The Last Day escrita por CaroolTime


Capítulo 1
O último dia de aula.


Notas iniciais do capítulo

Historinha dedicada a um amigo, que nunca vai ler, já que ele me conhece pessoalmente e vai rir da minha cara.

Te amo, viado.



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Eu gosto muito de você.
Colocando minha música enquanto observo os garotos.
- Lana Del Rey - Music to watch boys to-

##########

Sabe quando você tá andando, e tem a leve impressão de estar sendo observado?

Eu tenho isso a todo instante.

Ser gay no mundo atual não era a coisa mais simples do mundo, e eu tentava a todos os modos esconder isso, inclusive de mim mesmo.

Não é tão estranho quanto parece, eu só... Sinto que tudo vai desmoronar a qualquer momento.

Era o último dia de aula, e eu sabia que ele estaria lá, com seu sorriso com covinhas e olhos puxados castanhos escuros, o rosto meio quadrado meio redondo, mas que não chegava a ser oval, o queixo dele tinha uma falha, porém achava a coisa mais bonita que existia, seu cabelo era todo encaracolado, e seu nariz era grande, o que eu achava engraçado.

Ele não era o tipo de garoto de parar o trânsito, não tinha porte atlético, não era nem gordo nem magro, era normal, e sabia que apesar disso atraía olhares, e eu tentava a todo o custo fazer com que ele não percebesse que eu era uma dessas pessoas.

Como todas as pessoas do mundo, é claro que ele tinha um defeito - além de ser hétero - que era...

- Elliot. - Uma voz estridente me chamava ao final do corredor.

Jessie.

-  Vamos garoto, está todo mundo esperando pra gente fazer, todo mundo já está te esperando pro trote. - Fui puxado com força para uma sala ao lado do refeitório.

Jessie era uma garota estranha.

Seus cabelos costumavam ser de um castanho bem claro, quase se confundia com um ruivo, ou seria loiro escuro? Não sei ao certo, enfim, agora eles estavam tingidos de preto, o que dava a ela um ar meio bad girl, mas todo mundo sabia que de bad não tinha nada, era a garota mais dócil que conhecia.

Deixando claro que disse dócil, não santa, a garota gostava de se meter em confusão, mas sabia sair delas com uma paciência e confiabilidade impressionantes, era a demônia em pessoa.

Mentira.

Eu a amava como uma irmã.

Lembra do defeito?

Era ela.

Eles namoravam.

E eu não podia falar nada é claro, a nossa amizade nunca mais seria a mesma.

Como você se sentiria ao saber que seu/sua melhor amigo/amiga está apaixonada pela mesma pessoa que você?

Foi como um tiro no mais profundo dos meus órgãos e doeu mais ainda ao saber que ele sentia o mesmo por ela.

A sala em que entramos era grande, cerca de 50 alunos espremidos para fazer um trote, que não era exatamente um trote e mais uma coisa louca que a Jessie inventou depois de assistir um episódio de Awkward na televisão.

O negócio era o seguinte.

Iríamos sair pelados pelo colégio.

Sim, pelados.

A minha turma não era normal, e como eu disse antes a Jessie tem poderes e claro que usa para causar a discórdia, após um discurso motivador sobre "Causar uma impressão para todo o sempre" todos aceitaram essa loucura.

Tinha gente espalhada por todo o colégio, para que assim que o sinal fosse dado, saíssemos correndo pelo colégio e nos encontrariamos no estacionamento, prontos para ir à fogueira em seguida.

O irmão mais novo do Christian, um amigo nosso, ia dar o sinal assim que a diretora chamasse os professores para uma reunião que haveria logo.

- Jessie, a diretora tá saindo do pátio, vai dar o aviso em poucos instantes. - O celular da Jessie estava em uma ligação com 5 pessoas pelo Skype, uma delas o garoto que vai dar o sinal de partida.

