A Filha da Noite escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 34
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo ficou longo, porque mais uma vez eu juntei dois em um, mas ele tem bastante diálogo e enrolação XD Espero que gostem ;*



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POV Melanie

 

  — Pronto... Ela já está acordando.

 

  Abri os olhos lentamente e pisquei, apesar de ainda estar meio dormindo. Eu estava deitada em uma superfície dura e lisa, como um chão de mármore. Acima de mim eu via uma luz clara e dois rostos. Um deles era de um homem que eu não conhecia, que havia dito que eu já estava acordando. Ele era lindo, tinha olhos azuis e cabelos loiros, e parecia pouco mais velho que Percy. O outro era ainda mais lindo, com cabelos e olhos escuros, e eu o conhecia muito bem. Fechei novamente os olhos e me aproximei mais de Nico.

 

  — Ahn, Mel... Acho melhor você acordar. — Disse ele baixinho no meu ouvido.

 

  Em seguida ouvi um pigarro, e tive aquela sensação desconfortável de estar sendo observada.

 

  Sentei no chão e abri mais os olhos. Nico estava ajoelhado no chão, e eu estava praticamente grudada nele. O homem que estava conosco havia sumido. Pouco atrás de nós estavam Thalia, Percy, Summer e Heidi. Estávamos em uma sala ampla e clara, e eram sete e quarenta e cinco da noite.

 

  E, à nossa frente, em doze tronos diferentes que formavam um U assim como os chalés principais do acampamento, estavam doze figuras diferentes de mais de três metros, que eu não precisava pensar muito para deduzir quem eram, até porque alguns eram rostos bem conhecidos. Levantei em um pulo e me endireitei ao lado de Nico, que se levantou com mais calma.

 

  — Ah, finalmente! — Exclamou o deus sentado no trono mais ao centro, ao lado de uma mulher que nos olhava com desgosto. O homem tinha barba grisalha e olhos iguais aos de Thalia, e usava um terno cinza escuro. — Agora que a garota finalmente acordou, podemos começar?!

 

  — Acalme-se, irmão. — Disse um homem à direita dele, com barba preta, olhos verdes como os de Percy e roupas que lembravam um pescador. O trono dele tinha várias conchas e pedaços de coral e coisas marinhas assim.

 

  — Eu demorei muito pra acordar? — Perguntei baixinho ao Nico.

 

  — Sim. — Respondeu ele com um riso. — Se não fosse por Apolo, você dormiria por muito mais tempo. Vários dias, provavelmente. — Ah, que coisa feliz.

 

  — Certo. — Disse Zeus com sua voz potente. — Bem, vocês prestaram um grande serviço ao Olimpo e tudo mais. Isso teve um preço — ele olhou para uma mulher loira com sábios olhos cinza como os de Annabeth — mas vocês sabem que tudo tem um. Mas vocês enfrentaram o maior monstro de todos...

 

  — Não podemos andar logo com isso? — Interrompeu uma figura que eu realmente não queria ver. Dioniso.

 

  — Você não pode pensar em outra coisa fora festas e vinho por um minuto? — Perguntou irritada uma garota ruiva que parecia ter doze anos, que só reconheci pela tiara prateada de lua semelhante à de Thalia, só que muito mais trabalhada.

 

  — Posso. — Respondeu Dioniso com calma. — No meu ódio por aquele acampamento... Pacman... Ariadne...

 

  “Na mãe do Pollux também, né?”, pensei maliciosamente. Tive a impressão de ver um pequeno vulto escuro passar por trás dos tronos e piscar o olho para mim.

 

  — Eu ouvi isso, Megan... — O Sr. D murmurou com raiva, virando os olhos roxos de ódio para mim. Eu reprimi um riso e levantei uma sobrancelha.

 

  — Vai dizer que não é verdade? — Perguntei. Por Nyx, eu não valho nada, mesmo. “Se fosse mentira, seu chalé estaria vazio... Ah, e também tem a ninfa que te fez parar no Acampamento, certo?”, acrescentei em pensamento.

