De Janeiro a Janeiro escrita por Arii Vitória


Capítulo 14
Capítulo 13 "A última madrugada, parte 2"


Notas iniciais do capítulo

HEY! Obrigada pelos reviews do último capítulo, me deram muitas ideias e aqui estou eu novamente!
Estava um pouco bloqueada ultimamente, mas espero que gostem do capítulo.



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Era a paisagem mais linda que eu já havia visto. A visão completa da mistura de todas as luzes da cidade com o azul escuro do céu, a lua e as estrelas. Ah, as estrelas estavam lindas naquela noite!

—Como achou esse lugar? -perguntei, não conseguindo deixar de olhar para o imensidão, todo o infinito que eu conseguia ver em cima daquele telhado. Quando Duda me disse que me levaria a um lugar diferente, nunca imaginaria que seria aquilo.

—Acho que de tanto caminhar pelas ruas.

—É o telhado da escola. -retruquei, como ele achará o lugar passeando pelas ruas?

—Eu sou bastante observador... -respondeu Eduardo, mas ainda não dava para acreditar. -Tá. Na verdade eu apenas queria um lugar pra matar aula. -ele se entregou de uma vez por todas, sendo sincero e me fazendo rir, aquele lugar também nos dava a perfeita visão da festa que ainda acontecia atrás da escola, onde Samuca e Vivi estavam.

—Quase acreditei no papo de que você era observador. -advirto, com ironia.

—Mas acredite ou não, é a primeira garota que trago aqui. -ele se sentou no chão dali mesmo, ainda olhava para a visão maravilhosa do céu e das luzes, mas eu o encarei, buscando ver se falava a verdade, ele me olhou arqueando as sobrancelhas, como quem dissesse “qual é o problema nisso?”

—Não. Eu não acredito! -me sentei ao seu lado.

—Por que acha que eu sou tão gigolô assim? -ri por sua escolha de palavras, gigolô?!

—Nunca trouxe a Janu aqui? -perguntei, realmente curiosa, ele apenas negou com a cabeça.

—E por que trouxe justo eu? Sua inimiga número um.

—Acho que é porque eu costumo tomar decisões estranhas. -ele respondeu. -E você não é minha inimiga número um, saiba disso senhorita.

—Bem, você não é um cara de muitos inimigos, quem seria pior que eu para você? 

—Meu pai. -respondeu, e eu tive que o entender, sacudi a cabeça em afirmação, era compreensivo. -E garotas que beijam bem não costumam ser minhas inimigas! -ele disse, e eu corei levemente antes de lhe dar um soco de leve no ombro, rindo. -Mas você me deve uma. Te mostrei um lugar que só eu conhecia, agora precisa me contar algo que só eu possa dizer que sei sobre você.

—Hm... -pensei em algo que pudesse ao menos empatar com aquele lugar maravilhoso. -Quando meu pai morreu, eu meio que... -comecei, mas pensei novamente antes de realmente falar. O olhei, ele me olhava curioso, como se pudesse ver em meus olhos algo que mais ninguém via. -Eu fiquei um pouco antissocial. -opinei por continuar. 

—Um pouco? -ele tossiu para disfarçar o comentário, me fazendo rir.

—Ok. Exageradamente antissocial. Eu não queria curtir as coisas boas do mundo sem ele, não teria a menor graça, então eu comecei a ver apenas o mal em tudo. -olhei para imensidão, era difícil falar sobre aquilo. -Eu não tinha amigos, eu não tinha vida, era depressão, e minha mãe também estava péssima, mas começou a ficar preocupada comigo, estávamos perto de nos mudar de cidade, ir para qualquer outro lugar, quando ela decidiu tentar uma última coisa: Uma psicóloga... Eu contava a ela sobre querer me mudar, mas não exatamente como eu me sentia em relação a perca do meu pai. Um dia a psicóloga ela perguntou se não seria muito solitário pra mim me mudar para uma nova cidade onde eu não conhecesse ninguém, eu respondi que era ainda mais solitário viver em uma cidade onde todos sabem seu nome, mas ninguém sabe quem você realmente é, ou como se sente hoje.

Parei de falar, me lembrando da sensação, de como eu me sentia horrível.

—Sinto muito, muito mesmo. -Duda disse. -E eu não tenho a menor a ideia de onde eu estava nessa época. -ele parecia realmente estar se sentindo mal por não ter me ajudado naqueles dias sombrios.

—Não se sinta mal por mim, por favor, afinal, estou aqui, não estou?

—Por que decidiu ficar? -ele perguntou, afim de saber o fim da história.

—Minha mãe se tornou uma advogada famosa, e eu conheci a Cinderela... a Vivi. -sorri enquanto contava. -No final eu só precisava de um amigo, não para ficar na cidade, mas para ao menos suportar a ideia de ficar na cidade, entende? E minha mãe gosta daqui.

—Você ainda quer ir embora?

Afirmei com a cabeça.

—Um dia eu vou.

—E será uma grande pessoa,, eu sei que será. Devíamos fazer uma promessa... -ele pensou, e eu me virei para ele. -Mesmo que você continue me odiando amanhã, devemos nos encontrar quando formos mais velhos e tomar uma gelada juntos, apenas para comemorar a vida perfeita que vamos ter, combinado?

Soltei uma gargalhada forte.

—Combinadissimo, Eduardo! -apertamos as mãos, o futura era tudo o que tínhamos, precisávamos ter fé nele. E eu não iria me esquecer daquela promessa.

—Você viu a cara da Janu quando nos beijamos. -ele riu quando eu comentei.

