Under Stars escrita por Marii Weasley


Capítulo 1
Grow Old With Me


Notas iniciais do capítulo

Foi um desafio escrever romance pra mim, que hoje em dia só penso em "mistério, mistério, mistério". Ainda mais com personagens tão jovens! Mas era muito importante pro andamento da Fic e tomara que tenha ficado decente.
Espero que gostem!

Ps: A música do capítulo ta no título e é do tomzinho Odel. Ta mais pra expectativa deles do que pra realidade, mas gostei de pensar nesse capítulo escutando ela.



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Grow old with me

Let us share what we see

And oh the best it could be

Just you and I

 

Finnick acabava de retornar à praia com mais um balde lotado de camarões recém-capturados por sua armadilha nova quando as sirenes começaram a tocar.

Todos os seus músculos enrijeceram, mas a sensação durou pouco tempo. Ele tinha certeza que era mais um treinamento. Eles tinham treinamentos de primeiros socorros o tempo inteiro.  O que era meio ridículo, já que todos no 4 aprendiam a nadar antes mesmo de ler.

Tentou se obrigar a seguir o procedimento padrão, mas estava pessoalmente de saco cheio e sem vontade alguma de reanimar outro boneco. Então, se sentou na areia, começou a limpar os camarões e assistiu enquanto seus colegas de classe corriam como loucos até o mar. A punição por seu descaso chegaria mais tarde, mas ele não estava muito interessado nisso.

Ou no mínimo, achou que não estava. Finnick mudou de ideia bem rápido quando o grito de Becka, sua vizinha, chegou aos seus ouvidos. Logo depois, uma porção de outros berros desesperados que sobrepunham as próprias sirenes.  E a maior parte deles gritava seu nome.

Correu o mais rápido que pode, empurrando todos os atrasados e rezando para que aqueles bonecos que ele conseguiu salvar significassem algo na vida real.  

Seus colegas abriram espaço, pois já sabiam o que ele era capaz de fazer, de modo que ele ganhou um corredor livre até a garotinha inerte na areia, formando uma poça de água salgada, uns 200 metros na sua frente. Ele apertou a corrida quando percebeu que se tratava de um dos menorzinhos e mais ainda quando notou os olhos arregalados de todos ao seu redor. Ele podia sentir que algo a mais estava errado, mas não sabia dizer o que era.

E foi quando estava quase a alcançando que ele percebeu qual era o problema. Suas pernas fraquejaram quando reconheceu o rabo de cavalo ruivo tão característico, a barra azul no uniforme de pesca e as mãozinhas pálidas. Antes que a informação ficasse totalmente clara em sua mente, ele pode ouvir sua própria voz, já embargada, chamando o nome dela.

Annie.

Meio correu meio se arrastou até o seu lado, tentando se lembrar, desesperadamente, do que deveria saber automaticamente depois de ter repetido aquele procedimento tantas vezes. Mas tudo que conseguiu encontrar em si próprio foi o desespero. Com a face já toda coberta de lágrimas, a virou para cima e retirou a franja toda encharcada do rosto que estava roxo e cheio de areia. Aproximou seu ouvido da sua boca, esperando escutar alguma coisa, mas não havia som algum ali além das ondas se quebrando alguns metros atrás de si.

Tentou respirar fundo e iniciar a massagem cardíaca, mas não conseguia adquirir um ritmo, ou a pressão necessária. Sentiu-se ser empurrado dali quando a professora chegou pra efetuar o resgate. Observou seus braços experientes trabalhando, mas só se concentrou de fato na expressão inerte de Annie. E não sabia que estava soluçando até Becka pedir pra ele respirar fundo.

Mas ele não respirou fundo, porque ela não acordava. Antes mesmo de todos se afastarem, ele já se considerava o culpado. Por não ter ligado quando a sirene soou. Por ter sido completamente inútil até a chegada da professora. E principalmente, por ter machucado ela quando ela já estava com tanto medo.

Já se faziam mais de cinco minutos e ele sabia disso. Gostaria que essa parte de seu cérebro também tivesse sido entorpecida, mas ela não foi. Ele podia sentir aquele pequeno pulmãozinho de só dez anos lutando no meio de tanta água. E sabia sobre a chance ínfima que existia agora. E pode escutar-se gritando quando a professora se afastou resignada, desistindo.

