O Dragão de Ferro escrita por Swooning


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Resolvi fazer um blog, não perguntem porque, mas me dediquei essas ultimas semanas a ele, já tem posts lá que quis escrever antes de divulgar para já terem algum conteúdo que possam ler.O link está nas notas finais.



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      Estava no porto quando a frota que havia ido com Euron atracou, agora ele era apenas um servo de seu tio Germund, mas ele agradecia por ainda estar vivo diferente do que a maioria das pessoas havia dito para ele, queriam mata-lo bem como a seus irmãos mais novos, mas Germund acreditava que matar sangue do seu sangue o condenava a um inferno apos sua morte e ele não queria isso.Então para mantê-lo ocupado Tris passava o dia buscando e trazendo coisas, seus outros irmãos estavam em estábulos, na cozinha de Fidalporto ou limpando convés dos navios e ele agradecia por isso.Era melhor do que ter o mesmo destino de seu pai que havia sido morto por Euron Greyjoy apos apoiar Yara.

      Tudo aconteceu em uma época em que ele estava cheio de esperança embora estivessem havendo uma guerra, ele planejava o futuro quando tudo aconteceu.Estava bebendo com um dos irmão quando decidiu.

—Vou pedi-la em casamento-anunciou batendo a caneca na mesa de madeira

—Novamente?-seu irmão Symond não parecia muito surpreso-Já e a terceira vez.O que acha que a fara dizer sim agora?

—Cale a boca-gritou enquanto se levantava-Como estou?

—Miseravel, mas talvez ela tenha pena de você

      Tristifer ainda tinha a lembrança daquele dia, foi uma das piores chuvas que ja havia visto.Choveu naquele dia, no dia anterior e no anterior aquele; e a água salgada havia engolido boa parte das ilhas, menores.Os sacerdotes diziam que o Deus Afogado e seu oposto, o Deus Tempestade, que estavam guerreando pelo poder, e cada trovão que estalava no céu era o som do embate deles.

      No caminho ate o quarto dela em uma das torres ele encontrou muita correria, pessoas passavam por ele sem dizer nada, todas com olhar preocupado e quando ele perguntava o que estava acontecendo ninguém lhe dizia, apenas continuavam seguindo seus caminhos.

—Procurem nas masmorras-ouviu a voz de Yara dizer

      Ela descia apressada uma escada circulas de pedra e quando o viu parou e o encarou surpresa.

—O que aconteceu?

—Meu pai, ele sumiu-foi tudo o que ela disse antes de voltar a procurar

      Naquele momento ele não sabia bem o que dizer, ficou ali parado no corredor e pensou em ir embora, mas ela estava assustada e precisava dele e isso o deixou um pouco sóbrio na hora.Se juntou as buscas que duraram a noite toda, começaram a falar de sequestro e as buscas se estenderam a todas as ilhas, alguns diziam que ele estava morto, mas quem dizia isso não o fazia na frente de ninguém, diziam em sussurros nos cantos escuros, onde só se podia ouvir a voz e desconhecer o rosto.Ate que na manhã seguinte o corpo de Balon Greyjoy foi encontrado por um grupo de busca preso as rochas pontiagudas da costa da ilha.

      Aeron foi avisar a Yara, Tristifer tentou ir junto, mas o sacerdote era grosseiro e disse que o lugar dele era com os outros, que aquilo era um assunto de família.Ele a viu mais tarde naquele dia, quando levaram Balon Greyjoy para o Deus Afogado recebe-lo em seus salões submersos, mas também não conseguiu falar com ela, só o fez dias depois.Ela estava sentada em frente a lareira na cadeira onde seu pai costumava sentar-se vendo o fogo consumir a madeira.

—Sinto muito por seu pai.Penso que agora você vá assumir as Ilhas de Ferro-se aproximou-Fico muito feliz por isso, você será uma ótima governante, tenho certeza

      Seu olhar era tão fixo na lareira que ele temeu que ela não o estivesse ouvindo, por isso se aproximou mais ate estar ao seu lado, viu que em seu colo estava o broche de ouro em formato de kraken que seu pai havia dado para ela no dia em que anunciou oficialmente que ela era sua herdeira.Começou a se formar um silencio constrangedor, mas ele queria de alguma maneira atrair sua atenção, queria que ela olhasse para ele, sem duvida estava mais apresentável, havia colocado sua melhor roupa e feito a barba, tinha em sua mão meia-dúzia de copos de leite amarradas com uma fita vermelha.

—Sei que não e uma mulher comum, mas quando as vi lembrei de você-ofereceu as flores

      Yara virou a cabeça pesada e olhou com desdém para as flores, as pegou e colocou no colo.

—Diga logo

      Tristifer se colocou de joelhos a sua frente e sorrindo como um bobo recitou o que havia a tanto treinado.

—Minha rainha, sei o quanto esses acontecimentos tem sido duros para você, ainda mais sozinha como está agora, mas saiba que estou ao seu lado-segurou sua mão-Minha espada e sua ate o dia de minha morte.Meu coração e seu a muito tempo...

—Tristifer, não!

      Se levantou bruscamente obrigando-o a ficar de pé.Ela já havia ouvido aquilo duas vezes, e agora ele não poderia escolher pior momento para tentar uma terceira.

—Eu não vou me casar com você

      Em um gesto de raiva, que ate ela se arrependeria depois, as flores foram jogadas na lareira e queimaram tão rápido que pareciam nunca ter existido.Tristifer sentiu um aperto no coração como se uma flecha o tivesse atingido em cheio.

—Saia daqui, tenho assuntos importantes a tratar com pessoas que não me farão perder tempo

      Saiu zangado e triste, uma mistura homogenia dos dois e ao sair passou por um homem esfarrapado que andava de cabeça baixa, então parou e olhou novamente, era Theon, sim, sem duvida era ele.Deveria ter voltado apos saber da morte do pai, talvez a mando dos Bolton para fazer o mesmo que havia acontecido no Cerco de Fosso Cailin quando seu irmão mais velho, Harren, havia sido morto por uma flecha do exercito do pântano do cranogmano Howland Reed e onde logo depois muitos de seus amigos haviam sido esfolados vivos pelos Bolton e seus corpos postos em exibição por uma estrada.

—Pare de ficar ai parado-gritou seu primo Quellon da porta da taverna-Leve meu cavalo

      Sem tirar os olhos dos navios que chegavam, Tris amarrou o cavalo do primo nos troncos que haviam em frente a taverna e logo depois o dele, não tão belo e bem cuidado quando o do primo, um cavalo velho que logo morreria, mas que um dia havia sido um garanhão.

