Elsa estava no escritório real, seus olhos estavam atentos a cada palavra de uma carta que havia acabado de receber do reino de Narvik. Seus dedos brincavam com a pena já carregada de tinta... A monarca não sabia o quê escrever de volta. Aparentemente, um rei muito querido por ela de um reino aliado havia morrido devido a uma doença... Resolveu guardar o papel, não tinha que enviar uma resposta imediata ao príncipe do norte, esperar parecia a melhor opção. A rainha voltou seu olhar para a janela, ainda era de manhã. Como sempre, havia acordado bem cedo para resolver os assuntos do seu reino.

Elsa se levantou, logo dando curtos passos até aquela janela. Era um de seus fetiches encarar o belo reino de Arendelle, o fazia sempre e amava a sensação que isso lhe trazia. Podia enxergar seu reflexo no vidro enquanto observava a paisagem e os cidadãos, essa visão sempre a recordava de quem era. Como sempre – e inevitável – deixou um sorriso escapar. A rainha era atenta e observadora, mas constantemente se via absorta em devaneios. Por isso não notou a chegada de uma pessoa no aposento até ela se pronunciar.

“Bom dia, querida!” A rainha calmamente se virou para a recém-chegada. Aquela doce voz não conseguia surpreendê-la, é como se estivesse presente em todos os lugares. A monarca a encarou, exibindo um belo sorriso.

“Bom dia, Gerda.”

Gerda era uma mulher de cabelos castanhos, um pouco acima do peso e baixinha. Foi sempre a confidente da rainha e da princesa de Arendelle, além de ser a empregada de confiança dos falecidos reis. Ela foi quem ajudou as herdeiras quando aquele navio afundou e, mesmo abalada, foi o porto seguro delas. Gerda criou as garotas como se fossem suas filhas e, até agora, não poderia deixar de vê-las dessa forma.

A empregada foi em direção à rainha, segurando seu rosto com ambas as mãos.

“Oh, Elsa! Está tão pálida! Deve ser porque não desceu para tomar café de novo!” Disse ela, a monarca só pôde rir e concordar.

“Sinto por isso, queria acabar logo com a papelada do dia.”

“Tudo bem. Mas agora desça para ter um belo café!”

“Claro, irei agora mesmo.” Falou a rainha, se rendendo a insistência da amiga.

Enquanto conversavam, outra pessoa surgiu no escritório real.

“Gerda! Deixe a rainha em paz!”

Esta outra voz também era inconfundível para Elsa. O seu conselheiro, Kai. Este trabalhava para o rei Agnar e a rainha Iduna antes da tragédia, e igualmente via as herdeiras de Arendelle como se fossem da sua própria família. Ele tinha cabelos ruivos e muito bem cortados, era muito magro e se caracterizava usando roupas um tanto quanto extravagantes e óculos enormes. A monarca acreditava numa espécie de romance secreto entre ele e Gerda, mas nunca os questionou sobre o assunto.

“Ora! Estava chamando minha pequena para tomar café! Pare de se preocupar tanto, Kai!” Retrucou a empregada.

“Se não a atrapalhou tudo bem!” Disse o conselheiro um pouco impaciente. “Elsa, por acaso já leu a carta que veio do príncipe Hakan?” Perguntou ele se dirigindo a rainha. Esta acenou com a cabeça.

“Sim, Kai. O responderei assim que puder. Não se preocupe."

A monarca sorriu novamente em direção a eles.

“Viu! Se acalme!” Disse Gerda para o conselheiro, apenas brincando.

Elsa logo sentiu seu estômago roncar, decidindo, enfim, descer para comer algo. Se despediu dos amigos e seguiu em direção à cozinha.

A rainha estava crente que ficaria sozinha na mesa do café, porém, como vem sendo ultimamente...

Essa foi mais uma expectativa que não foi atendida.

                                                         ~~~~~*****~~~~~

“Kristoff! Diga logo onde estamos indo!”

“Calma, Anna! Já estamos chegando!”

A princesa de Arendelle não podia ver o vendedor de gelo, mas sabia que ele estava rindo. Percebia o humor na voz dele.

Anna estava vendada, sendo guiada pela mão quente e suada de Kristoff. A princesa havia sido acordada pelo namorado bem cedo, ele dizia que tinha algo para fazer naquele momento. Anna – mesmo com o fetiche de sempre acordar tarde – decidiu se levantar e segui-lo. Ela se questionava agora se havia cometido um erro.

“Ah! Como é lindo o verão!” Dizia Olaf, que os acompanhava desde manhã. Ele tinha feito questão de ir com eles... Dizia que tinha medo de ficar sozinho com o Sven, temia por seu nariz. A rena também estava lá, seguindo o boneco de neve de perto. O que só fazia Olaf dar passos cada vez mais apressados.

“Chegamos...”

A princesa se arrepiou ao ouvir a voz rouca de Kristoff e parou imediatamente, tinha algo que ele estava escondendo dela, e estava louca para descobrir o que era. Percebeu a mão dele soltar a sua para desamarrar o nó que prendia a venda. Sentiu-a cair sobre seu rosto para, enfim, ter uma das visões mais belas que já pôde observar.

Havia um piquenique montado em sua frente, tudo lindo e muito bem preparado. Agora ela tinha entendido o porquê da madrugada, o céu da manhã completava a beleza daquela imagem.

