Futuro quadro escrita por Artemys Jenkins


Capítulo 1
Um dia...




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“-- Aliás, por que você não se casa?

—- É, eu deveria… Não deveria?

—- Ele está certo, Yamraiha.

—- Hã… Do que vocês estão falando?

—- Hã?!

—- … Você vai se casar, Sharrkan? Eu não sabia…

—- Bem… Eu e você, a gente poderia…

 

A cena acontecera mais cedo, no palácio dele. Obviamente, Masrur -- com sua percepção superior -- e Sharrkan -- com sua falta de noção -- quase colocaram tudo a perder. Não que Masrur soubesse o que estava botando a perder, de quaisquer maneiras. Mas Sharrkan sabia. Ah!... Ele sabia muito bem.

 

A noite caíra em Heliohapt. Em aposentos suntuosos, iluminados apenas pela Lua, dois corpos trocavam carícias e gemidos afogados, entregues ao próprio calor. “O umbigo dela é tão lindo”, pensou ele, da primeira vez em que se entregaram. “Os cabelos dele são tão macios”, pensou ela, da primeira vez em que se entregaram.

A primeira vez, entretanto, estava bem longe daquele casal que, a esta altura, se conhecia tal como ele conhecia a esgrima e ela, toda a teoria que envolvia o rukh e sua energia: acontecera há muito tempo, em um lugar longe dali, quando ainda eram generais em Sindria.

A vida, entretanto, aconteceu. Sinbad abandonou sua posição como rei, fundando sua bem-sucedida Companhia Sindria; e os generais foram debandados, voltando aos seus países de origem, agora como líderes.

Ela, como reitora de Magnostadt.

Ele, como rei de Heliohapt.

A vida, entretanto, apesar de acontecer, não os impediu de continuar seu romance secreto. “São assuntos de Estado”, dizia ele aos seus conselheiros. “Ele tem pistas de Aladdin”, dizia ela aos demais companheiros de Universidade. Às vezes, as justificativas eram certas; na maioria das vezes, eram apenas pretexto para encontros apaixonados entre lençóis de seda luxuosos e resultados malsucedidos de experiências mágicas.

Um último gemido de prazer se fez ecoar pelo quarto, e suspiros cansados -- ainda que satisfeitos -- o seguiram, como uma súplica por mais.

Ela, aninhou seus cabelos azuis no peito dele. Ele, com seus dedos fortes e negros, acariciou as madeixas que escorriam pelos corpos cobertos pelo suor.

Sempre fizera calor em Heliohapt.

Outro suspiro satisfeito. Ela se aninhara ainda mais no colo dele, sonolenta.

—- Não acha que é hora de acabarmos com essa farsa?

A voz grave do rapaz a assustara um pouco. Tomada pela surpresa, ela não respondeu. Ele, entretanto, não iria desistir tão fácil.

—- Hoje eu quase ferrei com tudo… Com essa história de Alibaba e Morgiana se casarem e Masrur não parar de tentar nos empurrar um para o outro. Eu… não aguento mais. Fingir que não te amo. Esconder que te desejo.

A voz do rapaz ficava mais sôfrega à cada palavra acrescentada em seu discurso; seu rukh ia se tornando avermelhado e a mulher, sem saber o que fazer, apenas levantou sua cabeça e acariciou seu rosto com os dedos trêmulos. Havia tanta coisa por fazer; “amor” e “desejo” não eram razões suficientes para uma união formal em seu relacionamento. Sinbad, Aladdin, Arba, Ja’Far: nomes entrelaçados em uma cadeia de segredos e mentiras que os envolviam tal qual o amor que ele tão acertadamente dizia sentir.

—- Sabe que não podemos, Sharr. Temos compromissos -- com nosso povo, com nossos países… E com Sinbad.

Ele, entretanto, não queria saber de seus compromissos. Não queria saber de povo, países; não queria saber de Sinbad. O que ele queria era aquela mulher em seus braços, em seus lençóis de seda luxuosos por aquela noite… e por todas as outras que a seguissem enquanto vivesse.

Suspirou, frustrado. Apertou as mechas macias em suas mãos, levou até seu rosto. Cheirou-as, beijou-as, continuou a acariciar. A mão da mulher, antes descansando em algum lugar entre o rosto e o peito do rapaz, passou a acariciar seu abdômen, em padrões desconhecidos e enigmáticos.

O jogo estava por começar outra vez… Até que ela parou. Levantando o tronco nu -- que ele tanto gostava de observar à luz do luar -- balançou sua cabeça em negação. Ela também estava cansada. Também queria dividir os braços -- os lençóis, os laboratórios -- com aquela pessoa a quem tanto negou que seu coração lhe pertencia.

O abraçou, forte. A surpresa fez com que ele se desequilibrasse.

—- Talvez… -- disse, com voz incerta -- Mais pra frente, quando tudo isso acabar. Se você pedir, claro. E não estiver ocupado demais… treinando seus golpes estúpidos de esgrima.

Ela estava nervosa, ele notou. Não falava de esgrima -- ou do quanto a desprezava -- em momentos como aquele, não sem o claro objetivo de se proteger.

—- Posso pedir -- respondeu ele; frustração diminuindo gradualmente --, caso não esteja morta depois de um experimento estúpido com magia.

Ela sorriu. Ele também. Beijaram-se fervorosamente e as mãos perderam o controle. Ele a colocou debaixo de seu corpo nu; não demorou muito para que se cansassem daquela posição e os papeis se invertessem. Sentada em sua região sacra, a mulher sorria, zombeteira.

—- É uma promessa? -- perguntou ela, seu humor variando entre a apreensão e a diversão.

Um beliscão prazerosamente doloroso foi sentido em uma de suas nádegas brancas, e ela jogou o cabelo para trás; seu sistema nervoso estava decidindo se considerava a invasão ruim ou não.

—- Claro que é, Yamu! -- respondeu, levantando seu tronco e ficando ele, também, sentado.

O rukh dele brilhava mais do que qualquer vez que o vira. Tons de branco, amarelo, laranja, vermelho. Nunca tinha recebido resposta mais sincera em sua vida.

Estendeu o dedo mínimo em riste. Ele, sorrindo, jogou sua cabeça para o lado e entrelaçou seu próprio dedo no dela. As peles em contraste formavam uma bonita cena, digna de uma obra de arte.

—- Agora, deita aí quietinho que seu aperto malicioso me deixou com vontade de brincar mais…

A noite caíra em Heliohapt. Em aposentos suntuosos, iluminados apenas pela Lua, dois corpos trocavam carícias e gemidos afogados, entregues ao próprio calor. Por ora, contentavam-se com encontros escondidos e justificativas estapafúrdias. Entretanto, um dia, eles sabiam, se entregariam para sempre. Livres de compromissos, intrigas, e Sinbad.

Um dia...


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