Encadeado escrita por daddysaidno


Capítulo 2
Júbilo


Notas iniciais do capítulo

Olha o segundo aqui, bem em cima do prazo
Essa fic foi a coisa mais rápida que eu já escrevi na mia vida, então não me julguem



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/702657/chapter/2

— Jacó! — fez sua voz soar entre o mato, sobrepondo-se ao som da água que caía sobre as pedras. De uma lado, a parede rochosa represava a água e a fazia descer numa suave cachoeira; do outro, o grande rio se estendia. 

Apoiou-se nas pedras molhadas para não escorregar e desceu devagar na direção do lago. A roupa encharcada grudava no corpo e deixava as calças pesadas, dificultando a locomoção no piso escorregadio.

— Jacó! — chamou novamente, cansado da brincadeira insistente, mas não havia nada que pudesse fazer. Suspirou derrotado e, quando se aprontou para pular de volta no rio, ouviu o som de passos apressados sobre a água.

Virou-se a tempo de ver, sobre a cachoeira, o homem vestindo apenas calções molhados que se jogava em sua direção. Foi rápido demais para que pudesse reagir, mas não rápido o suficiente para que não observasse os cabelos pretos enrolando-se no pescoço branco dele, os braços magros abrindo-se para abracá-lo com um sorriso de quem estava conquistando o mundo. — Uhu! — ouviu-o gritar enquanto seu corpo o acertava, e os dois caíram com força contra o rio.

Voltou à superfície depressa, buscando ar para aliviar os litros de água que havia acabado de engolir. Sentiu um peso sobre os ombros e logo haviam dois braços ao redor da sua cabeça, empurrando-o de volta para baixo.

Segurou firme nos dois braços e puxou o corpo de Jacó para que o soltasse, e assim que conseguiu, empurrou-o pela cabeça para debaixo d’água. Sua gargalhada ecoou sobre o rio enquanto o observava debatendo-se sob sua palma. Quando enfim deixou-o voltar à superfície, Jacó subiu tossindo e praguejando, cuspindo a água que entrara até pelos ouvidos. 

— Haha! — Sebastião continuava rindo, e acabou engolindo outra boa quantidade de água quando Jacó aproveitou-se de sua boca aberta e empurrou-a com as mãos na sua direção.

Quando recuperou-se, observou-o alcançando a margem e erguendo-se da água. O corpo magro delineado na roupa molhada e o cabelo escuro preso contra o rosto. — Anda, Sebastião — Jacó gritou enquanto tirava a camisa para espremê-la.

O escravo nadou até a margem e saiu da água. Sua altura era nitidamente superior, os ombros e os braços muito mais largos. Jacó agora parecia-se com uma criança ao lado de Sebastião. Tirou a as roupas para espremê-las também. — Se me atrasar, painho vai me dar uma surra.

— A ideia foi tua de ficar se escondendo.

— Não estava me escondendo.

— E o que tanto fazia lá em cima? Passei um tempão te procurando aqui — reclamou enquanto o ajudava a torcer a calça pesada.

— Estava passeando, ué — tomou a calça de volta para vesti-la —, sentiu minha falta? — brincou, enfiando o indicador entre as costelas do moreno para vê-lo pular. Sebastião conteve o impulso de empurrá-lo de volta pra água, coisa que faria sem esforço algum, mas também levaria bronca do patrão pelo atraso.

Caminharam depressa de volta ao engenho, até que a casa grande ficasse à vista. O vento balançava o mato devagar, o sol que se punha deixava o mundo com um aspecto alaranjado e quente, e aquele horário havia tomado um gosto estranho para Jacó. — Boa noite, Bastião — deu um empurrão na cabeça dele, sentindo o cabelo crespo e molhado debaixo da sua palma. Era naquele horário que se despediam.

— Boa noite, Jacó.

Sebastião observou o patrão afastando-se até a casa grande, e só quando viu sua silhueta subindo a varanda, caminhou pro outro lado, na direção da casa do mestre de açúcar onde morava.

Mal havia deitado na cama depois de terminar suas tarefas, ouviu o som do mato, pela janela ao lado do colchão, sendo amassado sob passos cautelosos. Esperou de olhos bem abertos até que o vulto branco apareceu pelo peitoril de taipa, o rosto escondido no escuro. — Tião? — o sussurro baixo mostrava toda a desconfiança do garoto que estava fazendo coisa errada.

— O que é? 

— Vem, anda — Jacó chamou e desapareceu de volta na noite escura.

Sebastião levantou-se e observou pela janela o garoto que se embrenhava no mato. Pulou o peitoril, vestindo apenas as calças que usava para dormir, e o seguiu para longe da construção, tomando cuidado para que não estivesse sendo visto. — Pra onde tá indo? — finalmente perguntou, quando se distanciaram dos casebres e do engenho, e Jacó apressou o passo para começar a correr.

— Corre, Sebastião — dentro das roupas largas de dormir, corria aos pulos, descalço no mato baixo que arranhava as canelas descobertas. A lua minguante não trazia luz suficiente para que Sebastião pudesse ver o sorriso que sabia que encontraria no rosto dele, mas sua silhueta facilmente se destacava na noite escura.

Sem protestar, ele seguiu, até que entrassem no meio das árvores ralas. Jacó já estava ofegando, até que parou e apoiou-se num tronco. — Vem ver — Jacó o pegou pela mão, como fazia desde que eram crianças pequenas, e o arrastou por dentro das árvores até que alcançassem uma clareira. — Olha lá — apontou pra cima, não muito longe.

Sebastião viu pequenos pontos de luz caminhando tranquilamente na direção do céu, como pequenas estrelas ascendentes, de tantas cores quanto era possível. Espalhadas pelo céu, subindo e acompanhando o vento, quando uma sumia, outra surgia. — Lanternas — percebeu, um sorriso abobalhado no rosto.

Sentaram-se no chão de terra, os sorrisos no rosto, para observar os pequenos balões subindo, e com eles a noite. Um atrás do outro, o tempo passou, e Sebastião só percebeu quando a cabeça de Jacó adormeceu no seu ombro. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que gostem tanto quanto eu gostei ♥