Entrelinhas Ron e Hermione - Contradições escrita por Morgana Lisbeth


Capítulo 2
Uma longa espera


Notas iniciais do capítulo

"O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo".

(Adélia Prado)




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Ron e Hermione trocaram várias cartas durante as férias. O rapaz finalmente entendera que era apaixonado pela amiga e sentia muita falta dela, uma saudade tão forte que chegava a doer. Nas correspondências enviadas para a menina tentava convencê-la a ir logo para A Toca. “Harry também deve vir e será muito divertido, sem as tensões e obrigações da escola. Vamos poder conversar sobre outros assuntos”, escreveu o rapaz.  

Mione sentia-se lisonjeada ao ver que o ruivinho fazia tanta questão da presença dela. Lembrou que o convite insistente para que visitasse A Toca começou a ser feito em Londres, quando desembarcaram para o início das férias. Até mesmo Molly entrou na jogada, pedindo aos pais da menina que a deixassem passar alguns dias na sinistra e aconchegante residência dos Weasley.

A jovem não alimentou as esperanças do amigo, mas também desejava, de todo coração, poder passar alguns dias das férias com ele. Os pais de Mione, porém, queriam ficar a maior parte do tempo possível com a menina. E não seria fácil convencê-los a abrir mão da companhia da filha.

Ele queria que Hermione chegasse à Toca antes de Harry. Tinha a impressão que, sempre quando os três se encontravam, Mione dava mais atenção a Harry. No ano anterior, é verdade, desde que passaram a ser monitores, Hermione e Ron ficaram muito mais tempo juntos, apenas os dois. Mas ainda assim o rapaz percebia que o tratamento dispensado pela amiga ao Menino-que-Sobreviveu era diferente.

A verdade é que Ron não estava enganado. Hermione tratava ele e Harry de formas diferente sim, mas isso era inconsciente. Harry era o amigo que precisava dela, da sua inteligência, para vencer Voldemort, mas, especialmente, era o irmão que nunca tivera. Enquanto Ron... Era seu amigo, é verdade. Sempre a ajudava, a defendia, a elogiava por suas ideias que dizia serem brilhantes. Ao mesmo tempo, no entanto, a contradizia, criticava, confrontava com suas opiniões.

Mas ela não queria Ron como irmão e sim como namorado! Pensar nisso sempre a deixava muito agitada, com o coração acelerado. Não conseguia entender por que gostava tanto do ruivo e, ao mesmo tempo, se chateava tanto com ele. Um dos maiores motivos de sua irritação era aparente indiferença do rapaz aos seus sentimentos.

Devia reconhecer que, desde o último ano, Ron tinha mudado muito. Estava mais afetuoso e próximo. As cartas que trocara com o amigo desde o início das férias a deixaram muito feliz. O rapaz parecia querer tanto passar parte das férias com ela e chegou a falar com o pai da menina ao telefone – algo que detestava, Hermione sabia – para pedir que a deixasse ficar uns dias na Toca.

Por tudo isso, a ansiedade em rever o ruivo era grande. E o mês e meio de espera parecia uma eternidade, tanto para a menina como para Ron. Finalmente, porém, aquele dia tinha chegado. Mione trocou três vezes de roupa. Não queria parecer arrumada demais, mas ao mesmo tempo desejava ser especialmente notada pelo amigo.

Na última carta, Ron tinha informado que iria à estação do trem com o pai para esperar pela amiga. Quando desceu do vagão, no entanto, não foi o sorriso dele que Mione recebeu e sim o de Gina.

Hermione deu um abraço na amiga. Mas logo seus olhos miraram mais longe. Alguns metros adiante estava Arthur, que acenava. Ela olhou ao redor, tentando ver um outro vulto ruivo, sem sucesso.

— Ele não veio! - disse Gina notando a expectativa de Hermione.

— Ron não veio? Por quê? - Hermione mordeu os lábios tentando disfarçar a ansiedade.

— Mamãe falou que Ron tinha que arrumar o quarto. Harry deve chegar em três dias. Ele ficou lá, muito emburrado, para variar - a ruiva revirou os olhos.

No momento que Hermione entrou na sala d'A Toca, alguém gritou o nome dela. Era Ron, que estava no andar de cima e desceu correndo as escadas. Que diferença dos anos anteriores. Hermione olhava feliz e incrédula para o rapaz.

