“These flames tonight
Look into my eyes and say
You want me too like I want you”
Hunger - Ross Copperman

Evitei o máximo que podia, mas no fim do dia precisava voltar para casa. Cheguei por volta das seis e a imagem que vi foi de quebrar meu coração. Jéssica estava agarrada a Isi, seu cachorro de pelúcia, enquanto Jasper estava sentado ao seu lado com uma carranca muito similar à de Jethro.

Sentei no sofá, coloquei Jessica em meu colo e embora tivesse uma noção do motivo pelo qual estavam assim, ainda perguntei a eles:

—Por que essas caras tristes?

—Eu não estou triste. –Jasper protestou, levemente mal-humorado.

Mas Jéssica explicou:

—Papai se foi.

Instantaneamente após ouvir ela dizer isso, eu a apertei em meus braços, como na intenção de tranquiliza-la, entretanto, acho que foi mais para me tranquilizar.

—Ele está na casa dele Jéssica, vocês ainda podem visita-lo e ele ainda pode vir aqui. –Eu disse racionalmente, afinal de contas era esse nosso arranjo, desde que retornei para os Estados Unidos.

Ela virou o olhar em minha direção e me explicou o óbvio:

—Não é a mesma coisa mãe.

E dessa vez eu não tinha o que dizer, pois minha caçula tinha toda razão.

Senhora Martinez então veio até a sala anunciar que o jantar estava pronto, coloquei Jéssica no chão e disse:

—Vai lavar as mãos.

Enquanto isso, Jasper permaneceu sentado me observando, pergunto-me se ele está se lembrando de quando era mais jovem e Jethro morava conosco.

—Tudo bem Jasper? –Questiono ao meu primogênito de poucas palavras.

Ele murmurou um:

—Sim.

E se levantou, tão jovem e já tão parecido com o pai.

Enquanto as crianças comiam, fui até a senhora Martinez e pedi a ela um favor.

Após colocar ambos em suas camas, desci e senhora Martinez estava na sala como eu havia pedido.

—Acho que não irei demorar muito, mas se não voltar em uma hora vá até o quarto de Jasper e confira se ele está dormindo. –Eu disse a minha governanta.

—Vai passar a noite no trabalho? –Ela me questionou, pois não eram raras as ocasiões em que eu voltava para casa para poder jantar com as crianças e coloca-las para dormir e depois retornar ao trabalho.

 _Não tenho certeza. –Respondi antes de sair.

Como havia dispensado meus seguranças, peguei meu próprio carro e dirigi até meu destino. Como sempre a porta estava destrancada, entrei e fiz meu caminho até o porão. Pisei no terceiro degrau e ouvi um rangido, que foi o suficiente para ele voltar o olhar em minha direção. Fiz o caminho até o fim da escada e ele me acompanhou com os olhos, passo por passo. É então que eu percebo, não tenho nenhum pretexto para justificar o que estou fazendo aqui, exceto talvez contar a ele sobre minha viagem, mas não era necessário que eu viesse aqui.

Tento esconder meu nervosismo me servindo de Bourbon. Ele se aproxima de mim e pega um copo para se servir também. Depois que ele toma o primeiro gole ele me pergunta:

—O que você está fazendo aqui Jen?

Como ele podia usar o apelido que me deu e não lembrar de mim? Isso as vezes me deixava muito irritada. Mas isso não vinha ao caso no momento, o que eu responderia a ele?O que eu diria em seguida?

—Queria saber se você está bem. –Eu disse e não era exatamente uma mentira.

Ele me lançou um olhar desconfiado, tomei um gole da minha bebida, esperando que o álcool me desse coragem para perguntar:

—Por que você não se lembrar de mim?

Sei que não vim aqui exatamente por isso, mas essa situação toda estava me deixando frustrada.

Em resposta, ele juntou as sobrancelhas, como se não entendesse minha pergunta. As vezes eu definitivamente tenho vontade de lhe dar uns cascudos.

—Não faça essa cara Jethro. Você se lembrou de Duck, Palmer, Tony, Abby, Ziva, McGee. –Eu disse levemente irritada, não que eu estivesse enciumada, mas nós temos uma relação há anos e ele tem a capacidade de se lembrar de Palmer e não de mim? Isso chega a ser quase que ofensivo.

—Também lembrei de Jessica e Jasper. –Ele completou com uma pitada de diversão?

Bufei, o que eu queria provar com isso afinal? Que eu realmente não era tão importante em sua vida?

—Você me odeia tanto assim? A ponto de não querer nem mesmo se lembrar de mim? –Questionei.

Posso ter exagerado um pouco, mas poxa essa situação é frustrante demais. Como ele ousa me esquecer assim e nem mesmo se dar ao trabalho de tentar se lembrar?

Eu o observo tomar o restante de seu Bourbon de uma vez.

—Tenho dificuldades nas memórias que envolvem você Jen. Elas são sempre as mais confusas, mas você foi a primeira pessoa que eu lembrei. –Ele finalmente revelou.

Eu o encarei, como se duvidasse disso, porque sinceramente eu duvido.

—Sim, naquele dia você estava certa, a primeira coisa que me lembrei foi de nós dois naquela cama, naquele minúsculo apartamento em Paris. –Ele disse com um olhar desinteressado, por admitir que eu estava certa.

Arregalei os olhos, por mais que tenha dito em um tom de brincadeira eu o conhecia bem a ponto de saber que ele provavelmente se lembraria dessas partes primeiros.

E então ele continuou:

—Os dias foram passando, e eu me lembrei da Servia, Marseille, Londres. –Ele deu uma pausa e continuou –Sabe o que me irritava? Você parecia estar tentando manter distância entre nós, enquanto em minhas memórias nós nunca estávamos distantes.

Eu o interrompi:

—Jethro...

Então ele avançou em minha direção.

—E isso... –Ele disse ao agarrar a minha cintura com sua mão esquerda e minha cabeça com a direita, em um piscar de olhos estávamos nos beijando loucamente.

Ardente. Essa é a melhor palavra para descrever nosso beijo, na verdade é uma palavra que se resume muito bem nosso relacionamento. Quando o oxigênio se fez necessário, ele se afastou e deu um passo para trás observando minha reação.

Eu respirava, enquanto minhas pernas estavam bambas. Por que ele sempre consegue fazer isso comigo?

—Isso é o que eu estava louco para fazer, por isso tive que ir embora. –Ele disse me encarando com aqueles malditos olhos azuis.

Suspirei, ah se fosse só você Jethro...

—Nós... Isso... Não... –Tentei em vão formular uma frase, entretanto, ele deu um passo à frente, deixando mais uma vez nossos lábios a poucos centímetros de distância e desviando o olhar de seus lábios para que eu não fizesse loucura, me perdi em seus olhos azuis. Os malditos olhos azuis.

E quando percebi já nem sabia o que iria falar.

Ele colocou ambos os braços em minha cintura, Leroy Jethro Gibbs ainda ia ser a minha perdição.

—Por favor Jen. –Ele disse, quase que suplicando, quando nossas testas estavam coladas.

Deus, Leroy Jethro Gibbs não diz por favor e isso só me faz considerar ficar.

Faço então algo que com certeza me arrependerei no futuro, mas não hoje, eu finalmente o beijo como queria fazer há muito tempo.