Isso não é sobre você. Não é sobre como você faz da minha vida algo completo. Na verdade, é sobre você sim. Lembra como brigávamos, sei lá, quando tínhamos uns cinco anos? Disputávamos a amizade da Luiza, quando a verdadeira amiga estava ali do lado. E os fins de semana que passávamos na casa da sua avó, porque a família toda ia pra lá, e quando percebemos que não íamos por obrigação. Íamos pra nos ver. Ah, e não vamos nem falar sobre sua fase “como eu odeio o mundo”.

O que eu quero dizer é que eu sempre estive lá, mesmo que a certa distância. E que depois de alguns anos você deixou de ser a garota com quem eu brincava, pra ser a garota com quem eu compartilhava meus segredos. Como quando eu tive uma queda pelo garoto que você gostava há uns quatro anos, e você nem mesmo deixou de falar comigo por uns minutos, fazendo jogo duro. Você aceitou, e isso só me fez sentir mais culpada, mas também me fez perceber que nenhum garoto poderia ficar entre nós. Isso é sobre o dom que você tem de sempre me dizer as coisas certas, mesmo que elas machuquem. Sobre como você abre meus olhos e me faz pensar no que é melhor pra mim.

Era estranho, porque em um momento eu nem falava direito com você, e no outro eu te conhecia. E quando eu me dei conta disso, pensei “caramba, acho que agora eu tenho uma melhor amiga”. Sabe, esse conceito sempre me deixou confusa. Como saber quem é minha melhor amiga? Eu tenho uma? Mas aí veio você, e a confusão passou. E eu soube que a melhor amiga era aquela que você não se importaria em viver do lado, mesmo nos piores dias. Mesmo quando o primeiro namorado termina com ela e a deixa em frangalhos. Ou quando ela só fala de animes e mangás, tanto que nada mais parece importar, nem você. Depois eu percebi que eu amava te ver falar sobre isso, e como uma coisa leva a outra, também pensei que gostaria de ter você comigo uns cinquenta anos depois.

Alguns dias eu penso que não tenho ninguém. Que tenho, na verdade, mas nenhum deles está realmente ali. Mas aí você vem e me deixa falar sobre aquele cara que você odeia. O cara que me magoou, o cara que está na sua lista negra, e você ouve coisas sobre ele só porque eu preciso desabafar. E você continua ouvindo mesmo depois de várias tentativas falhas e eu continuar insistindo naquilo. Você continua ouvindo mesmo o odiando cada dia mais.

Acho que o dia em que eu tive mais certeza sobre você foi quando passei a dizer que te amava como se fosse um reflexo. Como se fosse “oi”. Dizer esse tipo de coisa sempre foi difícil, algumas vezes parecia – e era – mentira, mas não com você. Com você foi simplesmente natural.

Quando eu penso no futuro, não tenho certeza de muita coisa, mas você com certeza está lá. Está lá quando eu brigo com meus pais, quando meu coração se parte, quando eu não sei que decisão tomar ou quando estou só entediada. Mesmo quando não estiver de fato, vai estar. Porque eu te carrego pra todo lado comigo. Porque eu posso sim não ser uma pessoa muito boa em escolhas, mas sempre vou escolher você.

Com amor, você sabe quem.