-Certo guri, assim que ela entrar na sala dela, avisa! - O sorriso em seu rosto era exatamente aquele que crianças faziam quando sabiam que estavam fazendo algo errado, pegou seu celular e gritou para nós e para os outros na ligação - Vamos lá cambada, todo mundo tirando as roupas.

Foi tudo tão rápido e estranho que quase infartei ao sentir alguém esbarrando em mim enquanto tirava minha camisa, não era ele, isso aqui não é uma fucking série, contudo, porém, entretanto, a garota que esbarrou em mim me fez virar tão rapidamente que a visão que tive foi extremamente... Embaraçosa.

Ele estava tirando sua roupa, estava tipo, literalmente tudo de fora, senti meu rosto pegando fogo e virei na mesma hora tentando não parecer tão culpado quanto aparentava ser.

- EU NÃO ACREDITO NISSO. - Jessie, escandalosa como sempre, me assusta, me sinto pego em minha própria teia. - Mariane! Para de olhar pro pau do meu melhor amigo, por favor, obrigada. - Olhei para a garota que estava com o rosto em brasas, dei um sorriso acolhedor, só não acho que ela tenha interpretado da maneira certa, já que ficou mais vermelha ainda. - Tadinha. - Sussurrou em meu ouvido. - Mal sabe que você é a rainha das bee. - Olhei sério em seu rosto, para logo em seguida cair na gargalhada.

Vejo um par de mãos tocando em seus ombros e logo a abraçando.

Ele me olha intensamente e sinto meu corpo tremer.

-Elliot. - Sua voz me causava arrepios.

Não sabia o que responder, então apenas balancei a cabeça em cumprimento.

Certamente devo ter parecido um retardado.

Após alguns segundos vemos Christian com as mãos para o alto.

-Tô ouvindo algo. - Todos ficam em silêncio.

-Jessie - Todos olham para seu celular que ainda estava em ligação. - Vou fazer a contagem.

Sinto meu corpo suando frio, seria minha primeira infração academicamente falando, estava nervoso.

- Vamos lá pessoal. - Ela se posiciona à frente da porta como uma líder. - Em 5...

Meu corpo tremia de adrenalina.

- 4...

Segurei firme nas alças da mochila.

- 3...

Alguns estavam sérios, outros com risos soltos.

- 2...

Sinto um par de mãos segurando em minha mochila.

- 1...

Olhei pra trás para ver quem era.

- 0... VUMBORA!!!!!!

A porta foi aberta e todos começaram a correr.

Gritos e mais gritos foram ouvidos.

Barulhos de tambores e vuvuzelas.

O último saía correndo da sala.

E então senti algo encostando em minha boca.

Ele se afastou de mim ofegante.

Não foi um beijo sério, um leve roçar de lábios.

E então saiu correndo e gritando.

-Elliot? - Uma amiga, Susan, que passava pelo corredor me chamava sorrindo.

Olhei para ela em choque.

-Quê que você tá fazendo ai garoto, vamos logo se não não vai ter ninguém pra levar a gente pra praça.

Ela me puxou pela mão e então saímos correndo lado a lado.

Confuso, feliz e triste.

O estacionamento estava uma loucura, não sabia pra onde correr, vi Susan correndo pro primeiro carro que havia.

Procurei por Jessie.

Seu carro estava logo no começo, ela claramente esperava por mim, já que o meu lugar no carro era o único vazio.

Não sabia o que fazer.

Como iria olhar para ela sem parecer o maior traidor da história?

Travei ali mesmo.

Eu ainda a observava, não demorou muito para que me visse.

Sorriu aparentemente confusa por eu estar parado sozinho enquanto todos esperavam ela sair.

Me chamou levantando seus braços magricelas.

Não tive opção.

Ou talvez eu tivesse, só não pensei em uma convincente o bastante.

- Onde você se meteu boy? - Jessie estava tão eufórica que não sabia se ria ou se gritava.

O dono dos meus sentimentos mais profundos me observava pelo retrovisor, não sabia o que ele estava pensando.

