Eu havia permanecido sentada na grama, e Gandalf, o Cinzento se sentara também, de frente para mim, me dedicando toda sua atenção as minhas palavras, enquanto desfrutava de seu cachimbo. Ele não me interrompeu nenhuma vez enquanto eu falava, algo que agradeci internamente; não acho que conseguiria falar novamente depois de uma interrupção.

Quando terminei de explicar toda a minha situação, o mago ficou quieto por um momento, parecendo pensar e analisar minha história. Isso não foi bom para mim, pois eu começava a sentir o pânico me inundar. Seu havia realmente  ido parar na Terra-Média, e isso não fosse apenas um sonho, como eu iria fazer para voltar? Estaria presa ali para sempre? E os meus pais, o que iria acontecer com eles? Iriam continuar suas vidas como se a filha nunca tivesse existido? Ou pior ainda, eu não teria mais a chance de estudar em Harvard depois de todos os meus esforços?!

Comecei a sentir falta de ar.

— Bem, senhorita Marshall - começou Gandalf, do jeito que somente ele sabia falar - acredito que tenha sido trazida para esse mundo pela vontade dos Valar. - ele me encarou intensamente - Não é a primeira vez que isso acontece. E acredito que você saiba de que estou falando.

Balancei a cabeça positivamente, mas dando um sorriso zombeteiro.

— É claro, - rosnei - John Ronald Reuel Tolkien já veio para cá e então escreveu as belas histórias de Arda! - ok, eu estava surtando.

— Sim, senhorita Marshall. - Gandalf parecia estar sendo compreensivo - Sei como deve estar sendo confuso para você, minha querida menina, mas essa foi a vontade dos Valar. Creio que tenha uma missão aqui, ates que volte para casa.

— E qual dos Senhores do Oeste - sorri - me tirou de meu mundo e me pôs aqui? Manwë? Ou talvez a Senhora Varda? - gritei o nome deles, sentindo lágrimas escorrerem de meus olhos.

— Audrey Marshall!... - Gandalf começou, erguendo a voz, mas não me intimidei. Eu havia lido tanto sobre ele que me sentia como se fosse sua melhor amiga.

— Não, Istari! - levei minhas mãos ao rosto, ainda soluçando - Quero ir para minha casa! Para o meu mundo! Sei de tudo que vai acontecer aqui e sempre desejei vir para cá e viver as aventuras, mas agora... - limpei meu rosto, parando de chorar - Agora não mais.

Gandalf me olhou com certa pena. E eu me sentia desolada.

— Audrey, minha querida menina. - ele começou - Você foi trazida até aqui por um motivo, talvez para mudar algo. Acredito que saiba de muitas coisas que irão acontecer, e acredito que estarei certo em afirmar que você não está feliz com elas.

Nesse ponto, eu desviei o olhar.

— Estou indo até Bolsão visitar um conhecido e respeitável Hobbit que será de grande importância em uma jornada que iremos começar. - eu podia sentir o sorriso de Gandalf mesmo sem olhar para ele; senti vontade de sorrir também.

— Bilbo Bolseiro, o filho de Beladona Túk. - olhei para ele - Irá ser difícil o convencer a ser o décimo quarto membro da companhia de Thorin. - não havia necessidade de falar tanto, mas eu queria mostrar a Gandalf o quanto eu sabia.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Sim, com certeza irá, mas não tanto. Apenas precisamos despertar o seu lado Túk. - Gandalf sorriu para mim - E você, minha querida, será o nosso décimo quinto membro.

Arregalei meus olhos.

— Mas, Gandalf... - exclamei estupefata - Não posso sair por aí assim! Sei que tipo de perigos vamos enfrentar e sei o que irá acontecer... - pensei em Thorin, Fili e Kili morrendo.

— Senhorita Marshall, o seu destino está nessa jornada a sua frente. - Gandalf me encarou seriamente - Acredito que somente o seguindo irá conseguir voltar para o seu mundo.

Pressionei meus lábios enquanto pensava; Gandalf poderia estar certo. Se fui jogada aqui na Terra-Média, tinha que ter um motivo e de qualquer maneira eu não conseguiria voltar para minha casa me escondendo no Condado. E, se isso não fosse real, fosse apenas um sonho, então se eu morresse aqui acordaria calmamente em meu carro naquele engarrafamento terrível.

Por outro lado, começava a sentir uma coisa engraçada em meu estômago. Nunca havia me esquecido das histórias de Tolkien, nunca mesmo; nunca me esquecera da vontade que tinha de viver as mesmas aventuras de Bilbo e de Frodo. Mas eu era uma criança na época e crianças crescem. Eu havia crescido, e, agora, a única razão por eu aceitar ir nessa jornada inesperada era pela esperança de voltar para meu mundo.

— Concordo. - respondi - Muito bem, eu vou.

Gnadalf sorriu e se levantou.

— Ótimo! - ele ergueu uma mochila azul - Acredito que isso seja seu, senhorita Marshall.

Era a mochila maluca em que eu havia arrumado como se fosse acampar! Quem diria que eu precisaria dela, hein...

— Obrigada, Gandalf, mas pode me chamar só de Audr... - parei de falar quando me levantei.

E tomei um susto.

Gandalf era alto, com certeza, mas eu também era bem alta. Sempre fui alta. Minha altura era uma das coisas que eu mais gostava em mim mesma!

E, agora... eu batia um pouco acima da cintura do mago.

— Gandalf! - eu faleii - Eu costumava ser mais alta!

Gandalf riu. Maldito Istari.

— Ora, minha querida, acredito que para essa aventura você mudou de corpo. - ele tombou a cabeça, me encarando - Com certeza, ao fim de sua jornada, irá voltar a sua altura humana.

— Eu estou parecendo uma mini-humana. - reclamei, trincando os dentes.

Gandalf continuou rindo.

— Senhorita Audrey, eu acredito que essa aventura fará tão bem para você quanto para Bilbo. - ele pareceu pensativo, enquanto tomava seu caminho para Bolsão.

Estreitei meus olhos enquanto colocava a mochila nos ombros. Apertei o passo para o acompanhar.

Queria só ver a cara de Thorin Escudo de Carvalho quando descobrisse que não apenas um Hobbit o iria acompanhar, mas também uma mini garota humana.

Respirei fundo. Isso era apenas o inicio.