Jogos Vorazes - Brasil. escrita por Pudim de Menta


Capítulo 3
Famintos demais


Notas iniciais do capítulo

Olá, foi mal a demora e espero que apreciem.



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Quando chegamos ao local parecia uma verdadeira festa, exceto pelo estado de espírito da multidão, esbanjávamos sorrisos, por dentro todos temíamos.

Falando em medo eu cheguei ao segundo modo na praça, segurando minhas lagrimas, minha mãe fez preces a Jaci, meu pai fez a Tupã. Mas eu não fiz para ninguém, eu não acreditava em nenhum deles, não acreditava em qualquer força divina.

Só que nunca poderia dizer tais crenças em voz alta, se eu dissesse meu destino não seria feliz.

Tentei me concentrar em outra coisa, como o local, a praça da minha cidade, eu nunca mais a veria, mesmo que eu vencesse os jogos, os vencedores não voltam mais para sua cidade, vivem em Distrito.

A praça era gramada, mas a grama estava seca e murcha, havia lamparinas com adornos prateados penduradas nas arvores, archotes com a haste longa estavam fincados aqui e ali, proporcionando uma iluminação fraca pelo local.

Havia um telão em um palco, o sorteio acontecia em Distrito e as fotos dos sorteados apareciam logo depois, junto com seu nome e cidade.

Meus pais seguram minhas mãos e em minutos os telões foram acesos e os soldados se posicionaram para conter qualquer motim, nunca entendi tal precaução, éramos fracos e famintos demais para termos forças para qualquer rebelião e como meu pai dizia, burros demais para questionar.

 A praça ficou em silêncio e o telão foi aceso.

Mostrava um homem num púlpito e dois archotes ao seu lado, ele usava um elegante terno e gravata prata e podíamos ver um painel com uma lua pintada atrás dele e podíamos perceber também que o ambiente era sofisticado.

―Eu sou hoje o represente de Porelium, nosso amado imperador, hoje conduzo o festival da Lua, em oferenda a Jaci e hoje por meio do Destino Zarente escolhe seus 29 sacrifícios e seu campeão, no qual ele dará fama e glória eterna.

Primeiro fizemos as orações em homenagem a Jaci, depois foi acesa uma fogueira e lá estava a pilha de livros que foram queimados.

O homem que conduzia a cerimônia se despediu e passou para a transmissão regional, o telão agora exibia uma mulher cheia de pulseiras e um vestido verde berrante.

―Boa noite grande povo do Centro-Oeste, hoje sortearemos os tributos que os representarão nessa edição. ― Ela falou como se os escolhidos fossem para um concurso de beleza, não lutar até a morte em uma arena.

O salão que ela estava era pomposo e havia duas esferas vítreas, uma para as meninas e outra para os meninos e uma tela brilhava atrás dela.

Ela começou a sortear pelas garotas.

― A primeira moça é Serena de Loreno, da cidade de Anna, do estado de Ás. ― A mulher que guiava a cerimônia falou e logo na tela atrás apareceu a tal da Lorena, fiquei abismada, era uma garota de treze anos, era magricela e parecia que passava fome. A mulher que conduzia o sorteio que mais tarde descobri se chamar Waleria.

Respirei fundo e temi por Serena, eu tinha mais chances que ela e Waleria começou a sortear mais pessoas.

― A segunda é Amélia, de Riso, do estado de Maquiri. ― Anunciou, não prestei muita atenção na garota e nem guardei seu sobrenome, afinal eu era a próxima. ― Alésia Southves, de Campos do Estado de Maquiri do Sul.

Senti o coletivo de pessoas prenderem a respiração, por que em toda região Centro-oeste eram poucos os de Campos, a ultima vez que eu vi alguém daqui sendo chamado foi uma garota, ela tinha 15 anos e morreu no primeiro dia, nas mãos de um carreirista do norte e foi quando eu tinha uns 11 anos.

Tentei aparentar calma e me concentrei na voz fina de Waleria.

―Agora os nossos cavalheiros. ― Observei pela tela Waleria colocar a mão na esfera azul e tirar um papel. ― Natan Silreila, de Riso, estado de Maquiri.

O garoto parecia ter 18 anos, uma pele escura e ombros largos, talvez ele conseguisse viver 2 ou 3 dias.

―Nosso segundo cavaleiro é Dionísio Cosmeiro, de Granabá. 

Ele era alto, porém magricela, sua pele devia ter sido clara um dia, porém agora estava toda queimada de sol e salpicada por sardas, o cabelo era grande e desgrenhado e escuro, devia ter minha idade, talvez sobrevivesse umas duas horas.

―Nosso terceiro cavalheiro é Lucca Morez. ― O garoto era baixo, devia ter doze anos, tinha a típica aparência do Centro-Oeste, a pele queimada de sol e os fios escuros.

Depois que o sorteio terminou o telão se apagou e a multidão continuou em silêncio, três soldados me seguraram pelos braços e me conduziram ao prédio da prefeitura a duas quadras dali.

Meus pais andavam atrás do grupo de soldados, eu estava silenciosa, a cidade estava silenciosa, enquanto eu era levada pelos soldados até a prefeitura, eu tentava absorver o máximo possível da minha cidade, a fonte perto da praça que nunca foi ligada, o calçamento velho e desgastados, as casas pequenas e mal pintadas.

Eu não era sentimental, tão pouco me descontrolava emocionalmente, mas aquele foi um trajeto duro e no meio dele percebi que minha mãe chorava e muito.

Fui jogada em uma sala na prefeitura, e deram alguns minutos para os meus pais se despedirem.

Minha mãe estava abraçada a mim e não parava de repetir as palavras, “você vai sobreviver”, porém acho que ela repetia mais para si do que para mim.

Meu pai tirou dos bolsos um pequeno dado, bem desgastado e entregou a mim.

―Uma lembrança de casa e cuidado, não mostre para aqueles porcos imundos de distrito. ― Meu pai falou tão baixo que mal deu para processar suas palavras.

Abraçou-me e comentou convicto.

―Você vai sobreviver, você é esperta e terá uma vida boa em distrito.

Fiquei o restante do tempo abraçada a eles, logo depois um soldado bateu na porta e me tirou de lá, fui colocada em um carro a caminho de distrito.

Por mais que meus pais dissessem que eu ia sobreviver, eu tinha certeza que além de ser levada para distrito eu estava sendo levada para minha morte.


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Notas finais do capítulo

Até logo e me digam o que acharam



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