- Esbarrei com a Susan na correria, tropeçamos no corredor 6. - Minha mente rodava, não sabia como passei tanta confiança, não gostava de mentir para ela.

- Aquela maldita descida atrapalhando meus planos. - Balançou a cabeça negativamente e sorriu. - Vamos para praça que já tá todo mundo ficando louco.

Ligou o carro e buzinou avisando que estávamos partindo.

                           ########

A praça estava cheia.

Não tinha só a minha sala por ali, metade do adolescentes da cidade estavam lá, até mesmo alguns pais e professores, se certificando que nenhuma merda acontecesse, mas sem interferir no fato de estar cheio de bebida.

Todos estavam devidamente vestidos, antes que pergunte.

Alguns vinham com fardos e fardos de cerveja, outros com mesas e comidas.

O Leon improvisou uma mesa e estava bancando o DJ, até que tava dando certo.

As meninas que não participaram da "Corrida pelada", organizaram a praça com diversas luzes amarelas e brancas, tipo aquelas de natal, as árvores estavam todas enfeitadas.

Assim que a noite surgiu, com suas nuvens levementes arroxeadas, a fogueira estava prestes a ser acendida.

As toras de madeira foram arrumadas longe das árvores, para que as chamas não saíssem do controle.

Jessie chamava todos pelo interfone para fazermos um círculo.

-Vou chamar aqui o nosso querido Elliot, que vai dizer algumas sábias palavras.

Quem olhasse de longe, imaginaria que estávamos fazendo alguma seita ou algo do tipo.

Subo no palco improvisado, e ao invés de sentir aquele medo costumeiro de falar em público, estava confiante.

- Estamos aqui hoje, para dar fim a uma parte de nossas vidas. Foram 3 anos de muita luta e muita glória, tipo a música do Charlie Brown . - Risadas foram ouvidas. - Mas assim como ele, algumas coisas acabam, há quem diga que era bom, há quem diga que era ruim, para mim? Foi importante. E importância tem seus lados bons e ruins, a vida é assim.

Não sentirei falta das aulas, mas sentirei falta dos professores que foram quase como pais.

Não sentirei falta das broncas, mas sentirei falta da Diretora Sophia dizendo para Jessie e pro Christian tomarem jeito do modo mais calmo possível, mesmo sabendo que ela quer mesmo é esganar eles.

Não sentirei falta das provas, mas sentirei falta da nossa pesca conjunta, onde todos passavam não importava o grau de nerdisse.

Não sentirei falta das tretas... Quer dizer, é claro que sentirei falta das tretas...Okay, vamos reformular.

Não sentirei falta das brigas sem sentido, mas sentirei falta da nossa amizade, algumas importantes, algumas nem tanto, porém que estarão comigo em pensamento para todo o sempre.

- Sentirei falta dos amores. - Olhei para seu rosto rapidamente. - Mesmo os não correspondidos, ou você acha assim.

Estou aqui para dizer que não importa o que venha daqui em diante, se aguentamos uma semana inteira sem a comida da Dona Bruna, não tem nada que não aguentamos. - Alguns soltaram leves gritos alegres.

- Saibam que daqui em diante, estamos por nós, e eu sei, que faremos o melhor possível pro nosso futuro. - Jessie ria orgulhosa para mim, via rostos sorrindentes e outros chorosos, e alguns que se limitavam a erguer a cerveja em minha direção, como sinal de respeito.

Fiz um sinal e então a fogueira foi acesa.

- Pedi para que trouxessem duas coisas hoje, uma que poderia lhe causar dor ao lembrar do colégio, outro que lhe traria sorriso. - Todos abriam suas mochilas. - Trouxe duas coisas importantes para mim, entretanto representam coisas distintas. - Pego os dois cadernos que estavam no chão. - O caderno azul é o de desenho e o amarelo de poesias. - Seguro o amarelo em minhas mãos e o vejo pela ultima vez. - Essa fogueira aqui, não é pra ser só uma tradição, como um rito de passagem, peguem aquilo que lhe causou dor, e jogue na fogueira, é a sua limpeza de espírito.