Tentaram afasta-lo dali, mas não tentaram com tanta vontade, porque ele se jogou pra onde estava a poucos instantes e tentou desesperadamente continuar a massagem cardíaca. Pressionou do melhor jeito que pode no meio do desespero e ignorou completamente os gritos para ele parar.  Continuou implorando pra que ela ficasse viva enquanto tentava fazer seu coração voltar a bater. Cobriu o nariz dela e aproximou suas bocas, tentando lhe passar o máximo de ar que conseguia. E voltou a repetir o ato, até que ela tossiu. 

Todos ao redor exclamaram, alguns até já tinham consciência o bastante para comemorações, mas Finnick não conseguiu registrar nada além dos olhos verdes se escancarando na sua frente, completamente assustados.

— Você tinha me dito para esperar mais alguns anos – foi a primeira coisa que ela disse, depois de algum tempo.

E ele sentiu uma sensação tão grande de alivio que não pode controlar o sorriso que se formou no meio do seu rosto encharcado de lágrimas.

*

Eles estavam falando sobre aquele dia, porque ela estava com medo novamente.

Annie não tinha dito para Finnick nada disso, mas ele sabia. E ela sabia que ele sabia. E as coisas estavam bem justamente por isso.

O Distrito 4 nunca foi um distrito realmente rico. Não como o 1 ou o 2.

As únicas coisas que garantiam sua permanência no grupo dos carreiristas eram a beleza e a forma física de seus tributos.

Uma vila lotada de pescadores pode não parecer o melhor lugar para o nascimento de uma aliança. Mas a genética era boa: a população da Capital amava aqueles cabelos frequentemente loiros e os olhos sempre claros. Mas, principalmente, amava o que anos trabalhando com lanças, redes e tridentes podiam fazer por um tributo.

Os jovens do 1 e do 2 treinavam para os jogos. Inclusive, era uma grande honraria se voluntariar nesses distritos. A mesma coisa não acontecia no 4. Lá não havia um treinamento, portar armas e ter um físico atlético era só consequência do trabalho desempenhado por suas crianças.

E isso tudo que fazia com que Annie Cresta estivesse com medo. Ela não queria de jeito nenhum ir para arena. Pouco se importava com honra e com o monte de comida que aqueles pescadores receberiam.  A única coisa que martelava em sua cabeça era que não tinha idade suficiente nem para beijar Finnick. Como podia estar pronta pra ter sua morte televisionada e servida de bandeja como forma de entretenimento?

Todos lhe diziam que ela tinha sorte. Sua primeira colheita seria poucos dias antes do seu décimo terceiro aniversário. Poucas pessoas faziam aniversário em uma data tão favorecedora. Mas ela não conseguia enxergar onde existia sorte naquilo tudo. Se ela fosse sortuda, teria nascido em outro lugar, em outra época, onde não seria obrigada a colocar seu nome naquele frasco.

Finnick a acalmou dizendo que não precisava se preocupar. Existiam milhares de papeizinhos e o dela era apenas um. No meio de vários nomes, de várias crianças com menos sorte que se inscreveram mais vezes.

— Você estava nervoso na sua primeira colheita? – perguntou observando as mãos do garoto trabalhando em um nó complicado.

 – Sinceramente não, você fez o favor de quase morrer um dia antes – lembrou com uma sobrancelha erguida – Eu só conseguia pensar em você no hospital.

Annie sentiu suas bochechas corando e se repreendeu automaticamente. Como ele pararia de enxergar ela como uma criança se ela continuasse fazendo isso? Maldito um ano e meio de diferença.

— Eu não fui muito esperta tentando nadar sozinha – desconversou.

—Deixe de bobeira, Annie, você nadou sozinha sua vida inteira. Bom, pelo menos até adquirir essa sua fobia engraçada.

Annie não achava nem um pouco engraçada, mas na boca de Finn parecia quase uma piada. Ela era a única moradora do distrito que se recusava a entrar no mar.

— A gente pode resolver isso depois da colheita – disse com um sorriso.

— Você quer entrar de novo na água?

— Acho que sim, já faz dois anos – comentou como se não se importasse. – E eu não sou mais tão pequena.