      Suspirou ao pensar nas aventuras que poderia estar vivendo agora ao invés de vigiar cavalos.Quando Euron apareceu e a maioria dos que apoiaram Yara fugiram com ela para Essos ele estava indo junto.Mas no meio do caminho desistiu, seu pai e seus irmãos mais novos estavam ali, a historia de sua família, não poderia abandona-los.Seu pai já havia perdido um filho, não o deixaria perder outro.

—Onde você vai?-ela perguntou quando o viu descer do barco

—Não posso abandonar minha família-ele pegou sua espada e antes de começar a nadar de volta para a praia disse para Yara-Mas se lembre que serei fiel a você ate meu último suspiro

      O sorriso que ela lhe deu o fez seu coração inflamar de paixão e coragem, de vontade de subir novamente no barco, mas não poderia fugir assim.Quando voltou Euron estava furioso porque Yara havia fugido com os navios e quis matar a todos que aclamaram por ela na assembleia que ainda estavam ali seu pai foi o primeiro e logo depois Lord Blacktyde, mas Aeron, Cabelo Molhado o impediu de prosseguir com tal coisa, ao invés disso olhou para seu tio Germund e o nomeou Lord Botley ignorando Tris e seus irmãos, pensou que iria morrer ali, que havia trocado a oportunidade de ir atrás da Mãe dos Dragões para ser morto na praia, mas seu tio foi gentil, ou melhor, foi medroso demais para matar a ele e a seus irmãos.

      Mas sem duvida nada havia sido pior que o casamento, havia ouvido seu tio falar do casamento, mas não quis acreditar ate o dia em que todos os homens se reuniram em frente a um escriba e assinaram o contrato de casamento.Tristifer queria matar a todos, matar a Euron e Erik, o som da pena conduzida por Euron que assinava em nome de Yara arranhou seus ouvidos como uma faca no metal.

—Fique calmo-disse seu irmão-Não deixe que eles vejam o quanto esta abalado, vai chamar a atenção deles e tudo o que queremos e sermos invisíveis

      Quando a cera da vela caiu no papel sentiu como se sua pele estivesse sido queimada, quando Euron pressionou seu selo no papel sentiu como se ele estivesse sendo marcado como o gado era marcado.

      Fizeram um banquete, um casamento sem noiva, repleto de prostitutas e homens bebados.Tris chegou a segurar fortemente sua faca quando Erik Ironmaker e seus filhos faziam piadas sobre o que ele faria quando tivesse Yara com ele, que ela deveria cumprir suas obrigações de esposa e estar sempre pronta para subir a saia do vestido quando fosse ordenado.

—Tristifer, vá ver se chegou algo para mim-ordenou Germund quando ele voltou da taverna

      Seu tio Germund às vezes tentava parecer gentil e simpático, alguns diziam que o fantasma de seu irmão o assombrava a noite bem como o de seu pai, o acusando de usurpar o lugar do irmão e por isso as vezes ouvia seu grito a noite.Mas Tris não acreditava nisso e as vezes queria acreditar que o tio gostava dele, em situações como aquela não existe problema em se enganar um pouco.

      Entrou na torre dos corvos, ele conhecia os corvos a três meses quando começou a receber as correspondências, mas nada que de que pudesse ter vantagem, as cartas importantes não eram mandadas para lá.Havia uma ave nova comendo milho, um grande corvo negro que tinha uma carta na bolsa que levava na pata, quando tirou a carta sentiu seu coração bater, estava endereçada a ele e mesmo sabendo só ter ele e quase uma dezena de corvos olhou em volta e escondeu a carta no bolso do casaco.

      Depois de passar o dia escovando as botas de seu tio e polindo a armadura de seu cavalo ele se refugiou em seu novo quarto, um quarto pequeno onde guardavam moveis antigos, cheio de pó e aranhas.Levou consigo uma vela e encolhido na cama abriu a carta.

      "Tristifer, sei que não lhe mandei noticias, mas peço que entenda.Espero que esteja bem e principalmente vivo.

      Como já deve saber minha aliança com a Mãe dos Dragões foi um sucesso e agora estamos em Dorne onde eu ouvi a noticia do meu casamento com Erik Ironmaker, gostaria que me mandasse detalhes sobre isso, tudo o que temos e uma copia de certidão de casamento e preciso saber o que esta acontecendo.Minha mãe ainda está viva?Ele fez algum tipo de retaliação com aqueles que me apoiaram ou com as famílias dos que vieram comigo?

      Me lembro de você me prometendo sua espada e seu coração, e hoje preciso de você mais do que nunca, seja meus olhos e ouvidos em Pyke, sei que você consegue fazer isso.Tambem preciso que consiga apoio para mim, seja meu correspondente, mas não posso dizer quem poderia me dar apoio agora.

      Fale com meu tio Rodrik, ele pode lhe ajudar, duvido que Euron se atrevesse a fazer algo com ele e perder seu dinheiro e navios, como também duvido que ele não viesse me ajudar em um momento como esse.Novamente lhe peço que seja discreto e me envie logo uma resposta com tudo o que aconteceu dês de que eu fui embora.

      Peço que destine a resposta para Jardim de Cima.

      Yara, da casa Greyjoy, primeira de seu nome.Rainha das Ilhas de Ferro, de Sal e de Rocha.Filha do Mar.Lady Ceifeira de Pyke"

      Seu coração batia tão forte que achou que fosse morrer, precisava manter aquela carta bem guardada, o bom de seu novo quarto era aquilo, muitos moveis antigos com tantas gavetas e compartimentos secretos que seria impossível alguém achar alguma coisa ali.

      A guardou em uma caixa de vinho e colocou a caixa de vinho dentro de uma escrivaninha, se cobriu com o tecido rasgado e cheio de remendos, mas não conseguiu dormir, passou a noite em claro imaginando o que Yara estaria fazendo.

      O comboio parecia mais uma cidade, eram tantas pessoas falando tantas línguas que se você ficasse muito para trás acabaria entre uma conversa em dothraki ou muito no meio aprenderia valiriano bastardo com os Imaculados, mas Theon preferia ficar na frente ao lado da irmã e dos poucos Homens de Ferro que lhe restavam.Na partida de Dorne, Vernon Gillian foi com todos os navios para o sul de Ponta Tempestade, onde os Lannisters ainda não conseguiam alcançar e de acordo com uma carta de Lady Tyrell, muitos estavam dispostos a apoiar Daenerys, mesmo que na Rebelião do Robert tenham ajudado a acabar com os Targaryen.Junto com ele foram alguns representantes de Dorne e da Campina que ficaram com eles em Lançassolar.

      Ficariam lá por um tempo, e se tudo ocorresse como o planejado iriam atacar a baia de Porto Real quando Daenerys chegasse lá.Mas Theon não podia deixar de se sentir sozinho, mesmo que não falasse com ninguém, haviam menos deles e mais dos outros e dês do torneio de arqueiros onde viu os Homens de Ferro torcendo por ele e comemorando sua vitória começou a se sentir mais parte daquele grupo.

