— Ah claro Adrocinho! Diga! – Ela falou depois de um tempo em silencio, provavelmente ela tinha se assustado um pouco com minha voz fria.

— Eu não quero saber de você irritando a Marinette a partir de hoje. – Falei diretamente, o que destruiu o sorriso que antes estava no rosto da loira.

— Não sei se posso cumprir com seu pedido. – Ela falou, agora também séria.

— Não foi um pedido. – Eu corrigi e ela me encarou meio nervosa, eu sabia que ela odiava ser contrariada.  Respirei fundo e voltei a encarar. –Chloe nós nos conhecemos há muito tempo e desde aquele tempo eu posso garantir que sempre te vi do mesmo jeito: como uma amiga. E eu quero que continue sendo assim então você poderia por favor parar de se intrometer no meu relacionamento com a Marinette e mexer com ela por ciúmes? Você sabe que fazer isso não vai mudar meus sentimentos por você! Ou melhor, vai mudar sim! Eu vou passar a sentir raiva de você e não conseguirei mais te perdoar como sempre faço quando você faz alguma burrada. Afinal o que você acha melhor ter a minha amizade ou meu ódio?

— Eu não quero só a sua amizade! Você sabe muito bem o que eu quero! Quero que largue aquela perdedora da Marinette e fique comigo! Ela não te merece! Eu sou muito melhor que ela! Eu tenho tudo que você quiser! Dinheiro! Popularidade! Mas mesmo assim você prefere ela! Eu te amo tanto então porque você ainda está com ela? Pare de mentir! Eu sei que não ama ela! Você me ama né Adrien? É a mim que você quer! Eu sei que sim! – Chloe começou a tagarelar desesperada, eu sabia que ela teria no mínimo uma reação assim tão confusa. Não a culpo por isso, ela merece um desconto depois do que aconteceu com a família dela.

— Chloe olha pra mim agora. – Eu falei segurando os ombros dela fazendo ela me encarar nos olhos, os dela já estavam vermelhos e seu rosto estava molhado. Ela tinha chorado assim tão rápido? Sim ela tinha. – Você não me ama.

— E-eu amo si- Ela começou a me interromper, mas eu não deixei. Não. Agora ela teria que ouvir aquilo que se negava a aceitar por tanto tempo.

— Não. Você só está procurando amor em qualquer lugar. Depois que sua mãe se divorciou do seu pai e abandonou vocês dois e ele ficou distante e só focando na politica você passou a fazer isso. Confundindo amor com simples afeto, procurando desesperadamente alguém para te amar. – Eu falei sério e as lagrimas voltaram a cair dos olhos dela. Era mesmo difícil falar com ela sobre a mãe, mas seria preciso. – Eu não sou o cara que você ama. Você sabe disso não sabe?

— Eu sei Adrien. – Ela falou suspirando e secando o rosto com as costas das mãos. – Mas não é justo! Todo mundo tem alguém que o ame e eu não! Porque eu não? Porque sempre comigo? Eu não mereço isso! – Soluçou.

— Talvez você só esteja procurando no lugar errado. – Eu falei, finalmente conseguindo sorrir.

— O que quer dizer? – Ela falou confusa.

— Chloe olhe a sua volta! Acha mesmo que eu sou o único cara que existe na Terra? –Perguntei com sarcasmo.

— Nenhum outro além de você fala comigo. – Ela cruzou os braços desviando o olhar.

— Porque será né? – Voltei com meu sarcasmo.

— Por quê? – Ela me perguntou confusa.

— Chloe olha o jeito como você trata todo mundo! Acho que alguém vai te querer se você continuar assim? – Falei. Era duro de se aceitar mas era a realidade.

