Quando pensar em destino, pense em mim. escrita por Boazinha
As portas de vidro automáticas abriram no momento exato que Sakura aproximou a cadeira de rodas da entrada que levava à recepção do Hospital Namikaze. A manhã de sexta-feira estava se mostrando produtiva já que a rosada acordara cedo para sua corrida matinal, preparara o café da manhã e chegara ao hospital antes das nove horas. Horário este bem significativo, afinal, representava o início da consulta de sua tia. Tsunade era conhecida pela sua maestria quando se tratava de cirurgias para retirada de tumores, entretanto, aos trinta e oito anos sofrera um acidente que levou-a findar sua carreira médica. Sakura nunca soube dos detalhes, já que não moravam juntas na época, tampouco pôde vislumbrar a documentação tanto médica quanto judicial. A única coisa que tinha certeza era que o acidente, apesar de ser assunto proibido, demonstrou nitidamente a marca que deixara na mulher de madeixas loiras que não andava fazia três anos. Continuou a empurrar a cadeira de rodas firmemente até a entrada para sala de espera da ala de Fisioterapia. Chegou ao seu destino e acomodou-se numa das poltronas logo depois de posicionar sua tia ao seu lado. Esta, que por sinal, encontrava-se estranhamente quieta.
— O que está pensando, Tsu? Por acaso está preocupada com a sessão de hoje? — Perguntou a mais nova enquanto fitava a mais velha.
— Sakura. Tem uma coisa me incomodando há alguns dias. — Disse, ajeitando o cabelo loiro que acabara soltando do rabo de cavalo.
— O que f- — O questionamento que Sakura ia fazer a Tsunade fora abrandado devido ao aparecimento do médico da loira, que encontrava-se perfeitamente vestido com a roupa social mais o jaleco branco.
— Como está la plus belle dame¹? — A pergunta fora feita por Sasori que abaixou-se na frente da cadeira de rodas para poder fitá-la melhor.
— Sasori! — Exclamou Tsunade, enlaçando a mão masculina na sua. — Faltam cinco minutos para a fisioterapia ainda.
— Eu sei, dame. — Respondeu. — Mas, quis aproveitar esses instantes para dar uma espiada na médica que a acompanha. — Riu, sem graça, apesar da sinceridade.
— Sasori, acredita que Sakura não me contou nada sobre o encontro de vocês? — Perguntou e a expressão descontente dela não passara despercebida pelos dois presentes. Sakura ficou sem graça e Sasori acabou por tomar a iniciativa de explicar.
— Não tem muito o que contar. Parece que nossas profissões nos persegue até quando tentamos ter um encontro romântico. — Explanou o ruivo, completando logo em seguida já que Tsunade arqueou uma das sobrancelhas. — Um senhor tinha passado mal e Sakura teve que ajudá-lo. Depois não a vi mais. Aliás, o que Itachi queria com você? Procurou-a como louco depois que a ambulância chegou. — Perguntou, direcionando o olhar para Sakura, que encontrava-se em silêncio até o momento.
— Itachi? Uchiha Itachi? — O questionamento veio por parte de Tsunade. O som da voz da mais velha elevou-se quando pronunciou o nome alheio, o que fez tanto Sakura quanto Sasori fitá-la de imediato.
— Sim, o próprio. — Respondeu Sasori, tentando entender o estranhamento por parte da loira. Nesse mesmo momento, o celular da médica cirurgiã apitou. Acabou revelando-se numa mensagem de texto de Naruto. Mais uma vez ele a perturbava num dia de folga, riu internamente.
— Vou precisar dar uma passada na emergência, tia. Naruto prontificou-se a levá-la de volta ao apartamento. Tudo bem pra você? — Perguntou a rosada.
— Ficarei bem, filha. Vá cuidar dos seus pacientes. — Concordou e Sakura fitou Sasori por breves segundos, recebendo um balançar de cabeça afirmativo que dizia que o próprio cuidaria de sua tia.
~
Digitou a combinação de seis dígitos com a finalidade de destravar a porta do seu escritório. Quando Sakura adentrou ao recinto, encontrou-o todo revirado, como de praxe. Num primeiro instante visualizou os livros de medicina espalhados pela chão de porcelanato cor gelo, num segundo, os olhos percorreram a mesa quadrada de vidro coberta por dezenas de papéis impressos nas últimas semanas. Além disso, encontrou chapas sobre o pequeno e único sofá bege que continha dentro da saleta. Suspirou, pensando que deveria ter feito a arrumação antes de tirar seu dia de folga. No momento em que reuniu coragem para enfrentar a montanha de papéis em sua mesa, um barulho tímido fora ouvido. O celular voltou a apitar dentro do bolso da calça jeans que usava. Viu o nome do chefe no visor e atendeu no terceiro toque.