“Espero que tenha gostado...” Anna se arrepiou novamente ao senti-lo sussurrar em seu ouvido. “Ahh... Olaf, Sven?” Os amigos ainda estavam lá, só observando a cena. “Será que podem nos deixar um pouco a sós?”

“Mas eu quero ver...” O boneco de neve pediu com olhar pidão, mas o vendedor de gelo somente o lançou um olhar repreensivo. “Tudo bem, Christopher.” Disse Olaf, se virando de costas.

Após alguns segundos, Sven e o boneco de neve estavam bem longe do casal. Kristoff lofo ficou aliviado... Por cinco segundos, pois a tensão estava o dominando de novo. Mesmo assim, abraçou Anna por trás.

“E-Eu não sei o que dizer... Preparou tudo sozinho?”

“Fiz o quê pude...” Seus dedos trêmulos percorreram os braços da princesa, entrelaçando seus dedos com os dela.

Ficou a sua frente, muito ruborizado, encarando os belos olhos da princesa de Arendelle.

“A-Anna... Não consigo enrolar mais...” Suas palavras saíram arrastadas e seus dedos estavam trêmulos. “Por toda minha vida tentei evitar as pessoas, mas você... Nossa!” Um sorriso bobo brotou em seus lábios. “Você mudou tudo, inclusive a mim...” Kristoff levou uma de suas mãos ao cabelo da princesa, colocando um mecha atrás da orelha. “Eu te amo... Por isso e-eu...” Gaguejou um pouco, Anna já parecia um pimentão.

“K-Kristoff... Mas o q...” Ela não conseguia formular as frases.

Ele fechou os olhos para, em seguida, abri-los novamente encarando profundamente os da princesa.

“Anna... Quero que fiquemos juntos o quanto pudermos...” Ele respirou fundo para, enfim, fazer a pergunta que tanto queria. “Quer se casar comigo?!”

Ficaram em silêncio por segundos que pareceram horas. Kristoff temia que a princesa ainda tivesse receio do casamento por causa do príncipe das Ilhas do Sul, já estava suando. Havia fechado novamente os olhos para evitar as lágrimas que já estavam prestes a cair, os abriu novamente ao ouvir o choro da amada.

“S-Sim! É claro que sim!” Anna pulou em cima do noivo para, logo em seguida, trocarem um beijo, que foi um tanto tímido. Kristoff permitiu que as lágrimas corressem por seu rosto.

“Aiiiii! Que coisa linda.” Os noivos nem notaram a volta de Olaf e Sven, somente trocavam longos sorrisos. A princesa chamou pelo amado.

“Kristoff?”

“Sim, Anna?”

“Posso comer os chocolates agora?”

                                                          ~~~~~*****~~~~~

Jack esperava Vicent terminar o café calmamente, estavam na cozinha. Como era de seu fetiche, estava divagando muito nessa hora. Lembrou da conversa com a rainha na tarde de ontem... Realmente iria contar para Elsa tudo o que ocorreu? Ele acreditava que as chances dela ouvi-lo eram zero. “Pois eu acho que devia tentar”. Essas palavras não saíam da sua cabeça.

“Garoto, se prepara para trabalhar o dobro, hein.” Foi despertado por Vicent, Jack já havia até esquecido. O ministro Olin de Arendelle tinha chegado nessa madrugada, ele pediu para que o velho inventor fizesse uma viagem ao noroeste para mostrar suas inovações à Aliança dos Reinos Nórdicos. Ficaria fora por tempo indeterminado, mas Jack está feliz pelo amigo.

O ex guardião encarava um ponto qualquer na parede mas, novamente, sua atenção foi roubada por uma voz já conhecida.

“Bom dia Vicent, Jack.” Disse a rainha de Arendelle. Os amigos imediatamente se levantarem para, logo em seguida, fazerem uma curta reverência. “Sabem que não é necessário, não aqui.” Falou Elsa, lhes direcionando um sorriso gentil.

Ela foi em direção à mesa, pegando algo para comer. A rainha se sentou junto a eles para o café. Jack ficou um pouco em choque. Por que a monarca iria até a cozinha para comer e ainda se sentar junto a funcionários? Ele não deixava de se surpreender com ela.

“Vicent, aceitou ir à reunião?” Perguntou a rainha.

“Sim, majestade. Irei para lá daqui a algumas horas.” Respondeu o velho inventor.

“Tenho certeza que surpreenderá a todos.”

“Espero.” Ele sorriu também.

Depois dessa curta troca de palavras, ninguém soube mais o que dizer. Foi um período sem conversas, mas Jack se pegava o tempo todo olhando de relance para Elsa. Esta ficou fazendo o mesmo... Tinha que descobrir os segredos por trás daqueles olhos castanhos.

Pouco tempo depois, a rainha terminou o café, se levantando. Os outros fizeram o mesmo.

“Devo ir agora... Vicent, espero que faça uma boa Viajem. Jack...” Ela direcionou seu olhar ao ex guardião. “Nos vemos em qualquer hora.” Disse ela com um sorriso. Aquilo foi uma incógnita para Jack, tinha a consciência de que ela estava curiosa... Ele já não sabia o que fazer.

“Com certeza, Elsa.” Somente disse.

A rainha deu um curto aceno e um sorriso para, em seguida, passar pela porta. O ex guardião ficou encarando sua figura até não poder vê-la mais. Mas, como todos já sabem...

Esse destino anda pregando peças.

Ele não fazia a mínima ideia...

Que reveria a rainha de Arendelle ainda naquele mesmo dia, só que sob a figura brilhante da Lua.