 

  De repente, uma raiz grossa e cheia de espinhos brotou do chão aos meus pés e foi me enrolando e me apertando, subindo em rumo ao meu pescoço. A raiz me apertou forte e poderia até ter me matado, mas o Sr. D fez o erro de me atacar à noite. Minhas forças pareceram aumentar, e fiz alguns pedaços de noite entrarem na sala dos tronos e envolverem as raízes, matando-as. Assim que minha mão esquerda ficou livre, lancei outro pequeno pedaço de noite igual ao que eu havia usado para explodir as portas da loja do posto de gasolina. Esta atingiu em cheio o nariz gordo de Dioniso, fazendo-o ficar ainda mais vermelho.

 

  — CHEGA! —Berrou Zeus, e um raio forte soou, abalando até a sala de tronos. — PAREM! SE NÃO PARAREM, O DIONISO GANHA MAIS 150 ANOS NO ACAMPAMENTO E EU FRITO SUA CABEÇA COM UM RAIO, MELANIE WHITE!

 

  Parei qualquer pensamento que estivesse passando pela minha cabeça e dei um sorriso sarcástico ao ver a cara de Dioniso quando ele bufou e revirou os olhos.

 

  — Muito bem. — Prosseguiu Zeus, satisfeito diante do nosso silêncio. — Como vocês prestaram um grande serviço aos deuses enfrentando tantos perigos por nós e sofrendo tanto e blábláblá, nós oferecemos a cada um o direito de fazer um pedido. Nós atenderemos se estiver dentro de nossas condições, e devem ser pedidos simples, principalmente para Thalia, Perseu e Melanie, já que nosso instrumento principal para derrotar Tífon foi Heidi. Então, Melanie White: o que você quer?

 

  Pensei um pouco. Aquela “ampliada” nos poderes me cansava muito, e na verdade o que eu mais queria era dormir por um bom tempo. Mas então me forcei a lembrar de coisas que poderiam ser úteis, e cheguei a uma conclusão.

 

  — Quero apenas que construam chalés para cada um dos deuses primordiais no Acampamento.

 

  Os deuses se olharam, meio confusos. Ouvi Heidi e Thalia murmurarem alguma coisa atrás de mim, também.

 

  — Todos? — Perguntou Atena.

 

  — Todos. — Respondi.

 

  — Bem... Se é isso que você quer... — Disse Zeus, como se eu tivesse pedido algo simples como um pote de manteiga de amendoim. — Creio que seu pedido será atendido. Certo, Dioniso?!

 

  Dioniso bufou e soltou um “tanto faz”, ignorando o olhar cortante que o pai lhe lançava. Zeus revirou os olhos.

 

  — Nico di Angelo, filho de Hades. — Zeus chamou.

 

  No mesmo instante, uma conhecida figura se materializou em um décimo terceiro trono, que eu nem havia reparado que estava ali antes.

 

  — Ah. Olá, irmão. — Cumprimentou Poseidon.

 

  — Está atrasado, Hades. — Resmungou Zeus.

 

  — Não estou. — Contestou Hades. — Só vim para os prêmios do meu filho. De que me interessa ver os prêmios dos outros?

 

  — PAI! — Gritou Nico. Pulei de susto, e os deuses viraram seus olhares curiosos para ele. — Você mandou as Fúrias atrás de nós enquanto eu dormia. Quando só a Melanie estava acordada.

 

  — Eu não fiz nada, garoto! — Reclamou Hades com sua melhor cara de ofendido. — Mas... Elas fizeram mesmo isso? Lembre-me de parabenizá-las...

 

  — PAI! — Gritou ele de novo. — Você não vai fazer isso. Porque... — Ele parou de falar ali, mas continuou olhando o pai da mesma forma dura. Imaginei que ele estivesse concluindo o pedido em pensamento, já que muitas vezes os deuses parecem ler nossas mentes. Parecem não, eles de fato lêem nossas mentes, ainda mais quando fazemos uma prece direcionada a eles. Nico de repente pegou minha mão e me puxou para perto, ainda fazendo exigências silenciosas ao pai.

 

  — Ai, que meigo! — Comentou de repente um cara musculoso de óculos escuros. Ele devia estar ouvindo os pedidos de Nico, e eles provavelmente tinham algo a ver comigo. Eu lancei um olhar mortífero a ele.

