P.O.V Nico

  Eu nunca pensei que fosse me apaixonar. Desde o que aconteceu com Bianca, eu considerava meu coração uma pedra no peito, que não servia pra nada a não ser suas funções naturais de bombear sangue. Por um tempo, pensei que nunca ao menos fosse voltar a ser feliz. Mas eu estava errado, pois Percy e Annabeth, e até Grover um pouco, contribuíram para que a pedra do meu coração se amolecesse um pouco. Mas isso era antes de conhecer Melanie.

  Sim, eu tinha que admitir, eu estava apaixonado por ela. Melanie tinha aquele jeito misterioso, mas assim que você a conhecesse melhor, veria que ela é a pessoa mais... Mais... A melhor pessoa do mundo.

  Pelo menos pra mim, né.

  Se antes havia alguma dúvida quanto a isso, agora não tinha mais. Eu, sem dúvida, estava apaixonado pela Melanie White. Era quase impossível para mim, ficar no mesmo ambiente que ela e não poder dizer o que eu sentia, e beijar e abraçar ela. Mas ainda bem que meu auto-controle é bom. Eu não poderia ficar longe dela. Meus amigos me deixavam contente, mas era Melanie quem me fazia feliz de verdade. Acho que nunca me diverti tanto desde a morte de Bianca como me diverti aquela noite em que ficamos brincando com nossos poderes como duas criancinhas. Acho que seríamos capazes de passar a noite em claro daquele jeito, se em certo momento...

  — Ai! — Disse ela, caindo por cima de mim. Eu me “desequilibrei” e caí no chão, ela em cima de mim, nossos rostos perigosamente próximos. Se eu não tivesse um ótimo auto-controle, juro que teria passado meus braços por aquela cintura fininha e abraçado ela com força, beijando-a ali mesmo, no chão. Minha respiração estava irregular e meu coração estava a mil, e torci para que ela não percebesse isso.

  — D-desculpe — Falou ela, corando.

  — Não foi nada. — Falei, com a voz um pouco trêmula. Caramba, será que nem a capacidade de controlar a minha voz eu tenho?

  — Ahn... Acho melhor a gente dormir. Já são duas da madrugada!

  — Como você sabe?

  — Pelos deuses, Nico. Minha mãe é a deusa da noite, queria que eu soubesse que horas são quando é de manhã?

  — Ah. Sim. Claro. Foi mal. — Senti meu rosto quente sob o curativo que eu havia feito no corte que o idiota do Craft havia me feito, e torci para que não tivesse corado. Percebi que ela ainda não havia saído de cima de mim. Na verdade, eu nem queria que ela saísse.

  — Vamos dormir, então? — Falou ela, levantando-se. A única coisa que consegui pensar foi um “Aaaaaaah” desapontado.

  — Vamos. — Levantei e fui desligar a luz. Melanie já havia se jogado na cama.

  — Boa noite, Nico. — Ouvi sua voz dizer assim que ficamos no escuro.

  — Boa noite, Melanie.

  — Pode me chamar de Mel.

  — Ok. Então, boa noite, Mel. — Acrescentei com um sorriso.

  Mesmo no escuro, acredito que Mel sorriu, e então fechou os olhos. Eu segurei meu impulso de ir até aquela cama e me abraçar nela e me contentei com um travesseiro.

  ***

  No dia seguinte, fui acordado por alguém me sacudindo.

  — Acorda, seu dorminhoco. — Abri os olhos e vi Mel White me sacudindo, já totalmente vestida com um vestido curtinho vermelho e preto com influências góticas, sapatos que pareciam de boneca e um colar com pingente de lua que eu não havia percebido estar ali antes. — Daqui a pouco é o horário para o café da manhã, nós temos que ir.

  Levantei, sonolento demais para ficar com vergonha de ela me ver com meus cabelos ninho de rato de manhã. Fui pegando uma roupa para me vestir enquanto Melanie andava para lá e para cá fazendo qualquer coisa.

  — Dormiu bem?

  — U-hummmm. — Resmunguei.

  Melanie riu. — É, eu percebo. Você é meio sonâmbulo, sabia?

  Imediatamente fiquei alarmado. Ah meu Hades, o que eu havia feito?

  — Sério? O que eu fiz?

  — Hoje de manhã foi você quem me sacudiu pra eu acordar. Quando eu acordei você foi até a janela e ficou um bom tempo parado lá, olhando pra fora e murmurando uns trecos ininteligíveis. Depois, voltou pra cama.

  Soltei a respiração em alívio. — Ah. Só isso?

  — Só. Agora se arruma aí. Eu vou saindo, te espero lá fora.

  Assim que ela saiu, me vesti e arrumei o cabelo decentemente. Minhas olheiras estavam mais fundas por ter ficado acordado até tarde, mas não me importei. Tentei me lembrar do que havia sonhado para ter feito o que ela disse, mas não consegui. Saí e vi Melanie conversando com Percy e Annabeth.

  — O que você fazia dormindo no chalé de Hades, mocinha? — Eu ouvia Annabeth falando em um tom maternal de brincadeira.

  — Dormia, oras. — Respondeu Mel com uma risadinha. Percebi que ela também estava com olheiras, mas as dela eram mais ressaltadas por a pele dela ser tão pálida e a minha ser morena.

  — Pensei que seu lugar fosse no chalé de Hermes... — Falou Percy sugestivamente.

  — Por quê? Dizem que Hermes acolhe a todos, mas se você for ver bem, Hades também. E eu tenho bem mais a ver com Hades do que com Hermes.

  — Tem razão. Mas como você foi pra lá? Simplesmente pegou suas coisas e apareceu do nada, dizendo algo tipo “Oi Nico, vou ser sua nova companheira de chalé”?

  — Claro que não, Ann. Foi...

  — Foi uma longa história. — Falei, entrando em cena.

  — Ah, Nico. — Percy e Annabeth me cumprimentaram. — Dormiu bem essa noite?

  — Sim... — Respondi antes que percebesse o que aquelas mentes poluídas estavam pensando.

  — HAHAHA — Percy riu histericamente. — Imagino, cara. — Ele me lançou um olhar sugestivo. Percy sem dúvida já havia sacado que eu não gostava da Mel só como amiga.

  — Como vocês são. — Falou Melanie, cruzando os braços. — Eu, hein. Vou sair daqui antes que... Antes que vocês infectem minha mente pura com essas malícias.

  — Ninguém falou malícia nenhuma aqui — falou Annabeth com cara de inocente. Só a cara. — Isso é tudo coisa da sua cabeça.

  — Vá para... — Mel se interrompeu, lembrando-se da última vez que mandara alguém para o Tártaro. — Vá se catar, Annabeth. — Concluiu ela com um olhar divertido. Então ela cruzou os braços e foi andando até o refeitório para o café da manhã. Percy e Annabeth riram e nós a seguimos.