Eu não consegui fechar os olhos.

Por mais que me sentisse cansada fisicamente e mentalmente esgotada meus olhos não conseguiam parar de encarar o porta retratos na cabeceira na enorme cama de casal ao qual eu estava deitada. O quarto? Bem, o quarto não poderia ser mais lindo, mas na verdade eram as fotos que não me deixavam dormir, e era o espaço vazio do outro lado da cama que insistia em me atormentar.

Eu ficava tentando remoer fragmentos de minhas memórias que todos insistiam em dizer que eu tinha perdido, mas eu não conseguia, eu ficava tão agoniada com isso que meus olhos por diversas vezes se encheram de lágrimas.

A casa estava completamente silenciosa, finalmente os cochichos haviam cessado. Pareciam que todo mundo estava com medo de falar comigo, como se uma simples troca de palavras fosse me despedaçar inteira, eu não sabia o que estava acontecendo.

Levantei-me muito mais cedo do que deveria, coloquei um de meus vestidos favoritos na cor amarela com pequenas florezinhas rosas e desci com minha mochila. O céu ainda estava um pouco escuro, e por medo de sair aquele horário sozinha me sentei na mesa da cozinha e por algum motivo desconhecido fiz café. Na verdade, não estava com qualquer vontade de tomar café, mesmo assim, o fiz sem pestanejar. 

Quando tudo já havia terminado, caminhei em direção a entrada, tentando ao máximo não fazer barulho, abri e fechei a porta, respirei fundo, talvez ir para a faculdade ajudasse meus pensamentos a voltar para o lugar, talvez.

Eu sabia o caminho, eu lembrava de tudo claramente e até mesmo de alguns desconhecidos cujo os rostos estava acostumada a ver. A faculdade não estava vazia, algumas pessoas perambulavam por aqui e por ali, desta forma caminhei diretamente para o centro de enfermagem e fiquei surpresa ao encontrar Keita ali.

—Kotoko? –Ele perguntou enquanto se levantava da cadeira. – O que está fazendo aqui?

Eu rio sem graça.

—Eu vim para a aula.

Ele se aproxima.

—Mas você deveria estar descansando. –Ele murmura. – Cadê aquele seu maridinho imprestável? 

—Marido? –Eu pergunto e então toda a confusão recente retorna a minha mente. –Há, claro, meu marido.

—Talvez seja sorte você não lembrar dele. – Keita murmura.

Me calo, me sinto tonta e momentaneamente irritada, eu queria tanto lembrar, queria tanto saber sobre tudo o que tinha acontecido em minha vida, mas eu não podia, e eu deveria ficar triste ou agradecer?

— Vamos treinar? – Pergunta Keita mudando de assunto.

Sorrio e aceno com a cabeça animada.

—Seu sorriso me dá medo. –Keita comenta. –Não sei porque disse para treinarmos.

— Sabe Keita, não pode voltar atrás!

Keita levanta as mãos em rendição e ri.

—Tudo bem, tube bem, mas você só vai tentar vinte vezes.