Quando já estava próximo à menina, o ruivo hesitou por um instante. Mas logo a envolveu num abraço e beijou os cabelos de Hermione. Afastou-se um pouco e ganhou um beijo na bochecha. Com certeza nem desconfiava como este cumprimento carinhoso deixara feliz a amiga.

Um pouco sem jeito, tirou o braço do ombro de Hermione. "Que bom que você veio", falou dando um sorriso tímido.

— Eu também estou feliz por estar aqui. Senti muitas saudades suas... e do Harry –  a garota apressou-se a completar.

— Do Harry?! Mas por que falou no Harry? Ele nem está aqui – Ron não conseguiu esconder que ficara chateado.

— Mas ele é nosso amigo, não é? E é natural ter saudades dos amigos –  ela rebateu com segurança.

— É, Hermione, deve ser. Fica à vontade que eu vou terminar de arrumar o meu quarto - o rapaz falou com a voz baixa, se virando para subir as escadas. Mas logo se deteve ao ouvir o apelo da menina.

— Você está chateado comigo só por que eu falei do Harry? - a voz saiu estridente.

— Ele é o Menino-que-Sobreviveu. E eu sou apenas mais um dos ruivos da família Weasley e amigo do famoso Harry Potter. Eu já devia ter me acostumado com isso - ele começou a subir as escadas tortas d'A Toca.

— O que está acontecendo, Ron? Eu não consigo entender... - Mione ainta tentou detê-lo, mas foi em vão.

— Você não precisa entender tudo, Hermione. Tem muitas coisas que eu também não consigo entender... - a voz dele já ficara distante.

O rapaz continuou a subir as escadas e deixou para trás uma Hermione perplexa. Antes que ela pudesse organizar os pensamentos, Gina apareceu no andar de cima e falou em um tom autoritário que lembrava Molly:

— Não acredito que você já está brigando com Mione!

—Nós não estamos brigando. Apenas conversando – Ron respondeu ao passar próximo da irmã.

— E desde quando alguém conversa com um tom de voz tão irritado? - Gina falava alto pra que a conversa fosse acompanhada por Hermione.

Sem dar uma resposta, ele passou pela irmã que o fitava de forma ameaçadora. Subiu o segundo lance de escadas, que dava para o seu quarto, com passos rápidos.

Gina olhou para Hermione, que estava com os braços cruzados e expressão abismada. Ron tinha sido tão afetuoso nas cartas e agora a tratava daquele jeito. Será que o ruivo realmente tinha ciúmes de Harry? Não era possível. Nunca perceberia que era dele que ela gostava?

No meio desses pensamentos confusos, nem se deu conta que Gina já estava ao seu lado. “Mione? Desculpa pelo meu irmão. Eu morro de vergonha dessas atitudes dele”.

— Não se preocupe. Eu conheço Ron e sei que ele perde o controle fácil. Não vou dizer que me acostumo com isso, mas...

— Por que ele tratou você assim? - Gina a confrontou.

— Sei lá... Ficou chateado depois que eu disse que estava com saudades do Harry... - ela mesma não entendia muito bem a atitude do rapaz.

— Meu irmão é muito ciumento, você deve saber disso. Morre de ciúmes de mim com a mamãe, acha que recebo mais atenção porque sou menina... Deve ser ciúme. Mas nada justifica a falta de educação, com certeza! - Gina foi enfática. 

O ruivo logo se arrependeu de ter sido tão rude com a amiga, mas ao mesmo tempo continuava enciumado. “Mas por que Hermione nunca se esquece do Harry, mesmo quando estamos só eu e ela juntos?” Queria pedir desculpas, mas era orgulhoso demais para tomar essa atitude.

Gina invadiu o quarto do rapaz com a pior cara possível. “Como você trata a Mione daquele jeito? Ela chegou tão feliz na estação, foi logo perguntando por você. Eu achei que você tinha evoluído um pouco. Deu aquele perfume para ela, começou a se aproximar mais e não a fugir de Hermione, como se temesse uma azaração. Agora você dá uma bola fora dessas?”

Ele detestava admitir isso, mas Gina tinha razão. Justamente quando estavam numa excelente fase, ele vacilava daquele jeito. A menina respirou fundo e, vendo que o seu discurso surtia efeito, continuou:

— Você tem que ir até ela e pedir desculpas. Dessa vez foi você que errou. Ouviu, Ron?!