— Eu tenho uma pergunta pra você Adrien: Você acha que até mesmo a pior pessoa pode mudar? Que todos podem ser boas pessoas se apenas tentarem? – Ela falou ironicamente. – NÃO ADRIEN! NIGUÉM MUDA ASSIM! SABE POR QUÊ? PORQUE ISSO AQUI É A VIDA REAL E NÃO É ASSIM QUE FUNCIONA POR AQUI! ACHA QUE SÓ PORQUE VOCÊ E A SUA MARINETTE TEM UMA PORRA DE VIDA DE CASAL FELIZ E PERFEITA QUER DIZER QUE O RESTO DO MUNDO TAMBÉM VAI SER FELIZ E PERFEITO? NÃO! NÃO VAI! ACEITE DE UMA VEZ A REALIDADE: EU SOU UM ERRO TOTAL! MEUS PAIS ME DISSERAM ISSO QUANDO ESTAVAM SE DIVORCAINDO E EU SEI QUE É VERDADE! ELES NUNCA ME QUISERAM! PORQUE DESDE SEMPRE NINGUÉM ME QUIS E VAI CONTINUAR ASSIM! E SABE DE OUTRA COISA? ERROS NÃO PODEM SER REPARADOS! EU TENTEI SER PERFEITA, MAS NÃO CONSEGUI! AS PESSOAS SÓ SE AFASTAM DE MIM! ATÉ VOCÊ SE AFASTOU DE MIM! EU SOU UMA NEGAÇÃO! EU... – Chloe berrava pra quem quisesse ouvir a plenos pulmões. Ela já não parecia mais ligar para seu sobrenome e seus modos refinados, ela simplesmente explodiu de uma vez e bem no meio da escola. Ela olhou ao redor e percebeu que os poucos alunos que ainda estavam por aqui a encaravam atentamente. - Eu... Acho que vou livrar vocês todos do fardo que eu sou de uma vez por todas! – Ela sussurrou algo que não pude escutar.

— O que? – Eu ainda estava meio surpreso com toda a gritaria da Chloe quando ela saiu correndo pela escola até a saída.- Caralho... – Resmunguei assim que notei que ela já estava longe demais para que eu a alcançasse, mas mesmo assim corri. A única coisa que encontrei foi a minha limusine estacionada na frente da escola e o Gorila me esperando de cara fechada como sempre. Então eu suspirei e entrei no carro ainda preocupado com a situação de Chloe. Ela foi praticamente criada junto comigo e querendo ou não eu a tinha praticamente como uma irmã mais nova da qual eu ás vezes me sentia um pouco responsável. Chloe era impulsiva demais, eu tinha certeza que ela ia acabar fazendo algo irresponsável, e agora me culpava por isso. “Eu deveria ter deixado ela continuar pensando que me ama?” me perguntei. Eu já não sabia mais, só sabia que já tinha feito a merda então agora não tinha mais jeito de voltar atrás. Peguei meu celular e liguei pra ela, mas o celular dela estava desligado. Liguei pro hotel-casa dela e o seu mordomo avisou que ela ainda não tinha chegado. “Mas é claro que ela ainda não chegou! Acabamos de sair da escola! Não vai ser preciso me preocupar não é?” eu tentei me tranquilizar, mas sabia que não conseguiria. Eu estava travando um intenso conflito interno, que só parou quando senti o carro frear bruscamente. Tínhamos chegado.  Saí e me despedi de Gorila, que só acenou com a cabeça, sério como sempre. Entrei em casa andando pelo piso cinzento ainda imerso em pensamentos, quando senti alguém pular nas minhas costas e me dar um abraço apertado. Virei e dei um sorriso.

— Mãe! – Falei sorridente.

— Como foi o primeiro dia de aula filhote? – Ela perguntou com seus olhos brilhando. – Aí! Eu sempre quis dizer isso!

— Eu sempre quis ouvir isso!- Falei e ficamos rindo por alguns minutos.

— Mas como foi na escola Adrien? –Eu ouvi uma voz grossa falando e olhei por cima do ombro da minha mãe vendo meu pai, com um pequeno sorriso no rosto.

— Foi muito legal! Eu ainda nem acredito que estou estudando com os meus amigos! –Falei completamente empolgado. A partir daí comecei a falar de tudo: dos meus colegas, do que aprendi, das professoras, e pelo que parece minha mãe adorou a senhorita Olivier sem nem mesmo conhecer ela, por ser assim como ela uma fã de piadinhas ruins. Falei também dos interrogatórios dos alunos e meus pais disseram que era normal e que com o tempo eles se acostumavam comigo lá, eu realmente desejo que seja verdade isso. Falei de tudo, tudo mesmo. Meus pais pareciam felizes em me ver contando aquilo pra eles. Por fim minha mãe só me encarou com um sorrisinho de canto.