— Já estou descendo. Me dê um minuto. — Disse e desligou logo em seguida.
Com certa maestria, Sakura desviou dos inúmeros livros que encontravam-se no caminho e seus pés, vestidos com um salto pequeno, levaram-a de encontro ao jaleco branco que continha seu nome completo fixado num tom de rosa claro. Um deja vú preencheu-a. Lembrou-se claramente quando costurou pela primeira vez e o resultado desastroso encontrava-se em sua frente. Achou, em segundos, o estetoscópio preto dentre a bagunça e juntou-o ao pescoço assim que colocou o jaleco branco por cima da blusa azul que estava trajando. Conferiu se todos os apetrechos encontravam-se dentro do bolso e não demorou para sair da sala. Tentaria lembrar de voltar para arrumá-la, quem sabe, mais tarde.
A mensagem que recebera de Naruto, quinze minutos atrás, dizia-lhe que a residente que estaria sob sua responsabilidade chegara mais cedo ao hospital e que Sakura, como boa orientadora, deveria recebê-la o mais rápido possível. A rosada acabara então por pedir para avisarem a primogênita Hyuuga para esperá-la numa das salas de atendimento emergencial, pois, assim que acabasse de dar as "boas vindas", olharia seus pacientes com os históricos mais graves. Não tardou e chegou a inusitada calmaria que era a ala emergencial naquele dia. A Haruno cumprimentou os conhecidos com um breve aceno de cabeça e entrou na sala número 110. Encontrou Hyuuga Hinata sentada frente a mesa, no assento destinado aos pacientes. A cabeleira azul escuro caía-lhe como pena até abaixo da cintura e Sakura pôde vislumbrar a costura perfeita do nome alheio no jaleco branco assim que sentou-se frente a frente.
— Sou Haruno Sakura, chefe encarregada das cirurgias gerais e serei sua orientadora. — Pronunciou-se primeiro e logo inclinou-se, apoiando os dois cotovelos na mesa branca que separava ambos os corpos.
— Hyuuga Hinata. — A mais nova pronunciou-se depois de alguns segundos e Sakura pôde notar que estava nervosa devido ao barulho que fazia com as unhas. — Prometo que farei o meu melhor. — Soltou por fim e com isso, pela primeira vez, fitou Sakura.
— Não espero por menos, senhorita Hyuuga. — Disse enquanto olhou-a firmemente. Surpreendeu-se por minutos com a cor anormal dos olhos alheios, entretanto, antes que pudesse fazer qualquer comentário, conseguiu perceber uma movimentação diferente fora da sala e não demorou para o barulho da sirene da ambulância ser ouvido. Hinata sobressaltou-se e Sakura colocou-se de pé em segundos, todavia, antes de sair da sala, voltou-se novamente para a azulada. — Não pense que irei facilitar para você. O contato que possibilitou-a entrar aqui não significa nada pra mim. — Finalizou a fim de deixar claro que não estava disposta a aceitar integralmente aquela façanha. Hinata nada disse, porém, no momento que a rosada saiu da sala, a mais nova seguiu-a. Se esta estivesse frente a Sakura, veria o sorriso satisfeito nos lábios da rosada pelo comentário não tê-la amedrontado.
O relógio de pulso cor de ouro da médica marcara nove e quarenta e cinco da manhã quando Yamanaka Ino, enfermeira responsável, veio ao seu enlace assim que saiu da suposta reunião.
— Ainda bem que está aqui, Sakura! — Exclamou a loira. — Acabou de dar entrada um adolescente que sofreu um acidente. Abdômen perfurado. Está lá fora.
— Verei qual é a situação. Prepare a sala de cirurgia disponível. Hyuuga venha comigo. — Disse e correu para fora do hospital.
Apesar de estar de salto, a Haruno levou menos de dois minutos para chegar até a ambulância. Um tumulto incomum formava-se em volta do automóvel e Sakura teve que pedir passagem para chegar até o acidentado. O que viu não agradou-a. O pior fora que os paramédicos não fizeram muito para ajudar. Suspirou resignada e observou os auxiliares retirarem o corpo do jovem de dentro da ambulância através de uma cama móvel. Aproximou-se enquanto os seguranças removiam o grupo de familiares que causavam o incômodo e Sakura, sem hesitar, abriu a camisa social branca encharcada de sangue num puxão violento, espalhando os botões.