—O que foi, com saudades de sua garota?-provocou Hunter

      Seu caso com Lady Jynessa Blackmont durou três noites, ate que ela precisou voltar para Montenegro, mas ele não se sentiu triste, ate achou bom.

—E você, como tem ido?

—Sua irmã mandou que eu não a perturbasse mais

      Pouco a frente deles Missandei estava com a cabeça encostada no vidro da carruagem que Daenerys havia ganhado em Dorne, era do tamanho de uma casa e era onde ela costumava passar os dias lendo.

—Parece que você tem concorrência

      Verme Cinzento se aproximou a cavalo da janela onde Missandei estava, e durante boa parte do caminho conversaram, por esse motivo Hunter diminuiu o passo do cavalo para ficar mais para trás e não ficar vendo como Missandei sorria para Verme Cinzento.

      Meriah Westerling segurou o riso e olhou para seu marido, Arthur.O casal Westerling havia sido mandado para acompanhar Daenerys, uma forma discreta de lembrar a Daenerys sua divida com Dorne.Tyrion Lannister não gostou daquilo, mas permaneceu quieto, ele conhecia os dorneses mais que Daenerys, para a Targaryen os dorneses eram todos amigos dos Targaryen, também com fúria pelas mortes de Elia e seus filhos.

—Eles são praticamente minha família-ela dizia

      Mas não eram, Tyrion sabia disso e acreditava que Daenerys também, cega com tudo o que a marcha a caminho de Porto Real significava ela fechou os olhos para as mortes dos Martell e toda vez que Tyrion começava o assunto ela desconversava.Ele estava suspeitando, Meriah e Arthur sabiam disso, e os três sabiam que o apoio dos Martell era crucial para retomar Westeros.

—Estou cansada dessa cara feia que ele nos dá-disse Arthur a esposa quando viu que Tyrion Lannister os encarava

—Meu amor, e só a cara dele mesmo-eles riram com aquilo, e o Lannister sabia que falavam dele

—Não acha a rainha um tanto ansiosa demais?

—Também estaria se fosse ela

—Sabe o que quero dizer-ele aproximou o cavalo e disse baixo-A certidão de casamento

      Meriah deu um sorriso atrevido.Lançasolar era um castelo cheio de mistérios, e tal como a Fortaleza Vermelha possuía muitas passagens secretas, Meriah sempre se esgueirava por baixo do pedestal de Nymeria, que secretamente era a entrada de um túnel, ele seguia reto por alguns metros e levava para uma divisa com três corredores estreitos, o primeiro saia na despensa da cozinha e ficava escondido por frascos de mel que estavam ali a tanto tempo quanto o castelo, o segundo era o mais longo que ia ate o outro lado do castelo que saia em meio a arbustos de amoras e levava trinta minutos de uma ponta a outra, o terceiro era o mais útil, ele primeiro descia alguns metros para ir a um alçapão que ficava debaixo da cama do quarto onde Daenerys estava.

      Sendo pequena e magra, e claro, de confiança, Ellaria lhe deu a missão de vigiar Daenerys.Assim ela soube sobre os planos dela em suas reuniões diárias com Tyrion Lannister, ouviu suas conversas intimas com a amante Greyjoy e seus segredos contados a sua aia Missandei.Uma manhã foi chamada as presas, Tyrion Lannister havia pedido que comunicassem a rainha que precisava falar com ela e sua amante.Meriah nunca correu tão rápido aquele túnel, por sorte chegou antes do Lannister e pode ouvir tudo.Depois que eles foram levar a carta ela leu a certidão de casamento e logo informou a Ellaria Martell.

      A própria Ellaria não sabia no que aquilo poderia se tornar um beneficio, mas se sentiu mais confiante por saber daquele segredo, pelo o que parecia, só a rainha, sua Mãe, sua amante e provavelmente a Aranha sabiam.Mas sem dúvida a maior vantagem era saber que havia um espião em meio aos homens de Euron Greyjoy.

      Na manhã seguinte, com a carta escondida, pegou um navio para a Ilha de Harlaw com a desculpa de que Lord Harlaw havia pedido seus serviços, e sabendo que quando mais jovem Tristifer foi escudeiro dos Harlaw e que o Lord lhe tinha um enorme carinho, ninguém suspeitou de nada.Tristifer era o tipo de rapaz que todos menosprezam e que ninguém acredita que um dia ele será capaz de fazer alguma coisa, e pela primeira vez agradeceu por isso.

      Quando atravessou os portões de Dez Torres a grandeza da Casa Harlaw foi exibida, era a segunda casa mais rica das Ilhas de Ferro, perdendo apenas para os Greyjoys, e sem duvida isso havia influenciado no fato de que essa havia sido uma das poucas casas que apoiaram Yara na assembleia que não havia sofrido represálias.Nibor Harlaw, filho mais velho de Lord Harlaw e primo de Yara e Theon estava treinando com seu espadachim bravosiano e não prestou atenção nele.Notou terem mais guardas em toda a ilha, mostrando a tensão que existia entre os Harlaw e os Greyjoys.

      Subiu as escadas e foi ate os aposentos de Lord Harlaw, encontrou dois guardas em frente, algo muito incomum.Foi anunciado e quando entrou na sala Lord Harlaw o olhava com desconfiança.

—Já faz muito tempo que não vem me ver

—Deve saber que ultimamente tenho servido como criado a meu tio

—Um desperdício, você e um ótimo guerreiro-torceu a boca analisando Tristifer dos pés calçados com botas surradas e desbotadas, ao cabelo sem corte e oleoso

—Eles sabem disso, por isso me colocaram para engraxar botas-disse com um gosto amargo na boca

—Por isso também lhe tiraram a espada

      Em reflexo Tristifer colocou a mão no cinto onde costumava ficar sua espada.

—Mas acho que não veio ate aqui para ficarmos falando de espadas e perdas

—Não milorde, trago boas noticias-abriu um grande sorriso quando tirou a carta do bolso do casaco

      Entregou a Lord Harlaw que assim que entendeu do que se tratava se levantou de sua cadeira e arregalou os olhos, Tris viu a marca de um sorriso no rosto dele.

—O que vamos fazer?-perguntou quando o Lord abaixou o papel de frente dos olhos

—Enviar informações, mas temo que isso possa ser perigoso.E mais fácil receber cartas do que enviar, mas ultimamente nenhum dos dois tem sido simples aqui em Harlaw-Rodrik se atirou em sua cadeira e respirou fundo-Todos os corvos que vem ou vão de Harlaw são interceptados, caso não tenha percebido, Euron colocou navios em volta somente para isso.Quando o confrontei Aeron disse que era para a segurança dos próprios Homens de Ferro

—Então como vamos fazer?

