A raposa no banco do motorista tentava permanecer com uma expressão calma, mas isso estava cada vez mais difícil. Além do calor insuportável da praça Saara (pois é, o carro não tinha ar condicionado), a instrutora de direção de Nick era o pior tatu do mundo.

Era o dia do teste final, e Nick havia sentado confiante ao volante do carro com os dizeres “motorista estudante” para tentar passar logo na primeira vez. Afinal, ele havia aprendido a dirigir na marra. O que podia dar errado?

A primeira coisa foi um pequeno detalhe a respeito dos retrovisores. Uma regra boba que dizia que animais com focinho comprido deveriam sempre checar duas vezes o retrovisor interno.

A segunda coisa foi o cinto, obviamente. Os cintos de segurança pareciam ter a altura regulável para todos os tamanhos de mamíferos, menos as raposas. O cinto sempre ficava ou muito alto, quase em seu pescoço, ou muito baixo, atrapalhando o movimento dos seus braços. E é claro que a culpa por isso era dele.

Nick terminou os ajustes e girou a chave, ligando o motor. Deu uma pequena olhada de esguelha para a instrutora, que permanecia com o pé pairando sobre o pedal de freio de emergência. Nick engatou a primeira e pressionou levemente o pedal, saído da vaga onde o carro estivera estacionado a cerca de 20 por hora. Ao virar uma esquina e entrar numa “rua vazia” no pátio de treinamento, ele deixou que o embalo conduzisse o carro até os 40 por hora.

Imediatamente, o carro parou tão depressa que ele foi pendurado pelo cinto. Nick fez menção de falar algo para a instrutora que acabara de pisar no freio, mas acabou calado. Ele acelerou novamente, parando em um semáforo que ficava ali.

A luz ficou verde.

Nick pisou no acelerador e... O carro parou novamente, dessa vez morrendo. Nick encarou a instrutora do jeito mais raivoso que conseguiu sem mostrar as presas. Ele girou a chave mais uma vez, e acelerou até os 30 km/h, antes de a instrutora parar o carro de novo.

Nick apenas respirou fundo.

E tentou seguir, fazendo o carro andar cerca de vinte centímetros antes de parar de novo. Ele perdeu a paciência e encarou o tatu com ódio.

— Escute, você vai me deixar dirigir ou não?

A instrutora limitou-se a fungar.

— Não.

Nick não sabia se tinha entendido direito.

— Como assim, não? É o seu trabalho!

— Eu não gosto de raposas.

— E eu posso te dar seis meses de cadeia ou multa de 1700 dólares por discriminação baseada em espécie e desacato à autoridade.

A tatu simplesmente piscou. O recado está dado, Nick pensou. Ele acelerou até os 34km/h, e o carro deu outra freada brusca. Nick olhou para a instrutora, para o pedal e de novo para a instrutora. Então bateu a sua cabeça contra o volante.

— isso não pode ficar pior.

— não pode ficar pior? – Judy estava ao lado do carro om o celular em punho, gravando um vídeo com a câmera frontal – ah, escutem só o que a raposa diz!*

Nick demorou alguns segundos pra sair do carro e começar a correr atrás da coelha entes que ela tivesse a ideia de postar aquele vídeo.