Ele sorriu porque sabia o motivo para Annie estar dizendo aquilo. Normalmente eles sabiam essas coisas um do outro. Normalmente o outro saber significava que estava tudo bem, porque eles não precisavam dizer coisas muito complicadas.

— Depois do seu aniversário conversamos sobre isso – foi o que ele disse, concluindo o nó e soltando um sorriso esperto.

Ela não queria, mas sentiu sua bochecha ficar da mesma cor que o seu cabelo.

*

Finnick estava quase chateado por ter dito pra Annie que as coisas ficariam bem logo na semana que ouviu os boatos.

As pessoas estavam começando a dizer que os sorteios no 4 eram todos sabotados. O melhor deles era sempre escolhido. Ano após ano. Frequentemente a escolha era quase certa se a pessoa fosse bonita. E frequentemente a escolha só era outra se isso fosse machucar alguém que eles queriam machucar.

Não conseguia entender onde esse sistema favorecia a Capital, nem se o mesmo acontecia em outros distritos, mas tinha ligado os pontos na sua cabeça e se tornara impossível enxergar a colheita de outra forma.

Gostaria que tivessem lhe avisado isso antes de ter recheado seus últimos dois boletins com notas máximas. Antes que tivesse salvado a vida de tantos bonecos no treinamento, antes que tivesse desenvolvido tantas armadilhas diferentes, pra tantos bichos diferentes. E, principalmente, gostaria de ter sido avisado antes da exibição que fora selecionado para realizar um semestre atrás. Ele, mais um menino e duas meninas, alguns tridentes e vários peixes para um programa sobre o 4 que seria transmitido na Capital. Agora tinha sacado que eles estavam imaginando pessoas enquanto ele matava aqueles peixes.

Ele sabia que estava ferrado.

E foi verdadeiramente egoísta quando torceu para eles quererem machucar alguém esse ano, enquanto escrevia seu nome em três papeizinhos. Doze, treze e catorze.

Annie tinha dito pra ele que estava tranquila, e era quase verdade. Sua lógica matemática a tinha convencido. E quando isso não foi o bastante, colocou na cabeça que estaria no grupo dos fortes se fosse chamada. E que no final das contas, não podia ser tão ruim tentar ganhar um pouco de comida pra aquelas pessoas.

Era uma questão bem psicológica, porque ela sabia que estaria perdida se fosse chamada.  Nunca foi boa matando coisa alguma. Como poderia matar uma pessoa? Como poderia se aliar aos carreiristas?

Afastou as coisas da cabeça pra não ter outro ataque. Annie podia ser muitas coisas, mas estável não estava entre a lista de adjetivos. A verdade é que já tinha chorado muito escondida graças a sua primeira colheita.

Escreveu seu nome no único papelzinho que deveria preencher e entregou para o moço na sua frente com o sorriso gentil que sua mãe lhe obrigava a lançar para aquelas pessoas que ela sinceramente odiava.

Seguiu para o seu lugar (o dos mais novos) e entendeu porque as pessoas diziam tanto que ela tinha sorte. A maioria das meninas eram muito menores e mais fracas do que ela.  Os seus quase treze anos faziam uma diferença e tanta naquela fila.

Estava quase se sentindo trapaceando quando lembrou que nada daquilo podia ser controlado por ela. E que seria bom se realmente estivesse trapaceando. Não suportava o fato de ter que estar passando por isso.

Seus olhos assistiram ao filme que se repetia em todas as colheitas. E era diferente só pelo fato de poder ser uma das escolhidas agora. Era como se esse mundo terrível nunca tivesse realmente existido até aquele momento.

Annie viu, tomada pelo pavor de mais cedo, Robbie Stonnik, a moça da Capital que aparecia todos os anos para colheita se dirigir até a bola gigante lotada de papeizinhos com o nome das meninas do seu distrito. A apresentadora parecia animada e isso fez sua cabeça rodar bastante. Procurou o rosto de Finnick na multidão e ele estava a olhando do mesmo jeito que a olhava enquanto fazia aquele nó.

O seu é apenas um.