—Você vai enviar e receber as cartas, tem livre acesso aos corvos de Fidalporto e pelo o que soube pode ir e vir quase que livremente

—Mas como vamos conseguir apoio assim?Irão suspeitar se virem lordes indo e vindo de Harlaw e nenhum deles me dará ouvidos

—Mas eu tenho meus métodos rapaz-o homem sorriu mostrando seus dentes e gengivas vermelho-sangue de tanto mastigar folhamarga-Acha que passei o ultimo ano aqui sentado sem fazer nada, aprendi como sair da ilha sem ser visto e a mandar mensagens a lords que assim como eu querem ver Euron fora

—O que eu devo fazer?

—Ficar como esta, irei conseguir apoio e conversar com os lords, mas não pense que o manterei sem informações, só não vai ser bom que suspeitem de você, já suspeitam demais de mim

—Quando poderemos enviar a resposta?

—Logo você vai saber

      Lord Harlaw sorriu e pegou mais um pedaço de folhamarga que tinha em uma caixinha de prata em sua mesa e começou a mastigar, fazendo borbulhar uma espuma rosada em sua boca que misturado ao seu sorriso de satisfação lhe dava uma aparência aterrorizante.No fim daquela semana Tristifer já tinha uma carta gorda, com cinco páginas que o fez agradecer pelo corvo ser grande e forte o suficiente para leva-la.

      Para manter o ritmo rápido, Daenerys dormia todas as noites em sua carruagem, mas a cada dia ficava mais difícil, conforme marchavam para o Norte o frio atingia a todos, aos outros um pouco mais que a ela, e as fogueiras eram maiores e mais trabalhosas, a carruagem ficava mais fria obrigando os caçadores a procurarem durante o dia por algum animal grande e peludo o suficiente para lhe fazerem mais uma coberta, mas para ela era mais fácil que para os outros.

      Naquela noite ela e Yara iriam dormir com um cobertor de pele de coelho, limpa e perfumada, recém-costurada com a pele de coelhos caçados naquele dia e no anterior que havia sido usados para alimentar o comboio.

      Logo ao lado em uma tenda negra estavam Daenerys e Yara, a banheira de cobre de Daenerys era toda a noite colocada dentro daquela tenda onde ela, Yara e Missandei poderiam tirar o pó da viagem de suas peles e cabelos, com milhares de centenas de cavalos galopando no chão de areia, mesmo estando na frente era impossível não ser atingido quando o vento batia.

      Saíram da banheira e se secaram, a cada dia a água vinha menos quente, a madeira era pouca para o frio que fazia, em sua maioria achavam arvores húmidas de orvalho e torna-las próprias para uma fogueira levava tempo.Colocaram a cabeça para fora da tenda olhando para os lados, a carruagem ficava a oito passos da barraca e elas usavam apenas roupas de dormir leves e transparentes.Daenerys puxou o braço de Yara e elas correram para a porta da carruagem para onde pularam tropeçando nas  peles e vestidos.

      Missandei estava do outro lado com os olhos grudados em um livro de poesias valirianas, com seus cabelos presos por uma fita dourada e usando um vestido de dormir rosado.As três estavam gostando de dividir a carruagem, passavam horas conversando ate o amanhecer, duas noites antes elas conversaram ate o momento de erguerem acampamento, e ao invés de marcharem a frente como sempre elas foram dormindo na carruagem.

      Se acomodaram em seu lado da carruagem, ela era tão grande que poderiam se esticar sem esbarrar em ninguem.Algumas das coisas delas estavam ali, mas em sua maioria iam em carroças mais atrás, Yara havia tirado o essencial de seu navio que era levado para Ponta Tempestade.Se acomodaram enquanto quando as criadas bateram na porta da carruagem para lhes servir o jantar, guisado com creme, pão  preto  de  aveia e queijo com uvas, depois comeram cada uma um pedaço de bolo de  mel.

      Não deveria, mas Daenerys se sentia mais confortável ali do que em Lançassolar, todos sorriam demais para ela, no começo foi reconfortante, mas depois começou a lhe dar medo, todos pareciam desesperados por agradar, e com a experiência que tinha, sabia que aquilo não era bom.Ellaria havia mandado um grande número de guerreiros para seguir com ela, e tornado os Westerling seus representantes.Não poderia descrever o quanto Tyrion alertou, reclamou e insistiu naquilo, viu de certa forma um desafio, mesmo em Dorne os bastardos sendo criados como filhos legítimos, não deixava de ser um desafio nomear a filha de um bastardo de uma casa pequeno, que não mudava nada ser o capitão da frota dornesa.Meriah era traiçoeira, ela sentia isso, sentia na maneira como ela olhava e sorria.Era uma mulher debochada que em meio a uma guerra discutia o desdobramento bélico enchendo a seriedade da reunião com seus risos fáceis achando que o mundo era uma grande piada, da qual só ela pudesse entender.

      Mas Daenerys não gostava nem um pouco dela ser casada com um Westerling, caçula de um ramo secundário de uma casa em decadência, mas ainda assim juramentados a Rochedo Castely e Tyrion um dia alertou.

—Se os Lannisters oferecerem dinheiro e terras, os Westerling serão os primeiros a lhe trair.Lannister ou não, as casas das Terras Ocidentais adoram o brilho do outro e a imponência de terras que se estendem até onde os olhos podem ver.

—Por que você os aguenta então?-perguntou Yara enquanto jantavam-Poderia tê-los enviado para Ponta Tesmpestade com o resto do dorneses

—Deveria ter tentado, mas sei que não teria conseguido dispensa-los cordialmente e isso acabaria ocasionando em uma situação constrangedora com Dorne.Mas logo arrumarei uma maneira, antes precisamos pensar em conquistar Porto Real

      Aos poucos foram dormindo, uma por uma, ate que a carruagem estava silenciosa assim como todo o comboio, no auge da madrugada só se ouvia o som dos passos dos vigias, o relinchar de alguns cavalos e o trepidar das chamas das fogueiras.

      Dentre as milhares que seguiam, poucas estavam acordadas, Meriah e Arthur, por exemplo, a dornesa sempre teve hábitos noturnos, e com o tempo seu marido os seguiu também.Eles descobriram coisas interessantes assim; a maioria das cartas eram enviadas de madrugada por homens que o faziam tão silenciosamente que pareciam esconder alguma coisa, a carruagem da rainha era guardada por mais de quinze homens, entre eunucos e dothrakis, a Mão costumava dormir bem tarde, a vela de sua carruagem costumava ficar acessa por horas apos o jantar e as vezes ele era visitado por uma acompanhante de acampamento, as vezes o Vira-Casaca acordava a noite gritando em desespero de tal forma que parecia que estava sendo morto ou pior.E sem duvida o mais divertido era que as crianças dothrakis haviam começado uma espécie de desafio entre elas que consistia em segurar um pedaço sangrento de carne em cada mão e ficar em um local aberto tentando atrair os dragões, isso acontecia a semanas, mas nenhum deles nunca conseguiu realmente chamar os dragões

—Dragões não gostam de carne sangrenta-gritou Arthur, mesmo sabendo que eles não lhe entenderiam-Gostam de carne queimada

      O rapaz das Terras Ocidentais sempre teve uma natureza brincalhona e na noite seguinte queimou bem dois coelhos e quando encontraram na madrugada os jovens com a carne sangrando ele as jogou para eles.Entendendo o recado, um deles os pegou e ficou na posição de todas as noites, com os braços esticados em cima de uma arvore ou pedra alta.