 

  — O que é meigo, seu imbecil? — Perguntei. Os deuses pareceram surpresos em me ver confrontando aquele idiota, e vi o vulto passar por trás dos tronos de novo e me fazer um sinal de positivo.

 

  — Ah, você pensa que pode me confrontar também, Melzinha? — Perguntou Ares com arrogância.

 

  — Aposto que posso, seu acéfalo! — Falei com raiva. Nico me cutucou, em um sinal para que eu parasse, enquanto a figura atrás dos tronos continuava me incentivando. Uma ruiva bonita ao lado de Ares fez cara de ofendida e ouvi um som de aprovação atrás de mim, talvez de Atena pelo meu vocabulário na parte dos xingamentos. Apesar de que era esse mesmo o ponto — falar palavras difíceis que uma criatura burra como Ares jamais entenderia. Não que "acéfalo" fosse uma palavra digna de se ir direto num dicionário, mas creio que já é o suficiente para fazer alguém como Ares ficar com cara de 'uh?'.

 

  — NÃO COMECE DE NOVO, GAROTA! — Zeus gritou, e outro trovão sacudiu os céus.

 

  — Ah, Zeus! — A figura escondida atrás dos tronos surgiu. Uma mulher jovem, com um vestido longo vermelho e os longos cabelos castanhos voando soltos em volta do rosto cheio de maquiagem. — Por quê?! Estava tão bom!

 

  — ÉRIS! SAIA DAQUI!

 

  — Tá, tá! — Disse Éris com uma cara feia para ele. Ela se virou para mim com um sorriso cúmplice. — Irmãzinha, você arrasa! — E então ela sumiu em uma névoa escura. Zeus bufou.

 

  — Continuem. — Disse ele a Hades e Nico, como se todos pudessem ouvir o que quer que Nico estivesse discutindo com o pai.

 

  — Ah, Nico, tinha que pedir justo isso? — Hades perguntou como se nada diferente tivesse acontecido segundos antes.

 

  — Sim, pai. E pelo que sei, vocês devem atender nossos pedidos dentro do possível. E isso é algo que você com certeza pode fazer.

 

  — Ah, por que, Parcas? — Hades começou a se lamentar em voz alta. — Por que o destino do meu filho tem que ser ela? Por que não a garota de Hécate? Ou...

 

  — PAI! — Nico chamou, impaciente.

 

  — HADES! — Gritaram os demais deuses.

 

  — Ahn? — Hades disse, saindo de seu transe. — Ah. Sim. Nico, nós conversamos sobre isso depois. A única coisa que tenho a lhe dizer é que um dia você acabaria me agradecendo se fizesse o que eu digo e se afastasse dessa garota. 

 

  — Ah, é! — Disse Nico. Sua voz continha ironia, mas o sorriso em seu rosto era vitorioso.

 

  — Prosseguindo! — Disse Zeus com pressa. — Thalia, minha filha, o que você deseja?

 

  — Você também pense em alguma coisa, Percy. — Disse Poseidon.

 

  Thalia e Percy trocaram um olhar cúmplice, e eu logo soube o que eles iriam pedir.

 

  — Queremos Annabeth de volta! — Disseram os dois em uníssono.

 

  — Como...? — Perguntou Poseidon.

 

  — Vocês ouviram muito bem. — Disse Thalia, cruzando os braços.

 

  — Queremos que tragam Annabeth de volta à vida. — Completou Percy.

 

  — Bem... — Disse Poseidon remexendo-se desconfortavelmente no trono. — Vocês sabem que juramos cumprir seus pedidos dentro de nossas condições...

 

  — ...Mas não podemos interferir no destino. — Disse Zeus. — Se as Parcas determinaram que o destino de Annabeth é esse, não podemos alterá-lo. O que vocês já devem saber muito bem.

 

  — Minha filha até tentou. — Disse Deméter pela primeira vez. — Mas se há alguém que devia ficar longe dessa coisas, é ela. Não sei o que deu nela para que ficasse tão bondosa com os semideuses de repente!

 

  — Devem ter feito alguma oferenda. — Hera falou pensativamente. —Hoje em dia ninguém mais faz oferendas decentes.