— Hyuuga, pegue dois panos- — Antes de terminar a fala, a azulada já estava ao seu lado, disponibilizando os panos para estancar o sangue que continuava jorrando e com a prancheta do paciente em mãos. Num movimento só, a Haruno despiu-se de qualquer constrangimento e educação subindo em cima da cama do paciente. Colocou o joelho direito entre as pernas dele e o esquerdo ficou do outro lado. Pressionou firmemente os panos de encontro as feridas abertas, entretanto, aquilo não pareceu evitar o líquido vermelho vir de encontro a si, sendo assim, tanto a blusa quando o jaleco encontravam-se agora, sujos de sangue. Quando percebeu, um grupo de enfermeiros do hospital empurravam com força a cama em direção a sala de cirurgia a medida que Sakura tentava amenizar a situação. Ao chegar ao seu destino, pôde ver Ino pedindo a Hinata que esperasse por ela longe da sala cirúrgica.
— Yamanaka, deixe a Hyuuga. — Despejou, ofegante. Ino não questionou a decisão da amiga e acabou afastando-se. — Arrume-se e venha para a cirurgia comigo. Quero que assista de perto. — Concluiu, sem olhar para a azulada. A rosada acabara por dar uma boa oportunidade para Hyuuga, afinal, não era de seu feitio ser injusta.
~
A típica sala de reunião era no sétimo andar. Quando Uchiha Itachi adentrou ao recinto, o ar emanado pelos acionistas abrandou-se. O moreno sentou-se na cadeira de praxe, ao lado da do presidente e depositou a pasta de relatórios que levava consigo em cima da mesa. De vidro esverdeado, a mesa oval emanava luxo com seus um metro e quarenta e a combinação de cadeiras metálicas acolchoadas completava o visual. No teto, podia-se notar um retroprojetor que levava ao grande painel, na maior parede da sala, gráficos e informações sobre o próximo projeto que estava encarregado. O sucesso desse novíssimo empreendimento faria Fugaku dar-lhe o cargo de Presidente. O silêncio predominou por cerca de dois longos minutos e Itachi pronunciou-se.
— Boa tarde. — Cumprimentou através de uma reverência, sendo retribuído logo após. — O projeto do novo empreendimento no centro da cidade foi ideia exclusivamente minha. E depois de um bom tempo analisando os benefícios, decidi seguir em frente com a aprovação integral do presidente. — Começou, apertando o botão do controle que fazia os slides, que estavam em sua frente, mudarem. — Me adiantei e mandei o projeto para o setor de construção da empresa e o orçamento sairá nas próximas setenta e duas horas.
Depois de alguns questionamentos importantes por parte tanto do presidente Fugaku Uchiha quanto dos seus acionistas, a reunião empresarial seguiu de acordo com o esperado já que o próximo assunto relacionado as relações públicas fora discutido com afinco. Não se interessou muito pelo embate, apesar de ser significativo. Ao invés de prestar atenção, a mente de Itachi preencheu-se com a imagem inédita de Haruno Sakura que vislumbrou nesta manhã de sexta feira.
O caso fora que prontificou-se a ir ao Hospital Namikaze para recolher a documentação e os exames de Fugaku que ficaram estagnados desde sua entrada na emergência, na semana passada. A esperança de esbarrar com a rosada e tirar-lhe sarro morreu no momento em que as enfermeiras comentaram sobre a suposta folga, entretanto, ao virar-se para ir embora, encontrou-a.
E surpreendeu-se.
Fitou-a encharcada de sangue, sobre um corpo masculino desfalecido, tentando a todo o custo salvar-lhe a vida. Tinha certeza que Sakura não notara sua presença, afinal, estava muito concentrada. Porém, a visão que teve dela naquele momento nunca sairia de sua mente. Apoiou a mão direita no queixo ao pensar em como aquela mulher era inconsequente.
— O que acha dessa situação, Itachi? — Perguntou Fugaku. E não obteve resposta imediata do filho. O olhar perdido do moreno de madeixas longas denunciava-lhe.
— Itachi, estou falando com você. — Tentou novamente e notou-o sobressaltar-se.
— Como? — Questionou.
— Quero saber o que acha de renovarmos a gerência. — Disse o mais velho.
— Creio que não seja momento propício para isso, Presidente. — Concluiu com facilidade, recebendo aprovação imediata.
— Encerramos por hoje então. — Fugaku voltou a pronunciar-se.
Essa fora a deixa para Itachi levantar-se e acompanhar Fugaku até o elevador. No meio do caminho, o mais velho não deixou de chamar-lhe atenção.
— Espero que aquela displicência não aconteça novamente. — Soltou.
— Não acontecerá. — Respondeu seriamente.
— Mikoto esqueceu de avisar-lhe, então estou dizendo agora. — Disse assim que posicionaram-se frente ao elevador, esperando-o chegar. — Tomei a liberdade de mandar o convite do jantar para a jovem que tenho interesse que contraia matrimônio. Amanhã irá conhecê-la. — Finalizou.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
La plus belle dame¹ - A dama mais bonita.
— Demorou um pouco, mas saiu. ♥ Quis mostrar um pouquinho da rotina dos nossos mocinhos nesse capítulo. Espero muito que vocês apreciem!