Always

Quando pequena, eu chegara a sonhar com um casamento e uma vida feliz. Via meus pais contentes, mas não suportaria a dor de perder quem amava da forma trágica como meu pai e eu perdemos minha mãe. Então, a partir desse dia, em todos os meus sonhos, nenhum mais houve um final feliz, e em minha vida não seria diferente. Só pensava na justiça para minha mãe, não havia espaço para felicidade — não julgava que eu tivesse direito sobre esse sentimento — dessa forma não poderia distrair-me de meu foco e nem trair sua memória quebrando a promessa feita sobre aquele túmulo.

Entretanto, Castle surgiu como um sonho em minha vida, sacudindo meu coração, desfazendo qualquer resolução que eu achava que tinha. Naquele momento pude sentir que meu destino havia mudado. Um escritor irritante e egocêntrico, casualmente meu escritor favorito — mas ele não poderia saber disso, jamais — começou a segui-me a fim de pesquisar para seus novos livros. Se ao menos ele soubesse o quanto me ajudou com sua escrita após a morte de minha mãe...

O que eu não esperava era que aquela amizade e cumplicidade surgida entre nós se transformassem em algo mais. Quando fechava meus olhos, só podia vê-lo falando que me amava desesperadamente, para que não o deixasse. Toda aquela dor exalando por sua voz, saber daquilo naquele momento me fez querer viver, nem que fosse mais um pouquinho, para experimentar o que nunca tive realmente, um amor. Estava eu sendo egoísta? Não sabia fazer isso, não conseguiria! Precisava resolver o caso de minha mãe para estar livre para ficar com ele da forma que merecia. Mesmo afastando-me de seu lado, mentindo para mim mesma sobre meus sentimentos, meu coração ainda o reconhecia. Naqueles três meses de recuperação, cada vez que sentia uma brisa tocar minha pele, era como se revivesse aquele sentimento com ele. Eu o amava, será que aquele escritor não percebera isso? Apesar de que, nem eu havia compreendido ainda.

Confusa com o que eu estava sentindo, não conseguia fazer outra coisa a não ser desapontá-lo e magoá-lo. Será que eu poderia ser feliz, mesmo não resolvendo o caso de minha mãe? Tinha esse direito? Castle precisava de alguém inteiro, que o amasse completamente como ele o fazia, não uma pessoa quebrada em pedaços e defeituosa como eu.

Embora tivesse lutado contra esse sentimento, tentando esconder-me por trás de minhas paredes, sem nem ao menos perceber, Castle havia conseguido entrar. Será que fora alguma rachadura? Não. Com toda a paciência e amor, ele fora me desarmando devagar e quando dei por mim, estava perdida de amores por ele.

Como nenhuma outra mulher percebeu o quão maravilhoso ele era? Richard Castle, que assim como ela, escondia-se por detrás de muros. Mas o dele era uma máscara, ou uma atuação, baseada em uma personagem egocêntrica, egoísta e fútil.

Apesar de toda sua luta interna, deixei-me levar por esse sentimento. Quando ele me olhava, simplesmente o tempo parava, e eu não sabia quando comecei a me sentir assim.

Aqueles olhos azuis que tanto amava, os quais me olhavam como se me despissem, descobrindo cada segredo por mais profundo que eu tentasse esconder.

Mesmo que eu tentasse fugir ou me esconder em meu trabalho, ele arranhou e rasgou cada centímetro do caminho. Não me obrigou a derrubar meus muros, nem tentou passar a força. Simplesmente conseguiu entrar. Ele obteve a passagem dele, a qual nenhum outro havia chegado tão longe.

“Eu te amo! Você pode me ouvir?”, eram as palavras que eu gritava dentro de mim, todas as vezes que o olhava. Porém, não conseguia dizê-las em voz alta para que ele as escutasse.

Pendurada no alto daquele prédio, eu pude sentir meu destino arrebatando-me com toda a sua força. Eu o amava, somente ele, uma pena ele não poder ouvir naquele momento. Mas o vislumbre ver de toda a minha vida passar naqueles segundos e não ter tido uma chance de conhecer o que é ser amada por ele, fez-me ver que eu precisava lutar. Eu ainda o amava mesmo quando eu me afastava de seu lado.