— Tudo bem. Mas acho difícil ela aceitar meu pedido de desculpas... - o rapaz deu de ombros.

— Pelo menos tome a iniciativa e vá logo até lá. Ela está sentada na sala lendo - Gina deu uma piscadela.

O ruivo seguiu o conselho da irmã e, para surpresa dela, não reclamou. Hermione tinha o rosto escondido atrás de um grande livro e, aos seus pés, estava Bichento.

— Mione... – ele a chamou no seu melhor tom de arrependimento.

A bruxa de cabelos volumosos abaixou o livro e olhou para o rapaz sem conseguir esconder a mágoa que ainda sentia.

— Eu queria pedir desculpas... Não devia ter falado com você daquele jeito. Sempre que te magoo, eu magoo antes a mim mesmo, pode ter certeza - aquelas palavras passaram tanta sinceridade e foram ditas de forma tão sentida que fizeram o coração de Hermione falhar uma batida.

Ela o mirou com profundidade, tentando entendê-lo além das palavras. Ron permanecia um mistério. Um mistério que a atraia irresistivelmente. 

— Ok. Vamos esquecer isso então, Ron - respondeu com simplicidade.

O rapaz, surpreendendo-a mais uma vez, abriu um sorriso e aproximou-se dela. O ruivo depositou em seguida um beijo no rosto da menina.

— Obrigado, Hermione – foi tudo que ele conseguiu dizer.

Com as orelhas vermelhas, parecendo tomar consciente do que havia feito, Ron se virou e subiu mais uma vez as escadas. A bruxo tentou voltar a ler, mas perdera toda a concentração.

 

 

 

 Depois do reencontro tenso, Ron e Hermione passaram três dias felizes juntos. O bruxo, sempre muito atencioso, se interessava pelos livros que ela lia e até ensaiou um afago em Bichento. Conversavam sobre vários assuntos e, é claro, davam muitas risadas. “Como é bom quando Ron está bem-humorado”, ela pensou. A garota mal imaginava que logo entrariam de novo em confronto.

Hermione sempre sentia o sangue subir quando Ron olhava com cara de bobo para alguma mulher bonita. Mas agora já era demais! Fleur era namorada do irmão dele e o ruivo ficava com aquele jeito de idiota contemplando a loura.

Quando Fleur saiu do quarto depois de levar o café da manhã de Harry, que chegara na noite anterior, e Ron continuou mirando a porta, Hermione se postou em frente ao ruivo e fuzilou o amigo com o olhar. No momento em que Ron finalmente se deu conta de estar sendo observado, ficou assustado ao encarar um rosto tão raivoso.

À tarde a casa ficou vazia - Fleur e Gui haviam saído com Molly, Arthur estava no ministério e Gina e Harry jogavam quadribol com os gêmeos –  e Ron tomou coragem de abordar a menina. "Está zangada comigo? Você me olhou de um jeito tão estranho de manhã, quando estávamos com Harry..."

— Eu não estou apenas zangada não. Minha vontade é de lançar em você uma azaração poderosa com duração de mil anos. No mínimo! - o rosto dela adquiriu um tom escarlate.

O bruxo olhou para a amiga boquiaberto. "O que aconteceu, Hermione?", perguntou confuso.

— Você tem que amadurecer, Ronald Weasley! Não é possível ficar com aquela cara de abobado toda vez que vê uma mulher bonita. Isso é ridículo! - ela disparou.

— Do que você está falando? - Ron estava perplexo.

— Não se faça de desentendido! Ou você pensa que não vi o jeito como olhou a Fleur?! - a voz dela agora era estridente.

— Hermione... eu...

— Você é um idiota, admita! - Hermione o cortou.

Ele não queria brigar com a amiga. Não agora que, finalmente, pareciam viver um tempo de paz e isso o deixava muito feliz. Sabia que, se não cedesse, a discussão pioraria cada vez mais e acabariam ficando vários dias sem se falar.

— Está certa, Mione. Eu sou um idiota. Mas você precisa saber que não me interesso por nenhuma dessas mulheres. Simplesmente as acho bonitas. Mas beleza não é tudo - ele ergueu as sobrancelhas.

