Ico acordou devagar com o sol atormentando suas pupilas escondias por trás das pálpebras fechadas. Abriu-as devagar após sentir um leve movimento de maresia. Olhou ao redor e percebeu que estava dentro de um pequeno bote de madeira. Ele não tinha certeza de como havia chegado ali, tudo que acontecera algumas horas antes estava obscuro em sua mente, mas sabia que logo se lembraria. E realmente lembrou-se. Lembrou-se do castelo ao qual fora aprisionado contra sua vontade por causa de sua singularidade: um peculiar par de chifres. Lembrou-se dos perigos que enfrentou naquela ilha contra a Rainha e suas criaturas das sombras. E lembrou-se de Yorda. Onde estaria a garota? Após um nobre ato de sacrifício, todo o castelo se desmoronou ao redor dela e do garoto, separando seus destinos.

Antes que o barco atracasse na areia, Ico observou bem o lugar em que estava se aproximando: uma bela praia, rodeado por penhascos de pedra cinzenta mais altos do que a quantidade de metros que o garoto conseguia contar. A areia era branca como os farelos de açúcar que costumava ter em casa. Com esse pensamento, um pequeno sentimento de nostalgia se apoderou do garoto - ele sentia falta da casa que já teve. Balançou sua cabeça para espantar a dor que começava a dominar e quando o bote finalmente parou, ele logo pulou para fora se preocupando com algo mais urgente: a segurança de Yorda.

Com o som de suas sandálias batendo contra a maré baixa quebrando o inquietante silêncio daquele lugar, Ico começou a correr por volta da praia procurando a garota. Se ele foi arrastado pelo mar até aquele lugar, porque Yorda não seria? Ela poderia estar em algum lugar por ali. E realmente estava. Após correr alguns minutos, Ico notou um pequeno e magro corpo estirado na praia. Suas vestes e pele brancas denunciaram de que se tratava da garota que ele tanto procurava. Correu mais depressa em sua direção e jogou seu corpo em direção ao da garota, jogando vários grãos de areia e jarros d'água para cima.

— Yorda! Yorda!

Ico exclamava o nome daquela deitada aos seus braços. Seu corpo não tinha nenhum arranhão, e a garota respirava. Seus olhos se abriram devagar e olharam fundo nos olhos do garoto.

— "..." - a Yorda disse alguma coisa para Ico, mas como não partilhavam da mesma língua, o garoto não pode compreender. Talvez ela estava feliz ao vê-lo, Ico nunca saberia.

A alegria tomou conta do rapaz. Yorda estava viva e bem, e tentava se levantar para acompanhá-lo, mas foi então que tudo aconteceu. Seus olhos viraram pelas órbitas e a garota desabou novamente, sem consciência. Ico quase não teve tempo de agarrá-la antes dela atingir o chão. Ele chamava seu nome tentando reanimá-la, mas era em vão. A garota respirava, mas era como se não estivesse mais ali. Ico olhou ao redor, não estava mais na ilha do castelo dominada pela Rainha, alguém ali poderia ajudá-lo. Ele avistou uma pequena estrada de areia que levava até o topo do penhasco e ao pegar Yorda em seu colo, devagar se dirigiu até lá. Ele faria tudo pra salvar a vida de Yorda. Ele precisava.