo furiosos, reconheciam a culpa no olhar do jovem.

Enquanto isso, no plano dos deuses, se notava um desequilíbrio, porque ocorreram várias mortes que não deveriam ter ocorrido para impedir somente uma. Caía sobre o responsável uma maldição: ele não seria capaz de morrer de velhice, assassinato ou doença, tornando-o o imortal e imune aos efeitos do tempo, mas havia uma segunda punição, algo que ele jamais saberia: de sua raiva, surgirá uma criatura com poderes desconhecidos dali a um milênio e por conta do receio humano, eles a chamarão de Besta.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido!



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