      Não se passaram nem dez minutos ate que o dragão perolado aparecesse voando, e os jovens correram mais rápido que seus cavalos.Na manhã seguinte eles estavam com marcas das punições que receberam e passavam agora os dias e noites limpando cavalos, procurando madeira para fogueiras e limpando as merdas dos cavalos.

—Era mais divertido antes-Arthur disse vendo um deles em plena madrugada costurando o pelo de um cavalo para fazer uma coberta só com a luz precária da fogueira-andaram mais um pouco e logo chegaram a parte mais arrumada do acampamento, onde havia a carruagem da rainha e da Mão-Nem preciso perguntar se vai tentar essa noite-sussurou a sua esposa

—Amanhã tentarei.Vamos passar pelo castelo de Lord Beesbury, ao que parece ele produz ótimos vinhos adocicados, duvido que aquele duende resista

      Cada dia o amanhecer parecia menos radiantes, o inverno havia chegado e diariamente lembrava a todos.Porto Real estava cada vez mais cheia e com menos recursos, a ponto de gatos serem caçados como se fosse cervos, com grupos de caça percorrendo as ruas de madrugada.Mas esse tempo iria dar uma pausa, junto com o sol chegaram navios em nome de Euron Greyjoy com caixas e caixas de alimentos em conserva que ao que parece havia sido roubado de algum lugar no Mar Estreito.

      Recebiam recursos também das Terras Fluviais em nome dos Frey, mas isso era cada vez menor, o inverno lá era mais rigoroso e as colheitas próximas ao Gargalo começaram a congelar assim como os rios.Pelo menos com os Tyrell e a grandiosa fartura do Jardim de Cima eles ficariam mais abastecidos, mas Cersei havia explodido toda a família Tyrell.

      Mas não, sua querida irmã pouco se importava se a população passava fome, ela ficou furiosa quando seu estoque de Vinho da Árvore terminou e ela precisou se contentar com o vinho que segundo ela era aguado e fedorento que vinha do oeste das Terras da Tempestade.

—Deveria ter pensado nisso antes de encher o Septo com fogo-vivo-disse um dia quando ela estilhaçou uma taça de vinho em uma criada que lhe serviu vinho aguado, fazendo a moça ter um grande corte na bochecha que se tornaria uma cicatriz horrenda

—Quando eu pegar Jardim de Cima vou beber quanto Vinho da Árvore quiser e vou ser servida por aquela velha

      Para disfarçar o aguado o vinho agora era adoçado com mel e aromatizado com canela e cravo, ainda aguado, mas pelo menos ela não quebrava mais taças em ninguém.

—Estão marchando para Jardim de Cima-informou Qyburn mais tarde naquele dia-Marcham rápido para um comboio tão grande

—Qual o tamanho desse comboio?-Jaime perguntou

—Maior do que qualquer outro já visto, mas em sua maioria são mulheres e crianças

      O Pequeno Conselho nunca deveria ter sido tão pequeno, Cersei estava ali como a rainha, Jaime como Capitão da Guarda-Real e Qyburn agora assumia o lugar Pycelle e ao mesmo tempo era Mão da Rainha, também havia um quarto integrante, um homem chamado Jacobo Sunderly, da casa Sunderly de Salésia, primo de Euron Greyjoy que havia ficado como seu representante após a aliança.Cersei o aguentava porque ele ficava quieto e não tentava dar ideias, apenas observava, as vezes Jaime achava que ele era mudo, mas já o ouviu falar algumas vezes.

      Sunderly era um homem alto, de pernas longas, característica que Jaime já havia notado no povo das Ilhas de Ferro, eles poderiam ser baixos, mas todos tinham pernas longas em relação ao corpo, talvez pernas longas fizessem diferença na hora de tripular um navio ou tripular um deixasse suas pernas longas.Outra característica típica era que sempre usava roupas cinzas, esverdeadas ou azuladas, e recentemente sempre usava sua capa de pele de foca e mantinha seus longos cabelos cor de madeira soltos cobrindo o local onde ficava sua orelha esquerda, mas agora só havia um buraco com pele repuxada e rosada.

      Logo o conselho ganharia mais um membro, um dos muitos e muitos filhos de Walder Frey chegaria com o próximo carregamento de suprimentos e Qyburn tentava há algum tempo arrumar um Lord digno e leal para representar Ponta Tempestade.

—Acha que nossos homens são suficientes?-ela perguntou enquanto colocava mais um pouco de mel em seu vinho

—Creio que temos homens fortes e bravos, que lutarão bravamente em nome de Vossa Graça

—Ou seja, esses inúteis não são suficientes-disse em tom ríspido com fogo nos olhos

      Cersei se levantou da cadeira com tamanha rapidez e brutalidade que assustou a todos, Qyburn se protegeu achando que ela fosse atirar algo, Jaime e Jacobo apenas a observaram, mas ele notou que o Homem de Ferro havia abaixado ligeiramente a cabeça caso algo lhe fosse atirado.

—Estou com vontade de passear pela cidade, venham comigo todos vocês

      Havia muito tempo que Cersei não saia da Fortaleza Vermelha, e estava feliz por isso, era mais difícil controla-la em público.Antes que Jaime pudesse tentar convence-la a ficar eles já passavam pelos portões da Fortaleza Vermelha.

      O dia estava frio, mas de alguma maneira as pessoas tinham mais animo para sair de suas casas do que nos dias anteriores, talvez o fato de agora não terem fome as fizessem querer passear um pouco.Andaram durante muito tempo, cruzando a cidade para noroeste, e quando mais andavam mais percebiam que as pessoas naquela área estavam mais alegre, algumas riam e nem se importaram com a rainha, o que atiçou a curiosidade de Cersei em descobrir o que era.

      A origem de toda a alegria vinha da Praça do Sapateiro, onde um grupo de saltimbancos encenava em um palco precário feito com madeira podre e enfeitado com tecidos puídos e marcados pelas traças, mas ninguém se importava com aquilo, todos riam e se divertiam.Conforme Cersei se aproximava as pessoas abriam caminho, ate que os atores no palco ficaram em silêncio e se curvaram.

