“Agora você está chorando no chão...”

Era o ultimo dia da excursão, estava tão divertida que eu nem vi o tempo passar. Acordei sozinha, na verdade era no dia seguinte que iríamos, bem de manhazinha. Fiquei pensando nos dias anteriores, na verdade nas noites, o quanto era bom ficar perto de Will... Conversando. Ele era tão fascinante, seu cheiro era tão atraente, seus movimentos, tudo... Eu havia dito isso para ele no dia anterior, mas com certeza ele não soube quais eram minhas verdadeiras intenções. Olhei para o lado onde ele ainda dormia.

Fui até ali e peguei bem devagar sua mão, olhando no relógio. Eram apenas 8:00.

_Bom dia..._Ouvi a voz de Will e me assustei, caindo no chão.

_Me desculpe, eu não quis te acordar.

_Eu já estava acordado mesmo... Mas o que queria com minha mão?

Eu ri.

_Ver as horas...

_Foi o que eu imaginei._Ele disse levantando e se espreguiçando.

Eu sentiria falta de toda manhã olhar William levantar e falar “bom dia” para mim, com o seu timbre levemente rouco e grogue por causa do sono...

_Bom dia._Eu respondi finalmente, sorrindo.

Ele sorriu para mim e olhou seu guarda-roupa. Fiz o mesmo.

_Você não tem vergonha de estar no mesmo quarto que duas meninas e dormir apenas de bermuda?_Perguntei.

_Desde que vocês não me estuprem tudo bem...

Nós rimos juntos.

_Eu iria fazer isso, pena que eu esqueci.

_Pena..._Ele fez um biquinho e rimos novamente.

_Shh... Cuidado para não acordarem.

_Ah é!_Ele disse com a expressão assustada._Tinha até me esquecido.

Peguei uma calça jeans e uma blusa de manga comprida roxa, com alguns detalhes em prata na lateral e uma bota de cano alto com um salto levemente alto. Coloquei luvas e olhei pela janela.

_Nossa, eu não acredito._Eu disse assustada.

_No que?_Ele perguntou e colocou cada mão em cada lateral do meu corpo, segurando no batente da janela, fiquei levemente preenchida ali. Ele não sabia o que toda essa aproximação causava em mim.

_Isso._Disse apontando para a serra.

_Neve!_Ele disse assustado ao meu ouvido, senti meus batimentos cardíacos aumentarem._Nossa, nevou ontem?

_É o que parece... Nossa, é tão... Bonito._Eu disse colocando minha cabeça um pouco para a direita.

_Eu sei... Vamos até lá e coloque um casaco!_Ele disse pegando luvas para ele.

_Tá...

Peguei meu casaco mais quente e fui com ele até a serra. Meus pés estavam frios, mesmo com a bota. Will se sentou e eu também, comecei á pegar pequenos pedaços de neve, que estavam completamente brancos já que ninguém havia visto ainda, e coloquei na boca para senti-los derreter lá dentro.

_Você está parecendo uma criançinha._Ele comentou olhando para mim.

Seus olhos não contrastavam com o cenário, mas faziam-no ficar ainda mais pacifico...

_Seus olhos contrastam com a neve, sabia?

_Meus... Olhos?_Ele tinha reparado nisso?

_Sim..._Ele disse engatinhando até mim e tirando um fio de cabelo molhado por causa da umidade da minha bochecha.

Estávamos tão perto que senti minha respiração engasgar um pouco, por um momento eu fiquei sem ar... Seu cheiro preenchia o ambiente á minha volta, sendo acolhedor e estávamos tão perto que eu sentia sua respiração gelada na minha boca.

Eu fiquei sem palavras e corei um pouco. Ele riu.

_Não precisa ficar envergonhada. Somos só amigos.

_Só... Amigos._Repeti para mim mesma olhando para a neve.

Era como me atingir com uma faca no coração, ele ficou mais rápido, mas era como se ele quisesse sair com essa afirmação. Eu sabia que era verdadeira, mas eu nunca havia dito em voz alta.

Ele pegou um pouco de neve e fez uma “bola”, podemos chamar assim. Jogou em mim, fazendo com que meu rosto ficasse gelado.

_Ei!

_Guerra!_Ele gritou e jogou outra bola, me virei e ela foi no meu casaco, o molhando.

Peguei duas e joguei ao mesmo tempo. Atingiram exatamente seu rosto e seu cabelo se molhou. Pegamos ao mesmo tempo e ele jogou em mim, mas me desviei e joguei outra, mas errei um pouco a mira. Ficamos lá até aproximadamente 9:00, que era quando todos acordavam.

_Foi divertido._Ele garantiu ofegante, abraçando meus ombros.

_Foi._Eu afirmei tossindo rapidamente.

_Acho que alguém ficou doente._Ele disse passando um pouco de neve no meu nariz.

_E acho que alguém adora sujar meu nariz._Eu disse passando minhas luvas molhadas no nariz.

_Pior que é verdade._Ele disse meio perdido.

Chegamos e eu fui tomar um banho quente. Foi maravilhoso, além de me esquentar, foi relaxante e fez com que parecesse que eu tinha uma camada de gelo sobre minha pele, que se descongelou. Consegui raciocinar um pouco depois disso. Saí do banho e vesti uma roupa seca e quente, depois fui para o quarto.

O professor passou por ali e abriu a porta.

_William, Bruna, quando os dois ali acordarem, falem que hoje será um dia de lazer, já que não podemos fazer nada com essa neve toda.

_Tudo bem._Respondi e fui sentar na minha cama.

_Venha aqui._Will disse e eu me deitei ao lado dele na cama.

Ele me abraçou e colocou uma coberta em cima de nós.

_Você está fria..._Ele falou apertando mais os braços.

_Ainda estou com um pouco de frio.

Ele me esquentou e ficou em um breve silencio, parecia que estava pensando em algo interessante.

_No que está pensando?

_Eu estou pensando que eu me mudei de casa um pouco antes de vir para cá... E queria saber se você me ajuda á pintar meu quarto.

_Seu quarto?

_Uhum, as paredes... São meio mortas demais, vamos dar uma alegrada nelas.

_Tudo bem, você vai voltar do colégio com sua mãe?

_Sim, vamos de carro... Quer ir comigo?

_Pode ser...

Todo o dia ficamos brincando com a neve e depois ficou de noite... Não consegui dormir, estava se tornando comum agora. Coloquei uma roupa bastante quente e fui sair no gelo.

_Esqueceu de mim?_Will perguntou logo que me alcançou, tocando no meu casaco.

_Não, mas eu sei que viria.

Falei seria. Olhei para o branco que cobria as montanhas e deixei minhas pegadas no chão.

_É o ultimo dia._Ele disse.

_Eu sei._Olhei para ele._Vou sentir falta do lugar._Olhei para os montes cobertos de neve e deixei uma lágrima cair.

_Você está chorando?

_Não._Limpei meu rosto._É só a umidade...

Eu não estava emocionada, estava apenas sensível... E amanha eu iria na casa dele, seria no mínimo... Interessante. Eu o amava, mais do que tudo na face da Terra.

                                           “E eu não posso fazer absolutamente nada... Como eu queria...”