Parecia que estava anestesiada por tudo que sucedera, sentei-me naqueles balanços que tanto significavam para nós. Eu menti para ele, para meu escritor. Lembrava-me de tudo, agora ele sabia disso e eu só fizera magoá-lo. Sempre, onde quer que eu estivesse, eu iria continuar a amá-lo. Castle precisava saber, merecia isso. Mesmo que tudo mude entre nós, há uma coisa que não vai mudar: Richard Castle é meu amor e eu sou seu amor.

As ruas estavam vazias pela tempestade que varria a cidade. Mesmo assim eu corri por elas, sufocando-me pelo vento frio e pelas lágrimas que teimavam em cair. Quando fechava meus olhos, eu só via meu escritor com aqueles olhos tristes e voz embargada por toda a dor que o fizera passar. Prometi a mim mesma que nunca mais faria isso, mas me enganei.

Agora, vendo-o me olhar com tanto carinho, sei que não poderia me arrepender de nós dois. Nossa vida juntos me deu forças para seguir em frente com a investigação da morte de minha mãe. Sem ele eu jamais teria conseguido prender o culpado.

“Eu te amo, você pode me ouvir?”, mas parecia que não, de tão absorto que ele estava a me ver.

Queria tanto ser uma pessoa melhor para ele. Apesar de tentar todo o tempo, sempre acabava por fazê-lo sofrer. Minhas rachaduras ainda estavam ali, embora o amor de Castle ter se infiltrado dentro de mim, como água em meio às fendas das pedras, cicatrizando-me cada vez mais. Eu era plena com ele, mas meu escritor não poderia mais saber disso.

Escolher Locksat ao nosso amor. Castle estava certo todo esse tempo, não confiei minha vida a ele. Mas meu medo de sentir aquela dor da perda para morte era maior que tudo. Agora eu sei que estava errada por não ter passado mais tempo ao seu lado.

Cada passo longe dele doía. Não uma dor comum, sentia minha alma sendo deflagrada por isso. Mesmo me afastando do lado dele, meu coração ainda o reconhecia. Andando por lugares perigosos, investigando sem meu parceiro da vida. Não foi culpa dele, mas sim minha, apesar de sempre vê-lo se lamentar. As lágrimas me pegavam de surpresa todas as vezes que eu pensava nele. Eu o amava, somente ele. Só não queria que ele esquecesse essa minha confissão dolorosa.

Mesmo de longe, eu sempre o acompanharei. Sei que chegará o dia em que ele irá superar tudo. Mesmo se Castle olhar para trás por um momento, eu sei que não se arrependerá de nós, assim como eu não o faço. Mas se pudesse voltar ao tempo, não teria escolhido nada acima de nosso amor, muito menos uma investigação. Cada segundo ao lado dele, mesmo que meu escritor não reconhecesse mais sua musa, era precioso demais para mim.

Andando pelas ruas, todas as vezes que o vento me tocava, sentia seu amor vindo junto, sempre onde quer que eu estivesse. Mas ele deveria saber, eu sempre voltaria correndo para casa cada vez que ele me chamasse, essa era uma promessa que nunca quebraria.

Esses olhos azuis que ainda me olham com tanto carinho, todavia não posso mais tirar a dor que deixei neles. Por trás daquela foto que ele tanto observava, tentava tocá-lo, mas não conseguia, nunca mais poderia alcançá-lo. Mesmo que agora ele passe por perto de mim, e não me reconheça, estará tudo bem, porque eu sempre estarei aqui, mesmo que ele não saiba. Essa era minha confissão dolorosa.

“Eu te amo”, não queria que Castle se esquecesse disso jamais. Somente ele. Sei que agora ele não pode mais me ouvir ou me ver. Eu ainda o amarei, mesmo quando eu me afastei de seu lado contra minha vontade. Sempre.