Ela não conseguiu registrar o nome da garota sendo chamada.  A única coisa que lhe importou é que começava com “ME” e o nome dela não começava assim. Então estava bem. Finn ainda a olhava com o sorriso de “eu te disse”, enquanto a outra menina era forçada a subir no palco.

Annie sustentou o olhar enquanto Robbie andava até a bola de papeizinhos dos meninos. Era como se estivesse dizendo “se eu consigo, você também consegue.”. Mas algo no rosto dele estava tão diferente que ela passou um bom tempo sem entender o que estava acontecendo. Será que ele conhecia a tal Me...? Oh não, igual foi com a Back. Tudo de novo.

Sua mente começou a trabalhar em um milhão de possibilidades de modo muito rápido. Normalmente eles sabiam as coisas um do outro. E saber as coisas um do outro, mesmo que o outro não diga era bom, porque fazia com que coisas muito difíceis não precisassem ser colocadas pra fora. E então, ficava tudo bem.

Só que quando seus olhos se encontraram, ela soube que nunca mais ia ficar tudo bem. Soube que algumas coisas precisavam sim ser cuspidas em palavras.

Annie já estava chorando quando Robbie anunciou que o tributo masculino do Distrito 4 era Finnick Odair.

*

Na noite anterior aos jogos, Finn sonhou com a despedida dos dois.

Não sabia como tinha dormido, mas sabia que estava sonhando porque reconhecia tudo aquilo. Era mais que um sonho comum. Era uma lembrança.

Tinha acabado de se despedir de sua tia, quando Annie Cresta irrompeu pela porta extremamente furiosa.

Ela estava gritando com ele, jurando que ele sabia que seria chamado. E como ele ousava ter escondido isso dela?

— E como é que eu poderia saber?

—Não ouse mentir pra mim, Finnick Odair!

E então ele a puxou pra um abraço. Ela pediu pra ele não encostar nela, mas logo em seguida começou a chorar. Annie já estava soluçando, tão sufocada por tudo que queria dizer quanto por suas lágrimas, quando retribuiu o abraço quente.

—Eu não fiz acordo algum, Annie.

—Eu sei – ela resmunga secando os olhos.

—Porque eu não quero ir a lugar algum, eu quero ficar aqui e poder crescer em paz com você.

—Eu sei.

— Porque eu amo você.

Ela se afastou e abriu um sorriso lindo. Estava completamente vermelha, mesmo que soubesse disso também. E Finnick não achou nem um pouco justo que nunca a tivesse visto tão bonita. Porque aquela era provavelmente a última vez que a via.

—Bom, disso eu não sabia – ela diz quando volta a si.

—Não ouse mentir pra mim, Annie Cresta! – imitando a cena de alguns instantes.

E então ela solta: alto, firme e convicto. De um jeito que ninguém esperava que fosse acontecer: não naquela situação. Como se estivesse falando sobre o tempo, logo depois de uma gargalhada verídica, apesar de triste:

—Ah Finn, eu também amo você.

E ele se perguntou se ela não tinha interpretado errado o sentido de suas palavras, mas não tinha. Teve certeza disso quando a encarou e ela parecia tão diferente, mesmo que estivesse como sempre esteve. Quando ele tentou beija-la, foi afastado e recebeu um beijo no mesmo lugar de todos os beijos que já havia recebido, mesmo que o beijo também fosse diferente em sua bochecha.

—Falaremos disso depois do meu aniversário – ela cochichou no seu ouvido.

Antes mesmo que raciocinasse tudo, ela o deixou sozinha na sala de despedidas do edifício da justiça. Com um pacificador o olhando de um jeito divertido na porta.

Sua cabeça fez uma lista rápida com tudo de significativo que tinha acontecido ali:

1- Ele tinha conseguido falar tudo que sempre quisera falar.

2- Ele tinha sido retribuído, apesar das circunstancias estranhas.

3- Ele, Finnick Odair, estava corando. E ela havia saído perfeitamente normal daquela sala.

4- Annie Cresta estava lhe dando um motivo para tentar desesperadamente voltar pra casa.  E o motivo foi aceito rápido de mais, se escondendo fortemente pela sua mente e criando raízes ainda mais fortes no seu coração.

 


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Notas finais do capítulo

Me avisem sobre possíveis erros, o capítulo foi revisado bem naquelas.
Bjos



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