 

  — Eu só acendi uma vela... — Falei.

 

  — De aromas florais? — Perguntou-me Deméter.

 

  — Er... De noite, eu acho.

 

  — Oh! — Deméter exclamou. Percebi que Afrodite também se surpreendeu. — Velas de noite. São as mais mágicas que podem existir, conquistando qualquer um. Não sei como foi logo Perséfone quem captou seu chamado, mas ela é com certeza aquela que menos resistiria a uma vela de noite dentre todos os deuses que conheço.

 

  Hades murmurou algo como “bom saber”. Deméter lhe lançou um olhar duro.

 

  — Bem, vocês já sabem que não há como interferir no destino, então, decidam logo o que querem.

 

  Fiquei surpresa com a pessoa — quer dizer, deusa — que havia dito aquilo. Justamente... Atena. Olhei para ela, buscando uma explicação em seus olhos tempestuosos.

 

  — Você se conforma tão fácil assim? — Não resisti a perguntar. Atena me fitou, inexpressiva.

 

  — A sabedoria muitas vezes é fria, Melanie White. A razão e o coração são caminhos muito distintos, que muitas vezes é melhor que andem bem separados para evitar o sofrimento.

 

  Refleti por alguns momentos sobre aquela declaração. De certo modo, ela estava certa. Nosso lado racional é sempre mais frio, mas nunca sofre muito. O sofrimento é coisa do nosso lado sentimental, o lado que traz dor. Porém, é também o lado que traz sentimentos como o amor, o lado mais difícil de ignorar.

 

  Afrodite sorriu para mim a esse pensamento. Eu não gostava muito da deusa do amor, mas devo dizer que ela andava bem presente na minha vida ultimamente.

 

  — Andem logo! — Reclamou Ares. — O que vocês querem?

 

  — Não quero nada. — Thalia respondeu, com amargura. — Apenas mande-a para o Elísio, Hades. E não impeça que ela tente reencarnar três vezes. Annabeth é de longe a pessoa que mais merece aquela ilha, de todas as que já conheci.

 

  — É, vou ver o que posso fazer. — Comentou Hades, entediado.

 

  — Prometa.

 

  — Hades. — Zeus e Ártemis disseram. — Realize o pedido da menina.

 

  — Certo, então. — Disse ele, revirando os olhos. — Sua amiga vai ir para o Elísio, e vai tentar reencarnar três vezes, e conseguir a Ilha dos Abençoados. Feliz agora?

 

  Thalia deu um sorriso triste e assentiu.

 

  — Você vai querer alguma coisa mais, Percy? — Perguntou Poseidon.

 

  — Se você quiser morrer para encontrar sua namorada, saiba que terei imenso prazer em ajudá-lo com isso, Perseu Jackson! — Disse Hades com aquele brilho maníaco nos olhos.

 

  — Eu ajudaria também! — Disse Ares com aquela cara de bad boy retardado.

 

  É tão bom saber que não é só a mim que os deuses odeiam.

 

  Percy pareceu pensar seriamente na hipótese por alguns segundos. Eu queria que ele fosse feliz, mas... Percy e eu nos dávamos bem, podia-se dizer que éramos amigos. E ele era tão jovem. Honestamente, seria uma idiotice se ele se matasse aos dezoito anos por causa de mulher. Mesmo que ele continuasse vivendo para sempre com ela no Mundo Inferior.

 

  Heidi, que estava quieta há um bom tempo, foi até Percy e colocou uma mão em seu ombro. Ele se virou para ela.

 

  — Pense bem, Percy. — Disse ela, olhando fundo nos olhos dele. Os olhos castanhos dela pareciam muito mais claros e expressivos naquele momento. — O que Annabeth pensaria disso? O que acharia de você jogar sua vida fora por causa disso?

 

  Prendi a respiração. Pensei que Percy fosse explodir com ela ou algo assim, por ela estar se metendo em um assunto tão delicado. Pensei que ele fosse gritar com ela, ou abaixar a cabeça e começar a chorar, ou os dois. Em vez disso, Percy pareceu ter recebido uma luz, e se virou para os deuses.