—Continuem, adoraria me divertir-disse Cersei em tom de comando

      Eram cinco homens e duas mulheres, quatro eram anões e estavam vestido com roupas distintas, um era negra como carvão, a outra verde como esmeralda, e a terceira bege com algumas manchas de vinho, o quarto anão foi o que deixou Jaime irritado, ele era sem duvida uma caricatura de seu irmão, com uma cicatriz no rosto.Retomaram a peça e o quarto anão pulou no colo de uma prostituta com os seios desnudos.

      A outra mulher usava uma peruca branca e roupas grosseiras feitas com pele de cavalo, e gritava que iria atacar Porto Real com seus dragões, o outro homem representava Barristan Selmy, usando uma espada enferrujada em uma mão e uma bengala na outra.Dizendo com voz tremula que seria seu guerreiro na guerra, mas ao tentar erguer a espada caiu e provocou gargalhadas de todos, inclusive de Cersei, o ator então começou a gritar que havia quebrado o quadril.

      Em meio às risadas um grito chamou a atenção de Jaime e de algumas pessoas, correndo entre as pernas da multidão a sua direita, uma menina de cerca de cinco anos com roupas não muito típicas de Westeros.

—Mhysa!Mhysa!-gritava a garota correndo em direção ao palco

      Mas antes que ela pudesse chegar um homem baixo, mas com braços fortes a segurou e a ergueu, a menina começou a gritar e ele lhe deu um tapa no rosto que a deixou quieta.

      Ela o olhou pedindo ajuda, com grande olhos verdes cheios de medo, Jaime então virou seu cavalo e abriu caminho na multidão, mas o homem começou a andar rápido e ele não tinha como passar com o cavalo rapidamente.Começou a descer do cavalo, mas antes que o fizesse uma mão segurou seu ombro, Boros Blount o olhava com desprezo em seus olhos azuis.

—Não tente bancar o herói

—Tire suas mãos de mim-Jaime bateu em sua mão

      Quando voltou a olhar para a multidão o homem e a menina haviam sumido.

      Logo que chegaram a Bosquemel, Daenerys percebeu que havia uma companhia conhecida, junto a Lord Warryn Beesbury estava o simpático Nestor Poppy, com seu bigode penteado e barriga um pouco grande demais para usar armadura, junto a Nestor havia um estandarte de fundo azul, com uma flor vermelha e preta que os Poppy levavam no estandarte e no nome.Muitos lordes de castelos próximos também estavam ali, todos querendo conhecer a Mãe dos Dragões e seus dragões, que seguiam voando e poderiam ser vistos antes mesmo da longa caravana se aproximar.Daenerys conheceu Thoren Poppy, filho de Nestor que ainda depois de tanto tempo insinuava uma união matrimonial entre ela e o filho, que se constrangia com as deixas nada discretas do pai.

—Acho que temos que dar uma noticia desanimadora a Lorde Poppy-disse Yara mais tarde no banquete

—Que eu não vou me casar com o filho dele?-a loira sussurrou enquanto cortava seu ganso recheado

—Nem você nem nenhuma garota-disse rindo

—Como assim?

      Yara apontou sua taça de vinho adocicado para onde Thoren Poppy estava, ele era um rapaz alto, com ombros largos e cachos cor de caramelo, tinha olhos azuis e um belo sorriso, mas Yara havia notado que ele destinava a maioria de seus sorrisos para cavaleiros tão belos quanto ele.Como naquele momento em que ele estava perto demais de Sor Cassey Mullendore, da casa Mullendore de Terraltas, segredando em seu ouvido, fazendo o cavaleiro esconder o sorriso em uma taça de vinho.

      Daenerys arregalou os olhos e olhou para Yara não acreditando no que via, queria rir, mas mordeu os lábios.

—Pobre Lorde Poppy, será que ninguém lhe disse que o filho gosta de afiar espadas?-disse Yara

      Sem conseguir se controlar Dany começou a rir e escondeu o rosto no ombro de Yara.

—Alguma piada particular?-Tyrion de acomodou na cadeira ao lado de Daenerys

—Nada não-disfarçou a loira

—Estamos comentando sobre os nobres e valentes cavaleiros da Campina-disse Yara

—Não pensei que fossem disso-o Lannister já começou a enrolar a língua

—Com tantos homens belos até nos somos obrigadas a comentar-riu

      Percebendo que não entendia nem um pouco as mulheres, Tyrion resolveu que já estava bêbado o suficiente e se retirou, os vinhos produzidos em Bosquemel não eram tão bons quanto os da Árvore, doces demais para o gosto de Tyrion, mas sua doçura disfarçava o quanto eram fortes, você poderia beber varias taças antes de perceber que estava bêbado demais para se levantar.

      A Mão atravessou todo o evento do banquete, o castelo de Bosquemel tinha um salão pequeno, mas um belo jardim e muitas mesas com lordes menores e alguns cavaleiros ficaram ali fora, aquecidos por tochas e fogueiras.Tyrion foi para o lado de fora dos muros, onde os dothrakis também tinham seu próprio banquete, com carne de cavalo, leite fermentado e cebola frita.Ate os dragões tinham seu banquete, com dezenas de animais que foram empilhados e queimado ate quase virarem carvão e empilhados a quase dois quilômetros de distancia de todos, era possível vê-los voando com pedaços de carne na boca através das árvores.

      Ficou aliviado por ver que os cavaleiros da Campina, tão pomposos estavam se dando bem com os dothrakis, já era a quinta mulher dothraki que ele via indo para as arvores com um rapaz da Campina.

      Entrou em sua carruagem e esperou dormir com aquela barulheira ali fora, o castelo de Bosquemel era pequeno, não tinham muitos quartos para hospedes, então Tyrion vendo a pobre Lady Beesbury tentar encaixar a todos ali, ele dispensou o quarto e ficou em sua carruagem que ele tinha certeza que era mais confortável que qualquer quarto dali.Ali ele poderia ter privacidade, mas esperava não vomitar de bêbado.

      Assim que viu o Duende entrar em sua carruagem, Arthur Westerling foi ate sua tenda onde a esposa o aguardava, Meriah não usava a calça de sempre, ou a blusa sem mangas de sempre, havia dispensado o tipico rabo de cavalo no cabelo purpura e os havia escondido em um lenço de seda rosa.Usava um vestido também rosa e Arthur ficou maravilhado em ser sua esposa de vestido, algo extremamente raro.

—Pode ir

      Meriah pegou uma jarra de vinho e uma taça, saiu da cabana, andou em círculos algumas vezes, ziguezagueando pelas tendas e atravessou uma rua improvisada onde o trafego de dothrakis bêbados e acompanhantes de acampamento era grande, e começaram a causar alguma confusão já que os dothrakis não usavam moedas e não pagavam por companhia.