Jogo o caderno amarelo na fogueira a minha frente.

- E agora olhe para o que lhe deixa feliz e guarde com todo o carinho do mundo, daqui a 10 anos, se lembrarão apenas das coisas boas. - Dou um sorriso ao ver todos entretidos, até mesmo aqueles que não queriam nada da vida. - Agora... QUE COMECE A FESTA.

A música começou a tocar e todos presentes começaram a gritar e se divertir.

                                   #######

Estava sentado em um canto mais escuro da praça, desenhando o que seria a última imagem da minha turma,  quando vejo a silhueta alta e desengonçada de Jessie.

- Oi viado. - Acho que estava bêbada. - Eu te amo você sabe disso certo? - Certamente estava bêbada.

- E eu acho que você está bêbada. - Seguro o sorriso ao ver seu estado. - Vou te deixar em casa noiva cadáver.

- Ai Elliot me deixa. - Suas palavras não condiziam com seus gestos, já que concordou quando lhe segurei.

Me despedi das pessoas dizendo que levaria aquela bebum em casa, e prometendo a alguns que nos veríamos na formatura.

-Cadê seu namorado? - Não era uma pergunta com segundas intenções, juro.

- Sabe, o amor é confuso. - Começava a dirigir. - Eu pensava que amava carne vermelha, até me apaixonar por sushi. - Sorri para suas palavras sem noção. - E pensava que amava o Erick, até ele me dizer que é gay. - Arregalei os olhos e parei o carro de forma desastrosa no sinal vermelho.

- O que... O que disse? - Questiono tentando manter a voz normal.

- Erick me disse ontem a noite que é gay. - Ela se recostava no banco do carro. - É estranho, principalmente ao saber que eu não me importava. Acho que não o amava tanto assim.

-Você disse que... O Erick é gay? - Estava pasmo.

- É viado, você é surdo? - Me olha zangada e caí na gargalhada. - Acho que vocês dariam um casal legal.

- O que quer dizer com isso? - Não houve respostas de seu lado, olho rapidamente para ter a certeza de que tinha caído no sono.

Diminui o volume do som e liguei o ar condicionado.

Assim que parei na porta de sua casa mando uma mensagem para sua irmã, que rapidamente desce para ajudá-la.

- Não precisa Elliot. - Diz para mim docilmente.

Discordo e a ajudo a levar Jessie para seu quarto.

- Obrigada, Eli. - Dá uma palmada agradecida em meus ombros.

- Não precisa agradecer. - Abro a porta da casa e paro ao saber que não sabia como voltar pra casa já que estava no carro da Jessie.

- Mesmo assim... Você é um bom garoto. Pode ir com o carro dela, tamanha você trás de volta. Coisas boas lhe aguardam. - Sorri para ela agradecido e dirijo para casa.

Minha Mãe e irmãos estavam assistindo televisão na sala.

- Como foi lá, querido? - Pergunta interessada.

- Maravilhoso, amanhã descrevo tudo, agora estou muito cansado. - Beijo sua testa e cumprimento Marla e Jake que sorriem para mim.

- Tudo bem meu filho, vá descansar.

Entro em meu quarto e me jogo na cama.

Penso em tudo o que ocorreu.

Se Erick e Jessie terminaram ontem, não havia sido uma traição como pensava.

Sorri ao pensar que ele poderia sentir algo por mim.

Estava prestes a dormir quando sinto o bolso tremer.

                       Uma nova mensagem

[26/10 18:13] Erick : Aceita tomar um sorvete comigo amanhã?

Paro de respirar por um instante.

Tudo tão confuso, tão... Rápido.

E não mais rápido que minha resposta.

[26/10 18:15] Elliot : Aceito.

A final, talvez parecesse com uma série.


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Notas finais do capítulo

Com carinho.



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