— Claro, claro, mas é só isso que está te deixando tão feliz na escola? – Ela perguntou lançando um olhar cumplice pro meu pai.

— O que quer dizer? – Falei confuso.

— Nós sabemos muito bem o principal motivo pra você querer tanto ir pra escola Adrien. – Minha mãe riu. – M-A-R-I-N-E-T-T-E. – soletrou.

Eu corei até o ultimo fio de cabelo, oh não lá vinham os comentários constrangedores!

— Que foi filhote o gato comeu a sua língua? – Ela perguntou rindo alto. Maldito seja o dia em que minha mãe achou meu celular desbloqueado e descobriu os apelidos que a Mari tinha me dado! – Mas falando sério agora eu e seu pai queremos saber de uma coisa querido!

— O que é? – Perguntei.

— Quando vai trazer a menina Marinette pra cá? Você devia apresentar ela direito para nós que somos seus pais! – Meu pai disse cruzando os braços e sorrindo. – Deveria pedir para ela trazer alguns dos desenhos dela também! Parece ser uma garota talentosa pelo vestido que ela fez para aquela festa.

— Sim! Seria tão bom ter mais  uma designer assim na família! – Minha mãe disse.

— É que... Eu ainda nem pedi ela em namoro... – Eu falei desviando o olhar.

— VOCÊ O QUE?- Os dois perguntaram espantados.

— É que sempre que eu vou tentar alguma coisa interrompe! – Expliquei.

— Bom acho que agora que estudam na mesma sala você vai ter mais chances de fazer o pedido não é? – Meu pai me animou.

— É acho que sim. – Falei sorrindo.

— Acho que as suas fãs vão chorar muito quando descobrirem que o Adrien Agreste já tem namorada. – Minha mãe brincou. – Meus filhinhos são tão disputados!

Então falando aquilo minha mãe me fez lembrar de algo que era melhor esquecer: Chloe. Os pensamentos pessimistas voltaram com tudo pra minha cabeça.

— O que foi Adrien? Ficou tão quieto de repente! – Minha mãe disse. – Owwwnn que amor! Está com medo de decepcionar as fãs não é? Não se preocupe querido elas vão aceitar se forem mesmo suas fãs! –Minha mãe disse antes mesmo de eu poder falar.

— Bom... Na verdade... – Eu comecei, mas fui interrompido. Porra cara sacanagem também né? O mundo adora me interromper quando vou falar coisa séria!

— Senhor Agreste, Senhora Agreste o motorista já está esperando para leva-los. – Nathalie avisou meus pais segurando sua prancheta onde começou a ler os horários das tarefas deles do trabalho.

Minha mãe rapidamente me deu um beijo na testa e meu pai também se despediu, os dois saíram apressados pela grande porta de entrada seguindo Nathalie para o carro. Suspirei. Não poderia contar com a ajudar deles agora. Peguei meu celular voltando a ligar para o hotel do prefeito. Chloe já deveria ter chegado a essa hora. O mordomo atendeu novamente me dizendo que Chloe não tinha chegado e que estava preocupado porque ela não tinha dito que ia sair depois da escola. Me pediu para dizer se soubesse onde ela poderia estar. Eu disse um “ok” e desliguei o celular respirando fundo e me jogando no sofá na sala, cobrindo os olhos com o antebraço. E se tivesse acontecido alguma coisa? A culpa era minha!  Eu voltei com as minhas paranoias, que dessa vez só pararam quando meu celular tocou. Rapidamente peguei e sorri só de encarar o contato que estava ali “My Lady”. Atendi mais que depressa. Ela só queria ouvir a minha voz e conversar banalidades, pra falar a verdade eu também estava precisando disso para tirar aquelas tretas da minha cabeça. A voz de my Lady era a única coisa que me acalmaria naquele momento. Pensei em falar pra ela sobre o que aconteceu, mas eu preferi não dizer. Marinette é uns trinta trilhões de vezes mais paranoica que eu e eu não estava afim de preocupar ela com algo meu. Pra falar a verdade não estava afim de falar daquilo agora também. Queria ouvir a voz da minha princesa e me distrair com as suas palavras doces pra sempre.