—Ela saiu correndo. -ele falou ainda sorrindo, e olhou novamente para o céu. Eu sabia no que ele estava pensando, pois estava pensando a mesma coisa, Janu disse “demonstre seus sentimentos” e eu beijei Duda, aquilo significava alguma coisa? Não! Foi apenas para deixar Janu boquiaberta, apenas pra isso, não é?

Continuamos a conversar por horas, até as pessoas da festa da última madrugada irem todas embora e o dia começar a amanhecer.

—Ai meu Deus, eu preciso ir pra casa! -falei, me levantando quando me toquei do tempo.

—São cinco da manhã! -ele disse checando no celular e eu não acreditei. Como eu e o cara que eu costumava não suportar tínhamos tanto o que conversar? E como eu tinha contado meus maiores segredos a ele? E por que eu tinha gostado tanto daquele beijo de pouco mais cedo? E como ele conseguia me arrancar sorrisos tão sinceros sem nenhum esforço? 

(...)

—Mãe, cheguei. -gritei, no sábado assim que cheguei em casa.

—Você demorou. Se divertiu? -ela perguntou e eu a encarei, toda as vezes em que eu saía para alguma festa ela fazia a mesma pergunta, se eu havia me divertido, e todas as vezes eu revirava os olhos ou fazia uma careta em resposta, mas daquela vez eu só a encarei. Era uma evolução e tanto. -Está com cara de quem se divertiu!

—Estou? Depois de ter usado minha identidade falsa para comprar todas aquelas drogas eu nem lembro mais o que aconteceu. -arranquei meu all star do pé, sentindo o sono começar a bater.

—Vivi ligou agora a pouco. Ela disse que achou que você tinha ido embora à tempos.

—Vou ligar de volta. -me virei indo em direção ao meu quarto. Mas ainda assim podia ter certeza da expressão desconfiada que minha mãe fazia.

(...)

Eu ouvia Imagine Dragons nos fones de ouvido, quando percebi que Samuca havia se sentado junto a mim na mesa, no intervalo entre as aulas.  Tirei os fones, e ele me olhou como se estivesse perguntando o que eu fazia sozinha naquela mesa de oito cadeiras, Vivi se sentava junto com as líderes hoje, mas isso Samuca já parecia ter percebido.

—A manhã de sábado foi boa? -ele perguntou e deu um daqueles sorrisinhos irritantes que sempre querem significar mais do que sorrisinhos irritantes.

—Como qualquer outra. -menti.

—Sei... -ele disse, e nesse exato minuto Duda passou por nós, indo em direção a mesa dos jogadores de futebol enquanto jogava uma bola pra cima e a pegava novamente com as mãos, fazia aquilo várias vezes, mas ao passar por mim, ele me olhou por alguns segundos.

—Eu vi isso. -Samuca continuava me irritando.

—O quê?

—Bom, o olhar de ciúmes dele.

—Não foi um olhar de ciúmes! -neguei imediatamente.

—Então admite que ele olhou? -revirei os olhos, colocando novamente os fones de ouvido. Percebi Samuca virar os olhos para a mesa de Vivi.

—A manhã de sábado foi boa? -foi minha vez de perguntar.

Ele deu de ombros, como quem dizia que foi como qualquer outra manhã.

—Devia chamá-la para sair. -ele me olhou com o olhar repleto de dúvidas.

—Não deveria, não. -dsse em seguida.

—Por que não? Ela gosta de você. -retruquei, mas sua expressão era de quem duvidava. -Bom, ela está olhando pra você nesse exato segundo. -ele virou-se rapidamente na esperança que seus olhares se cruzassem.

—Te peguei. -gargalhei, ao ver seu olhar de desapontado quando percebeu que era mentira.

—Agora é você quem faz as piadinhas?

—De qualquer forma, eu sou a melhor amiga dela, e eu sei que ela está afim de você. E espera pacientemente que a convide para sair.

—Ele está olhando de novo. -Samuca disse, depois de ficar de olho nas mesas ao nosso redor.

—Não caio mais nessa.

—Sério, ele olhou mesmo. Confie em mim. -olhei para a mesa de Duda, e era verdade, ele me olhava, nossos olhares se cruzaram por alguns instantes, ele sorriu, mas eu não sorri de volta, apenas virei-me para Samuca. Não, minha mente dizia, e eu respirei fundo.

—Devia chama-lo para sair. -revirei os olhos. -Você não me engana, Beatriz. -ele continuou.

—Do que esta falando?

—Anda por aí dando uma de quem não se importa, mas eu sei que você liga, e liga demais, percebi isso naquele dia em que a Vivi estava na minha casa e você ficou toda preocupada. 

Fiquei imóvel por alguns segundos. 

—Se continuar falando vou ir até a Vivi e dizer a ela que está apaixonado por ela. -ele se calou imediatamente e nós dois olhamos na direção de Viviane, ela também encarava nossa mesa, mas se virou assim que nos viu a olhando.

—Aquele foi um olhar de ciúmes. -nós dois rimos.

—Você é uma chata.

—Eu sei. -dei de ombros.

—A verdade é que eu não queria gostar dela... da Vivi. Sou o tipo de pessoa que é facilmente esquecida por pessoas como ela, e eu já me decepcionei demais, não quero que aconteça novamente, e se eu me apegar... 

Eu o entendia perfeitamente, como se sentíssemos exatamente a mesma sensação.

—Eu entendo. -respirei fundo. 

Olhei para o telhado da escola, mas pude ver que o céu estava nublado. Os dias de sol estavam indo embora. 


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Notas finais do capítulo

GOSTARAM?
Me contem okay?



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