— O quê?! Ronald Weasley, aquele que fez questão de só convidar meninas bonitas para o Baile de Inverno, agora diz que beleza não é tudo? - a garota foi irônica.

— Podia parar de me tratar desse jeito, né? Depois reclama que sou rude com você... - ele falou em tom de queixa.

— Falo isso para o seu próprio bem. Você precisa amadurecer. É ridículo olhar para a sua futura cunhada com aquele jeito de bobo... - ela suavizou a voz.

— Hermione, eu não tenho interesse algum em Fleur ou em qualquer outra menina no momento - ele ainda não tinha coragem de declarar a sua paixão pela amiga.

— Então pare de olhar para toda mulher bonita com essa cara de panaca! - Hermione falou com firmeza.

Sempre com respostas desaforadas na ponta da língua, dessa vez Ron não sabia o que dizer. De fato, tinha um "fraco" por mulheres bonitas. Mas nunca se dera conta que todos percebiam isso, muito menos que Hermione ficava tão chateada toda vez que ele se encantava com a beleza de alguém. De qualquer forma, entendeu que não devia ficar em silêncio.

— Vamos parar por aqui, Mione... Não quero brigar - ele pediu.

Hermione ainda não se acalmara. Morria de raiva do descaramento do rapaz em flertar outras meninas na frente dela. Não suportava saber que dava tanto valor a beleza física e, especialmente, que não a achava bonita.

— Quero ver se quando tiver namorada... Ah, isso se você conseguir uma garota louca o suficiente para querer um cara como você - falou de um jeito debochado. -Eu jamais namoraria alguém com um comportamento tão estranho e infantil como o seu!

A menina virou as costas e saiu para a área externa da Toca, onde acontecia o jogo de quadribol, com passadas firmes.

Sem saber qual atitude tomar, ele simplesmente subiu para o seu quarto. Melhor evitar Hermione, pelo menos naquele momento, pensou. Sabia que demoraria um pouco até ela se acalmar.

O ruivo ainda tentava entender a reação da menina. Seria ciúme? E por que ela disse que jamais namoraria um cara como ele? “Isso eu já sei há muito tempo”, pensou. “Não precisava que ela falasse”. Ainda estava perdido nesses pensamentos quando Harry entrou no quarto.

— Ron? O que houve? Nunca vi Hermione com tanta raiva de você - Harry olhava intrigado para ele.

— Eu não sei o que aconteceu com ela... Não consigo entender as meninas. São tão complicadas... - ele fez uma careta engraçada.

Harry lembrava da conversa que acabara de ter com Hermione. A garota saiu d'A Toca quase chorando e seguiu em direção contrária ao campo improvisado de quadribol. Para onde ela iria?

Pediu licença aos ruivos e foi atrás dela. "Hermione, espera! O que o Ron fez dessa vez?", Harry questionou-a. Sempre que a via irritada era certo que brigara com o amigo.

— Não aguento mais o Ron, Harry. Ele é tão imaturo. Fica com aquela cara de bobo quando vê uma menina bonita. Não sabe se posicionar, não sabe o que quer da vida. Não sei por que eu ainda tenho esperança que ele mude. Devia saber que isso é impossível - a garota tentava segurar as lágrimas.

Harry já desconfiava há muito tempo que os dois eram apaixonados. No último ano, Ron e Mione se tornaram mais próximos, embora ainda não admitissem o sentimento que tinham um pelo outro. Agora, quando pensava que finalmente começavam a reconhecer para si mesmos que se amavam, voltavam a brigar.

— Ron pode ser um pouco imaturo sim, mas também é um cara muito legal e, o mais importante, é nosso amigo - Harry amenizou.


 * * * * * * * * * * *

 

Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo: 

Pretending 

http://bit.ly/2ah8ktF

Face to face and heart to heart
We’re so close yet so far apart
I close my eyes I look away
That’s just because I’m not okay
But I hold on I stay strong
Wondering if we still belong

Will we ever say the words we’re feeling
Deep down underneath it
Tear down all the walls
Will we ever have a happy ending
Or will we forever only be pretending
We will always be pretending
(…)

 

 

 


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Notas finais do capítulo

A série Entrelinhas, da qual esta fic faz parte, é um canto de amor a Ron e Hermione. Espero que possa levar outras pessoas a se enamorar (ainda mais) por esse casal apaixonante :)



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