 

  — Realizando o pedido de Thalia, vocês estão realizando ao meu, também. — Disse ele, e virou o rosto de novo para Heidi. — Annabeth ia querer que eu vivesse minha vida. Que seguisse em frente. Ia ficar furiosa comigo se eu tentasse qualquer outra coisa. E eu sei que nós vamos nos reencontrar algum dia.

 

  Ei, eu vi um esboço de sorriso ali?

 

  — Como vocês estão humildes! — Exclamou Hermes, genuinamente surpreso.

 

  — Por fim, filha de Hécate, Heidi Jansen. — Chamou Zeus. — Você foi nosso maior instrumento contra Tífon, e provou ser tão estranhamente especial que até sobreviveu ao que nenhum outro semideus sobreviveria. Então, a você nós oferecemos nosso maior presente: a imortalidade.

 

  Por alguns segundos, todos encararam Heidi com expectativa. Eu senti minhas sobrancelhas se arqueando de surpresa. A imortalidade era um presente realmente... Bem, o melhor presente de todos. Heidi provavelmente iria aceitá-lo...

 

  — Não, obrigada, Senhor Zeus. — Respondeu ela com a maior naturalidade do mundo, como se estivesse recusando um copo de água.

 

  — NÃO?! — Exclamou Zeus, parecendo quase bravo.

 

  — Não? — Ouvi Percy, Thalia e Nico dizerem ao meu lado.

 

  Não?

 

  — Mas, Heidi... — Disse Percy, indo até ela. — Isso é o maior presente que você poderia receber. Quando nós derrotamos Cronos... Bem, ofereceram a imortalidade a mim, também...

 

  — E você recusou. — Disse ela, olhando-o dos pés à cabeça.

 

  — Sim. Mas... Eu tinha meus, ahn, motivos.

 

  Heidi levantou uma sobrancelha e deu um meio-sorriso.

 

  — E como saber que não tenho os meus também?

 

  Percy deu de ombros e pela segunda vez pensei ter visto um quase-sorriso em seu rosto. Heidi virou-se para os deuses, a maioria deles ainda perplexa com tudo.

 

  — Apenas façam com que Hécate tenha mais destaque, sim? Tanto no Olimpo quanto no acampamento. Vocês ainda subestimam muito os deuses menores. Eles merecem mais respeito do que isso. — Disse ela aos deuses. Eles assentiram.

 

  — Certo. Terminamos a parte das recompensas, agora... Hermes, qual o próximo assunto a tratar? — Perguntou Zeus com um jeito de homem de negócios.

 

  Hermes fez um movimento com a mão, e apareceu um celular moderno com duas cobras enroladas, como naqueles símbolos de médico que eu nunca sei o nome.

 

  Olha, George! Amigos novos!, disse uma das cobras. Prazer em conhecê-las. Meu nome é Martha, e este é o George.

 

  Ah, que legal. Percy, ainda estou esperando meus ratos. Disse a outra cobra, George, com impaciência. Percy deu um riso sem humor.

 

  Por Hermes, você só pensa em ratos!, ralhou Martha. E que falta de cortesia não cumprimentar os amigos novos! Perdoem ele, crianças. Ele pode ser muito antissocial de vez em quando.

 

  É que eles me dão medo... Principalmente a garota com marcas na testa e o filho de Hades.

 

  — Fiquem quietos, ou ponho vocês no vibracall! — Resmungou Hermes para o celular, e as cobras ficaram quietas imediatamente. — A propósito, Melanie, o “símbolo de médico” se chama caduceu. — Hermes me disse, e se voltou para a tela do celular. — Agora, próxima tarefa, vamos ver... A garota.

 

  — Ah, sim. — Assentiu Zeus. — Summer Johnson, apresente-se, por favor!

 

  Todos olharam para um canto da sala onde Summer observava tudo encostada a uma coluna. Seus olhos enormes e azuis observavam tudo, assustados. Eu não sabia se os outros já haviam contado a ela sobre nós, mas ela ainda não parecia ter processado tudo, se for considerar o modo como ela olhava tudo ao seu redor, como se tentasse se convencer de que não era um sonho nem nada assim. Sua mão direita estava próxima do pescoço e ela mexia nervosamente em um colar com dois pingentes: um sol, que era o pingente no qual ela mexia; e um crucifixo. Alguns deuses olharam o crucifixo com desgosto, outros olharam com indiferença, e outros nem repararam.