      Entrou facilmente na carruagem sem guardas que bebiam assim como todos, e quando a porta abriu Tyrion Lannister deu um pulo, com a visão turva da bebida, ele balbuciou alguma coisa, mas Meriah logo fechou a porta e colocou uma boa quantidade de vinho na taça.Tyrion ao sentir o cheio do vinho logo o pegou e deu um belo gole.

      Nem vinte minutos depois eles haviam acabado, Tyrion estava dormindo com as calças abaixadas e roncando mostrando o quão profundo era seu sono.Meriah pegou um pano qualquer solto na carruagem e limpou entre suas pernas, acendeu uma vela e se controlou para não dar as costas a Tyrion e sua imagem desnuda.

      Fechando cada fresta das cortinas, ela começou a ler detalhadamente todos os documentos que haviam ali, descobriu coisas interessantes, como a intenção de dispensarem ela e o marido para Ponta Tempestade e que o espião da Greyjoy era Tristifer Botley.Também que a situação financeira estava começando a preocupar, a intenção da rainha de dar a amante parte das Terras Fluviais e a preocupação em relação ao Norte e ao Vale que travavam sua própria guerra ate pouco tempo e não deram respostas concretas sobre alianças.

      Saiu e deu mais uma volta pelo acampamento, passou por uma briga entre um camponês e um dothraki, aparentemente o dothraki havia dormido com a esposa dele e se recusava a pagar, mas o dothraki não entendia uma palavra do que o homem dizia.Entrou em sua cabana e encontrou o marido jogando cartas.Escreveu um relatório a Lançassolar dizendo o que havia descoberto e a colocou na pata de um corvo ainda aquela noite onde todos estavam bêbados demais para notar que ela enviava uma carta.

      As semanas de cavalgada foram recompensadas dias e dias depois, quando Daenerys foi recebida por cavaleiros Tyrell que a escoltaram ate o castelo, sua primeira visão de Jardim de Cima veio junto com o entardecer, com seus muros de pedra cobertos por flores de vários tipos sendo sombreados pelo sol poente.Todo seu entorno era repleto de flores que Dany nunca havia visto.

      Todo o comboio foi deixando fora das muralhas e Dany entrou apenas com uma comitiva reduzida, sendo seguida de perto por Tyrion Lannister que ansiava ver Olenna Tyrell e por mais que odiasse a ideia, confiava mais nela do que em todos os outros lordes que encontraram e viriam a encontrar.

      Por mais que Jardim de Cima fosse um local colorido e belo, com bosques verdes apesar do inicio do inverno e fontes com pássaros cantando alegremente, o clima de luto era visível, as pessoas usavam roupas escuras diferente do habitual verde e dourado.

      Entraram no salão principal do castelo, decorado com rosas de todas as cores, de brancas a douradas, e tapeçarias em suas paredes, a parede do fundo do salão era o maior vitral que qualquer um já havia visto, contando a historia de Garth Gardener com sua roupa verde na Era dos Herois e de sua chegada a Westeros e de como com seu saco de sementes plantou árvores por toda Westeros, de Dorne ao Norte.Depois de como seu filho, Garth, o Jardineiro, construiu Jardim de Cima sempre usando sua coroa de flores e trepadeiras.Depois iam para a Era de Ouro com Garth, Mãos Douradas governando a Campina com sabedoria e justiça em seu Trono de Carvalho de sua infância ate a velhice, sendo considerado por muitos o reinado mais longo do Mundo Conhecido.

      O Trono de Carvalho ainda existia, mas não era mais para acomodar um rei, e sim um Lorde em meio a uma festividade, e nele quem estava sentada era Olenna Tyrell.Com um conjunto verde-escuro com detalhes dourados.

—Vossa Graça-disse ela brincando com a aliança de casamento que mantinha mesmo viúva-Fico feliz em finalmente conhece-la

—Digo o mesmo Lady Tyrell-a mulher mais velha desceu do trono e andou ate a frente de Daenerys-Devo dizer que sinto muito sobre seu filho e netos

      Olenna segurou firme a mão de Dany, e bateu delicadamente enquanto negativava com a cabeça.

—Não sente mais do que eu, você nem os conhecia e pode ate tê-los desprezado em algum momento-olhou para Tyrion-Aquele e um que eu tenho certeza que os odiava

—Preciso discordar Lady Tyrell-Tyrion deu um passo a frente-Tinha certa simpatia por seu filho e netos.Nunca me faltaram com respeito e isso para um homem como eu e motivo de amizade.Ate ficaria feliz por Margaery ter ficado viúva em pleno casamento se não fosse a situação embaraçosa em que aquilo me colocou

—Compreendo perfeitamente-Lady Olenna então ser virou para os Greyjoys-Então e verdade que Vossa Graça também formou aliança com os Greyjoys-ela se aproximou e ficou frente a frente com os irmãos-O tio de vocês fez um belo estrago meses atrás em Vilavelha

—Pedimos desculpas por isso-disse Yara sem graça

—Tenho certeza que sim-olhou Theon dos pés a cabeça duas vezes, mas não falou com ele, e sim com sua irmã-Espero que tenha ensinado ele a se comportar, Vossa Graça e muito gentil em aceita-lo junto dela diante do histórico

      Todos arregalaram os olhos, Theon abaixou a cabeça corado de vergonha, Meriah Westerling escondeu o rosto no ombro de seu marido para abafar o riso.

      Todos foram acomodados em quartos do castelo, os dothrakis e Imaculados montaram acampamento fora dos muros do castelo.Todo o castelo cheirava a rosas, e haviam estandartes de rosas douradas por todos os lugares.Daenerys e Yara dividiram um quarto que normalmente abrigava os reis que iam visitar Jardim de Cima, com uma vista privilegiada para os pessegueiros, com cortinas de seda transparente e uma cama tão grande que chegava a ser indecente.

—Quantas pessoas eles acham que um rei leva para a cama de uma vez?-perguntou Yara quando ficaram a sós

      Diferente de Dorne, a Campina não daria bailes em seu nome, em respeito ao luto, mas tiveram um jantar cheio de fartura ao som de violinistas, quando chegaram ao salão todos se curvaram para Daenerys a aguardando para iniciarem o banquete.Haviam patos com laranja e passas ao rum, três cervos dourados temperados cerveja e pimenta, gansos recheados com molho de amoras, pilhas de espigas de milho, nabos com molho de mostarda, pães pretos com aveia, queijo amanteiga e espetinhos de cenoura com torresmo.Uma vastidão de sobremesas coloridas que fizeram muitas pessoas economizarem no jantar para esperar os bolinhos de limão, cisnes de creme e as tortas de amoras e a de castanhas com cacau

      Depois do jantar, Lady Tyrell chamou Daenerys, Tyrion, Yara e meia-dúzia de senhores de grandes casas da Campina junto a eles Lady Oakheart.Todos para tomar um conhaque em seu escritório, que antes era de seu filho, saíram do jantar e seguiram Lady Tyrell por entre os corredores repletos de pinturas maravilhosas, entre elas uma um tanto mordia para Tyrion, um grande retrato de quase dois metros de altura em tamanho real onde estavam Lady Tyrell, seu filho Mace e seus netos, Margaery e Loras, não saberia dizer a data da obra, mas não deveria ser antiga.Os olhos de Margaery pareciam acompanha-lo, por isso acelerou um pouco o passo ao passar por ele.