 

  — Summer, quantos anos você tem? — Perguntou Zeus, como se ele não soubesse.

 

  — T-treze. — Respondeu ela, engolindo em seco.

 

  — É... Realmente parece que alguém quebrou a promessa. — Disse Zeus, autoritário. — Dois anos atrás, foi-se jurado sobre o Rio Styx que todas as crianças semideusas seriam reconhecidas por seu progenitor divino até os treze anos.  Agora, nós temos que descobrir: quem quebrou a promessa?

 

  Todos olharam para Apolo, sentado em um trono dourado ao lado de Ártemis. Ele até que era parecido com Summer, com seus olhos e cabelos claros, e ele era o deus do sol, o que poderia explicar o pingente.

 

  — Não fui eu! Juro pelo Styx! — Disse ele. — Eu teria me lembrado de ter uma filha tão linda assim... — Acrescentou ele com um olhar galanteador que fez Summer ficar da cor de um tomate.

 

  — Diga-nos, Summer... — Disse Atena a ela, ignorando Apolo. — Você conhece o seu pai?

 

  — Sim, senhora. — Summer respondeu, nervosa e parecendo triste. — Quer dizer, conhecia, até ele morrer quando eu tinha seis anos. Mas nunca conheci minha mãe. Meu pai me deu isto — ela mostrou o pingente de sol —, dizendo que eu estava com este colar quando minha mãe me deixou com ele.

 

  Alguns deuses com intelecto menos desenvolvido, como Ares, continuavam com um ponto de interrogação na cabeça. Outros, como Dioniso, continuavam olhando entediados para a noite acima de nossas cabeças, e provavelmente pensando “como esse povo demora só pra conceder os pedidos de um bando de moleques” ou algo do gênero. Mas a maioria parecia já ter solucionado o caso, assim como eu e meus amigos (com exceção de Percy, que pode ser realmente lerdo às vezes).

 

  — Summer Johnson — declarou Atena com sua voz sábia e seu olhar tempestuoso sobre Summer —, creio que sua mãe é uma deusa primordial. A deusa do dia.

 

  Como que para confirmar as palavras de Atena, o pingente de sol de Summer começou a brilhar, e a sala se iluminou de um modo que parecia ser dia. Uma luminosidade distinta girou ao redor dela e parou acima de sua cabeça, parecendo formar um sol. Uma fumacinha azul-clara — “pedaço de dia”? — entrou na sala e foi até Summer. Essa fumaça se fundiu à luminosidade que havia criado o pequeno sol em cima da cabeça da garota e a mistura se dividiu em dois: um pedaço se fundiu ao pingente dela e outra se materializou na forma de uma presilha que foi parar em seu cabelo. Summer tirou a presilha do cabelo, e esta se transformou em um enorme arco dourado. Os olhos azuis dela se arregalaram, assustados, e pude ver que a mão dela tremia quando ela pegou o arco. Atena fez um movimento com a mão, e o pingente de sol saltou da corrente no pescoço de Summer, transformando-se em uma espécie de bolsa cheia de flechas dentro. Summer olhou para a bolsa atirada no chão com cara de tacho.

 

  A sala de tronos voltou à sua iluminação noturna natural, e todos ficaram em silêncio pelo que parecia ser a milésima vez naquela noite.

 

  — Saudações Summer Johnson, filha da deusa primordial do dia, Hemera. —  Concluiu Atena, quebrando o silêncio e concluindo sua saudação respeitosa.  


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Notas finais do capítulo

Ok, esse capítulo pode ter algum errinho ou alguma parte confusa, porque postei ele sem revisar devido à falta de tempo (não que eu esteja muito ocupada em um domingo à noite, mas eu tenho estudado bastante). Aliás, também já digo que o próximo capítulo (que será o penúltimo) será postado provavelmente quarta-feira, porque esta semana estou cheia de provas (é, eu ainda não entrei em férias ._.), e a mais fácil é na quinta.

Beijos, até quarta, e postem seus lindos e queridos reviews qqq ;*