—O quarto de vocês e confortável o suficiente?-Lady Tyrell perguntou as duas jovens mulheres que andavam ao seu lado

—Sim-disse Dany-Mas fomos colocadas no mesmo quarto...-começou meio sem graça

—Não querem ficar juntas?-Lady Tyrell nem a olhava, ia a passos firmes pelo corredor

—Não sei se e correto, não quero causar incomodo as pessoas com o nosso...relacionamento

—Queria-os olhos de Olenna fizeram Dany se sentir com medo e ao mesmo tempo confortável-O relacionamento de vocês e um segredo aberto que ninguém aqui se incômoda.Não posso dizer que não fiquei surpresa, nunca pensei que fogo e mar combinassem muito

      Dany olhou para Yara que sorria, às vezes o sorriso dela deixava suas pernas bambas, mas não havia nada mais sensual nela do que as calças de couro que usava, por conta de dividirem a carruagem com Missandei só tinham alguns minutos durante o banho para apreciarem uma a outra.Daenerys mal poderia esperar para irem ao quarto e arrancar as calças dela.

      Um criado com taças de conhaque em uma bandeja de prata estava parado na porta e todos pegaram uma taça ao passar por ele.O escritório era todo de madeira avermelhada, com uma lareira com detalhes em verde-escuro, um candelabro estava imóvel acima de suas cabeças e todos os moveis acolchoados tinham estampas floridas.

      Lady Tyrell foi diretamente para a escrivaninha avermelhada e chamou as outras duas com o dedo, com uma chave que guardava no bolso da manga, abriu uma gaveta e de lá tirou uma carta bem recheada e com um selo negro sem desenho.

—Chegou há dois dias

      Entregou a Yara a carta, sem remetente, mas estava endereçado a ela.Quis correr para o quarto para ler, mas guardou a carta dentro da calça e tentou esquece-la por algum tempo.      Tyrion sempre viu os senhores da Campina como homens pomposos, cavalheiros, que estão sempre bem vestidos e perfumados, estava certo de tudo isso, mas nunca imaginou que eles amassem tanto uma guerra.Ficou durante minutos ouvindo-os falar sobre suas ideias de vingança, uma mais idiota que a outra.

—Podemos jogar fogo-vivo de cima dos dragões-disse Lorde Arthur Ambrose sem se importar com a população ou o quão perigoso e instável era o fogo-vivo

—Por que jogaríamos fogo-vivo se temos dragões que cospem fogo?-Tyrion perguntou, o Lorde sem graça se calou com a taça de conhaque

      As quatro mulheres estavam sentadas observando do outro lado do escritório.

—Por que a guerra faz deles completos idiotas?-perguntou Lady Arwyn Oakheart

—Querem se sentir jovens novamente, mas estão tão gordos de cerveja que suas armaduras não entram mais-respondeu Lady Tyrell

      Um uivo de gloria irrompeu pela sala, Lorde Redwyne contava como havia enfrentado Stannis Baratheon em Ponta Tempestade com bravura.

—Em nenhum momento você saiu de seu navio-interrompeu Lady Tyrell-Ficou meses ancorado ate que Eddard Stark veio anunciar que o Rei Louco havia morrido, depois foi se ajoelhar para Robert Baratheon com o rabo entre as pernas

      Lord Redwyne ficou vermelho como seus cabelos, Dany viu que ele desejava encolher ate desaparecer.

      Segurando o riso, Yara cruzou as longas pernas e apoiou o cotovelo no joelho enquanto bebericava o conhaque.

—Você que deve se divertir com isso-Lady Tyrell começou-Quando Tyrion Lannister me escreveu dizendo que haviam feito aliança com os Greyjoys eu fiquei espantada e perguntei se ele sabia como os Greyjoys são.Lembro de finalizar a carta com o ditado tão popular quanto "Os Lannisters sempre pagam suas dividas", escrevi em grandes letras "Nunca confie nos Greyjoys"

—Espero que tenha mudado de opinião-agora era Yara quem queria encolher ate sumir

—Ele me respondeu dizendo que agora haveria um novo dito popular "A idiotice Greyjoy e uma característica masculina".Devo dizer que seu irmão e seu pai são as provas disso

—Devo concordar-deu um gole em sua bebida, era difícil admitir, mas ela estava certa

—Eu gosto dela-disse Lady Oakheart-Minha Septã dizia que mulheres que usam calças transmitem confiança

      Lady Tyrell analisou as calças de Yara, negras como a noite e presas por um cinto de bronze.

—Gostaria de ter usado calças quando jovem, mas minha mãe dizia não ser adequado para uma dama-deu uma risada seca-Quem decide o que e adequado?Se decidirem que e adequado todos andarmos nus iremos?Talvez quando tinha a idade de vocês, mas hoje meu corpo nu não e mais algo belo de se ver

      Dany e Yara se olharam não entendendo como a conversa havia tomado esse rumo.

—Elas devem achar que somos velhas malucas-Lady Oakheart riu

—Não se prendam a nos, se quiserem ir para o quarto se divertir fiquem a vontade

      Daenerys ficou tão vermelha quando alguém poderia ficar.Abriu a boca algumas vezes, mas não saiu uma única palavra.

—Não me olhem assim, meu neto era um verdadeiro engolidor de espadas-disse Lady Olenna enquanto batia no braço de Yara, aquela frágil mulher era mais forte do que parecia-Mas você como uma Nascida do Ferro deve preferir ostras

      Yara engasgou com o conhaque e novamente Lady Tyrell lhe deu tapas nas costas.

—Como vejo você não e muito boa de engolir

      Depois de dez minutos Lady Olenna anunciou que iria se retirar, assim todos foram para seus aposentos, Daenerys e Yara andavam no corredor a certa distancia uma da outra, se se tocassem iriam começar a se beijar ali mesmo.Mas assim que a porta se fechou não conseguiram mais se soltar, deixando a carta na mesa para ser lida com calma no dia seguinte.

      Naquela madrugada entenderam porque uma cama tão grande, ela dava uma grande liberdade para tentar coisas novas, e testaram ate quase o amanhecer.


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Notas finais do capítulo

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